MANÁGUA - O Ministério Público da Nicarágua acusou neste domingo, 29, um dos líderes do denominado “Movimento 19 de Abril”, da cidade rebelde de Masaya, pelos delitos de crime organizado e terrorismo, em mais uma capítulo da crise sociopolítica que atinge o país centro-americano desde abril e já deixou entre 295 e 448 mortos.
Cristhian Fajardo, de 37 anos, e sua mulher, María Adilia Peralta Cerrato, de 30 anos, também foram acusados pelo crime de financiamento ao terrorismo e obstrução dos serviços públicos em detrimento do Estado e da sociedade nicaraguense, segundo a Procuradoria.
+ Manifestantes acusam Exército da Nicarágua de sequestrar opositor
A juíza Karen Chavarría, do Nono Tribunal Criminal de Audiências de Manágua, aceitou as acusações e marcou para 24 de agosto a audiência inicial.
O casal foi preso na semana passada por membros do Exército no posto fronteiriço de Peñas Blancas, dividido pela Nicarágua e pela Costa Rica, quando tentava ingressar em território costa-riquense, segundo o Movimento 19 de Abril.
Organizações humanitárias da Nicarágua classificaram essa detenção como um sequestro, já que se deu em condições semelhantes às que resultaram na prisão de mais de 700 pessoas que protestaram contra o presidente Daniel Ortega, e porque Fajardo não tinha nenhuma pendência jurídica no país.
O líder opositor já tinha sofrido um ataque das forças oficialistas em 18 de julho, quando um hotel de sua propriedade, localizado em Masaya, a 29 quilômetros de Manágua, foi incendiado na presença de policiais, segundo denuncia de testemunhas. O incêndio ocorreu dias depois de Fajardo anunciar que Masaya tinha estabelecido um “governo popular”, alternativo ao de Ortega.
Seu navegador não suporta esse video.
Forças do governo da Nicarágua lançaram nesta terça-feira uma forte ofensiva para recuperar o controle da cidade de Masaya, declarada em rebeldia por seus habitantes, o que deixou ao menos três mortos.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e o escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos responsabilizaram o governo Ortega de graves violações dos direitos humanos, “assassinatos, execuções extrajudiciais, maus tratos, possíveis atos de tortura e detenções arbitrárias”.
O governo da Nicarágua rechaça as acusações dos órgãos internacionais. O país vive a crise mais sangrenta desde a década de 1980, quando Ortega também era presidente. / EFE