Naruhito, filho primogênito do soberano Akihito, se tornou às 00h00 de quarta-feira, hora local (12h00 de Brasília), o 126º imperador do Japão, inaugurando a era chamada "Reiwa" ("bela harmonia"). Seu pai concluiu as cerimônias de abdicação horas antes, após 30 anos de reinado, a primeira vez que ocorre em mais de dois séculos no Japão.
O momento é histórico - dez dias de férias foram decretados para a ocasião - mas a mudança de soberano aconteceu de forma sóbria, a portas fechadas no palácio.
No centro de Tóquio, nos arredores do palácio, onde a presença policial foi reforçada, não houve celebrações oficiais para marcar o início da era Reiwa.
Mas alguns japonses foram até o local, enfrentando a chuva, para tirar fotos e imortalizar o momento.
Entre eles, Miyuki Sakai, de 45 anos, que veio de Osaka (oeste) com sua família para homenagear Akihito. "Durante a era Heisei, obtive o meu diploma, me casei, tive três filhas, então gostaria de agradecer o imperador", declarou à AFP, inclinando-se várias vezes em sinal de gratidão.
Nos bairros agitados da capital (Shibuya, Shinjuku), os bares e restaurantes se prepararam para a festa, enquanto em Gifu (centro do país), muitos vestiram seu kimono.
"Gratidão"
No início da tarde, Akihito, de 85 anos, concluiu a cerimônia de abdicação, de apenas 10 minutos de duração, no Salão do Pinheiro (Matsu-no-Ma), considerado o mais elegante do Palácio Imperial.
Akihito fez um breve discurso: "Expresso do fundo do meu coração minha gratidão ao povo do Japão, que me aceitou como símbolo do Estado e me apoiou", disse, em referência a seu papel de acordo com a Constituição, em vigor desde 1947 e na qual o imperador deixou de ter o status de semideus.
Após 30 anos, imperador japonês Akihito abdica e deixa o trono para seu filho
Durante a manhã, o imperador realizou o ritual de "informar" sobre sua abdicação aos ancestrais em vários santuários do Palácio Imperial.
"Nasci na era Heisei e estou um pouco triste, mas também estou nervoso com a nova era que começa", disse Rikia Iwasaki, estudante de 13 anos.
"Queria agradecer ao imperador por seu trabalho duro", afirmou Hironari Uemara, de 76 anos, que viajou de Okayama (oeste do país) a Tóquio. Sua esposa contou à AFP que vai sentir saudade do imperador Akihito e da imperatriz Michiko. "Tenho vontade de chorar", declarou.
A população japonesa organiza festejos históricos e praticamente inéditos, porque desta vez a nação não está de luto com a morte de um soberano. Isto aconteceu em 1989, com a morte de Hirohito, também chamado de imperador Showa, em 1926 (falecimento do imperador Taisho) e em 1912 (morte do imperador Meiji).
O presidente americano, Donald Trump, enviou uma mensagem em que manifesta "sincera apreciação" pelo casal imperial. Também destacou a "relação próxima" entre Estados Unidos e Japão.
Diversos eventos estão programados para os próximos meses para marcar a transferência do trono, com a presença de chefes de Estado e personalidades.
Esta é a primeira vez em dois séculos que um imperador japonês cede o posto em vida, após uma lei elaborada sob medida para Akihito.
Em meados de 2016 o imperador anunciou que pretendia deixar o trono porque não conseguia mais exercer a função "de corpo e alma", uma consequência de sua idade e de seu estado de saúde.
O governo decidiu a data da abdicação e tudo que cerca o protocolo, um processo no qual a família imperial não teve direito a voz ou voto.
Últimas peregrinações
Akihito e sua esposa Machiko realizaram nas semanas precedentes suas últimas peregrinações em um país que percorreram durante três décadas, sobretudo para levar conforto aos desabrigados após catástrofes naturais que aconteceram durante seu reinado.
Os imperadores gozam de grande respeito no país por sua proximidade com os cidadãos.
A imperatriz Michiko desperta "grande entusiasmo" e ele soube ganhar o afeto "por exemplo apertando mãos", explica Hideya Kawanishi, professor da Universidade de Nagoya.
Eles passam a ser imperador e imperatriz eméritos e cedem o palácio imperial a Naruhito e a sua esposa Masako, de 59 e 55 anos respectivamente.
No muito aguardado primeiro discurso de Naruhito na quarta-feira, após sua coroação, ele deve falar sobre o caráter que pretende dar a seu reinado.
Naruhito promete seguir os passos de seu pai. Ele deixou claro que continuará trabalhando para que as futuras gerações tenham conhecimento dos abusos cometidos pelo Japão durante a guerra e que pretende apoiar as vítimas de catástrofes naturais.
Analistas consideram que isto não será suficiente para que deixe sua marca, mas sua preocupação com o problema da água no planeta pode dar um caráter mais internacional a seu papel. / AFP