Muito mais mortal do que o coronavírus Sars-CoV-2, o vírus Nipah está causando preocupação nas autoridades indianas depois que foi registrada, na madrugada do último domingo, 5, a morte de um menino de 12 anos, infectado no estado de Kerala.
O garoto estava hospitalizado havia uma semana com febre alta, mas sua condição piorou conforme ele apresentou sinais de encefalite, uma inflamação e inchaço no cérebro. Antes de morrer, o jovem entrou em contato com 188 pessoas, sendo que 20 delas eram de alto risco.
Todos aqueles que estiveram próximos ao menino passam agora por quarentena ou estão hospitalizados. Ao menos 88 pessoas estão em quarentena. Dois profissionais de saúde que entraram em contato com o garoto apresentaram sintomas da infecção por Nipah na segunda-feira, 6, e suas amostras de sangue foram enviadas para teste.
"Não há necessidade de entrar em pânico, mas precisamos ter cautela", disse Veena George, a ministra da saúde de Kerala, à mídia local, enquanto o ministro federal da Saúde, Mansukh Mandaviya, disse que uma equipe do Centro Nacional de Controle de Doenças foram implantados na área para oferecer assistência.
As autoridades sanitárias alertam que o Nipah pode causar uma pandemia, embora sua disseminação nunca tenha chegado em nível pandêmico desde que o vírus foi descoberto em 1999. O agente infeccioso está na lista da Organização Mundial de Saúde (OMS) de doenças e patógenos priorizados para pesquisa e desenvolvimento em contextos de emergência.
O que é o vírus Nipah?
Um menino de 12 anos morreu após contrair o vírus Nipah no estado indiano de Kerala no domingo, gerando temores de uma nova crise de saúde em um país que já perdeu mais de 441.000 vidas com a pandemia do coronavírus.
Desde então, pelo menos dois profissionais de saúde testaram positivo para o vírus Nipah, e as autoridades estão trabalhando para rastrear os contatos do menino em uma tentativa de prevenir a propagação de uma doença que é mais mortal do que a covid-19.
A doença de Nipah — que a Organização Mundial da Saúde listou como doença prioritária devido ao seu potencial de gerar um pandemia — causou preocupação enquanto a Índia continua lutando contra a pandemia do coronavírus.
Quando o vírus Nipah foi descoberto e como ele se espalhou?
O vírus Nipah (NiV) foi descoberto durante um surto entre criadores de porcos na Malásia em 1999. Acredita-se que os trabalhadores contraíram o vírus através de rebanhos infectados e suas secreções.
Os morcegos frugívoros, também conhecidos como “raposas voadoras”, são o hospedeiro natural do vírus Nipah, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. O vírus pode ser transmitido de animais para humanos - principalmente de morcegos ou porcos - ou por meio do contato entre humanos.
Os morcegos frugívoros, que se alimentam de frutas, da família Pteropodidae, costumam viver em tamareiras perto de mercados, e o vírus se espalhou de morcegos para humanos por meio de alimentos - como frutas e suco de tamareira - que foram contaminados por morcegos infectados.
Animais domésticos, incluindo cavalos, gatos e cães, também são capazes de pegar e espalhar a infecção, mas o vírus é considerado altamente contagioso entre os porcos, que pode transmitir o vírus para humanos que entram em contato com seus fluidos ou tecidos corporais.
A infecção mortal também pode ser transmitida através do contato humano próximo — o vírus pode se espalhar de um indivíduo infectado para sua família ou cuidadores através dos fluidos corporais da pessoa.
Em 2018, a Índia enfrentou um surto que matou 17 das 19 pessoas que contraíram o vírus Nipah. Em 2019, um novo caso foi registrado no país, mas a ação rápida e o rastreamento generalizado de contatos impediram uma maior disseminação.
Quais são os sintomas?
Os sintomas da doença são variados. Os mais leves incluem febre e dores de cabeça, vômitos, dor de garganta e dores musculares.
Em casos graves, os pacientes podem apresentar infecções agudas, como encefalite (inflamação do cérebro) e problemas respiratórios. Outros efeitos colaterais relatados incluem convulsões, que podem levar ao coma e alterações de personalidade.
Tal como acontece com o coronavírus, alguns que contraem o vírus permanecem assintomáticos.
Quão difundido é o vírus Nipah?
Desde que foi detectado pela primeira vez, surtos também foram registrados em muitos países do sudeste asiático, incluindo Cingapura, Bangladesh e Índia.
Em algumas partes da Ásia, novos casos do vírus Nipah foram registrados “quase anualmente”, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças.
O vírus Nipah é mais mortal do que o coronavírus?
A OMS estima que a taxa de mortalidade do vírus Nipah é alta — entre 40 e 75% — o que o torna muito mais mortal do que o da covid-19, que tem uma taxa de mortalidade entre 0,1% e 19%, dependendo do país.
No entanto, embora as chances de morrer do vírus Nipah uma vez infectado sejam altas, o Nipah é muito menos transmissível do que o coronavírus.
Como é diagnosticado e há cura ou vacina?
Especialistas em saúde temem que, ao contrário do coronavírus, o conhecimento do vírus Nipah permaneça extremamente baixo, tornando mais difícil prevenir, tratar e diagnosticar. Por falta de conhecimento, nem sempre há suspeita do vírus em pacientes com sintomas.
Os testes de PCR usando amostras de fluidos corporais são usados principalmente para confirmar uma infecção do vírus, juntamente com métodos de detecção de anticorpos.
Não existe cura certa para o vírus Nipah e não existe uma vacina que possa ajudar a prevenir a infecção.
De acordo com a OMS e o CDC, o principal tratamento disponível são os cuidados de suporte — ou seja, controlar os sintomas e garantir que os infectados tenham o máximo de repouso e hidratação possível.
O contato físico próximo e desprotegido com pessoas infectadas pelo vírus Nipah deve ser evitado. As pessoas devem lavar as mãos regularmente após cuidar ou visitar pessoas doentes.
Maneiras de prevenir infecções de animais para humanos incluem evitar alimentos contaminados por morcegos frugívoros — ou lavar e descascar frutas que podem ser afetadas — e evitar o contato desprotegido com morcegos ou porcos infectados.
O CDC recomenda que as pessoas que vivem em áreas onde ocorreram surtos lavem regularmente as mãos com água e sabão e evitem o contato com fluidos corporais ou sangue das pessoas infectadas.