ENVIADO ESPECIAL A NOVA DÉLHI - O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, usou neste sábado, 9, um nome alternativo do país - Bharat - durante a abertura da 18ª Cúpula do G-20. A sessão inaugural da reunião entre líderes das principais economias do mundo aprovou a inclusão da União Africana como novo membro permanente do G-20.
No encontro, Modi questionou os chefes de Estado e de governo presentes se todos concordavam com a inclusão da União Africana no grupo. Com o consentimento deles, o primeiro-ministro celebrou a aprovação da proposta. A entrada da União Africana teve apoio de outros países, entre eles o Brasil e a Rússia.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia prometido, durante viagem à África no fim de agosto, apoiar a inclusão de uma representação conjunta dos africanos no G-20. A União Africana foi criada em 2002 e tem 55 países integrantes.
“Isso fortalecerá o G-20 e também a voz do Sul Global”, afirmou o primeiro-ministro indiano, que disse ainda que o mundo passa por uma crise de confiança, depois da pandemia da covid-19, aprofundada pela guerra na Ucrânia.
Modi abriu os trabalhos como anfitrião do G-20 atrás de uma placa com o nome Bharat. É uma mensagem de viés nacionalista, já que o nome Índia é associado ao período colonial de dominação britânica, encerrado com a independência, em 1947. Os dois constam como nomes do país na Constituição, mas nos últimos dias o premiê passou a adotar o nome ancestral com frequência.
A primeira disposição da Constituição da Índia estabelece os dois nomes oficiais do país como “Índia, isto é, Bharat.” O nome do país pode ser alterado, ou um dos dois nomes pode ser omitido desta disposição por meio de uma emenda constitucional. Tal emenda precisaria de uma maioria de dois terços nas câmaras baixa e alta do parlamento.
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A palavra Bharat, em sânscrito, consta em textos antigos e remete a tradições hindus. O nome passou a ser aplicado pelo governo de Modi como padrão para algumas comunicações do G-20, como os convites enviados a delegações estrangeiras para um banquete, na noite deste sábado, dia 9. O premiê também usou essa opção durante viagem recente para participar da reunião de cúpula da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático), na Indonésia.
Uma revista oficial distribuída no G-20 refere-se a Bharat como “A Mãe da Democracia” e explica que esse é um nome oficial do país. A atitude de Modi alimentou discussões e especulações sobre uma mudança oficial do nome. E pode ter a ver com motivos políticos internos.
O uso do nome ancestral do país tem apoio dos que aprovam o processo de “descolonização”, sobretudo os nacionalistas hindus, base política de Modi. O processo se acentuou no G-20, que vem sendo usado por Modi para promoção de sua própria imagem, como mostrou o Estadão, a um ano das eleições internas.
Integrantes do governo dizem que o G-20 proporcionou transformações no país, com dezenas de obras de infraestrutura. Os jornais locais publicam diariamente propagandas que associam a Modi à construção de rodovias, expansão do metrô, canais e até uma cidade inteira movida a energia de painéis solares.
O movimento ocorre meses depois de os principais partidos de oposição anunciarem que usariam o nome I.N.D.I.A. - acrônimo para Aliança Nacional Indiana para o Desenvolvimento Inclusivo. A frente articulada por eles deve disputar o poder contra o partido de Modi, o BJP - Partido do Povo Indiano ou Partido Bharatiya Janata.