Na Ucrânia, guerra dizima força de trabalho masculina, e mulheres assumem as rédeas


Mais e mais mulheres estão substituindo os homens mobilizados no exército. Mas não há um número suficiente delas para compensar a escassez de mão de obra que afeta a economia

Por Constant Méheut

Em uma manhã recente no leste da Ucrânia, Karina Yatsina, uma mineradora, estava ocupada operando uma correia de transporte em um túnel escuro de 360 metros de profundidade. Luzes piscavam no fim da galeria, iluminando os mineiros que escavavam os veios de carvão.

Um ano e meio atrás, Karina, 21 anos, estava trabalhando como babá. Então, amigos lhe disseram que uma mina na cidade oriental de Pavlohrad estava contratando mulheres para substituir homens recrutados para o Exército. O salário era bom e a pensão, generosa. Não demorou muito até que Karina se visse caminhando pelo labirinto de túneis da mina, com uma lanterna presa ao capacete vermelho.

“Eu nunca teria pensado que estaria trabalhando em uma mina”, disse Karina, fazendo uma pequena pausa em meio ao calor sufocante do túnel. “Eu nunca teria imaginado isso.”

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Karina Yatsina opera uma máquina em uma mina de carvão em seu quinto dia de trabalho perto da cidade de Pavlograd, na região de Dnipro, no leste da Ucrânia Foto: Finbarr Oõreilly/NYT

Karina é uma das 130 mulheres que começaram a trabalhar no subsolo da mina desde o início da invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022. Elas agora operam transportes que levam carvão para a superfície, trabalham como inspetoras de segurança ou dirigem os trens que conectam as diferentes partes da mina.

“A ajuda delas é enorme, porque muitos homens foram lutar e não estão mais disponíveis”, disse Serhiy Faraonov, vice-chefe da mina, que é administrada pela DTEK, a maior empresa privada de energia da Ucrânia. Cerca de 1.000 trabalhadores do sexo masculino na mina foram recrutados, disse ele, ou cerca de um quinto da força de trabalho total. Para ajudar a compensar a escassez, a mina contratou cerca de 330 mulheres.

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Mineiros descem por um poço dentro de uma mina de carvão administrada pela empresa de energia DTEK, perto da cidade de Pavlograd, na região de Dnipro, no leste da Ucrânia Foto: Finbarr Oõreilly/NYT

Depois que a Rússia invadiu a Ucrânia em 2022, o governo ucraniano suspendeu uma lei que proibia as mulheres de trabalhar no subsolo e em condições “prejudiciais ou perigosas”.

Elas fazem parte de uma tendência mais ampla na Ucrânia, onde as mulheres estão cada vez mais assumindo empregos há muito dominados por homens, conforme a mobilização generalizada de soldados esgota a força de trabalho masculina. Elas se tornaram motoristas de caminhão ou ônibus, soldadoras em siderúrgicas e trabalhadoras de depósito. Milhares delas também se juntaram voluntariamente ao Exército.

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Mulheres participam de um treinamento em um centro de formação para trabalhar em uma mina na cidade de Pokrovsk, Ucrânia  Foto: Finbarr Oõreilly/NYT

Mudança

Ao fazer isso, essas mulheres estão remodelando a força de trabalho tradicionalmente masculina da Ucrânia, que, segundo especialistas, há muito tempo é marcada por preconceitos herdados da União Soviética. “Havia essa percepção das mulheres como trabalhadoras de segunda classe, menos confiáveis”, disse Hlib Vyshlinsky, diretor executivo do Centro de Estratégia Econômica de Kiev.

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Vyshlinsky disse que as mulheres ucranianas há muito eram excluídas de certos empregos, não apenas pelas exigências físicas, mas também porque tais papéis eram considerados muito complicados para elas. As mulheres, disse ele, podiam dirigir trólebus, mas não trens. “Eram muitos os estereótipos.”

O atual fluxo de mulheres no mercado de trabalho ucraniano traz ecos das mulheres britânicas que trabalharam em fábricas de armas durante a Primeira Guerra Mundial, e das mulheres imortalizadas nos pôsteres icônicos de Rosie, a Rebitadeira, que foram ao trabalho nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial.

Uma mulher trabalha na lubrificação de um eixo de trem em um pátio de manutenção de uma ferrovia ucraniana em Kharkiv, Ucrânia, em 6 de junho de 2024 Foto: Finbarr Oõreilly/NYT
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Mas mesmo com o fluxo de mulheres na força de trabalho, elas não serão suficientes para substituir todos os trabalhadores homens que saíram, dizem os economistas. Três quartos dos empregadores ucranianos enfrentaram escassez de mão de obra, de acordo com uma pesquisa recente.

Antes da guerra, 47% das mulheres ucranianas trabalhavam, de acordo com o Banco Mundial. Desde então, cerca de 1,5 milhão de trabalhadoras, cerca de 13% do total, deixaram a Ucrânia, disse Vyshlinsky.

“A parcela de mulheres que atualmente trabalham na Ucrânia é maior do que antes da guerra”, disse Vyshlinsky. Mas muitas delas deixaram a Ucrânia, impedindo que o país supere sua escassez de força de trabalho, disse ele.

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Uma mulher opera máquinas em uma fábrica de coque de carvão administrada pela siderúrgica Metinvest, perto da cidade de Pokrovsk, na região de Donetsk, no leste da Ucrânia Foto: Finbarr Oõreilly/NYT

Mineração

O fenômeno das mulheres se juntando à força de trabalho tem sido particularmente evidente na indústria de mineração.

Após a invasão da Rússia em 2022, o governo ucraniano suspendeu uma lei que proibia as mulheres de trabalhar no subsolo e em condições “prejudiciais ou perigosas”. Agora, elas são uma presença regular nos elevadores apertados que levam os trabalhadores às profundezas das minas.

“Fiquei surpreso. É incomum ver uma mulher com uma pá fazendo o trabalho de um homem”, disse Dmytro Tobalov, um mineiro de 28 anos, pouco depois de uma mulher passar por ele e outros mineiros corpulentos que estavam descansando em bancos em um túnel, esperando para embarcar no elevador que leva para fora da mina.

Uma geóloga espera com seus colegas para pegar um elevador de volta à superfície de uma mina administrada pela siderúrgica Metinvest, perto da cidade de Pokrovsk, na região de Donetsk, no leste da Ucrânia Foto: Finbarr Oõreilly/NYT

Tobalov, que trabalha em uma mina em Pokrovsk, na região oriental de Donetsk, disse que 12 homens deixaram seu grupo de mineradores para se juntar ao Exército, substituídos por 10 homens e duas mulheres. “Elas estão indo muito bem”, disse ele a respeito das mulheres.

Várias mulheres disseram que se juntaram à mina de Pokrovsk, de propriedade da Metinvest, a maior siderúrgica da Ucrânia, porque ela oferecia empregos estáveis em uma economia devastada pela guerra. Valentyna Korotaeva, 30, ex-assistente de loja em Pokrovsk, disse que perdeu o emprego depois que um míssil russo caiu perto da loja, fazendo com que os proprietários fizessem as malas e fossem embora. Ela agora trabalha como operadora de guindaste na mina, movendo grandes máquinas de metal que aguardam reparo em um depósito.

Valentyna Korotaeva opera um guindaste em uma mina de carvão administrada pela siderúrgica Metinvest, perto da cidade de Pokrovsk, na região de Donetsk, no leste da Ucrânia Foto: Finbarr Oõreilly/NYT

O tempo que Valentyna conseguirá manter esse emprego dependerá da situação na linha de frente, a apenas 13 quilômetros da mina. As forças russas têm se aproximado de Pokrovsk nas últimas semanas. A Rússia frequentemente bombardeia a área, e a administração da mina preparou planos de fuga caso se torne muito perigoso permanecer lá.

“É assustador”, disse Valentyna, mãe de dois filhos. “Mas, por enquanto, estou ficando porque há escolas e jardins de infância aqui. Não há outro lugar para ir.”

Esforço

Várias mulheres disseram que trabalhar em uma mina era uma forma de participar do esforço de guerra, mantendo a economia ucraniana funcionando enquanto os homens lutam na frente. As minas de carvão têm sido uma salvação para muitas cidades no leste da Ucrânia, empregando dezenas de milhares de pessoas e contribuindo significativamente para o orçamento do governo por meio de impostos.

Yulia Koba, uma ex-psicóloga infantil que se juntou à mina Pokrovsk em junho como operadora de correia de transporte, descreveu isso como um esforço multifacetado, com mulheres na retaguarda apoiando os homens na frente. “Eles estão lá e nós estamos aqui”, disse ela.

Natalia Kharchenko, uma operadora de máquina, trabalha em uma fábrica em Kharkiv, Ucrânia  Foto: Finbarr Oõreilly/NYT

Yulia disse que os colegas homens estavam céticos quando ela assumiu seu novo cargo, com alguns acreditando que as mulheres não tinham lugar nos túneis escuros e empoeirados da mina. “O que você está fazendo? Por que você está aqui e não em algum lugar na superfície?”, ela disse que lhe perguntaram.

Mas, com o tempo, acrescentou Yulia, os homens gradualmente superaram os estereótipos de gênero e entenderam que as mulheres podiam fazer o trabalho tão bem quanto eles. Se as mulheres “vão servir nas forças armadas, por que não podem assumir posições tradicionalmente masculinas na mina?”, ela disse.

As empresas também tentaram trazer mais mulheres para o mercado de trabalho por meio de programas de treinamento.

A mina Pokrovsk iniciou um programa no início deste ano que até agora permitiu que 32 mulheres trabalhassem no subsolo. A Reskilling Ukraine, uma organização sueca sem fins lucrativos, ofereceu cursos de treinamento acelerado para mulheres que desejam se tornar motoristas de caminhão. Mais de 1.000 mulheres se inscreveram este ano, mas a organização tem fundos para treinar apenas 350, disse Oleksandra Panasiuk, coordenadora do programa.

“Muitas mulheres queriam ser motoristas, mas, por muito tempo, a sociedade não permitiu que elas fizessem isso”, disse Oleksandra. “Isso está mudando.”

Na mina Pavlohrad, várias mulheres contratadas durante a guerra agora esperam fazer carreira e subir na hierarquia. Karina, a ex-babá que agora é operadora de correia de transporte, disse que gostaria de se tornar uma técnica eletromecânica. “Já pensei nisso”, disse ela, com um leve sorriso surgindo em seu rosto jovem. “Eu gosto daqui.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Em uma manhã recente no leste da Ucrânia, Karina Yatsina, uma mineradora, estava ocupada operando uma correia de transporte em um túnel escuro de 360 metros de profundidade. Luzes piscavam no fim da galeria, iluminando os mineiros que escavavam os veios de carvão.

Um ano e meio atrás, Karina, 21 anos, estava trabalhando como babá. Então, amigos lhe disseram que uma mina na cidade oriental de Pavlohrad estava contratando mulheres para substituir homens recrutados para o Exército. O salário era bom e a pensão, generosa. Não demorou muito até que Karina se visse caminhando pelo labirinto de túneis da mina, com uma lanterna presa ao capacete vermelho.

“Eu nunca teria pensado que estaria trabalhando em uma mina”, disse Karina, fazendo uma pequena pausa em meio ao calor sufocante do túnel. “Eu nunca teria imaginado isso.”

Karina Yatsina opera uma máquina em uma mina de carvão em seu quinto dia de trabalho perto da cidade de Pavlograd, na região de Dnipro, no leste da Ucrânia Foto: Finbarr Oõreilly/NYT

Karina é uma das 130 mulheres que começaram a trabalhar no subsolo da mina desde o início da invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022. Elas agora operam transportes que levam carvão para a superfície, trabalham como inspetoras de segurança ou dirigem os trens que conectam as diferentes partes da mina.

“A ajuda delas é enorme, porque muitos homens foram lutar e não estão mais disponíveis”, disse Serhiy Faraonov, vice-chefe da mina, que é administrada pela DTEK, a maior empresa privada de energia da Ucrânia. Cerca de 1.000 trabalhadores do sexo masculino na mina foram recrutados, disse ele, ou cerca de um quinto da força de trabalho total. Para ajudar a compensar a escassez, a mina contratou cerca de 330 mulheres.

Mineiros descem por um poço dentro de uma mina de carvão administrada pela empresa de energia DTEK, perto da cidade de Pavlograd, na região de Dnipro, no leste da Ucrânia Foto: Finbarr Oõreilly/NYT

Depois que a Rússia invadiu a Ucrânia em 2022, o governo ucraniano suspendeu uma lei que proibia as mulheres de trabalhar no subsolo e em condições “prejudiciais ou perigosas”.

Elas fazem parte de uma tendência mais ampla na Ucrânia, onde as mulheres estão cada vez mais assumindo empregos há muito dominados por homens, conforme a mobilização generalizada de soldados esgota a força de trabalho masculina. Elas se tornaram motoristas de caminhão ou ônibus, soldadoras em siderúrgicas e trabalhadoras de depósito. Milhares delas também se juntaram voluntariamente ao Exército.

Mulheres participam de um treinamento em um centro de formação para trabalhar em uma mina na cidade de Pokrovsk, Ucrânia  Foto: Finbarr Oõreilly/NYT

Mudança

Ao fazer isso, essas mulheres estão remodelando a força de trabalho tradicionalmente masculina da Ucrânia, que, segundo especialistas, há muito tempo é marcada por preconceitos herdados da União Soviética. “Havia essa percepção das mulheres como trabalhadoras de segunda classe, menos confiáveis”, disse Hlib Vyshlinsky, diretor executivo do Centro de Estratégia Econômica de Kiev.

Vyshlinsky disse que as mulheres ucranianas há muito eram excluídas de certos empregos, não apenas pelas exigências físicas, mas também porque tais papéis eram considerados muito complicados para elas. As mulheres, disse ele, podiam dirigir trólebus, mas não trens. “Eram muitos os estereótipos.”

O atual fluxo de mulheres no mercado de trabalho ucraniano traz ecos das mulheres britânicas que trabalharam em fábricas de armas durante a Primeira Guerra Mundial, e das mulheres imortalizadas nos pôsteres icônicos de Rosie, a Rebitadeira, que foram ao trabalho nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial.

Uma mulher trabalha na lubrificação de um eixo de trem em um pátio de manutenção de uma ferrovia ucraniana em Kharkiv, Ucrânia, em 6 de junho de 2024 Foto: Finbarr Oõreilly/NYT

Mas mesmo com o fluxo de mulheres na força de trabalho, elas não serão suficientes para substituir todos os trabalhadores homens que saíram, dizem os economistas. Três quartos dos empregadores ucranianos enfrentaram escassez de mão de obra, de acordo com uma pesquisa recente.

Antes da guerra, 47% das mulheres ucranianas trabalhavam, de acordo com o Banco Mundial. Desde então, cerca de 1,5 milhão de trabalhadoras, cerca de 13% do total, deixaram a Ucrânia, disse Vyshlinsky.

“A parcela de mulheres que atualmente trabalham na Ucrânia é maior do que antes da guerra”, disse Vyshlinsky. Mas muitas delas deixaram a Ucrânia, impedindo que o país supere sua escassez de força de trabalho, disse ele.

Uma mulher opera máquinas em uma fábrica de coque de carvão administrada pela siderúrgica Metinvest, perto da cidade de Pokrovsk, na região de Donetsk, no leste da Ucrânia Foto: Finbarr Oõreilly/NYT

Mineração

O fenômeno das mulheres se juntando à força de trabalho tem sido particularmente evidente na indústria de mineração.

Após a invasão da Rússia em 2022, o governo ucraniano suspendeu uma lei que proibia as mulheres de trabalhar no subsolo e em condições “prejudiciais ou perigosas”. Agora, elas são uma presença regular nos elevadores apertados que levam os trabalhadores às profundezas das minas.

“Fiquei surpreso. É incomum ver uma mulher com uma pá fazendo o trabalho de um homem”, disse Dmytro Tobalov, um mineiro de 28 anos, pouco depois de uma mulher passar por ele e outros mineiros corpulentos que estavam descansando em bancos em um túnel, esperando para embarcar no elevador que leva para fora da mina.

Uma geóloga espera com seus colegas para pegar um elevador de volta à superfície de uma mina administrada pela siderúrgica Metinvest, perto da cidade de Pokrovsk, na região de Donetsk, no leste da Ucrânia Foto: Finbarr Oõreilly/NYT

Tobalov, que trabalha em uma mina em Pokrovsk, na região oriental de Donetsk, disse que 12 homens deixaram seu grupo de mineradores para se juntar ao Exército, substituídos por 10 homens e duas mulheres. “Elas estão indo muito bem”, disse ele a respeito das mulheres.

Várias mulheres disseram que se juntaram à mina de Pokrovsk, de propriedade da Metinvest, a maior siderúrgica da Ucrânia, porque ela oferecia empregos estáveis em uma economia devastada pela guerra. Valentyna Korotaeva, 30, ex-assistente de loja em Pokrovsk, disse que perdeu o emprego depois que um míssil russo caiu perto da loja, fazendo com que os proprietários fizessem as malas e fossem embora. Ela agora trabalha como operadora de guindaste na mina, movendo grandes máquinas de metal que aguardam reparo em um depósito.

Valentyna Korotaeva opera um guindaste em uma mina de carvão administrada pela siderúrgica Metinvest, perto da cidade de Pokrovsk, na região de Donetsk, no leste da Ucrânia Foto: Finbarr Oõreilly/NYT

O tempo que Valentyna conseguirá manter esse emprego dependerá da situação na linha de frente, a apenas 13 quilômetros da mina. As forças russas têm se aproximado de Pokrovsk nas últimas semanas. A Rússia frequentemente bombardeia a área, e a administração da mina preparou planos de fuga caso se torne muito perigoso permanecer lá.

“É assustador”, disse Valentyna, mãe de dois filhos. “Mas, por enquanto, estou ficando porque há escolas e jardins de infância aqui. Não há outro lugar para ir.”

Esforço

Várias mulheres disseram que trabalhar em uma mina era uma forma de participar do esforço de guerra, mantendo a economia ucraniana funcionando enquanto os homens lutam na frente. As minas de carvão têm sido uma salvação para muitas cidades no leste da Ucrânia, empregando dezenas de milhares de pessoas e contribuindo significativamente para o orçamento do governo por meio de impostos.

Yulia Koba, uma ex-psicóloga infantil que se juntou à mina Pokrovsk em junho como operadora de correia de transporte, descreveu isso como um esforço multifacetado, com mulheres na retaguarda apoiando os homens na frente. “Eles estão lá e nós estamos aqui”, disse ela.

Natalia Kharchenko, uma operadora de máquina, trabalha em uma fábrica em Kharkiv, Ucrânia  Foto: Finbarr Oõreilly/NYT

Yulia disse que os colegas homens estavam céticos quando ela assumiu seu novo cargo, com alguns acreditando que as mulheres não tinham lugar nos túneis escuros e empoeirados da mina. “O que você está fazendo? Por que você está aqui e não em algum lugar na superfície?”, ela disse que lhe perguntaram.

Mas, com o tempo, acrescentou Yulia, os homens gradualmente superaram os estereótipos de gênero e entenderam que as mulheres podiam fazer o trabalho tão bem quanto eles. Se as mulheres “vão servir nas forças armadas, por que não podem assumir posições tradicionalmente masculinas na mina?”, ela disse.

As empresas também tentaram trazer mais mulheres para o mercado de trabalho por meio de programas de treinamento.

A mina Pokrovsk iniciou um programa no início deste ano que até agora permitiu que 32 mulheres trabalhassem no subsolo. A Reskilling Ukraine, uma organização sueca sem fins lucrativos, ofereceu cursos de treinamento acelerado para mulheres que desejam se tornar motoristas de caminhão. Mais de 1.000 mulheres se inscreveram este ano, mas a organização tem fundos para treinar apenas 350, disse Oleksandra Panasiuk, coordenadora do programa.

“Muitas mulheres queriam ser motoristas, mas, por muito tempo, a sociedade não permitiu que elas fizessem isso”, disse Oleksandra. “Isso está mudando.”

Na mina Pavlohrad, várias mulheres contratadas durante a guerra agora esperam fazer carreira e subir na hierarquia. Karina, a ex-babá que agora é operadora de correia de transporte, disse que gostaria de se tornar uma técnica eletromecânica. “Já pensei nisso”, disse ela, com um leve sorriso surgindo em seu rosto jovem. “Eu gosto daqui.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Em uma manhã recente no leste da Ucrânia, Karina Yatsina, uma mineradora, estava ocupada operando uma correia de transporte em um túnel escuro de 360 metros de profundidade. Luzes piscavam no fim da galeria, iluminando os mineiros que escavavam os veios de carvão.

Um ano e meio atrás, Karina, 21 anos, estava trabalhando como babá. Então, amigos lhe disseram que uma mina na cidade oriental de Pavlohrad estava contratando mulheres para substituir homens recrutados para o Exército. O salário era bom e a pensão, generosa. Não demorou muito até que Karina se visse caminhando pelo labirinto de túneis da mina, com uma lanterna presa ao capacete vermelho.

“Eu nunca teria pensado que estaria trabalhando em uma mina”, disse Karina, fazendo uma pequena pausa em meio ao calor sufocante do túnel. “Eu nunca teria imaginado isso.”

Karina Yatsina opera uma máquina em uma mina de carvão em seu quinto dia de trabalho perto da cidade de Pavlograd, na região de Dnipro, no leste da Ucrânia Foto: Finbarr Oõreilly/NYT

Karina é uma das 130 mulheres que começaram a trabalhar no subsolo da mina desde o início da invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022. Elas agora operam transportes que levam carvão para a superfície, trabalham como inspetoras de segurança ou dirigem os trens que conectam as diferentes partes da mina.

“A ajuda delas é enorme, porque muitos homens foram lutar e não estão mais disponíveis”, disse Serhiy Faraonov, vice-chefe da mina, que é administrada pela DTEK, a maior empresa privada de energia da Ucrânia. Cerca de 1.000 trabalhadores do sexo masculino na mina foram recrutados, disse ele, ou cerca de um quinto da força de trabalho total. Para ajudar a compensar a escassez, a mina contratou cerca de 330 mulheres.

Mineiros descem por um poço dentro de uma mina de carvão administrada pela empresa de energia DTEK, perto da cidade de Pavlograd, na região de Dnipro, no leste da Ucrânia Foto: Finbarr Oõreilly/NYT

Depois que a Rússia invadiu a Ucrânia em 2022, o governo ucraniano suspendeu uma lei que proibia as mulheres de trabalhar no subsolo e em condições “prejudiciais ou perigosas”.

Elas fazem parte de uma tendência mais ampla na Ucrânia, onde as mulheres estão cada vez mais assumindo empregos há muito dominados por homens, conforme a mobilização generalizada de soldados esgota a força de trabalho masculina. Elas se tornaram motoristas de caminhão ou ônibus, soldadoras em siderúrgicas e trabalhadoras de depósito. Milhares delas também se juntaram voluntariamente ao Exército.

Mulheres participam de um treinamento em um centro de formação para trabalhar em uma mina na cidade de Pokrovsk, Ucrânia  Foto: Finbarr Oõreilly/NYT

Mudança

Ao fazer isso, essas mulheres estão remodelando a força de trabalho tradicionalmente masculina da Ucrânia, que, segundo especialistas, há muito tempo é marcada por preconceitos herdados da União Soviética. “Havia essa percepção das mulheres como trabalhadoras de segunda classe, menos confiáveis”, disse Hlib Vyshlinsky, diretor executivo do Centro de Estratégia Econômica de Kiev.

Vyshlinsky disse que as mulheres ucranianas há muito eram excluídas de certos empregos, não apenas pelas exigências físicas, mas também porque tais papéis eram considerados muito complicados para elas. As mulheres, disse ele, podiam dirigir trólebus, mas não trens. “Eram muitos os estereótipos.”

O atual fluxo de mulheres no mercado de trabalho ucraniano traz ecos das mulheres britânicas que trabalharam em fábricas de armas durante a Primeira Guerra Mundial, e das mulheres imortalizadas nos pôsteres icônicos de Rosie, a Rebitadeira, que foram ao trabalho nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial.

Uma mulher trabalha na lubrificação de um eixo de trem em um pátio de manutenção de uma ferrovia ucraniana em Kharkiv, Ucrânia, em 6 de junho de 2024 Foto: Finbarr Oõreilly/NYT

Mas mesmo com o fluxo de mulheres na força de trabalho, elas não serão suficientes para substituir todos os trabalhadores homens que saíram, dizem os economistas. Três quartos dos empregadores ucranianos enfrentaram escassez de mão de obra, de acordo com uma pesquisa recente.

Antes da guerra, 47% das mulheres ucranianas trabalhavam, de acordo com o Banco Mundial. Desde então, cerca de 1,5 milhão de trabalhadoras, cerca de 13% do total, deixaram a Ucrânia, disse Vyshlinsky.

“A parcela de mulheres que atualmente trabalham na Ucrânia é maior do que antes da guerra”, disse Vyshlinsky. Mas muitas delas deixaram a Ucrânia, impedindo que o país supere sua escassez de força de trabalho, disse ele.

Uma mulher opera máquinas em uma fábrica de coque de carvão administrada pela siderúrgica Metinvest, perto da cidade de Pokrovsk, na região de Donetsk, no leste da Ucrânia Foto: Finbarr Oõreilly/NYT

Mineração

O fenômeno das mulheres se juntando à força de trabalho tem sido particularmente evidente na indústria de mineração.

Após a invasão da Rússia em 2022, o governo ucraniano suspendeu uma lei que proibia as mulheres de trabalhar no subsolo e em condições “prejudiciais ou perigosas”. Agora, elas são uma presença regular nos elevadores apertados que levam os trabalhadores às profundezas das minas.

“Fiquei surpreso. É incomum ver uma mulher com uma pá fazendo o trabalho de um homem”, disse Dmytro Tobalov, um mineiro de 28 anos, pouco depois de uma mulher passar por ele e outros mineiros corpulentos que estavam descansando em bancos em um túnel, esperando para embarcar no elevador que leva para fora da mina.

Uma geóloga espera com seus colegas para pegar um elevador de volta à superfície de uma mina administrada pela siderúrgica Metinvest, perto da cidade de Pokrovsk, na região de Donetsk, no leste da Ucrânia Foto: Finbarr Oõreilly/NYT

Tobalov, que trabalha em uma mina em Pokrovsk, na região oriental de Donetsk, disse que 12 homens deixaram seu grupo de mineradores para se juntar ao Exército, substituídos por 10 homens e duas mulheres. “Elas estão indo muito bem”, disse ele a respeito das mulheres.

Várias mulheres disseram que se juntaram à mina de Pokrovsk, de propriedade da Metinvest, a maior siderúrgica da Ucrânia, porque ela oferecia empregos estáveis em uma economia devastada pela guerra. Valentyna Korotaeva, 30, ex-assistente de loja em Pokrovsk, disse que perdeu o emprego depois que um míssil russo caiu perto da loja, fazendo com que os proprietários fizessem as malas e fossem embora. Ela agora trabalha como operadora de guindaste na mina, movendo grandes máquinas de metal que aguardam reparo em um depósito.

Valentyna Korotaeva opera um guindaste em uma mina de carvão administrada pela siderúrgica Metinvest, perto da cidade de Pokrovsk, na região de Donetsk, no leste da Ucrânia Foto: Finbarr Oõreilly/NYT

O tempo que Valentyna conseguirá manter esse emprego dependerá da situação na linha de frente, a apenas 13 quilômetros da mina. As forças russas têm se aproximado de Pokrovsk nas últimas semanas. A Rússia frequentemente bombardeia a área, e a administração da mina preparou planos de fuga caso se torne muito perigoso permanecer lá.

“É assustador”, disse Valentyna, mãe de dois filhos. “Mas, por enquanto, estou ficando porque há escolas e jardins de infância aqui. Não há outro lugar para ir.”

Esforço

Várias mulheres disseram que trabalhar em uma mina era uma forma de participar do esforço de guerra, mantendo a economia ucraniana funcionando enquanto os homens lutam na frente. As minas de carvão têm sido uma salvação para muitas cidades no leste da Ucrânia, empregando dezenas de milhares de pessoas e contribuindo significativamente para o orçamento do governo por meio de impostos.

Yulia Koba, uma ex-psicóloga infantil que se juntou à mina Pokrovsk em junho como operadora de correia de transporte, descreveu isso como um esforço multifacetado, com mulheres na retaguarda apoiando os homens na frente. “Eles estão lá e nós estamos aqui”, disse ela.

Natalia Kharchenko, uma operadora de máquina, trabalha em uma fábrica em Kharkiv, Ucrânia  Foto: Finbarr Oõreilly/NYT

Yulia disse que os colegas homens estavam céticos quando ela assumiu seu novo cargo, com alguns acreditando que as mulheres não tinham lugar nos túneis escuros e empoeirados da mina. “O que você está fazendo? Por que você está aqui e não em algum lugar na superfície?”, ela disse que lhe perguntaram.

Mas, com o tempo, acrescentou Yulia, os homens gradualmente superaram os estereótipos de gênero e entenderam que as mulheres podiam fazer o trabalho tão bem quanto eles. Se as mulheres “vão servir nas forças armadas, por que não podem assumir posições tradicionalmente masculinas na mina?”, ela disse.

As empresas também tentaram trazer mais mulheres para o mercado de trabalho por meio de programas de treinamento.

A mina Pokrovsk iniciou um programa no início deste ano que até agora permitiu que 32 mulheres trabalhassem no subsolo. A Reskilling Ukraine, uma organização sueca sem fins lucrativos, ofereceu cursos de treinamento acelerado para mulheres que desejam se tornar motoristas de caminhão. Mais de 1.000 mulheres se inscreveram este ano, mas a organização tem fundos para treinar apenas 350, disse Oleksandra Panasiuk, coordenadora do programa.

“Muitas mulheres queriam ser motoristas, mas, por muito tempo, a sociedade não permitiu que elas fizessem isso”, disse Oleksandra. “Isso está mudando.”

Na mina Pavlohrad, várias mulheres contratadas durante a guerra agora esperam fazer carreira e subir na hierarquia. Karina, a ex-babá que agora é operadora de correia de transporte, disse que gostaria de se tornar uma técnica eletromecânica. “Já pensei nisso”, disse ela, com um leve sorriso surgindo em seu rosto jovem. “Eu gosto daqui.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Em uma manhã recente no leste da Ucrânia, Karina Yatsina, uma mineradora, estava ocupada operando uma correia de transporte em um túnel escuro de 360 metros de profundidade. Luzes piscavam no fim da galeria, iluminando os mineiros que escavavam os veios de carvão.

Um ano e meio atrás, Karina, 21 anos, estava trabalhando como babá. Então, amigos lhe disseram que uma mina na cidade oriental de Pavlohrad estava contratando mulheres para substituir homens recrutados para o Exército. O salário era bom e a pensão, generosa. Não demorou muito até que Karina se visse caminhando pelo labirinto de túneis da mina, com uma lanterna presa ao capacete vermelho.

“Eu nunca teria pensado que estaria trabalhando em uma mina”, disse Karina, fazendo uma pequena pausa em meio ao calor sufocante do túnel. “Eu nunca teria imaginado isso.”

Karina Yatsina opera uma máquina em uma mina de carvão em seu quinto dia de trabalho perto da cidade de Pavlograd, na região de Dnipro, no leste da Ucrânia Foto: Finbarr Oõreilly/NYT

Karina é uma das 130 mulheres que começaram a trabalhar no subsolo da mina desde o início da invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022. Elas agora operam transportes que levam carvão para a superfície, trabalham como inspetoras de segurança ou dirigem os trens que conectam as diferentes partes da mina.

“A ajuda delas é enorme, porque muitos homens foram lutar e não estão mais disponíveis”, disse Serhiy Faraonov, vice-chefe da mina, que é administrada pela DTEK, a maior empresa privada de energia da Ucrânia. Cerca de 1.000 trabalhadores do sexo masculino na mina foram recrutados, disse ele, ou cerca de um quinto da força de trabalho total. Para ajudar a compensar a escassez, a mina contratou cerca de 330 mulheres.

Mineiros descem por um poço dentro de uma mina de carvão administrada pela empresa de energia DTEK, perto da cidade de Pavlograd, na região de Dnipro, no leste da Ucrânia Foto: Finbarr Oõreilly/NYT

Depois que a Rússia invadiu a Ucrânia em 2022, o governo ucraniano suspendeu uma lei que proibia as mulheres de trabalhar no subsolo e em condições “prejudiciais ou perigosas”.

Elas fazem parte de uma tendência mais ampla na Ucrânia, onde as mulheres estão cada vez mais assumindo empregos há muito dominados por homens, conforme a mobilização generalizada de soldados esgota a força de trabalho masculina. Elas se tornaram motoristas de caminhão ou ônibus, soldadoras em siderúrgicas e trabalhadoras de depósito. Milhares delas também se juntaram voluntariamente ao Exército.

Mulheres participam de um treinamento em um centro de formação para trabalhar em uma mina na cidade de Pokrovsk, Ucrânia  Foto: Finbarr Oõreilly/NYT

Mudança

Ao fazer isso, essas mulheres estão remodelando a força de trabalho tradicionalmente masculina da Ucrânia, que, segundo especialistas, há muito tempo é marcada por preconceitos herdados da União Soviética. “Havia essa percepção das mulheres como trabalhadoras de segunda classe, menos confiáveis”, disse Hlib Vyshlinsky, diretor executivo do Centro de Estratégia Econômica de Kiev.

Vyshlinsky disse que as mulheres ucranianas há muito eram excluídas de certos empregos, não apenas pelas exigências físicas, mas também porque tais papéis eram considerados muito complicados para elas. As mulheres, disse ele, podiam dirigir trólebus, mas não trens. “Eram muitos os estereótipos.”

O atual fluxo de mulheres no mercado de trabalho ucraniano traz ecos das mulheres britânicas que trabalharam em fábricas de armas durante a Primeira Guerra Mundial, e das mulheres imortalizadas nos pôsteres icônicos de Rosie, a Rebitadeira, que foram ao trabalho nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial.

Uma mulher trabalha na lubrificação de um eixo de trem em um pátio de manutenção de uma ferrovia ucraniana em Kharkiv, Ucrânia, em 6 de junho de 2024 Foto: Finbarr Oõreilly/NYT

Mas mesmo com o fluxo de mulheres na força de trabalho, elas não serão suficientes para substituir todos os trabalhadores homens que saíram, dizem os economistas. Três quartos dos empregadores ucranianos enfrentaram escassez de mão de obra, de acordo com uma pesquisa recente.

Antes da guerra, 47% das mulheres ucranianas trabalhavam, de acordo com o Banco Mundial. Desde então, cerca de 1,5 milhão de trabalhadoras, cerca de 13% do total, deixaram a Ucrânia, disse Vyshlinsky.

“A parcela de mulheres que atualmente trabalham na Ucrânia é maior do que antes da guerra”, disse Vyshlinsky. Mas muitas delas deixaram a Ucrânia, impedindo que o país supere sua escassez de força de trabalho, disse ele.

Uma mulher opera máquinas em uma fábrica de coque de carvão administrada pela siderúrgica Metinvest, perto da cidade de Pokrovsk, na região de Donetsk, no leste da Ucrânia Foto: Finbarr Oõreilly/NYT

Mineração

O fenômeno das mulheres se juntando à força de trabalho tem sido particularmente evidente na indústria de mineração.

Após a invasão da Rússia em 2022, o governo ucraniano suspendeu uma lei que proibia as mulheres de trabalhar no subsolo e em condições “prejudiciais ou perigosas”. Agora, elas são uma presença regular nos elevadores apertados que levam os trabalhadores às profundezas das minas.

“Fiquei surpreso. É incomum ver uma mulher com uma pá fazendo o trabalho de um homem”, disse Dmytro Tobalov, um mineiro de 28 anos, pouco depois de uma mulher passar por ele e outros mineiros corpulentos que estavam descansando em bancos em um túnel, esperando para embarcar no elevador que leva para fora da mina.

Uma geóloga espera com seus colegas para pegar um elevador de volta à superfície de uma mina administrada pela siderúrgica Metinvest, perto da cidade de Pokrovsk, na região de Donetsk, no leste da Ucrânia Foto: Finbarr Oõreilly/NYT

Tobalov, que trabalha em uma mina em Pokrovsk, na região oriental de Donetsk, disse que 12 homens deixaram seu grupo de mineradores para se juntar ao Exército, substituídos por 10 homens e duas mulheres. “Elas estão indo muito bem”, disse ele a respeito das mulheres.

Várias mulheres disseram que se juntaram à mina de Pokrovsk, de propriedade da Metinvest, a maior siderúrgica da Ucrânia, porque ela oferecia empregos estáveis em uma economia devastada pela guerra. Valentyna Korotaeva, 30, ex-assistente de loja em Pokrovsk, disse que perdeu o emprego depois que um míssil russo caiu perto da loja, fazendo com que os proprietários fizessem as malas e fossem embora. Ela agora trabalha como operadora de guindaste na mina, movendo grandes máquinas de metal que aguardam reparo em um depósito.

Valentyna Korotaeva opera um guindaste em uma mina de carvão administrada pela siderúrgica Metinvest, perto da cidade de Pokrovsk, na região de Donetsk, no leste da Ucrânia Foto: Finbarr Oõreilly/NYT

O tempo que Valentyna conseguirá manter esse emprego dependerá da situação na linha de frente, a apenas 13 quilômetros da mina. As forças russas têm se aproximado de Pokrovsk nas últimas semanas. A Rússia frequentemente bombardeia a área, e a administração da mina preparou planos de fuga caso se torne muito perigoso permanecer lá.

“É assustador”, disse Valentyna, mãe de dois filhos. “Mas, por enquanto, estou ficando porque há escolas e jardins de infância aqui. Não há outro lugar para ir.”

Esforço

Várias mulheres disseram que trabalhar em uma mina era uma forma de participar do esforço de guerra, mantendo a economia ucraniana funcionando enquanto os homens lutam na frente. As minas de carvão têm sido uma salvação para muitas cidades no leste da Ucrânia, empregando dezenas de milhares de pessoas e contribuindo significativamente para o orçamento do governo por meio de impostos.

Yulia Koba, uma ex-psicóloga infantil que se juntou à mina Pokrovsk em junho como operadora de correia de transporte, descreveu isso como um esforço multifacetado, com mulheres na retaguarda apoiando os homens na frente. “Eles estão lá e nós estamos aqui”, disse ela.

Natalia Kharchenko, uma operadora de máquina, trabalha em uma fábrica em Kharkiv, Ucrânia  Foto: Finbarr Oõreilly/NYT

Yulia disse que os colegas homens estavam céticos quando ela assumiu seu novo cargo, com alguns acreditando que as mulheres não tinham lugar nos túneis escuros e empoeirados da mina. “O que você está fazendo? Por que você está aqui e não em algum lugar na superfície?”, ela disse que lhe perguntaram.

Mas, com o tempo, acrescentou Yulia, os homens gradualmente superaram os estereótipos de gênero e entenderam que as mulheres podiam fazer o trabalho tão bem quanto eles. Se as mulheres “vão servir nas forças armadas, por que não podem assumir posições tradicionalmente masculinas na mina?”, ela disse.

As empresas também tentaram trazer mais mulheres para o mercado de trabalho por meio de programas de treinamento.

A mina Pokrovsk iniciou um programa no início deste ano que até agora permitiu que 32 mulheres trabalhassem no subsolo. A Reskilling Ukraine, uma organização sueca sem fins lucrativos, ofereceu cursos de treinamento acelerado para mulheres que desejam se tornar motoristas de caminhão. Mais de 1.000 mulheres se inscreveram este ano, mas a organização tem fundos para treinar apenas 350, disse Oleksandra Panasiuk, coordenadora do programa.

“Muitas mulheres queriam ser motoristas, mas, por muito tempo, a sociedade não permitiu que elas fizessem isso”, disse Oleksandra. “Isso está mudando.”

Na mina Pavlohrad, várias mulheres contratadas durante a guerra agora esperam fazer carreira e subir na hierarquia. Karina, a ex-babá que agora é operadora de correia de transporte, disse que gostaria de se tornar uma técnica eletromecânica. “Já pensei nisso”, disse ela, com um leve sorriso surgindo em seu rosto jovem. “Eu gosto daqui.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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