Não faça isso, Bibi


Escolher entre os EUA e Teerã é uma idiotice; o primeiro é uma grande potência e amigo fundamental, o outro é uma sociedade inflamável, que trabalha num programa nuclear

Por É JORNALISTA, ESCRITOR, ROGER, COHEN, É JORNALISTA, ESCRITOR, ROGER e COHEN

Um embaixador israelense perguntou recentemente a um embaixador americano que trabalha na Europa o que seria possível fazer para melhorar as péssimas relações entre o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu e o presidente Barack Obama. Ele respondeu: "Digam obrigado de vez em quando". O embaixador americano sugeriu ainda: "De vez em quando, perguntem ao presidente se há algo que vocês possam fazer por ele. E, acima de tudo, não se intrometam em nossa estratégia eleitoral". A resposta seca reflete a fúria de Obama provocada por uma série de coisas: o fato de Netanyahu passar por cima dele ao dirigir-se ao Congresso controlado pelos republicanos, onde é extremamente mimado; a ingratidão do premiê israelense pelo extraordinário apoio americano - até mesmo com o veto de uma resolução contrária aos assentamentos na ONU, no ano passado, e à aspiração palestina a um Estado próprio -; e as táticas de Netanyahu que refletem sua convicção de que Obama terá um único mandato; e a recusa em suspender pela segunda vez a construção de assentamentos para o bom andamento das negociações de paz. Gostaria de acrescentar mais um conselho a Netanyahu, se é que ele está preocupado com seu relacionamento conflituoso com Obama - e deveria estar, pois os israelenses têm consciência da importância dos Estados Unidos e talvez não estejam inclinados a reeleger um homem que envenenou as relações com Washington. O meu conselho é: não ataque o Irã este ano. Netanyahu sente-se tentado a bombardear o Irã nos próximos meses para frustrar o impenetrável programa nuclear desse país e - apesar do apelo de Obama, na quinta-feira, e das mensagens do secretário da Defesa americano, Leon Panetta - não garantiu aos Estados Unidos que não o fará. Vários fatores, iranianos e americanos, impelem Netanyahu a agir rapidamente. Em primeiro lugar, a convicção de Israel de que o Irã está perto de um ponto irreversível em sua busca de vários elementos - do enriquecimento de urânio aos mecanismos necessários para a construção de uma ogiva nuclear. O que intensificou estas preocupações foi o início do enriquecimento nas instalações subterrâneas de Fordo, nas proximidades da cidade de Qom, assim como o tom belicoso do Irã em resposta à ameaça de sanções contra seu setor petrolífero. Em segundo lugar, o cálculo político dos EUA. Um ataque israelense poucos meses antes das eleições americanas, em novembro, seria desastroso para Obama. Ele não teria condições de expressar sua revolta, considerando a influência do lobby pró-Israel, o importante voto dos judeus na Flórida e o apoio extraordinário que um bombardeio israelense receberia do adversário republicano - provavelmente Mitt Romney. Por outro lado, se Obama conseguisse um segundo mandato, teria a possibilidade de assinalar seu desagrado se Israel resolvesse agir por conta própria. Como aumenta a convicção de que Obama deverá ganhar, estas considerações têm muito peso em Jerusalém. Drama. Netanyahu já se definiu como o homem que está entre o Irã e a bomba. Politicamente um falcão, ele tem um pendor pelo dramático. Nestas questões, Israel já agiu por conta própria uma vez, quando bombardeou uma instalação nuclear na Síria, em 2007. A esta altura, os detonadores americano e israelense parecem distintos. Panetta afirma que "a posição definitiva dos EUA em relação ao Irã é: não desenvolva a arma nuclear". Enquanto isso, os israelenses consideram inaceitável a irreversibilidade da capacidade nuclear, mesmo que a arma não esteja sendo construída. O perigo se oculta nesta discrepância. Não vá para lá, Netanyahu. Seria um erro terrível. Escolher entre os Estados Unidos e o Irã é uma idiotice. O primeiro é uma grande potência e um amigo fundamental. O outro é uma sociedade violenta, inflamável, que trabalha num programa nuclear há dezenas de anos e cujo aliado regional mais próximo, a Síria, está na beira do abismo. O sonho de Israel é que os EUA se encarreguem do ataque, mesmo que seja um ataque conjunto - uma das razões pelas quais Israel rejeita esclarecer suas intenções. Não havendo uma provocação exorbitante do Irã, como o bloqueio do Estreito de Ormuz, isso não ocorrerá antes de novembro. Em um ano eleitoral, e o fato de o serviço de inteligência americano estar convencido de que o Irã ainda não está construindo a bomba, Obama não permitirá que os preços do petróleo cheguem às alturas e o mundo muçulmano dê início a um novo surto de revolta contra os EUA. Em grande parte, sua presidência tem se dedicado precisamente em sair da guerra e abrandar a hostilidade israelense. Netanyahu afirmou no fim de semana que, "pela primeira vez", via certa hesitação no Irã em consequência das sanções. Mas também pediu "uma clara afirmação" de que os EUA "recorrerão às armas", caso as sanções fracassem. Enquanto isso, seu vice-primeiro-ministro resmungava que as sanções americanas foram decepcionantes. Os fatos são os seguintes: um ataque de Israel uniria o Irã. Desencadeando sua fúria, isolaria a república islâmica por uma geração, consolidaria o regime sírio, radicalizaria o mundo árabe em um momento de delicada transição, atiçaria o Hezbollah na fronteira do Líbano, encorajaria o Hamas, colocaria em perigo as forças americanas na região, espalharia o terrorismo, levaria os preços do petróleo às alturas, provavelmente desencadearia uma guerra regional, ofereceria uma tábua de salvação para o Irã no momento em que a Europa estaria decidida a parar de comprar o seu petróleo, acrescentaria um persa à vendetta árabe contra Israel, e, na melhor das hipóteses, só conseguiria atrasar as ambições nucleares iraniana em apenas um par de anos. Parecem perspectivas promissoras? Dentro em breve, o general Martin Dempsey, comandante do Estado-Maior Conjunto dos EUA, visitará Israel. Será bom que Netanyahu ouça, tire o dedo do gatilho iraniano, e entenda que o destino de Israel depende mais de Ramallah do que de Teerã. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

Um embaixador israelense perguntou recentemente a um embaixador americano que trabalha na Europa o que seria possível fazer para melhorar as péssimas relações entre o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu e o presidente Barack Obama. Ele respondeu: "Digam obrigado de vez em quando". O embaixador americano sugeriu ainda: "De vez em quando, perguntem ao presidente se há algo que vocês possam fazer por ele. E, acima de tudo, não se intrometam em nossa estratégia eleitoral". A resposta seca reflete a fúria de Obama provocada por uma série de coisas: o fato de Netanyahu passar por cima dele ao dirigir-se ao Congresso controlado pelos republicanos, onde é extremamente mimado; a ingratidão do premiê israelense pelo extraordinário apoio americano - até mesmo com o veto de uma resolução contrária aos assentamentos na ONU, no ano passado, e à aspiração palestina a um Estado próprio -; e as táticas de Netanyahu que refletem sua convicção de que Obama terá um único mandato; e a recusa em suspender pela segunda vez a construção de assentamentos para o bom andamento das negociações de paz. Gostaria de acrescentar mais um conselho a Netanyahu, se é que ele está preocupado com seu relacionamento conflituoso com Obama - e deveria estar, pois os israelenses têm consciência da importância dos Estados Unidos e talvez não estejam inclinados a reeleger um homem que envenenou as relações com Washington. O meu conselho é: não ataque o Irã este ano. Netanyahu sente-se tentado a bombardear o Irã nos próximos meses para frustrar o impenetrável programa nuclear desse país e - apesar do apelo de Obama, na quinta-feira, e das mensagens do secretário da Defesa americano, Leon Panetta - não garantiu aos Estados Unidos que não o fará. Vários fatores, iranianos e americanos, impelem Netanyahu a agir rapidamente. Em primeiro lugar, a convicção de Israel de que o Irã está perto de um ponto irreversível em sua busca de vários elementos - do enriquecimento de urânio aos mecanismos necessários para a construção de uma ogiva nuclear. O que intensificou estas preocupações foi o início do enriquecimento nas instalações subterrâneas de Fordo, nas proximidades da cidade de Qom, assim como o tom belicoso do Irã em resposta à ameaça de sanções contra seu setor petrolífero. Em segundo lugar, o cálculo político dos EUA. Um ataque israelense poucos meses antes das eleições americanas, em novembro, seria desastroso para Obama. Ele não teria condições de expressar sua revolta, considerando a influência do lobby pró-Israel, o importante voto dos judeus na Flórida e o apoio extraordinário que um bombardeio israelense receberia do adversário republicano - provavelmente Mitt Romney. Por outro lado, se Obama conseguisse um segundo mandato, teria a possibilidade de assinalar seu desagrado se Israel resolvesse agir por conta própria. Como aumenta a convicção de que Obama deverá ganhar, estas considerações têm muito peso em Jerusalém. Drama. Netanyahu já se definiu como o homem que está entre o Irã e a bomba. Politicamente um falcão, ele tem um pendor pelo dramático. Nestas questões, Israel já agiu por conta própria uma vez, quando bombardeou uma instalação nuclear na Síria, em 2007. A esta altura, os detonadores americano e israelense parecem distintos. Panetta afirma que "a posição definitiva dos EUA em relação ao Irã é: não desenvolva a arma nuclear". Enquanto isso, os israelenses consideram inaceitável a irreversibilidade da capacidade nuclear, mesmo que a arma não esteja sendo construída. O perigo se oculta nesta discrepância. Não vá para lá, Netanyahu. Seria um erro terrível. Escolher entre os Estados Unidos e o Irã é uma idiotice. O primeiro é uma grande potência e um amigo fundamental. O outro é uma sociedade violenta, inflamável, que trabalha num programa nuclear há dezenas de anos e cujo aliado regional mais próximo, a Síria, está na beira do abismo. O sonho de Israel é que os EUA se encarreguem do ataque, mesmo que seja um ataque conjunto - uma das razões pelas quais Israel rejeita esclarecer suas intenções. Não havendo uma provocação exorbitante do Irã, como o bloqueio do Estreito de Ormuz, isso não ocorrerá antes de novembro. Em um ano eleitoral, e o fato de o serviço de inteligência americano estar convencido de que o Irã ainda não está construindo a bomba, Obama não permitirá que os preços do petróleo cheguem às alturas e o mundo muçulmano dê início a um novo surto de revolta contra os EUA. Em grande parte, sua presidência tem se dedicado precisamente em sair da guerra e abrandar a hostilidade israelense. Netanyahu afirmou no fim de semana que, "pela primeira vez", via certa hesitação no Irã em consequência das sanções. Mas também pediu "uma clara afirmação" de que os EUA "recorrerão às armas", caso as sanções fracassem. Enquanto isso, seu vice-primeiro-ministro resmungava que as sanções americanas foram decepcionantes. Os fatos são os seguintes: um ataque de Israel uniria o Irã. Desencadeando sua fúria, isolaria a república islâmica por uma geração, consolidaria o regime sírio, radicalizaria o mundo árabe em um momento de delicada transição, atiçaria o Hezbollah na fronteira do Líbano, encorajaria o Hamas, colocaria em perigo as forças americanas na região, espalharia o terrorismo, levaria os preços do petróleo às alturas, provavelmente desencadearia uma guerra regional, ofereceria uma tábua de salvação para o Irã no momento em que a Europa estaria decidida a parar de comprar o seu petróleo, acrescentaria um persa à vendetta árabe contra Israel, e, na melhor das hipóteses, só conseguiria atrasar as ambições nucleares iraniana em apenas um par de anos. Parecem perspectivas promissoras? Dentro em breve, o general Martin Dempsey, comandante do Estado-Maior Conjunto dos EUA, visitará Israel. Será bom que Netanyahu ouça, tire o dedo do gatilho iraniano, e entenda que o destino de Israel depende mais de Ramallah do que de Teerã. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

Um embaixador israelense perguntou recentemente a um embaixador americano que trabalha na Europa o que seria possível fazer para melhorar as péssimas relações entre o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu e o presidente Barack Obama. Ele respondeu: "Digam obrigado de vez em quando". O embaixador americano sugeriu ainda: "De vez em quando, perguntem ao presidente se há algo que vocês possam fazer por ele. E, acima de tudo, não se intrometam em nossa estratégia eleitoral". A resposta seca reflete a fúria de Obama provocada por uma série de coisas: o fato de Netanyahu passar por cima dele ao dirigir-se ao Congresso controlado pelos republicanos, onde é extremamente mimado; a ingratidão do premiê israelense pelo extraordinário apoio americano - até mesmo com o veto de uma resolução contrária aos assentamentos na ONU, no ano passado, e à aspiração palestina a um Estado próprio -; e as táticas de Netanyahu que refletem sua convicção de que Obama terá um único mandato; e a recusa em suspender pela segunda vez a construção de assentamentos para o bom andamento das negociações de paz. Gostaria de acrescentar mais um conselho a Netanyahu, se é que ele está preocupado com seu relacionamento conflituoso com Obama - e deveria estar, pois os israelenses têm consciência da importância dos Estados Unidos e talvez não estejam inclinados a reeleger um homem que envenenou as relações com Washington. O meu conselho é: não ataque o Irã este ano. Netanyahu sente-se tentado a bombardear o Irã nos próximos meses para frustrar o impenetrável programa nuclear desse país e - apesar do apelo de Obama, na quinta-feira, e das mensagens do secretário da Defesa americano, Leon Panetta - não garantiu aos Estados Unidos que não o fará. Vários fatores, iranianos e americanos, impelem Netanyahu a agir rapidamente. Em primeiro lugar, a convicção de Israel de que o Irã está perto de um ponto irreversível em sua busca de vários elementos - do enriquecimento de urânio aos mecanismos necessários para a construção de uma ogiva nuclear. O que intensificou estas preocupações foi o início do enriquecimento nas instalações subterrâneas de Fordo, nas proximidades da cidade de Qom, assim como o tom belicoso do Irã em resposta à ameaça de sanções contra seu setor petrolífero. Em segundo lugar, o cálculo político dos EUA. Um ataque israelense poucos meses antes das eleições americanas, em novembro, seria desastroso para Obama. Ele não teria condições de expressar sua revolta, considerando a influência do lobby pró-Israel, o importante voto dos judeus na Flórida e o apoio extraordinário que um bombardeio israelense receberia do adversário republicano - provavelmente Mitt Romney. Por outro lado, se Obama conseguisse um segundo mandato, teria a possibilidade de assinalar seu desagrado se Israel resolvesse agir por conta própria. Como aumenta a convicção de que Obama deverá ganhar, estas considerações têm muito peso em Jerusalém. Drama. Netanyahu já se definiu como o homem que está entre o Irã e a bomba. Politicamente um falcão, ele tem um pendor pelo dramático. Nestas questões, Israel já agiu por conta própria uma vez, quando bombardeou uma instalação nuclear na Síria, em 2007. A esta altura, os detonadores americano e israelense parecem distintos. Panetta afirma que "a posição definitiva dos EUA em relação ao Irã é: não desenvolva a arma nuclear". Enquanto isso, os israelenses consideram inaceitável a irreversibilidade da capacidade nuclear, mesmo que a arma não esteja sendo construída. O perigo se oculta nesta discrepância. Não vá para lá, Netanyahu. Seria um erro terrível. Escolher entre os Estados Unidos e o Irã é uma idiotice. O primeiro é uma grande potência e um amigo fundamental. O outro é uma sociedade violenta, inflamável, que trabalha num programa nuclear há dezenas de anos e cujo aliado regional mais próximo, a Síria, está na beira do abismo. O sonho de Israel é que os EUA se encarreguem do ataque, mesmo que seja um ataque conjunto - uma das razões pelas quais Israel rejeita esclarecer suas intenções. Não havendo uma provocação exorbitante do Irã, como o bloqueio do Estreito de Ormuz, isso não ocorrerá antes de novembro. Em um ano eleitoral, e o fato de o serviço de inteligência americano estar convencido de que o Irã ainda não está construindo a bomba, Obama não permitirá que os preços do petróleo cheguem às alturas e o mundo muçulmano dê início a um novo surto de revolta contra os EUA. Em grande parte, sua presidência tem se dedicado precisamente em sair da guerra e abrandar a hostilidade israelense. Netanyahu afirmou no fim de semana que, "pela primeira vez", via certa hesitação no Irã em consequência das sanções. Mas também pediu "uma clara afirmação" de que os EUA "recorrerão às armas", caso as sanções fracassem. Enquanto isso, seu vice-primeiro-ministro resmungava que as sanções americanas foram decepcionantes. Os fatos são os seguintes: um ataque de Israel uniria o Irã. Desencadeando sua fúria, isolaria a república islâmica por uma geração, consolidaria o regime sírio, radicalizaria o mundo árabe em um momento de delicada transição, atiçaria o Hezbollah na fronteira do Líbano, encorajaria o Hamas, colocaria em perigo as forças americanas na região, espalharia o terrorismo, levaria os preços do petróleo às alturas, provavelmente desencadearia uma guerra regional, ofereceria uma tábua de salvação para o Irã no momento em que a Europa estaria decidida a parar de comprar o seu petróleo, acrescentaria um persa à vendetta árabe contra Israel, e, na melhor das hipóteses, só conseguiria atrasar as ambições nucleares iraniana em apenas um par de anos. Parecem perspectivas promissoras? Dentro em breve, o general Martin Dempsey, comandante do Estado-Maior Conjunto dos EUA, visitará Israel. Será bom que Netanyahu ouça, tire o dedo do gatilho iraniano, e entenda que o destino de Israel depende mais de Ramallah do que de Teerã. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

Um embaixador israelense perguntou recentemente a um embaixador americano que trabalha na Europa o que seria possível fazer para melhorar as péssimas relações entre o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu e o presidente Barack Obama. Ele respondeu: "Digam obrigado de vez em quando". O embaixador americano sugeriu ainda: "De vez em quando, perguntem ao presidente se há algo que vocês possam fazer por ele. E, acima de tudo, não se intrometam em nossa estratégia eleitoral". A resposta seca reflete a fúria de Obama provocada por uma série de coisas: o fato de Netanyahu passar por cima dele ao dirigir-se ao Congresso controlado pelos republicanos, onde é extremamente mimado; a ingratidão do premiê israelense pelo extraordinário apoio americano - até mesmo com o veto de uma resolução contrária aos assentamentos na ONU, no ano passado, e à aspiração palestina a um Estado próprio -; e as táticas de Netanyahu que refletem sua convicção de que Obama terá um único mandato; e a recusa em suspender pela segunda vez a construção de assentamentos para o bom andamento das negociações de paz. Gostaria de acrescentar mais um conselho a Netanyahu, se é que ele está preocupado com seu relacionamento conflituoso com Obama - e deveria estar, pois os israelenses têm consciência da importância dos Estados Unidos e talvez não estejam inclinados a reeleger um homem que envenenou as relações com Washington. O meu conselho é: não ataque o Irã este ano. Netanyahu sente-se tentado a bombardear o Irã nos próximos meses para frustrar o impenetrável programa nuclear desse país e - apesar do apelo de Obama, na quinta-feira, e das mensagens do secretário da Defesa americano, Leon Panetta - não garantiu aos Estados Unidos que não o fará. Vários fatores, iranianos e americanos, impelem Netanyahu a agir rapidamente. Em primeiro lugar, a convicção de Israel de que o Irã está perto de um ponto irreversível em sua busca de vários elementos - do enriquecimento de urânio aos mecanismos necessários para a construção de uma ogiva nuclear. O que intensificou estas preocupações foi o início do enriquecimento nas instalações subterrâneas de Fordo, nas proximidades da cidade de Qom, assim como o tom belicoso do Irã em resposta à ameaça de sanções contra seu setor petrolífero. Em segundo lugar, o cálculo político dos EUA. Um ataque israelense poucos meses antes das eleições americanas, em novembro, seria desastroso para Obama. Ele não teria condições de expressar sua revolta, considerando a influência do lobby pró-Israel, o importante voto dos judeus na Flórida e o apoio extraordinário que um bombardeio israelense receberia do adversário republicano - provavelmente Mitt Romney. Por outro lado, se Obama conseguisse um segundo mandato, teria a possibilidade de assinalar seu desagrado se Israel resolvesse agir por conta própria. Como aumenta a convicção de que Obama deverá ganhar, estas considerações têm muito peso em Jerusalém. Drama. Netanyahu já se definiu como o homem que está entre o Irã e a bomba. Politicamente um falcão, ele tem um pendor pelo dramático. Nestas questões, Israel já agiu por conta própria uma vez, quando bombardeou uma instalação nuclear na Síria, em 2007. A esta altura, os detonadores americano e israelense parecem distintos. Panetta afirma que "a posição definitiva dos EUA em relação ao Irã é: não desenvolva a arma nuclear". Enquanto isso, os israelenses consideram inaceitável a irreversibilidade da capacidade nuclear, mesmo que a arma não esteja sendo construída. O perigo se oculta nesta discrepância. Não vá para lá, Netanyahu. Seria um erro terrível. Escolher entre os Estados Unidos e o Irã é uma idiotice. O primeiro é uma grande potência e um amigo fundamental. O outro é uma sociedade violenta, inflamável, que trabalha num programa nuclear há dezenas de anos e cujo aliado regional mais próximo, a Síria, está na beira do abismo. O sonho de Israel é que os EUA se encarreguem do ataque, mesmo que seja um ataque conjunto - uma das razões pelas quais Israel rejeita esclarecer suas intenções. Não havendo uma provocação exorbitante do Irã, como o bloqueio do Estreito de Ormuz, isso não ocorrerá antes de novembro. Em um ano eleitoral, e o fato de o serviço de inteligência americano estar convencido de que o Irã ainda não está construindo a bomba, Obama não permitirá que os preços do petróleo cheguem às alturas e o mundo muçulmano dê início a um novo surto de revolta contra os EUA. Em grande parte, sua presidência tem se dedicado precisamente em sair da guerra e abrandar a hostilidade israelense. Netanyahu afirmou no fim de semana que, "pela primeira vez", via certa hesitação no Irã em consequência das sanções. Mas também pediu "uma clara afirmação" de que os EUA "recorrerão às armas", caso as sanções fracassem. Enquanto isso, seu vice-primeiro-ministro resmungava que as sanções americanas foram decepcionantes. Os fatos são os seguintes: um ataque de Israel uniria o Irã. Desencadeando sua fúria, isolaria a república islâmica por uma geração, consolidaria o regime sírio, radicalizaria o mundo árabe em um momento de delicada transição, atiçaria o Hezbollah na fronteira do Líbano, encorajaria o Hamas, colocaria em perigo as forças americanas na região, espalharia o terrorismo, levaria os preços do petróleo às alturas, provavelmente desencadearia uma guerra regional, ofereceria uma tábua de salvação para o Irã no momento em que a Europa estaria decidida a parar de comprar o seu petróleo, acrescentaria um persa à vendetta árabe contra Israel, e, na melhor das hipóteses, só conseguiria atrasar as ambições nucleares iraniana em apenas um par de anos. Parecem perspectivas promissoras? Dentro em breve, o general Martin Dempsey, comandante do Estado-Maior Conjunto dos EUA, visitará Israel. Será bom que Netanyahu ouça, tire o dedo do gatilho iraniano, e entenda que o destino de Israel depende mais de Ramallah do que de Teerã. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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