QUITO - Desafiando o governo do Equador, a maior organização indígena do país bloqueou neste sábado, 18, estradas nas três províncias andinas onde o presidente Guillermo Lasso decretou na sexta-feira, 17, estado de exceção por 30 dias para controlar as manifestações contra seu governo que entraram em seu sexto dia.
As manifestações, convocadas por indígenas que exigem, principalmente, a redução dos preços dos combustíveis, foram mantidas em Pichincha (cuja capital é Quito) e as províncias vizinhas de Imbabura (Norte) e Cotopaxi (Sul), que têm grande presença de indígenas, que representam mais de 1 milhão dos 17,7 milhões de equatorianos.
Além dos preços da gasolina, os manifestantes protestam pela renegociação de dívidas dos trabalhadores rurais com bancos, contra o desemprego e pela concessão de licenças de mineração em territórios indígenas.
O estado de exceção habilita o presidente a mobilizar as Forças Armadas para manter a ordem interna, suspender direitos dos cidadãos e decretar toque de recolher.
Concessões do presidente
Pressionado, Lasso também anunciou medidas econômicas, entre elas aumentar de US$ 50 (R$ 257,7) para US$ 55 (R$ 283,45) o auxílio econômico para famílias de baixa renda. Além disso, o Executivo também deve subsidiar em até 50% o preço da ureia agrícola, fertilizante usado no campo, para pequenos e médios produtores, e ordenar o perdão de empréstimos vencidos de até US$ 3 mil (R$ 15,5 mil) concedidos pelo banco estadual de desenvolvimento produtivo.
No entanto, A Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie) ratificou a continuidade dos protestos e qualificou de “irrisório” o plano de soluções apresentado por Lasso. A Conaie lidera os manifestantes que pedem uma redução no preço dos combustíveis, após o aumento de 90% do galão do diesel e de 46% da gasolina comum entre maio de 2020 e outubro de 2021. Os preços haviam sido congelados justamente pela pressão do nativos.
A organização indígena afirma que manterá os protestos até que o governo atenda a uma lista de dez demandas, que incluem a regulação do preço dos produtos agrícolas e a renegociação de dívidas bancárias de 4 milhões de famílias. A entidade participou de revoltas que derrubaram três presidentes do país entre 1997 e 2005.
Violência no Equador
As manifestações, que incluíram marchas de estudantes em Quito, deixaram mais de 80 feridos e 40 detidos, segundo as autoridades e organizações indígenas.
Plantadores e exportadores de flores, uma das principais atividades econômicas do país, afirmaram pelo Twitter que, por causa dos bloqueios de estradas, “a produção está se perdendo e as flores apodrecendo”. O Ministério da Produção estima que os protestos já causaram um prejuízo de US$ 50 milhões (R$ 257,7 milhões).
Para Simón Pachano, cientista político da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), o movimento indígena “tem pouco poder politicamente, mas, em termos de um ator social que incide desde a política informal, é muito forte, principalmente na serra andina”.
Para conter as manifestações, na avaliação de Pachano, o governo deve “ter uma política social clara, que atenda aos setores mais necessitados. O grande vazio do governo é que ele não tem uma gestão política, não sabe o que é política”, segundo o analista. AFP e EFE