O presidente Jair Bolsonaro viaja no fim desta semana para a Índia com a previsão de assinar pelo menos 12 acordos comerciais. O objetivo da comitiva é aprofundar as relações entre o Brasil e o segundo país mais populoso do mundo - com 1,3 bilhão de habitantes. Bolsonaro é convidado de honra do primeiro-ministro Narendra Modi para a cerimônia do Aniversário da República da Índia - o mais importante evento do país - e deve ficar fora do Brasil entre 24 e 27 de janeiro.
“Um dos pontos centrais da visita é a aprovação de um plano de ação para o fortalecimento da parceria, que permitirá mapear e estimular a consecução dos objetivos (dos dois países)”, afirmou o diplomata Reinaldo Salgado, secretário de negociações bilaterais na Ásia, Pacífico e Rússia do Ministério das Relações Exteriores. Serão assinados acordos nas áreas tributária, de investimentos, de agronegócio, de energia, de segurança cibernética e de saúde.
Com quatro bilhões de habitantes, a Ásia reúne 65% da população mundial e é o principal destino das exportações brasileiras. “Há muito potencial a ser explorado (na região) e um exemplo é a Índia”, reforçou. Estimativas apontam que a Índia terá a maior população do mundo em 2030 e o país tem crescido nos últimos anos a taxas superiores a 7%. “É um país com o qual temos um comércio de apenas US$ 7 bilhões. Existe claramente algo a melhorar”, reconheceu.
A possibilidade de isenção do visto para indianos entrarem no Brasil - sugerida pelo presidente e apreciada pela Índia - não deve ser concluída nesta viagem. “Está em processo de análise. Não estou seguro que essa análise poderá ser concluída antes da visita”, informou na última sexta Reinaldo Salgado, em evento no Itamaraty.
Agropecuária
A cooperação na área da bioenergia - em especial o etanol - é um dos principais tópicos desta viagem. Os indianos pretendem direcionar parte da produção de cana - que hoje vira açúcar - para aumentar a porcentagem de álcool na gasolina. Hoje, essa mistura não passa de 7%. O objetivo é chegar a 10% até 2022 e a 20% em 2030.
“Vamos levar a experiência brasileira, as lições aprendidas e os benefícios que tivemos ao longo de 40 anos para os atores envolvidos nessa área na Índia - do governo, da indústria de automóveis, do segmento de petróleo, para que eles possam ter clareza de como superar os desafios”, explica Eduardo Leão, diretor-executivo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), a principal associação de usinas do país. A medida interessa à indústria de bens de capital brasileira, que pode ajudar na construção de novas destilarias na Índia.
Exportadores de feijão, de carne de frango e suína e criadores de gado também estarão em solo indiano com a comitiva. Rivaldo Machado Borges Júnior, presidente Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), uma das principais entidades do setor, diz que firmará um acordo de cooperação técnica com o governo para desenvolver a pecuária leiteira na Índia.
“Com essa aproximação, queremos ampliar o comércio de material genético”, afirma. A Índia é o berço do zebu - linhagem bovina de raças como nelore, gir e guzerá, bem adaptadas ao clima brasileiro. Esse tipo de animal responde por 80% do rebanho nacional.
“A única coisa que precisamos para atender melhor a Índia é nos organizar. A Índia precisa do nosso produto e nós precisamos de um cliente como a Índia para importar”, resume Marcelo Luders, presidente do Instituto Brasileiro de Feijão e Pulses (Ibrafe). Em 2019, o Brasil exportou 165 mil toneladas de feijão de nove variedades para 80 países. O faturamento foi de US$ 111 milhões.
Quem vai
Agenda
Entre as atividades previstas, o presidente Jair Bolsonaro deve visitar o memorial do líder pacifista Mahatma Ghandi, almoçar com o primeiro-ministro Narendra Modi e jantar com o presidente da Índia, Ram Nath Kovind, em seu primeiro dia. No dia 26, participa do Aniversário da República da Índia e na segunda, 27, participa de painéis sobre bioenergia, petróleo e gás, além de eventos sobre inovação, facilitação de investimentos e defesa.