TEL-AVIV - O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, pediu perdão aos familiares dos seis reféns encontrados mortos na Faixa de Gaza em uma entrevista nesta segunda-feira, 2. No entanto, rejeitou a pressão por cessar-fogo no seu primeiro pronunciamento público desde que a confirmação das mortes desencadeou os maiores protestos da guerra, aumentando a pressão por um acordo que leve à liberação de todas as pessoas sequestradas pelo Hamas.
“Peço perdão por não tê-los trazido vivos. Estivemos perto, mas não conseguimos”, declarou Netanyahu numa rara entrevista coletiva. “Ninguém está mais comprometido em libertar os reféns do que eu. Mas ninguém vai me dar sermão”, disse ao defender as ações em Gaza e chamar as críticas de “vergonhosas”.
O primeiro-ministro voltou a dizer que se recusa a aceitar um acordo que leve à retirada total de tropas e interrupção permanente dos combates. “Que mensagem isso enviaria ao Hamas”, perguntou de forma retórica. “Mate reféns e você obterá concessões?”.
Ele disse que está pronto para executar a primeira fase da proposta, que inclui a liberação de reféns em troca por prisioneiros palestinos, além da retirada parcial de tropas. Rejeitou, contudo, a retirada total, que é a principal exigência do Hamas nas negociações.
Netanyahu afirmou que só Israel seria capaz de proteger a fronteira de Gaza e impedir o contrabando de armas, insistindo no controle israelense sobre o corredor de Filadélfia, na divisa com o Egito. Demanda que tem sido um dos maiores entraves nas negociações.
Israel alega que é por lá que chegam as armas contrabandeadas para os terroristas — algo que tanto o Hamas como o Egito negam. E Netanyahu insistiu que o controle sobre o corredor seria vital para impedir que o grupo volte a se armar por meio da sua rede de túneis. “Este é o oxigênio do Hamas”, destacou.
A pressão pelo acordo aumentou com a descoberta dos corpos de seis reféns que, segundo Israel, foram mortos pelo Hamas. “Israel não vai permitir que esse massacre passe despercebido”, disse Netanyahu ao prometer que o grupo terrorista pagará um preço alto por isso.
Para entender
Os manifestantes, que tomaram as ruas do país, culpam o governo Binyamin Netanyahu e afirmam que eles poderiam ter voltado para casa vivos se o acordo tivesse sido implementado. Três deles estariam na lista de pessoas sequestradas pelo Hamas que teriam sido libertados na primeira fase da proposta de cessar-fogo delineada pelo governo Joe Biden em julho.
Chefes sindicais e líderes empresariais se uniram aos esforços para pressionar o primeiro-ministro e a semana começou com uma greve geral em Israel. A crise aprofunda as divisões sobre a operação que causou mais de 40 mil mortos na Faixa de Gaza em resposta ao ataque terrorista do Hamas.
A mídia israelense relatou profundas diferenças entre Binyamin Netanyahu e as principais autoridades de segurança do país, que defendem o cessar-fogo. Isso inclui o ministro da Defesa, Yoav Gallant, que chamou de “vergonha moral” priorizar o Corredor da Filadélfia colocando em risco a vida dos reféns. “Se queremos os reféns vivos, não há tempo”, teria alertado em reunião do gabinete segundo relatos.
Fora de Israel, os Estados Unidos, seu maior aliado, voltaram a pressionar pelo cessar-fogo. O presidente Joe Biden disse apontou Binyamin Netanyahu ao dizer que ele não estava fazendo o suficiente para concluir o acordo que permitiria a volta dos reféns.
Apesar da pressão, o governo insiste que a guerra tem o objetivo de eliminar o Hamas, o que o Exército vê como impossível. Questionado na entrevista coletiva sobre o que definiria o fim do conflito, Binyamin Netanyahu respondeu: “Quando o Hamas não governar mais Gaza”./COM AFP, AP E NY TIMES