Às vésperas de eleição em Israel, Netanyahu acusa Irã de construir base nuclear


Adversários do premiê e especialistas acreditam que Netanyahu esteja usando programa nuclear iraniano como forma de obter vantagem na eleição do dia 17; chanceler iraniano diz que imagens foram manipuladas

Por Redação
Atualização:

JERUSALÉM – O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, exibiu imagens em coletiva de imprensa nesta segunda-feira, 9, do que ele disse ser uma área de testes de armas nucleares do Irã, até então inédito ao conhecimento público, acirrando a tensão entre os dois países.

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, mostra imagens de suposto centro de testes nucleares iranianos Foto: Ronen Zvulun/Reuters

Em declaração à imprensa, Netanyahu disse que Israel descobriu o local na cidade iraniana de Abadeh, utilizando informações coletadas em documentos que agentes iraelenses roubaram de um armazém iraniano, e tornaram públicos no ano passado.

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“O Irã conduziu experimentos para desenvolver armas nucleares”, disse o premiê. Duas fotos de satélite foram exibidas, mas sem detalhes ou evidências dos experimentos. A primeira foto, tirada em junho, mostrava a estrutura intacta. A segunda, tirada em julho, mostrava que partes do prédio haviam sido destruídas, no que ele afirmou ser uma camuflagem do Irã depois de Israel ter descoberto a área.

“Isso é o que eu tenho a dizer aos tiranos de Teerã”, afirmou Netanyahu. “Israel sabe o que vocês estão fazendo, Israel sabe quando estão fazendo e Israel sabe onde estão fazendo”.

Em discurso televisionado após a coletiva de imprensa, também nesta segunda, Netanyahu fez observações a aproximadamente uma semana das eleições em Israel, que ocorrerão dia 17, onde a disputa pelo cargo de premiê está acirrada. “Eu peço à comunidade internacional para que acorde, para perceber que o Irã mente sistematicamente”, disse. “O único jeito de parar a corrida do Irã para a bomba e suas agressões na região, é pressão, pressão e mais pressão”.

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Membros da oposição acusaram o premiê de usar a coletiva de imprensa como um ato de campanha. Um de seus principais rivais, o candidato Yair Lapid da coalizão Azul e Branco, escreveu no Twitter que Netanyahu usa o Irã como "propaganda eleitoral às custas da segurança de Israel".

Imagens de satélite fornecidas pela empresa Maxar Technologies mostram, em cima, imagem tirada em março de 2019 do complexo de edifícios apontado como teste de armas nucleares do Irã pelo premiê israelense Binyamin Netanyahu. Foto de agosto de 2019, abaixo, mostra os prédios destruídos Foto: Maxar Tec/via AP

Ao Estado, a professora de história árabe da USP, Arlene Clemesha, afirmou que a manobra é “um procedimento típico eleitoral” de Netanyahu de mostrar “superioridade militar” frente a outros países. “Ele cria ideias de inimigos, de uma ameaça externa e da capacidade israelense de se sobrepor.” 

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O professor de relações internacionais da PUC-SP, Reginaldo Nasser, acredita que não há “nada melhor” para Netanyahu do que reavivar o conflito com o Irã em meio a uma crise de legitimidade, já que o premiê enfrenta três denúncias de corrupção.  “Esse cenário de políticas expansivas, com assentamentos (israelenses) crescendo na Palestina, sempre é usado pelos governos nas eleições. É um jogo político-diplomático que impera na região.” 

O anúncio de Netanyahu veio após uma reunião da ONU em Viena, onde ele espera que a Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA) deva tomar ações mais duras contra o Irã.

Israel sempre se opôs ao acordo nuclear, e Netanyahu pediu em diversas ocasiões que a comunidade internacional adote uma posição mais dura contra a República Islâmica. A tudo isso também se soma a tensão entre Israel, Irã e seus aliados na região.

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Nesta segunda, o exército israelense denunciou que forças iranianas lançaram vários foguetes da Síria contra Israel, que não foram bem sucedidos em acertar seu território. O incidente coincide com uma série de ataques aéreos nesta segunda contra tropas iranianas na cidade síria de Al-Bukamal, na fronteira com o Iraque, onde morerram 18 milicianos. A Síria acusa Israel do ataque.

Há duas semanas, após denunciar outra tentativa de ataque iraniano vindo da Síria, Israel atuou contra tropas iranianas e de seus aliados no país vizinho. A ofensiva israelense contra milícias iranianas tem gerado tensões na região, com a denúncia por parte do Líbano e do Iraque de ataques israelenses em seu território, além de ataques simultâneos entre Israel e o grupo terrorista xiita libanês Hezbollah, aliado ao Irã. 

Israel considera o Irã como o seu principal inimigo, e Netanyahu tem liderado a oposição ao acordo nuclear com Irã. Ele afirma que o país está tentando construir uma bomba atômica, negada pelo Irã, e tem acusado os iranianos de violar as regras do acordo.

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Reação

Na primeira manifestação de Teerã, o ministro de Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, publicou nesta segunda em sua conta no Twitter um vídeo de 2002 de Netanyahu falando sobre o que considerava "reverberações positivas" que iriam vir com a queda do então ditador Saddam Hussein. 

"O real possessor de armas nucleares (sinaliza, sem precisar) um SUPOSTO local 'demolido' no Irã", disse Zarif, se referindo ao programa de armas nucleares israelense, que nunca fora reconhecido pelo país.

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Zarif não comentou do que se trata o local encontrado por Israel, mas levou à interpretação de que as imagens teriam sido manipuladas por Israel. Uma seta indica para uma área da foto que não está exatamente igual nas comparações de antes e depois.

Abadeh é uma cidade pequena famosa pelos seus carpetes, a 500 km ao sudeste de Teerã. As coordenadas mostradas por Netanyahu de fato correspondem a um conjunto de prédios nas montanhas ao norte de Abadeh, de acordo com imagens públicas de satélite. Porém, a função deles não pôde ser imediatamente encontrada.

No ano passado, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, retirou o país do acordo nuclear e reimplementou sanções econômicas contra o Irã. A quebra do acordo tem elevado as tensões no Golfo Persa e no Oriente Médio.

Nesta segunda, em Viena, a IAEA confirmou que o Irã está se preparando para usar centrífugas mais avançadas, uma outra quebra dos limites impostos pelo acordo nuclear. O país já havia anunciado tal medida, enquanto tenta pressionar nações europeias signatárias do acordo em encontrar uma maneira de manter exportações de petróleo iraniano e reduzir o aumento de sanções americanas na economia iraniana. / AP, EFE e REUTERS, COM CARLA BRIDI

JERUSALÉM – O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, exibiu imagens em coletiva de imprensa nesta segunda-feira, 9, do que ele disse ser uma área de testes de armas nucleares do Irã, até então inédito ao conhecimento público, acirrando a tensão entre os dois países.

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, mostra imagens de suposto centro de testes nucleares iranianos Foto: Ronen Zvulun/Reuters

Em declaração à imprensa, Netanyahu disse que Israel descobriu o local na cidade iraniana de Abadeh, utilizando informações coletadas em documentos que agentes iraelenses roubaram de um armazém iraniano, e tornaram públicos no ano passado.

“O Irã conduziu experimentos para desenvolver armas nucleares”, disse o premiê. Duas fotos de satélite foram exibidas, mas sem detalhes ou evidências dos experimentos. A primeira foto, tirada em junho, mostrava a estrutura intacta. A segunda, tirada em julho, mostrava que partes do prédio haviam sido destruídas, no que ele afirmou ser uma camuflagem do Irã depois de Israel ter descoberto a área.

“Isso é o que eu tenho a dizer aos tiranos de Teerã”, afirmou Netanyahu. “Israel sabe o que vocês estão fazendo, Israel sabe quando estão fazendo e Israel sabe onde estão fazendo”.

Em discurso televisionado após a coletiva de imprensa, também nesta segunda, Netanyahu fez observações a aproximadamente uma semana das eleições em Israel, que ocorrerão dia 17, onde a disputa pelo cargo de premiê está acirrada. “Eu peço à comunidade internacional para que acorde, para perceber que o Irã mente sistematicamente”, disse. “O único jeito de parar a corrida do Irã para a bomba e suas agressões na região, é pressão, pressão e mais pressão”.

Membros da oposição acusaram o premiê de usar a coletiva de imprensa como um ato de campanha. Um de seus principais rivais, o candidato Yair Lapid da coalizão Azul e Branco, escreveu no Twitter que Netanyahu usa o Irã como "propaganda eleitoral às custas da segurança de Israel".

Imagens de satélite fornecidas pela empresa Maxar Technologies mostram, em cima, imagem tirada em março de 2019 do complexo de edifícios apontado como teste de armas nucleares do Irã pelo premiê israelense Binyamin Netanyahu. Foto de agosto de 2019, abaixo, mostra os prédios destruídos Foto: Maxar Tec/via AP

Ao Estado, a professora de história árabe da USP, Arlene Clemesha, afirmou que a manobra é “um procedimento típico eleitoral” de Netanyahu de mostrar “superioridade militar” frente a outros países. “Ele cria ideias de inimigos, de uma ameaça externa e da capacidade israelense de se sobrepor.” 

O professor de relações internacionais da PUC-SP, Reginaldo Nasser, acredita que não há “nada melhor” para Netanyahu do que reavivar o conflito com o Irã em meio a uma crise de legitimidade, já que o premiê enfrenta três denúncias de corrupção.  “Esse cenário de políticas expansivas, com assentamentos (israelenses) crescendo na Palestina, sempre é usado pelos governos nas eleições. É um jogo político-diplomático que impera na região.” 

O anúncio de Netanyahu veio após uma reunião da ONU em Viena, onde ele espera que a Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA) deva tomar ações mais duras contra o Irã.

Israel sempre se opôs ao acordo nuclear, e Netanyahu pediu em diversas ocasiões que a comunidade internacional adote uma posição mais dura contra a República Islâmica. A tudo isso também se soma a tensão entre Israel, Irã e seus aliados na região.

Nesta segunda, o exército israelense denunciou que forças iranianas lançaram vários foguetes da Síria contra Israel, que não foram bem sucedidos em acertar seu território. O incidente coincide com uma série de ataques aéreos nesta segunda contra tropas iranianas na cidade síria de Al-Bukamal, na fronteira com o Iraque, onde morerram 18 milicianos. A Síria acusa Israel do ataque.

Há duas semanas, após denunciar outra tentativa de ataque iraniano vindo da Síria, Israel atuou contra tropas iranianas e de seus aliados no país vizinho. A ofensiva israelense contra milícias iranianas tem gerado tensões na região, com a denúncia por parte do Líbano e do Iraque de ataques israelenses em seu território, além de ataques simultâneos entre Israel e o grupo terrorista xiita libanês Hezbollah, aliado ao Irã. 

Israel considera o Irã como o seu principal inimigo, e Netanyahu tem liderado a oposição ao acordo nuclear com Irã. Ele afirma que o país está tentando construir uma bomba atômica, negada pelo Irã, e tem acusado os iranianos de violar as regras do acordo.

Reação

Na primeira manifestação de Teerã, o ministro de Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, publicou nesta segunda em sua conta no Twitter um vídeo de 2002 de Netanyahu falando sobre o que considerava "reverberações positivas" que iriam vir com a queda do então ditador Saddam Hussein. 

"O real possessor de armas nucleares (sinaliza, sem precisar) um SUPOSTO local 'demolido' no Irã", disse Zarif, se referindo ao programa de armas nucleares israelense, que nunca fora reconhecido pelo país.

Zarif não comentou do que se trata o local encontrado por Israel, mas levou à interpretação de que as imagens teriam sido manipuladas por Israel. Uma seta indica para uma área da foto que não está exatamente igual nas comparações de antes e depois.

Abadeh é uma cidade pequena famosa pelos seus carpetes, a 500 km ao sudeste de Teerã. As coordenadas mostradas por Netanyahu de fato correspondem a um conjunto de prédios nas montanhas ao norte de Abadeh, de acordo com imagens públicas de satélite. Porém, a função deles não pôde ser imediatamente encontrada.

No ano passado, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, retirou o país do acordo nuclear e reimplementou sanções econômicas contra o Irã. A quebra do acordo tem elevado as tensões no Golfo Persa e no Oriente Médio.

Nesta segunda, em Viena, a IAEA confirmou que o Irã está se preparando para usar centrífugas mais avançadas, uma outra quebra dos limites impostos pelo acordo nuclear. O país já havia anunciado tal medida, enquanto tenta pressionar nações europeias signatárias do acordo em encontrar uma maneira de manter exportações de petróleo iraniano e reduzir o aumento de sanções americanas na economia iraniana. / AP, EFE e REUTERS, COM CARLA BRIDI

JERUSALÉM – O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, exibiu imagens em coletiva de imprensa nesta segunda-feira, 9, do que ele disse ser uma área de testes de armas nucleares do Irã, até então inédito ao conhecimento público, acirrando a tensão entre os dois países.

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, mostra imagens de suposto centro de testes nucleares iranianos Foto: Ronen Zvulun/Reuters

Em declaração à imprensa, Netanyahu disse que Israel descobriu o local na cidade iraniana de Abadeh, utilizando informações coletadas em documentos que agentes iraelenses roubaram de um armazém iraniano, e tornaram públicos no ano passado.

“O Irã conduziu experimentos para desenvolver armas nucleares”, disse o premiê. Duas fotos de satélite foram exibidas, mas sem detalhes ou evidências dos experimentos. A primeira foto, tirada em junho, mostrava a estrutura intacta. A segunda, tirada em julho, mostrava que partes do prédio haviam sido destruídas, no que ele afirmou ser uma camuflagem do Irã depois de Israel ter descoberto a área.

“Isso é o que eu tenho a dizer aos tiranos de Teerã”, afirmou Netanyahu. “Israel sabe o que vocês estão fazendo, Israel sabe quando estão fazendo e Israel sabe onde estão fazendo”.

Em discurso televisionado após a coletiva de imprensa, também nesta segunda, Netanyahu fez observações a aproximadamente uma semana das eleições em Israel, que ocorrerão dia 17, onde a disputa pelo cargo de premiê está acirrada. “Eu peço à comunidade internacional para que acorde, para perceber que o Irã mente sistematicamente”, disse. “O único jeito de parar a corrida do Irã para a bomba e suas agressões na região, é pressão, pressão e mais pressão”.

Membros da oposição acusaram o premiê de usar a coletiva de imprensa como um ato de campanha. Um de seus principais rivais, o candidato Yair Lapid da coalizão Azul e Branco, escreveu no Twitter que Netanyahu usa o Irã como "propaganda eleitoral às custas da segurança de Israel".

Imagens de satélite fornecidas pela empresa Maxar Technologies mostram, em cima, imagem tirada em março de 2019 do complexo de edifícios apontado como teste de armas nucleares do Irã pelo premiê israelense Binyamin Netanyahu. Foto de agosto de 2019, abaixo, mostra os prédios destruídos Foto: Maxar Tec/via AP

Ao Estado, a professora de história árabe da USP, Arlene Clemesha, afirmou que a manobra é “um procedimento típico eleitoral” de Netanyahu de mostrar “superioridade militar” frente a outros países. “Ele cria ideias de inimigos, de uma ameaça externa e da capacidade israelense de se sobrepor.” 

O professor de relações internacionais da PUC-SP, Reginaldo Nasser, acredita que não há “nada melhor” para Netanyahu do que reavivar o conflito com o Irã em meio a uma crise de legitimidade, já que o premiê enfrenta três denúncias de corrupção.  “Esse cenário de políticas expansivas, com assentamentos (israelenses) crescendo na Palestina, sempre é usado pelos governos nas eleições. É um jogo político-diplomático que impera na região.” 

O anúncio de Netanyahu veio após uma reunião da ONU em Viena, onde ele espera que a Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA) deva tomar ações mais duras contra o Irã.

Israel sempre se opôs ao acordo nuclear, e Netanyahu pediu em diversas ocasiões que a comunidade internacional adote uma posição mais dura contra a República Islâmica. A tudo isso também se soma a tensão entre Israel, Irã e seus aliados na região.

Nesta segunda, o exército israelense denunciou que forças iranianas lançaram vários foguetes da Síria contra Israel, que não foram bem sucedidos em acertar seu território. O incidente coincide com uma série de ataques aéreos nesta segunda contra tropas iranianas na cidade síria de Al-Bukamal, na fronteira com o Iraque, onde morerram 18 milicianos. A Síria acusa Israel do ataque.

Há duas semanas, após denunciar outra tentativa de ataque iraniano vindo da Síria, Israel atuou contra tropas iranianas e de seus aliados no país vizinho. A ofensiva israelense contra milícias iranianas tem gerado tensões na região, com a denúncia por parte do Líbano e do Iraque de ataques israelenses em seu território, além de ataques simultâneos entre Israel e o grupo terrorista xiita libanês Hezbollah, aliado ao Irã. 

Israel considera o Irã como o seu principal inimigo, e Netanyahu tem liderado a oposição ao acordo nuclear com Irã. Ele afirma que o país está tentando construir uma bomba atômica, negada pelo Irã, e tem acusado os iranianos de violar as regras do acordo.

Reação

Na primeira manifestação de Teerã, o ministro de Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, publicou nesta segunda em sua conta no Twitter um vídeo de 2002 de Netanyahu falando sobre o que considerava "reverberações positivas" que iriam vir com a queda do então ditador Saddam Hussein. 

"O real possessor de armas nucleares (sinaliza, sem precisar) um SUPOSTO local 'demolido' no Irã", disse Zarif, se referindo ao programa de armas nucleares israelense, que nunca fora reconhecido pelo país.

Zarif não comentou do que se trata o local encontrado por Israel, mas levou à interpretação de que as imagens teriam sido manipuladas por Israel. Uma seta indica para uma área da foto que não está exatamente igual nas comparações de antes e depois.

Abadeh é uma cidade pequena famosa pelos seus carpetes, a 500 km ao sudeste de Teerã. As coordenadas mostradas por Netanyahu de fato correspondem a um conjunto de prédios nas montanhas ao norte de Abadeh, de acordo com imagens públicas de satélite. Porém, a função deles não pôde ser imediatamente encontrada.

No ano passado, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, retirou o país do acordo nuclear e reimplementou sanções econômicas contra o Irã. A quebra do acordo tem elevado as tensões no Golfo Persa e no Oriente Médio.

Nesta segunda, em Viena, a IAEA confirmou que o Irã está se preparando para usar centrífugas mais avançadas, uma outra quebra dos limites impostos pelo acordo nuclear. O país já havia anunciado tal medida, enquanto tenta pressionar nações europeias signatárias do acordo em encontrar uma maneira de manter exportações de petróleo iraniano e reduzir o aumento de sanções americanas na economia iraniana. / AP, EFE e REUTERS, COM CARLA BRIDI

JERUSALÉM – O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, exibiu imagens em coletiva de imprensa nesta segunda-feira, 9, do que ele disse ser uma área de testes de armas nucleares do Irã, até então inédito ao conhecimento público, acirrando a tensão entre os dois países.

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, mostra imagens de suposto centro de testes nucleares iranianos Foto: Ronen Zvulun/Reuters

Em declaração à imprensa, Netanyahu disse que Israel descobriu o local na cidade iraniana de Abadeh, utilizando informações coletadas em documentos que agentes iraelenses roubaram de um armazém iraniano, e tornaram públicos no ano passado.

“O Irã conduziu experimentos para desenvolver armas nucleares”, disse o premiê. Duas fotos de satélite foram exibidas, mas sem detalhes ou evidências dos experimentos. A primeira foto, tirada em junho, mostrava a estrutura intacta. A segunda, tirada em julho, mostrava que partes do prédio haviam sido destruídas, no que ele afirmou ser uma camuflagem do Irã depois de Israel ter descoberto a área.

“Isso é o que eu tenho a dizer aos tiranos de Teerã”, afirmou Netanyahu. “Israel sabe o que vocês estão fazendo, Israel sabe quando estão fazendo e Israel sabe onde estão fazendo”.

Em discurso televisionado após a coletiva de imprensa, também nesta segunda, Netanyahu fez observações a aproximadamente uma semana das eleições em Israel, que ocorrerão dia 17, onde a disputa pelo cargo de premiê está acirrada. “Eu peço à comunidade internacional para que acorde, para perceber que o Irã mente sistematicamente”, disse. “O único jeito de parar a corrida do Irã para a bomba e suas agressões na região, é pressão, pressão e mais pressão”.

Membros da oposição acusaram o premiê de usar a coletiva de imprensa como um ato de campanha. Um de seus principais rivais, o candidato Yair Lapid da coalizão Azul e Branco, escreveu no Twitter que Netanyahu usa o Irã como "propaganda eleitoral às custas da segurança de Israel".

Imagens de satélite fornecidas pela empresa Maxar Technologies mostram, em cima, imagem tirada em março de 2019 do complexo de edifícios apontado como teste de armas nucleares do Irã pelo premiê israelense Binyamin Netanyahu. Foto de agosto de 2019, abaixo, mostra os prédios destruídos Foto: Maxar Tec/via AP

Ao Estado, a professora de história árabe da USP, Arlene Clemesha, afirmou que a manobra é “um procedimento típico eleitoral” de Netanyahu de mostrar “superioridade militar” frente a outros países. “Ele cria ideias de inimigos, de uma ameaça externa e da capacidade israelense de se sobrepor.” 

O professor de relações internacionais da PUC-SP, Reginaldo Nasser, acredita que não há “nada melhor” para Netanyahu do que reavivar o conflito com o Irã em meio a uma crise de legitimidade, já que o premiê enfrenta três denúncias de corrupção.  “Esse cenário de políticas expansivas, com assentamentos (israelenses) crescendo na Palestina, sempre é usado pelos governos nas eleições. É um jogo político-diplomático que impera na região.” 

O anúncio de Netanyahu veio após uma reunião da ONU em Viena, onde ele espera que a Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA) deva tomar ações mais duras contra o Irã.

Israel sempre se opôs ao acordo nuclear, e Netanyahu pediu em diversas ocasiões que a comunidade internacional adote uma posição mais dura contra a República Islâmica. A tudo isso também se soma a tensão entre Israel, Irã e seus aliados na região.

Nesta segunda, o exército israelense denunciou que forças iranianas lançaram vários foguetes da Síria contra Israel, que não foram bem sucedidos em acertar seu território. O incidente coincide com uma série de ataques aéreos nesta segunda contra tropas iranianas na cidade síria de Al-Bukamal, na fronteira com o Iraque, onde morerram 18 milicianos. A Síria acusa Israel do ataque.

Há duas semanas, após denunciar outra tentativa de ataque iraniano vindo da Síria, Israel atuou contra tropas iranianas e de seus aliados no país vizinho. A ofensiva israelense contra milícias iranianas tem gerado tensões na região, com a denúncia por parte do Líbano e do Iraque de ataques israelenses em seu território, além de ataques simultâneos entre Israel e o grupo terrorista xiita libanês Hezbollah, aliado ao Irã. 

Israel considera o Irã como o seu principal inimigo, e Netanyahu tem liderado a oposição ao acordo nuclear com Irã. Ele afirma que o país está tentando construir uma bomba atômica, negada pelo Irã, e tem acusado os iranianos de violar as regras do acordo.

Reação

Na primeira manifestação de Teerã, o ministro de Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, publicou nesta segunda em sua conta no Twitter um vídeo de 2002 de Netanyahu falando sobre o que considerava "reverberações positivas" que iriam vir com a queda do então ditador Saddam Hussein. 

"O real possessor de armas nucleares (sinaliza, sem precisar) um SUPOSTO local 'demolido' no Irã", disse Zarif, se referindo ao programa de armas nucleares israelense, que nunca fora reconhecido pelo país.

Zarif não comentou do que se trata o local encontrado por Israel, mas levou à interpretação de que as imagens teriam sido manipuladas por Israel. Uma seta indica para uma área da foto que não está exatamente igual nas comparações de antes e depois.

Abadeh é uma cidade pequena famosa pelos seus carpetes, a 500 km ao sudeste de Teerã. As coordenadas mostradas por Netanyahu de fato correspondem a um conjunto de prédios nas montanhas ao norte de Abadeh, de acordo com imagens públicas de satélite. Porém, a função deles não pôde ser imediatamente encontrada.

No ano passado, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, retirou o país do acordo nuclear e reimplementou sanções econômicas contra o Irã. A quebra do acordo tem elevado as tensões no Golfo Persa e no Oriente Médio.

Nesta segunda, em Viena, a IAEA confirmou que o Irã está se preparando para usar centrífugas mais avançadas, uma outra quebra dos limites impostos pelo acordo nuclear. O país já havia anunciado tal medida, enquanto tenta pressionar nações europeias signatárias do acordo em encontrar uma maneira de manter exportações de petróleo iraniano e reduzir o aumento de sanções americanas na economia iraniana. / AP, EFE e REUTERS, COM CARLA BRIDI

JERUSALÉM – O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, exibiu imagens em coletiva de imprensa nesta segunda-feira, 9, do que ele disse ser uma área de testes de armas nucleares do Irã, até então inédito ao conhecimento público, acirrando a tensão entre os dois países.

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, mostra imagens de suposto centro de testes nucleares iranianos Foto: Ronen Zvulun/Reuters

Em declaração à imprensa, Netanyahu disse que Israel descobriu o local na cidade iraniana de Abadeh, utilizando informações coletadas em documentos que agentes iraelenses roubaram de um armazém iraniano, e tornaram públicos no ano passado.

“O Irã conduziu experimentos para desenvolver armas nucleares”, disse o premiê. Duas fotos de satélite foram exibidas, mas sem detalhes ou evidências dos experimentos. A primeira foto, tirada em junho, mostrava a estrutura intacta. A segunda, tirada em julho, mostrava que partes do prédio haviam sido destruídas, no que ele afirmou ser uma camuflagem do Irã depois de Israel ter descoberto a área.

“Isso é o que eu tenho a dizer aos tiranos de Teerã”, afirmou Netanyahu. “Israel sabe o que vocês estão fazendo, Israel sabe quando estão fazendo e Israel sabe onde estão fazendo”.

Em discurso televisionado após a coletiva de imprensa, também nesta segunda, Netanyahu fez observações a aproximadamente uma semana das eleições em Israel, que ocorrerão dia 17, onde a disputa pelo cargo de premiê está acirrada. “Eu peço à comunidade internacional para que acorde, para perceber que o Irã mente sistematicamente”, disse. “O único jeito de parar a corrida do Irã para a bomba e suas agressões na região, é pressão, pressão e mais pressão”.

Membros da oposição acusaram o premiê de usar a coletiva de imprensa como um ato de campanha. Um de seus principais rivais, o candidato Yair Lapid da coalizão Azul e Branco, escreveu no Twitter que Netanyahu usa o Irã como "propaganda eleitoral às custas da segurança de Israel".

Imagens de satélite fornecidas pela empresa Maxar Technologies mostram, em cima, imagem tirada em março de 2019 do complexo de edifícios apontado como teste de armas nucleares do Irã pelo premiê israelense Binyamin Netanyahu. Foto de agosto de 2019, abaixo, mostra os prédios destruídos Foto: Maxar Tec/via AP

Ao Estado, a professora de história árabe da USP, Arlene Clemesha, afirmou que a manobra é “um procedimento típico eleitoral” de Netanyahu de mostrar “superioridade militar” frente a outros países. “Ele cria ideias de inimigos, de uma ameaça externa e da capacidade israelense de se sobrepor.” 

O professor de relações internacionais da PUC-SP, Reginaldo Nasser, acredita que não há “nada melhor” para Netanyahu do que reavivar o conflito com o Irã em meio a uma crise de legitimidade, já que o premiê enfrenta três denúncias de corrupção.  “Esse cenário de políticas expansivas, com assentamentos (israelenses) crescendo na Palestina, sempre é usado pelos governos nas eleições. É um jogo político-diplomático que impera na região.” 

O anúncio de Netanyahu veio após uma reunião da ONU em Viena, onde ele espera que a Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA) deva tomar ações mais duras contra o Irã.

Israel sempre se opôs ao acordo nuclear, e Netanyahu pediu em diversas ocasiões que a comunidade internacional adote uma posição mais dura contra a República Islâmica. A tudo isso também se soma a tensão entre Israel, Irã e seus aliados na região.

Nesta segunda, o exército israelense denunciou que forças iranianas lançaram vários foguetes da Síria contra Israel, que não foram bem sucedidos em acertar seu território. O incidente coincide com uma série de ataques aéreos nesta segunda contra tropas iranianas na cidade síria de Al-Bukamal, na fronteira com o Iraque, onde morerram 18 milicianos. A Síria acusa Israel do ataque.

Há duas semanas, após denunciar outra tentativa de ataque iraniano vindo da Síria, Israel atuou contra tropas iranianas e de seus aliados no país vizinho. A ofensiva israelense contra milícias iranianas tem gerado tensões na região, com a denúncia por parte do Líbano e do Iraque de ataques israelenses em seu território, além de ataques simultâneos entre Israel e o grupo terrorista xiita libanês Hezbollah, aliado ao Irã. 

Israel considera o Irã como o seu principal inimigo, e Netanyahu tem liderado a oposição ao acordo nuclear com Irã. Ele afirma que o país está tentando construir uma bomba atômica, negada pelo Irã, e tem acusado os iranianos de violar as regras do acordo.

Reação

Na primeira manifestação de Teerã, o ministro de Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, publicou nesta segunda em sua conta no Twitter um vídeo de 2002 de Netanyahu falando sobre o que considerava "reverberações positivas" que iriam vir com a queda do então ditador Saddam Hussein. 

"O real possessor de armas nucleares (sinaliza, sem precisar) um SUPOSTO local 'demolido' no Irã", disse Zarif, se referindo ao programa de armas nucleares israelense, que nunca fora reconhecido pelo país.

Zarif não comentou do que se trata o local encontrado por Israel, mas levou à interpretação de que as imagens teriam sido manipuladas por Israel. Uma seta indica para uma área da foto que não está exatamente igual nas comparações de antes e depois.

Abadeh é uma cidade pequena famosa pelos seus carpetes, a 500 km ao sudeste de Teerã. As coordenadas mostradas por Netanyahu de fato correspondem a um conjunto de prédios nas montanhas ao norte de Abadeh, de acordo com imagens públicas de satélite. Porém, a função deles não pôde ser imediatamente encontrada.

No ano passado, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, retirou o país do acordo nuclear e reimplementou sanções econômicas contra o Irã. A quebra do acordo tem elevado as tensões no Golfo Persa e no Oriente Médio.

Nesta segunda, em Viena, a IAEA confirmou que o Irã está se preparando para usar centrífugas mais avançadas, uma outra quebra dos limites impostos pelo acordo nuclear. O país já havia anunciado tal medida, enquanto tenta pressionar nações europeias signatárias do acordo em encontrar uma maneira de manter exportações de petróleo iraniano e reduzir o aumento de sanções americanas na economia iraniana. / AP, EFE e REUTERS, COM CARLA BRIDI

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