O principal desafio da oposição da Venezuela no novo mandato do presidente Nicolás Maduro, avaliam analistas, é conciliar a pressão internacional para não reconhecer o regime chavista com a aproximação interna a setores descontentes do governo.
Para isso, a Mesa da Unidade Democrática (MUD) terá de superar divisões ideológicas do bloco, que reúne partidos que vão da centro-esquerda à direita liberal e uma divisão geracional, que separa líderes no exílio dos que ficaram na Venezuela, como é o caso do novo presidente da Assembleia Nacional,Juan Guaidó, de 35 anos.
“A oposição agora tenta enfraquecer Maduro tanto com ajuda da comunidade internacional, com pressão, isolamento e sanções, mas isso é só um tempero”, diz Luis Vicente León, do Instituto Datanálisis. “O prato principal é a oposição se articular com setores civis e militares descontentes com o chavismo. Sem isso, não há nada.”
Outro desafio será não subestimar a reação política do chavismo, que nos últimos anos usou de promessas de negociações e ofertas políticas para dividir a MUD diante de uma população cada vez mais empobrecida e resignada com a falta de ação política da oposição.
“A oposição subestimou por muito tempo a capacidade de sobrevivência do chavismo de reagir a ela”, lembra o cientista político Benigno Alarcón. “O governo controla todas as instituições e agora espera para ver se tentará mais uma vez cindir a oposição ou recorrer à força.”
Para isso, Assembleia Nacional, que não tem poderes práticos desde 2016, tenta comportar-se como o único poder democraticamente legítimo do país para, de um lado conquistar reconhecimento internacional, e do outro oferecer concessões a burocratas e militares insatisfeitos. Na semana passada, Guaidó anunciou que pretende anistiar chavistas que romperem com o governo.
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Um tribunal da Venezuela decidiu enviar à prisão 12 agentes do serviço de Inteligência (Sebin) envolvidos na breve detenção do presidente do Parlamento, Juan Guaidó, informou uma fonte judicial. Guadió convocou manifestações para 23 de janeiro, em apoio a um "governo de transição”
No front diplomático, a oposição no exílio usa o apoio de países latino-americanos e dos Estados Unidos para pressionar Maduro. O Grupo de Lima e a Organização dos Estados Americanos (OEA) prometeram sancionar autoridades chavistas e reconhecer Guaidó, em vez de Maduro, como o líder do país. No comando desse front, estão líderes históricos da oposição como Julio Borges e Antonio Ledezma e Carlos Vecchio, que estiveram reunidos ontem em Brasília com o chanceler Ernesto Araújo. Outros, como Leopoldo López estão presos. Henrique Capriles foi impedido de disputar cargos públicos por 15 anos.
Isso abriu caminho para líderes mais jovens tomarem o protagonismo do movimento antichavista na Venezuela. Guaidó, de 35 anos, aproveitou-se do revezamento acordado entre os partidos da MUD para assumir a Assembleia, que cabe, neste ano, ao seu partido, Voluntad Popular, o mesmo de López.
“A oposição está dividida entre radicais e moderados e quem está no exílio e dentro do exílio. Quem vive fora está mais radicalizado”, acrescenta León. “Dentro, estão preocupados na construção de lideranças, que passa por nomes mais jovens para mobilizar a população.”
Para o cientista político Benigno Alarcón, as circunstâncias políticas favoreceram esse rejuvenescimento da oposição dentro da Venezuela. “ Há uma nova geração de líderes opositores, principalmente dentro do Voluntad Popular, onde a maioria de seus deputados são jovens, como é o caso de Guaidó, diz. “E pela prisão de outros líderes, calhou de ele liderar o partido no momento em que cabia a eles presidir a AN.”
Diante dessa nova ofensiva opositora, o chavismo espera. Por ora, tenta minimizar a importância das novas lideranças opositoras, especialmente Guaidó. Externamente, recorre a aliados geopolíticos como Rússia, China e Turquia, de olho principalmente em recursos para amenizar a grave crise econômica.