Netanyahu critica Biden e expõe tensão com EUA por reforma do Judiciário


Oponentes do premiê o acusaram de colocar em risco o relacionamento de longa data com Washington, um país que é fundamental nas políticas de segurança de Israel

Por Redação
Atualização:

JERUSALÉM - O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, criticou o presidente dos Estados Unidos, Joe biden, seu principal aliado internacional, e tornou explícita a crise diplomática entre os dois países na esteira da reforma judicial do premiê. Em comunicado, Netanyahu afirmou que Israel é um país soberano que não toma decisões com base em pressões do exterior. A reforma é apontada por especialistas como uma ameaça à democracia em Israel.

“Conheço o presidente Biden há mais de 40 anos e aprecio seu compromisso de longa data com Israel”, disse Netanyahu em um comunicado publicado em inglês no Twitter. Mas acrescentou: “Israel é um país soberano que toma suas decisões pela vontade de seu povo e não com base em pressões do exterior, inclusive dos melhores amigos”.

O comentário segue a semanas de uma pressão diplomática silenciosa dos principais aliados de Israel à reforma do Judiciário que tem colocado o país em ebulição. Oponentes de Netanyahu o acusaram de colocar em risco o relacionamento de longa data com Washington, um país que é fundamental nas políticas de segurança de Israel, incluindo na estratégia de contenção do inimigo Irã.

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O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, e o presidente dos EUA, Joe Biden Foto: Michel Euler/AP

Mais tarde, porém, Netanyahu adotou um tom mais conciliador, dizendo que, embora “Israel e os Estados Unidos tenham suas diferenças ocasionais”, a aliança entre eles era “inabalável”.

O discurso ameno foi feito durante seu discurso na na Cúpula da Democracia, evento que conta com o Departamento de Estado americano em sua organização. A presença de Netanyahu foi divulgada no domingo pelo jornal Haaretz e gerou uma chuva de questionamentos aos EUA, que disseram que Israel era apenas um dos 120 países convidados. De acordo com o Times of Israel, embora Netanyahu tenha sido convidado para o fórum meses atrás, o Departamento de Estado não adicionou seu nome ao cronograma público até horas antes do discurso desta quarta.

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Os comentários de Netanyahu vieram depois que Biden disse a repórteres que estava “muito preocupado” com os eventos em Israel. A declaração do americano ocorreu após sugestões na terça-feira, 28, do embaixador dos EUA em Israel de que Netanyahu seria bem-vindo em Washington em breve. Mas Biden deixou claro que um convite não deveria ser feito muito em breve. Quando questionado se Netanyahu seria convidado para a Casa Branca, o presidente respondeu: “Não. Não no curto prazo.”

Os aliados ocidentais de Israel têm demonstrado preocupação desde que Netanyahu foi reeleito em novembro junto com a coalizão mais extremista da história do país, que inclui políticos ultraortodoxos e anti-Palestina. As preocupações escalaram depois que a coalizão aumentou seus esforços para exercer mais controle político sobre a Suprema Corte de Israel, desencadeando a pior crise doméstica em décadas.

“Eles não podem continuar por este caminho – eu meio que deixei isso claro”, disse Biden. “Esperamos que o primeiro-ministro aja de maneira a tentar chegar a um compromisso genuíno, mas isso ainda precisa ser visto.”

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Na segunda-feira, manifestantes se reuniram espontaneamente nas ruas de Israel e promoveram uma greve-geral, que forçou Netanyahu adiar sua reforma judicial Foto: Oded Balilty/AP

Desconfiança

Para engrossar as críticas de aliados diplomáticos de Israel, o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, também pediu que Netanyahu encontrasse um consenso em sua reforma, em um comentário feito frente a frente, quando o premiê israelense visitava Londres no fim de semana.

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A troca de críticas vem depois de Netanyahu adiar na última segunda-feira, 27, seu esforço para levar o plano judicial ao Parlamento, com a promessa de permitir um diálogo com os opositores. Poucas horas depois, as equipes de negociação para a coalizão do governo e a oposição já realizaram uma reunião preliminar organizada pelo presidente de Israel, Isaac Herzog.

Esperava-se que o atraso do plano aliviasse as tensões com Washington. Mas os comentários de Biden indicaram que os Estados Unidos permaneceram cautelosos sobre os planos de Netanyahu e esperariam para ver o resultado das negociações em Israel nas próximas semanas.

Netanyahu teve várias brigas públicas com o então presidente Barack Obama sobre as políticas de Israel em relação aos palestinos e a questão nuclear iraniana. Em 2015, ele falou ao Congresso americano sem o conhecimento da Casa Branca e protestou contra o acordo nuclear entre as potências mundiais e o Irã que estava para acontecer.

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Nimrod Goren, membro sênior do Instituto do Oriente Médio, observou que a relação EUA-Israel já teve pontos de crise anteriores, como o caso do programa nuclear com o Irã. No entanto, agora a Casa Branca parece estar “questionando a competência de Netanyahu como primeiro-ministro e se ele é confiável ou responsável”.

Acentuando a crise com Washington, o filho do premiê e seu conselheiro mais próximo, Yair Netanyahu, postou na semana passada que os enormes protestos desencadeados pela reforma seriam um plano do Departamento de Estado americano “com objetivo de derrubar Netanyahu, aparentemente para concluir um acordo com os iranianos”, segundo noticiou o Jerusalem Post.

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Crise interna

As críticas de Biden e a resposta de Netanyahu provocaram um alvoroço político em Israel, mesmo com Herzog, continuando as reuniões na manhã desta quarta com representantes de alguns dos partidos menores da oposição não diretamente envolvidos nas negociações.

Membros da coalizão de governo de Netanyahu denunciaram os comentários de Biden, afirmando que o presidente americano foi enganado por “notícias falsas”.

Miki Zohar, ministro da cultura e esporte do partido conservador Likud de Netanyahu, escreveu no Twitter: “É triste que o presidente Biden também tenha sido vítima das notícias falsas que são disseminadas em Israel contra nossa reforma judicial justificada”. Zohar, no entanto, logo excluiu o tuíte e postou um novo, dizendo que havia removido sua mensagem anterior “por respeito às nossas importantes relações com nosso maior aliado, os Estados Unidos”.

Itamar Ben-Gvir, líder do partido ultraortodoxo da coalizão e ministro encarregado da polícia, disse à Rádio do Exército de Israel que o país “não é outra estrela na bandeira americana”. “Espero que o presidente dos EUA entenda esse ponto”, disse ele.

Por outro lado, Yair Lapid, o líder da oposição no parlamento de Israel, escreveu no Twitter que Israel foi um dos aliados mais próximos dos EUA por décadas, mas “o governo mais radical da história do país arruinou isso em três meses”.

“O presidente Biden enviou um alerta urgente ao governo israelense esta noite”, escreveu o ex-premiê e ex-ministro da Defesa, Benny Gantz no Twitter . “Prejudicar as relações com os Estados Unidos, nosso melhor amigo e nosso aliado mais importante, é um ataque estratégico. O primeiro-ministro deve orientar suas equipes de negociação em relação à legislação judicial, agir rapidamente para reparar a situação e preservar a democracia israelense que está na base desses valores”.

Yair Lapid, líder do partido de oposição, se dirige a israelenses que protestavam fora do parlamento em Jerusalém, em 27 de março de 2023 Foto: Ohad Zwigenberg/AP

Netanyahu e seus aliados religiosos e ultranacionalistas anunciaram a polêmica reforma judicial em janeiro, poucos dias depois de formar seu governo. Entre vários trechos da proposta, a mais polêmica e que ainda está para ser votada é a que dá à coalizão governista mais influência sobre a seleção dos juízes da Suprema Corte e permite escolher o próximo presidente do tribunal. Além disso, a influência de Netanyahu na legislação é vista como conflito de interesses, já que ele é investigado em ao menos três casos de corrupção.

A proposta mergulhou Israel em sua pior crise doméstica em décadas. Líderes empresariais, economistas e ex-chefes de segurança se manifestaram contra o plano, dizendo que ele está levando o país à ditadura. Militares da reserva também se levantaram contra o projeto, abrindo uma crise sem precedentes dentro das forças de segurança do país.

Também atraiu críticas de apoiadores de Israel nos EUA, incluindo organizações judaicas americanas, bem como membros democratas do Congresso.

Os críticos dizem que a legislação concentraria o poder nas mãos da coalizão no parlamento e perturbaria o equilíbrio entre os poderes do governo. Netanyahu disse que estava “se esforçando para alcançá-lo por meio de um amplo consenso” nas negociações com líderes da oposição que começaram na terça-feira./NYT e AP

JERUSALÉM - O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, criticou o presidente dos Estados Unidos, Joe biden, seu principal aliado internacional, e tornou explícita a crise diplomática entre os dois países na esteira da reforma judicial do premiê. Em comunicado, Netanyahu afirmou que Israel é um país soberano que não toma decisões com base em pressões do exterior. A reforma é apontada por especialistas como uma ameaça à democracia em Israel.

“Conheço o presidente Biden há mais de 40 anos e aprecio seu compromisso de longa data com Israel”, disse Netanyahu em um comunicado publicado em inglês no Twitter. Mas acrescentou: “Israel é um país soberano que toma suas decisões pela vontade de seu povo e não com base em pressões do exterior, inclusive dos melhores amigos”.

O comentário segue a semanas de uma pressão diplomática silenciosa dos principais aliados de Israel à reforma do Judiciário que tem colocado o país em ebulição. Oponentes de Netanyahu o acusaram de colocar em risco o relacionamento de longa data com Washington, um país que é fundamental nas políticas de segurança de Israel, incluindo na estratégia de contenção do inimigo Irã.

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, e o presidente dos EUA, Joe Biden Foto: Michel Euler/AP

Mais tarde, porém, Netanyahu adotou um tom mais conciliador, dizendo que, embora “Israel e os Estados Unidos tenham suas diferenças ocasionais”, a aliança entre eles era “inabalável”.

O discurso ameno foi feito durante seu discurso na na Cúpula da Democracia, evento que conta com o Departamento de Estado americano em sua organização. A presença de Netanyahu foi divulgada no domingo pelo jornal Haaretz e gerou uma chuva de questionamentos aos EUA, que disseram que Israel era apenas um dos 120 países convidados. De acordo com o Times of Israel, embora Netanyahu tenha sido convidado para o fórum meses atrás, o Departamento de Estado não adicionou seu nome ao cronograma público até horas antes do discurso desta quarta.

Os comentários de Netanyahu vieram depois que Biden disse a repórteres que estava “muito preocupado” com os eventos em Israel. A declaração do americano ocorreu após sugestões na terça-feira, 28, do embaixador dos EUA em Israel de que Netanyahu seria bem-vindo em Washington em breve. Mas Biden deixou claro que um convite não deveria ser feito muito em breve. Quando questionado se Netanyahu seria convidado para a Casa Branca, o presidente respondeu: “Não. Não no curto prazo.”

Os aliados ocidentais de Israel têm demonstrado preocupação desde que Netanyahu foi reeleito em novembro junto com a coalizão mais extremista da história do país, que inclui políticos ultraortodoxos e anti-Palestina. As preocupações escalaram depois que a coalizão aumentou seus esforços para exercer mais controle político sobre a Suprema Corte de Israel, desencadeando a pior crise doméstica em décadas.

“Eles não podem continuar por este caminho – eu meio que deixei isso claro”, disse Biden. “Esperamos que o primeiro-ministro aja de maneira a tentar chegar a um compromisso genuíno, mas isso ainda precisa ser visto.”

Na segunda-feira, manifestantes se reuniram espontaneamente nas ruas de Israel e promoveram uma greve-geral, que forçou Netanyahu adiar sua reforma judicial Foto: Oded Balilty/AP

Desconfiança

Para engrossar as críticas de aliados diplomáticos de Israel, o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, também pediu que Netanyahu encontrasse um consenso em sua reforma, em um comentário feito frente a frente, quando o premiê israelense visitava Londres no fim de semana.

A troca de críticas vem depois de Netanyahu adiar na última segunda-feira, 27, seu esforço para levar o plano judicial ao Parlamento, com a promessa de permitir um diálogo com os opositores. Poucas horas depois, as equipes de negociação para a coalizão do governo e a oposição já realizaram uma reunião preliminar organizada pelo presidente de Israel, Isaac Herzog.

Esperava-se que o atraso do plano aliviasse as tensões com Washington. Mas os comentários de Biden indicaram que os Estados Unidos permaneceram cautelosos sobre os planos de Netanyahu e esperariam para ver o resultado das negociações em Israel nas próximas semanas.

Netanyahu teve várias brigas públicas com o então presidente Barack Obama sobre as políticas de Israel em relação aos palestinos e a questão nuclear iraniana. Em 2015, ele falou ao Congresso americano sem o conhecimento da Casa Branca e protestou contra o acordo nuclear entre as potências mundiais e o Irã que estava para acontecer.

Nimrod Goren, membro sênior do Instituto do Oriente Médio, observou que a relação EUA-Israel já teve pontos de crise anteriores, como o caso do programa nuclear com o Irã. No entanto, agora a Casa Branca parece estar “questionando a competência de Netanyahu como primeiro-ministro e se ele é confiável ou responsável”.

Acentuando a crise com Washington, o filho do premiê e seu conselheiro mais próximo, Yair Netanyahu, postou na semana passada que os enormes protestos desencadeados pela reforma seriam um plano do Departamento de Estado americano “com objetivo de derrubar Netanyahu, aparentemente para concluir um acordo com os iranianos”, segundo noticiou o Jerusalem Post.

Crise interna

As críticas de Biden e a resposta de Netanyahu provocaram um alvoroço político em Israel, mesmo com Herzog, continuando as reuniões na manhã desta quarta com representantes de alguns dos partidos menores da oposição não diretamente envolvidos nas negociações.

Membros da coalizão de governo de Netanyahu denunciaram os comentários de Biden, afirmando que o presidente americano foi enganado por “notícias falsas”.

Miki Zohar, ministro da cultura e esporte do partido conservador Likud de Netanyahu, escreveu no Twitter: “É triste que o presidente Biden também tenha sido vítima das notícias falsas que são disseminadas em Israel contra nossa reforma judicial justificada”. Zohar, no entanto, logo excluiu o tuíte e postou um novo, dizendo que havia removido sua mensagem anterior “por respeito às nossas importantes relações com nosso maior aliado, os Estados Unidos”.

Itamar Ben-Gvir, líder do partido ultraortodoxo da coalizão e ministro encarregado da polícia, disse à Rádio do Exército de Israel que o país “não é outra estrela na bandeira americana”. “Espero que o presidente dos EUA entenda esse ponto”, disse ele.

Por outro lado, Yair Lapid, o líder da oposição no parlamento de Israel, escreveu no Twitter que Israel foi um dos aliados mais próximos dos EUA por décadas, mas “o governo mais radical da história do país arruinou isso em três meses”.

“O presidente Biden enviou um alerta urgente ao governo israelense esta noite”, escreveu o ex-premiê e ex-ministro da Defesa, Benny Gantz no Twitter . “Prejudicar as relações com os Estados Unidos, nosso melhor amigo e nosso aliado mais importante, é um ataque estratégico. O primeiro-ministro deve orientar suas equipes de negociação em relação à legislação judicial, agir rapidamente para reparar a situação e preservar a democracia israelense que está na base desses valores”.

Yair Lapid, líder do partido de oposição, se dirige a israelenses que protestavam fora do parlamento em Jerusalém, em 27 de março de 2023 Foto: Ohad Zwigenberg/AP

Netanyahu e seus aliados religiosos e ultranacionalistas anunciaram a polêmica reforma judicial em janeiro, poucos dias depois de formar seu governo. Entre vários trechos da proposta, a mais polêmica e que ainda está para ser votada é a que dá à coalizão governista mais influência sobre a seleção dos juízes da Suprema Corte e permite escolher o próximo presidente do tribunal. Além disso, a influência de Netanyahu na legislação é vista como conflito de interesses, já que ele é investigado em ao menos três casos de corrupção.

A proposta mergulhou Israel em sua pior crise doméstica em décadas. Líderes empresariais, economistas e ex-chefes de segurança se manifestaram contra o plano, dizendo que ele está levando o país à ditadura. Militares da reserva também se levantaram contra o projeto, abrindo uma crise sem precedentes dentro das forças de segurança do país.

Também atraiu críticas de apoiadores de Israel nos EUA, incluindo organizações judaicas americanas, bem como membros democratas do Congresso.

Os críticos dizem que a legislação concentraria o poder nas mãos da coalizão no parlamento e perturbaria o equilíbrio entre os poderes do governo. Netanyahu disse que estava “se esforçando para alcançá-lo por meio de um amplo consenso” nas negociações com líderes da oposição que começaram na terça-feira./NYT e AP

JERUSALÉM - O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, criticou o presidente dos Estados Unidos, Joe biden, seu principal aliado internacional, e tornou explícita a crise diplomática entre os dois países na esteira da reforma judicial do premiê. Em comunicado, Netanyahu afirmou que Israel é um país soberano que não toma decisões com base em pressões do exterior. A reforma é apontada por especialistas como uma ameaça à democracia em Israel.

“Conheço o presidente Biden há mais de 40 anos e aprecio seu compromisso de longa data com Israel”, disse Netanyahu em um comunicado publicado em inglês no Twitter. Mas acrescentou: “Israel é um país soberano que toma suas decisões pela vontade de seu povo e não com base em pressões do exterior, inclusive dos melhores amigos”.

O comentário segue a semanas de uma pressão diplomática silenciosa dos principais aliados de Israel à reforma do Judiciário que tem colocado o país em ebulição. Oponentes de Netanyahu o acusaram de colocar em risco o relacionamento de longa data com Washington, um país que é fundamental nas políticas de segurança de Israel, incluindo na estratégia de contenção do inimigo Irã.

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, e o presidente dos EUA, Joe Biden Foto: Michel Euler/AP

Mais tarde, porém, Netanyahu adotou um tom mais conciliador, dizendo que, embora “Israel e os Estados Unidos tenham suas diferenças ocasionais”, a aliança entre eles era “inabalável”.

O discurso ameno foi feito durante seu discurso na na Cúpula da Democracia, evento que conta com o Departamento de Estado americano em sua organização. A presença de Netanyahu foi divulgada no domingo pelo jornal Haaretz e gerou uma chuva de questionamentos aos EUA, que disseram que Israel era apenas um dos 120 países convidados. De acordo com o Times of Israel, embora Netanyahu tenha sido convidado para o fórum meses atrás, o Departamento de Estado não adicionou seu nome ao cronograma público até horas antes do discurso desta quarta.

Os comentários de Netanyahu vieram depois que Biden disse a repórteres que estava “muito preocupado” com os eventos em Israel. A declaração do americano ocorreu após sugestões na terça-feira, 28, do embaixador dos EUA em Israel de que Netanyahu seria bem-vindo em Washington em breve. Mas Biden deixou claro que um convite não deveria ser feito muito em breve. Quando questionado se Netanyahu seria convidado para a Casa Branca, o presidente respondeu: “Não. Não no curto prazo.”

Os aliados ocidentais de Israel têm demonstrado preocupação desde que Netanyahu foi reeleito em novembro junto com a coalizão mais extremista da história do país, que inclui políticos ultraortodoxos e anti-Palestina. As preocupações escalaram depois que a coalizão aumentou seus esforços para exercer mais controle político sobre a Suprema Corte de Israel, desencadeando a pior crise doméstica em décadas.

“Eles não podem continuar por este caminho – eu meio que deixei isso claro”, disse Biden. “Esperamos que o primeiro-ministro aja de maneira a tentar chegar a um compromisso genuíno, mas isso ainda precisa ser visto.”

Na segunda-feira, manifestantes se reuniram espontaneamente nas ruas de Israel e promoveram uma greve-geral, que forçou Netanyahu adiar sua reforma judicial Foto: Oded Balilty/AP

Desconfiança

Para engrossar as críticas de aliados diplomáticos de Israel, o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, também pediu que Netanyahu encontrasse um consenso em sua reforma, em um comentário feito frente a frente, quando o premiê israelense visitava Londres no fim de semana.

A troca de críticas vem depois de Netanyahu adiar na última segunda-feira, 27, seu esforço para levar o plano judicial ao Parlamento, com a promessa de permitir um diálogo com os opositores. Poucas horas depois, as equipes de negociação para a coalizão do governo e a oposição já realizaram uma reunião preliminar organizada pelo presidente de Israel, Isaac Herzog.

Esperava-se que o atraso do plano aliviasse as tensões com Washington. Mas os comentários de Biden indicaram que os Estados Unidos permaneceram cautelosos sobre os planos de Netanyahu e esperariam para ver o resultado das negociações em Israel nas próximas semanas.

Netanyahu teve várias brigas públicas com o então presidente Barack Obama sobre as políticas de Israel em relação aos palestinos e a questão nuclear iraniana. Em 2015, ele falou ao Congresso americano sem o conhecimento da Casa Branca e protestou contra o acordo nuclear entre as potências mundiais e o Irã que estava para acontecer.

Nimrod Goren, membro sênior do Instituto do Oriente Médio, observou que a relação EUA-Israel já teve pontos de crise anteriores, como o caso do programa nuclear com o Irã. No entanto, agora a Casa Branca parece estar “questionando a competência de Netanyahu como primeiro-ministro e se ele é confiável ou responsável”.

Acentuando a crise com Washington, o filho do premiê e seu conselheiro mais próximo, Yair Netanyahu, postou na semana passada que os enormes protestos desencadeados pela reforma seriam um plano do Departamento de Estado americano “com objetivo de derrubar Netanyahu, aparentemente para concluir um acordo com os iranianos”, segundo noticiou o Jerusalem Post.

Crise interna

As críticas de Biden e a resposta de Netanyahu provocaram um alvoroço político em Israel, mesmo com Herzog, continuando as reuniões na manhã desta quarta com representantes de alguns dos partidos menores da oposição não diretamente envolvidos nas negociações.

Membros da coalizão de governo de Netanyahu denunciaram os comentários de Biden, afirmando que o presidente americano foi enganado por “notícias falsas”.

Miki Zohar, ministro da cultura e esporte do partido conservador Likud de Netanyahu, escreveu no Twitter: “É triste que o presidente Biden também tenha sido vítima das notícias falsas que são disseminadas em Israel contra nossa reforma judicial justificada”. Zohar, no entanto, logo excluiu o tuíte e postou um novo, dizendo que havia removido sua mensagem anterior “por respeito às nossas importantes relações com nosso maior aliado, os Estados Unidos”.

Itamar Ben-Gvir, líder do partido ultraortodoxo da coalizão e ministro encarregado da polícia, disse à Rádio do Exército de Israel que o país “não é outra estrela na bandeira americana”. “Espero que o presidente dos EUA entenda esse ponto”, disse ele.

Por outro lado, Yair Lapid, o líder da oposição no parlamento de Israel, escreveu no Twitter que Israel foi um dos aliados mais próximos dos EUA por décadas, mas “o governo mais radical da história do país arruinou isso em três meses”.

“O presidente Biden enviou um alerta urgente ao governo israelense esta noite”, escreveu o ex-premiê e ex-ministro da Defesa, Benny Gantz no Twitter . “Prejudicar as relações com os Estados Unidos, nosso melhor amigo e nosso aliado mais importante, é um ataque estratégico. O primeiro-ministro deve orientar suas equipes de negociação em relação à legislação judicial, agir rapidamente para reparar a situação e preservar a democracia israelense que está na base desses valores”.

Yair Lapid, líder do partido de oposição, se dirige a israelenses que protestavam fora do parlamento em Jerusalém, em 27 de março de 2023 Foto: Ohad Zwigenberg/AP

Netanyahu e seus aliados religiosos e ultranacionalistas anunciaram a polêmica reforma judicial em janeiro, poucos dias depois de formar seu governo. Entre vários trechos da proposta, a mais polêmica e que ainda está para ser votada é a que dá à coalizão governista mais influência sobre a seleção dos juízes da Suprema Corte e permite escolher o próximo presidente do tribunal. Além disso, a influência de Netanyahu na legislação é vista como conflito de interesses, já que ele é investigado em ao menos três casos de corrupção.

A proposta mergulhou Israel em sua pior crise doméstica em décadas. Líderes empresariais, economistas e ex-chefes de segurança se manifestaram contra o plano, dizendo que ele está levando o país à ditadura. Militares da reserva também se levantaram contra o projeto, abrindo uma crise sem precedentes dentro das forças de segurança do país.

Também atraiu críticas de apoiadores de Israel nos EUA, incluindo organizações judaicas americanas, bem como membros democratas do Congresso.

Os críticos dizem que a legislação concentraria o poder nas mãos da coalizão no parlamento e perturbaria o equilíbrio entre os poderes do governo. Netanyahu disse que estava “se esforçando para alcançá-lo por meio de um amplo consenso” nas negociações com líderes da oposição que começaram na terça-feira./NYT e AP

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