WASHINGTON POST - O Kremlin apostou numa decapitação rápida e simples para resolver o problema de um vizinho que se afastava demais da órbita de Moscou. Depois de que seu vangloriado Exército cruzou a fronteira, pouco saiu de acordo com o plano original. As tropas invasoras encontraram uma resistência feroz de combatentes em desvantagem militar que defendiam sua pátria. Aliados internacionais, como os EUA, correram para ajudá-los. E uma guerra que parecia uma chance de exibição do poderio de Moscou transformou-se em uma mostra de fraqueza – que poderia até mesmo ameaçar o regime.
Este é o resumo das seis semanas de invasão da Ucrânia, mas a descrição também se aplica à aventura soviética no Afeganistão, na década de 80, que precipitou o colapso do império comunista e o fim da Guerra Fria. Esse fantasma de 40 anos agora assombra Vladimir Putin, enquanto ele tenta sair do atoleiro no qual se colocou.
Para veteranos do conflito no Afeganistão, Putin não aprendeu com a principal lição daquela guerra: não se pode superestimar as suas próprias forças, nem subsestimar a dos adversários. “Os russos subestimaram os afegãos naquela época e subestimam hoje os ucranianos”, diz Bruce Riedel, que trabalhou como agente da CIA na operação que armou os insurgentes afegãos (anos depois, ela culminaria na criação da Al-Qaeda).
Segundo Riedel, a maior ironia desse paralelo é que o objetivo de Putin na Ucrânia é justamente restaurar a antiga glória soviética, mas, ao cometer erros similares aos dos líderes comunistas, colocou o futuro da Rússia, bem como o seu, em xeque.
É claro que existem grandes diferenças entre a Ucrânia de agora e o Afeganistão de então. Para citar algumas: o governo da Ucrânia é eleito democraticamente, enquanto o Afeganistão já tinha um regime comunista apoiado pelos soviéticos antes da invasão.
A guerra de hoje está sendo travada perto das linhas de frente da Otan, em vez do sul da Ásia. As tropas russas estão na Ucrânia há cinco semanas; os soviéticos ficaram no Afeganistão por quase uma década. No entanto, esta guerra está indo muito pior para Moscou.