Em mais um passo de perseguição a seus opositores, o governo de Daniel Ortega fechou no início deste mês sete emissoras de rádio católicas ligadas ao bispo Rolando Álvarez, forte crítico do presidente nicaraguense e membro da Conferência Episcopal da Nicarágua (CEN). Há uma semana, Álvarez foi detido pelas forças de segurança acusado de tentar desestabilizar o país e não pode sair de sua cúria.
As relações entre a Igreja Católica e o governo Ortega começaram a se deteriorar em 2018, quando vários templos abriram suas portas para abrigar manifestantes feridos durante os protestos contra o presidente duramente reprimidos. Na ocasião, 355 pessoas foram mortas, segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).
O governo Ortega sustenta que essas manifestações fizeram parte de uma tentativa de golpe promovida pela oposição, com o apoio dos Estados Unidos e cumplicidade dos bispos.
Nesta quinta-feira, 11, o bispo Álvarez afirmou que está bem de saúde, assim como as pessoas que estão com ele na cúria. “Graças a Deus estamos bem de saúde, vivendo em comunidade (...) estamos nas mãos de Deus”, disse Álvarez em uma missa transmitida pelo Facebook. Ele acrescentou que estão vivendo a “detenção como um retiro espiritual”.
O estado de Álvarez, da diocese de Matagalpa, norte da Nicarágua, causou preocupação pela falta de notícias sobre sua situação. Há cinco dias, ele não fazia pronunciamentos.
Perseguição
As autoridades da Nicarágua acusam o padre de tentar “organizar grupos violentos” e incitar “a realizar atos de ódio (...) com o objetivo de desestabilizar o Estado”, informou a polícia na sexta-feira. Álvarez foi detido em sua cúria justamente após denunciar o fechamento de rádios religiosas e exigir que o governo Ortega “respeitasse a liberdade de culto diante do assédio” que, segundo ele, a Igreja Católica sofre.
A repressão do governo Ortega aos seus opositores se intensificou em 2021, com a proximidade das eleições presidenciais e não parou de escalar desde então. A partir de 2020, novas leis foram aprovadas no país e têm levado à prisão ou fuga de opositores. Além disso, o tribunal eleitoral foi dominado por juízes ligados ao partido Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN).
Reações
Dias após a denúncia do fechamento das rádios católicas, o Brasil repudiou a decisão e o “uso abusivo da violência policial contra líderes religiosos e fiéis”. Em nota, o ministério de Relações Exteriores manifestou sua “grave preocupação” e instou ao governo de Ortega a restabelecer “sem demora” o funcionamento das emissoras e “o pleno exercício da liberdade religiosa”.
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A comunidade internacional intensificou a pressão sobre a Nicarágua para pôr fim à repressão e desarmar os paramilitares que ameaçam os manifestantes que pedem a saída do presidente Daniel Ortega.
“A medida constitui mais um severo golpe ao espaço cívico na Nicarágua e viola o direito à liberdade de religião ou crença, assim como à liberdade de opinião e de expressão”, afirmou o governo brasileiro em nota. “O Governo brasileiro defende o direito à liberdade de toda pessoa de escolher e praticar livremente sua religião. O Brasil é membro fundador da Aliança Internacional para a Liberdade de Religião ou Crença (IRFBA), criada em 2020 e, atualmente, com 36 países membros”, finaliza o documento.
A União Europeia (UE) também se manifestou publicamente contra o fechamento “arbitrário” das emissoras católicas nicaraguenses e repudiou a violência. / AFP