No Estado americano de Michigan, milícia armada garante barbearia aberta 


Grupo se opõe à abordagem da governadora democrata Gretchen Whitmer no combate ao surto de coronavírus no Estado

Por Redação

OWOSSO, EUA - Uma milícia armada resolveu guardar a porta de uma barbearia, em Owosso, em Michigan, para evitar que a polícia, seguindo ordens estaduais de restrições por causa da pandemia do coronavírus, feche o local. Reunidos lá desde segunda-feira, todos vestem moletons com o nome de Trump, chapéus de caubói do presidente e também têm bandeiras do republicano. O local se tornou um bastião da extrema direita. 

O grupo não se reúne lá porque precise desesperadamente dos cortes de cabelo de Karl Manke, de 77 anos, mas para se opor à abordagem da governadora democrata de Michigan, Gretchen Whitmer, no combate ao surto de coronavírus no Estado. A covid-19 já infectou 48 mil e matou mais de 4,6 mil em Michigan – o quarto maior total do país. 

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Karl Manke é proprietário da barbearia que virou foco de resistência à quarentena em Michigan Foto: Jeff Kowalsky/AFP

O novo protesto, assim como outros semelhantes, incluindo dois no mês passado, que tiveram a participação de manifestantes com suásticas, bandeiras confederadas e rifles dentro da Assembleia Legislativa local, alarmou democratas e republicanos. Trump aprovou tudo. Disse que se tratava de “pessoas boas” que só “queriam suas vidas de volta”. 

Os manifestantes dizem que só querem evitar o colapso econômico e exigem uma mudança radical na resposta do Estado à pandemia ao insistirem que o governo inflaciona o número de mortos. Por manter o lugar aberto, Manke já responde a duas ações por contravenção e um juiz quer ouvir seus argumentos.

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Tradicionalmente, as votações em Michigan tendem a eleger políticos de centro. E, para muitos eleitores, as medidas adotadas estão corretas. De acordo com uma pesquisa do Washington Post-Ipsos, divulgada terça-feira, 72% da população aprova as medidas do governo. Whitmer acusa os republicanos de incentivar os atos. “Seríamos muito melhores se levássemos em conta uma plataforma focada na ciência e menos na política.” 

Mike Shirkey, líder dos republicanos no Senado estadual, condenou os manifestantes que estavam “se valendo de ameaças de violência para provocar medo e rancor”. Assustados com os manifestantes fortemente armados, alguns parlamentares vestiram coletes à prova de balas durante os protestos de 30 de abril.

“Eles não representam os republicanos do Senado”, afirmou Shirkey em comunicado. “Esses supostos manifestantes são, na melhor das hipóteses, um bando de idiotas”.

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O principal organizador do evento, Ryan Kelley, agente imobiliário em Grand Rapids, disse estar desapontado com os muitos parlamentares republicanos que não quiseram suspender todas as restrições imediatamente. “Vocês foram eleitos para servir o povo”, disse ele. “Não foram eleitos para servir a si mesmos."

O debate dos últimos dias sobre o combate ao coronavírus resume a dinâmica política do Estado, que tradicionalmente gravitava em torno do centro, com moderados de ambos os lados.

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Campo de batalha para 2020

Ainda que Trump tenha vencido no Estado com 10.700 votos em 2016, há sinais de que Michigan está oscilando para a esquerda, montando, uma vez mais, um grande campo de batalha em 2020. Essa oscilação está bem evidente no Condado de Kent, onde fica Grand Rapids, cidade natal do falecido presidente Gerald R. Ford

O condado tem o quarto maior número de casos de vírus no Estado e é o epicentro do surto no oeste de Michigan, região onde Trump teve um bom desempenho em 2016. Dois anos depois de Trump derrotar Hillary Clinton por três pontos no Condado de Kent, Whitmer superou o republicano Bill Schuette, procurador-geral do Estado, em quatro pontos percentuais.

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Os democratas moderados também conquistaram duas cadeiras que até 2018 eram ocupadas por republicanos.

Agora, alguns veem sinais de que os ataques de Trump a Whitmer – e seu apoio a manifestantes da linha-dura – poderiam comprometer ainda mais suas perspectivas. Trump criticou a governadora de primeiro mandato no Twitter e na televisão, chegando a chamá-la de “Whitmer Meia-boca” em um tuite. 

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As máscaras passaram a ser encaradas como vitais na luta contra o novo coronavírus e ganharam as ruas em todo o mundo. Na Islândia, a proteção não combate apenas a doença, mas com terror e humor ajuda a manter o distanciamento social.

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Em uma entrevista coletiva no fim de março, depois que Whitmer qualificou como inadequada a resposta federal à pandemia, Trump insinuou que Whitmer era ingrata e disse que havia instruído o vice-presidente Mike Pence a não ligar para ela. Trump não usou o nome da governadora, referindo-se a ela apenas como “aquela mulher de Michigan”.

O deputado Fred Upton, um republicano moderado que representa uma região do oeste de Michigan e enfrenta um difícil desafio na reeleição, vem trabalhando quase 24 horas por dia na varanda lateral de sua casa em St. Josesph, ajudando eleitores afetados pela pandemia. Ele se recusou a comentar os ataques de Trump a Whitmer, com quem se comunica regularmente por meio de mensagens de texto.

“Estou focado no que meu pessoal quer que eu faça, ou seja, seguir resolvendo problemas”, disse Upton. “Meu foco está aqui, não em ficar apontando dedos para acusar os outros. Não é do meu estilo."

Pouco antes do início dos ataques de Trump, toda a delegação do Congresso de Michigan – com seis republicanos – havia escrito uma carta ao vice-presidente pressionando-o a fornecer mais equipamentos de proteção pessoal. O que o Estado havia recebido, escreveram eles, era “insuficiente diante das circunstâncias”.

“Pedimos que o senhor aprove imediatamente as solicitações pendentes de EPI e materiais de teste para Michigan, na medida do possível”, escreveram os parlamentares na carta de 25 de março, a qual foi publicada pela primeira vez pelo site Michigan Advance.

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Apontado pelo governo dos Estados Unidos como o local de origem do novo coronavírus, o Instituto de Virologia chinês de Wuhan estuda alguns dos patógenos mais perigosos do mundo.

Whitmer capitalizou a atenção que recebeu por causa dos ataques, defendendo firmemente sua abordagem cautelosa em relação ao vírus e revelando-se uma anti-Trump. Ela usou uma camiseta com os dizeres “Aquela mulher de Michigan” em uma entrevista com Trevor Noah, do ‘The Daily Show’, em 1º de abril. Sua resposta à pandemia ajudou sua ascensão política nacional e a colocou em disputa para se tornar uma possível companheira de candidatura de Joe Biden.

Anita Kruschinska, de 46 anos, dona de uma fazenda de coelhos e aves no norte de Michigan, votou em Trump em 2016 e em Schuette, oponente republicano de Whitmer, em 2018. Mas agora apoia as medidas de Whitmer contra a pandemia e deseja que a governadora estenda as restrições que desencorajariam os moradores urbanos a viajarem para casas de veraneio na sua região do Estado. Ela tem uma doença autoimune e acredita que o vírus seria sua sentença de morte.

Ela criticou a reação do governo Trump à pandemia e disse que esse fato pode influenciar a forma como votará este ano. “Eles subestimaram demais esse vírus”, disse Kruschinska. Ela estava esperando para ver “como tudo vai acontecer” antes de decidir.

Vários líderes, entre eles Whitmer, disseram temer que os protestos ponham em risco os esforços para conter o vírus, em parte porque envolvem grandes multidões de pessoas que estão ignorando as recomendações de distanciamento social. Sandy Baruah, que chefia a Câmara Regional de Detroit e que liderou a Administração das Pequenas Empresas dos Estados Unidos sob o presidente George W. Bush, disse que as pessoas que desobedecem às restrições podem espalhar o vírus.

“Estamos preocupados com isso, porque realmente acelerou a dinâmica política naquilo que, na verdade, é uma emergência de saúde pública”, disse Baruah. “A governadora e os líderes legislativos não encontraram uma maneira de trabalhar juntos durante esta crise."

Governadora enfrenta pressão

Baruah teme que o crescente rancor partidário possa agravar a emergência de saúde pública. Os parlamentares estaduais começaram a contestar a autoridade da governadora de estender seu decreto de emergência do fim de abril e a processaram na semana passada. Os manifestantes aproveitaram a oportunidade e alguns grupos começaram a pedir a reabertura do comércio.

O deputado estadual Mark Huizenga, do Partido Republicano, em cujo distrito se localiza o Condado de Kent, disse que não queria ver os empresários desobedecendo às ordens da governadora, mesmo tendo apoiado o processo que contestou sua autoridade, alegando que está “operando sob o entendimento de que esta é a lei”.

Mas, na barbearia de Owosso, o xerife local disse que não aplicará as ordens de Whitmer. Os parlamentares republicanos não apoiaram os esforços de Whitmer para fazer com que as empresas cumprissem as medidas. O porta-voz de Chatfield, Gideon D'Assandro, classificou as ordens de Whitmer como “legalmente questionáveis, na melhor das hipóteses”.

O conflito deixou em situação difícil empresários como Bill Mansfield, dono de uma fazenda de lavanda que atrai turistas de todo o mundo durante o verão. Mansfield disse que quer mais clareza sobre quando as restrições para reuniões públicas podem mudar. A fazenda aluga seu celeiro para shows, festas e casamentos, e ele não sabe o que dizer aos clientes.

“As noivas e as famílias estão ligando e perguntando: ‘Como vai ser? Qual é a política de reembolso?’”, disse ele. “Estamos preparados para seguir qualquer regra, mas simplesmente não sabemos quais são as regras."

Mansfield, que vota no Partido Republicano, disse que seu ponto de vista também não se alinha com o dos manifestantes que querem a reabertura imediata do estado. Ele teme o que isso pode significar para seus funcionários que interagem com o público, guiando passeios pela fazenda e vendendo máscaras e biscoitos de lavanda na loja de presentes.

“Amo meus funcionários”, disse ele. “Não quero ficar ao lado dos loucos que só pensam em reabrir o comércio, custe o que custar."/ W. POST

TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

OWOSSO, EUA - Uma milícia armada resolveu guardar a porta de uma barbearia, em Owosso, em Michigan, para evitar que a polícia, seguindo ordens estaduais de restrições por causa da pandemia do coronavírus, feche o local. Reunidos lá desde segunda-feira, todos vestem moletons com o nome de Trump, chapéus de caubói do presidente e também têm bandeiras do republicano. O local se tornou um bastião da extrema direita. 

O grupo não se reúne lá porque precise desesperadamente dos cortes de cabelo de Karl Manke, de 77 anos, mas para se opor à abordagem da governadora democrata de Michigan, Gretchen Whitmer, no combate ao surto de coronavírus no Estado. A covid-19 já infectou 48 mil e matou mais de 4,6 mil em Michigan – o quarto maior total do país. 

Karl Manke é proprietário da barbearia que virou foco de resistência à quarentena em Michigan Foto: Jeff Kowalsky/AFP

O novo protesto, assim como outros semelhantes, incluindo dois no mês passado, que tiveram a participação de manifestantes com suásticas, bandeiras confederadas e rifles dentro da Assembleia Legislativa local, alarmou democratas e republicanos. Trump aprovou tudo. Disse que se tratava de “pessoas boas” que só “queriam suas vidas de volta”. 

Os manifestantes dizem que só querem evitar o colapso econômico e exigem uma mudança radical na resposta do Estado à pandemia ao insistirem que o governo inflaciona o número de mortos. Por manter o lugar aberto, Manke já responde a duas ações por contravenção e um juiz quer ouvir seus argumentos.

Tradicionalmente, as votações em Michigan tendem a eleger políticos de centro. E, para muitos eleitores, as medidas adotadas estão corretas. De acordo com uma pesquisa do Washington Post-Ipsos, divulgada terça-feira, 72% da população aprova as medidas do governo. Whitmer acusa os republicanos de incentivar os atos. “Seríamos muito melhores se levássemos em conta uma plataforma focada na ciência e menos na política.” 

Mike Shirkey, líder dos republicanos no Senado estadual, condenou os manifestantes que estavam “se valendo de ameaças de violência para provocar medo e rancor”. Assustados com os manifestantes fortemente armados, alguns parlamentares vestiram coletes à prova de balas durante os protestos de 30 de abril.

“Eles não representam os republicanos do Senado”, afirmou Shirkey em comunicado. “Esses supostos manifestantes são, na melhor das hipóteses, um bando de idiotas”.

O principal organizador do evento, Ryan Kelley, agente imobiliário em Grand Rapids, disse estar desapontado com os muitos parlamentares republicanos que não quiseram suspender todas as restrições imediatamente. “Vocês foram eleitos para servir o povo”, disse ele. “Não foram eleitos para servir a si mesmos."

O debate dos últimos dias sobre o combate ao coronavírus resume a dinâmica política do Estado, que tradicionalmente gravitava em torno do centro, com moderados de ambos os lados.

Campo de batalha para 2020

Ainda que Trump tenha vencido no Estado com 10.700 votos em 2016, há sinais de que Michigan está oscilando para a esquerda, montando, uma vez mais, um grande campo de batalha em 2020. Essa oscilação está bem evidente no Condado de Kent, onde fica Grand Rapids, cidade natal do falecido presidente Gerald R. Ford

O condado tem o quarto maior número de casos de vírus no Estado e é o epicentro do surto no oeste de Michigan, região onde Trump teve um bom desempenho em 2016. Dois anos depois de Trump derrotar Hillary Clinton por três pontos no Condado de Kent, Whitmer superou o republicano Bill Schuette, procurador-geral do Estado, em quatro pontos percentuais.

Os democratas moderados também conquistaram duas cadeiras que até 2018 eram ocupadas por republicanos.

Agora, alguns veem sinais de que os ataques de Trump a Whitmer – e seu apoio a manifestantes da linha-dura – poderiam comprometer ainda mais suas perspectivas. Trump criticou a governadora de primeiro mandato no Twitter e na televisão, chegando a chamá-la de “Whitmer Meia-boca” em um tuite. 

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As máscaras passaram a ser encaradas como vitais na luta contra o novo coronavírus e ganharam as ruas em todo o mundo. Na Islândia, a proteção não combate apenas a doença, mas com terror e humor ajuda a manter o distanciamento social.

Em uma entrevista coletiva no fim de março, depois que Whitmer qualificou como inadequada a resposta federal à pandemia, Trump insinuou que Whitmer era ingrata e disse que havia instruído o vice-presidente Mike Pence a não ligar para ela. Trump não usou o nome da governadora, referindo-se a ela apenas como “aquela mulher de Michigan”.

O deputado Fred Upton, um republicano moderado que representa uma região do oeste de Michigan e enfrenta um difícil desafio na reeleição, vem trabalhando quase 24 horas por dia na varanda lateral de sua casa em St. Josesph, ajudando eleitores afetados pela pandemia. Ele se recusou a comentar os ataques de Trump a Whitmer, com quem se comunica regularmente por meio de mensagens de texto.

“Estou focado no que meu pessoal quer que eu faça, ou seja, seguir resolvendo problemas”, disse Upton. “Meu foco está aqui, não em ficar apontando dedos para acusar os outros. Não é do meu estilo."

Pouco antes do início dos ataques de Trump, toda a delegação do Congresso de Michigan – com seis republicanos – havia escrito uma carta ao vice-presidente pressionando-o a fornecer mais equipamentos de proteção pessoal. O que o Estado havia recebido, escreveram eles, era “insuficiente diante das circunstâncias”.

“Pedimos que o senhor aprove imediatamente as solicitações pendentes de EPI e materiais de teste para Michigan, na medida do possível”, escreveram os parlamentares na carta de 25 de março, a qual foi publicada pela primeira vez pelo site Michigan Advance.

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Apontado pelo governo dos Estados Unidos como o local de origem do novo coronavírus, o Instituto de Virologia chinês de Wuhan estuda alguns dos patógenos mais perigosos do mundo.

Whitmer capitalizou a atenção que recebeu por causa dos ataques, defendendo firmemente sua abordagem cautelosa em relação ao vírus e revelando-se uma anti-Trump. Ela usou uma camiseta com os dizeres “Aquela mulher de Michigan” em uma entrevista com Trevor Noah, do ‘The Daily Show’, em 1º de abril. Sua resposta à pandemia ajudou sua ascensão política nacional e a colocou em disputa para se tornar uma possível companheira de candidatura de Joe Biden.

Anita Kruschinska, de 46 anos, dona de uma fazenda de coelhos e aves no norte de Michigan, votou em Trump em 2016 e em Schuette, oponente republicano de Whitmer, em 2018. Mas agora apoia as medidas de Whitmer contra a pandemia e deseja que a governadora estenda as restrições que desencorajariam os moradores urbanos a viajarem para casas de veraneio na sua região do Estado. Ela tem uma doença autoimune e acredita que o vírus seria sua sentença de morte.

Ela criticou a reação do governo Trump à pandemia e disse que esse fato pode influenciar a forma como votará este ano. “Eles subestimaram demais esse vírus”, disse Kruschinska. Ela estava esperando para ver “como tudo vai acontecer” antes de decidir.

Vários líderes, entre eles Whitmer, disseram temer que os protestos ponham em risco os esforços para conter o vírus, em parte porque envolvem grandes multidões de pessoas que estão ignorando as recomendações de distanciamento social. Sandy Baruah, que chefia a Câmara Regional de Detroit e que liderou a Administração das Pequenas Empresas dos Estados Unidos sob o presidente George W. Bush, disse que as pessoas que desobedecem às restrições podem espalhar o vírus.

“Estamos preocupados com isso, porque realmente acelerou a dinâmica política naquilo que, na verdade, é uma emergência de saúde pública”, disse Baruah. “A governadora e os líderes legislativos não encontraram uma maneira de trabalhar juntos durante esta crise."

Governadora enfrenta pressão

Baruah teme que o crescente rancor partidário possa agravar a emergência de saúde pública. Os parlamentares estaduais começaram a contestar a autoridade da governadora de estender seu decreto de emergência do fim de abril e a processaram na semana passada. Os manifestantes aproveitaram a oportunidade e alguns grupos começaram a pedir a reabertura do comércio.

O deputado estadual Mark Huizenga, do Partido Republicano, em cujo distrito se localiza o Condado de Kent, disse que não queria ver os empresários desobedecendo às ordens da governadora, mesmo tendo apoiado o processo que contestou sua autoridade, alegando que está “operando sob o entendimento de que esta é a lei”.

Mas, na barbearia de Owosso, o xerife local disse que não aplicará as ordens de Whitmer. Os parlamentares republicanos não apoiaram os esforços de Whitmer para fazer com que as empresas cumprissem as medidas. O porta-voz de Chatfield, Gideon D'Assandro, classificou as ordens de Whitmer como “legalmente questionáveis, na melhor das hipóteses”.

O conflito deixou em situação difícil empresários como Bill Mansfield, dono de uma fazenda de lavanda que atrai turistas de todo o mundo durante o verão. Mansfield disse que quer mais clareza sobre quando as restrições para reuniões públicas podem mudar. A fazenda aluga seu celeiro para shows, festas e casamentos, e ele não sabe o que dizer aos clientes.

“As noivas e as famílias estão ligando e perguntando: ‘Como vai ser? Qual é a política de reembolso?’”, disse ele. “Estamos preparados para seguir qualquer regra, mas simplesmente não sabemos quais são as regras."

Mansfield, que vota no Partido Republicano, disse que seu ponto de vista também não se alinha com o dos manifestantes que querem a reabertura imediata do estado. Ele teme o que isso pode significar para seus funcionários que interagem com o público, guiando passeios pela fazenda e vendendo máscaras e biscoitos de lavanda na loja de presentes.

“Amo meus funcionários”, disse ele. “Não quero ficar ao lado dos loucos que só pensam em reabrir o comércio, custe o que custar."/ W. POST

TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

OWOSSO, EUA - Uma milícia armada resolveu guardar a porta de uma barbearia, em Owosso, em Michigan, para evitar que a polícia, seguindo ordens estaduais de restrições por causa da pandemia do coronavírus, feche o local. Reunidos lá desde segunda-feira, todos vestem moletons com o nome de Trump, chapéus de caubói do presidente e também têm bandeiras do republicano. O local se tornou um bastião da extrema direita. 

O grupo não se reúne lá porque precise desesperadamente dos cortes de cabelo de Karl Manke, de 77 anos, mas para se opor à abordagem da governadora democrata de Michigan, Gretchen Whitmer, no combate ao surto de coronavírus no Estado. A covid-19 já infectou 48 mil e matou mais de 4,6 mil em Michigan – o quarto maior total do país. 

Karl Manke é proprietário da barbearia que virou foco de resistência à quarentena em Michigan Foto: Jeff Kowalsky/AFP

O novo protesto, assim como outros semelhantes, incluindo dois no mês passado, que tiveram a participação de manifestantes com suásticas, bandeiras confederadas e rifles dentro da Assembleia Legislativa local, alarmou democratas e republicanos. Trump aprovou tudo. Disse que se tratava de “pessoas boas” que só “queriam suas vidas de volta”. 

Os manifestantes dizem que só querem evitar o colapso econômico e exigem uma mudança radical na resposta do Estado à pandemia ao insistirem que o governo inflaciona o número de mortos. Por manter o lugar aberto, Manke já responde a duas ações por contravenção e um juiz quer ouvir seus argumentos.

Tradicionalmente, as votações em Michigan tendem a eleger políticos de centro. E, para muitos eleitores, as medidas adotadas estão corretas. De acordo com uma pesquisa do Washington Post-Ipsos, divulgada terça-feira, 72% da população aprova as medidas do governo. Whitmer acusa os republicanos de incentivar os atos. “Seríamos muito melhores se levássemos em conta uma plataforma focada na ciência e menos na política.” 

Mike Shirkey, líder dos republicanos no Senado estadual, condenou os manifestantes que estavam “se valendo de ameaças de violência para provocar medo e rancor”. Assustados com os manifestantes fortemente armados, alguns parlamentares vestiram coletes à prova de balas durante os protestos de 30 de abril.

“Eles não representam os republicanos do Senado”, afirmou Shirkey em comunicado. “Esses supostos manifestantes são, na melhor das hipóteses, um bando de idiotas”.

O principal organizador do evento, Ryan Kelley, agente imobiliário em Grand Rapids, disse estar desapontado com os muitos parlamentares republicanos que não quiseram suspender todas as restrições imediatamente. “Vocês foram eleitos para servir o povo”, disse ele. “Não foram eleitos para servir a si mesmos."

O debate dos últimos dias sobre o combate ao coronavírus resume a dinâmica política do Estado, que tradicionalmente gravitava em torno do centro, com moderados de ambos os lados.

Campo de batalha para 2020

Ainda que Trump tenha vencido no Estado com 10.700 votos em 2016, há sinais de que Michigan está oscilando para a esquerda, montando, uma vez mais, um grande campo de batalha em 2020. Essa oscilação está bem evidente no Condado de Kent, onde fica Grand Rapids, cidade natal do falecido presidente Gerald R. Ford

O condado tem o quarto maior número de casos de vírus no Estado e é o epicentro do surto no oeste de Michigan, região onde Trump teve um bom desempenho em 2016. Dois anos depois de Trump derrotar Hillary Clinton por três pontos no Condado de Kent, Whitmer superou o republicano Bill Schuette, procurador-geral do Estado, em quatro pontos percentuais.

Os democratas moderados também conquistaram duas cadeiras que até 2018 eram ocupadas por republicanos.

Agora, alguns veem sinais de que os ataques de Trump a Whitmer – e seu apoio a manifestantes da linha-dura – poderiam comprometer ainda mais suas perspectivas. Trump criticou a governadora de primeiro mandato no Twitter e na televisão, chegando a chamá-la de “Whitmer Meia-boca” em um tuite. 

Seu navegador não suporta esse video.

As máscaras passaram a ser encaradas como vitais na luta contra o novo coronavírus e ganharam as ruas em todo o mundo. Na Islândia, a proteção não combate apenas a doença, mas com terror e humor ajuda a manter o distanciamento social.

Em uma entrevista coletiva no fim de março, depois que Whitmer qualificou como inadequada a resposta federal à pandemia, Trump insinuou que Whitmer era ingrata e disse que havia instruído o vice-presidente Mike Pence a não ligar para ela. Trump não usou o nome da governadora, referindo-se a ela apenas como “aquela mulher de Michigan”.

O deputado Fred Upton, um republicano moderado que representa uma região do oeste de Michigan e enfrenta um difícil desafio na reeleição, vem trabalhando quase 24 horas por dia na varanda lateral de sua casa em St. Josesph, ajudando eleitores afetados pela pandemia. Ele se recusou a comentar os ataques de Trump a Whitmer, com quem se comunica regularmente por meio de mensagens de texto.

“Estou focado no que meu pessoal quer que eu faça, ou seja, seguir resolvendo problemas”, disse Upton. “Meu foco está aqui, não em ficar apontando dedos para acusar os outros. Não é do meu estilo."

Pouco antes do início dos ataques de Trump, toda a delegação do Congresso de Michigan – com seis republicanos – havia escrito uma carta ao vice-presidente pressionando-o a fornecer mais equipamentos de proteção pessoal. O que o Estado havia recebido, escreveram eles, era “insuficiente diante das circunstâncias”.

“Pedimos que o senhor aprove imediatamente as solicitações pendentes de EPI e materiais de teste para Michigan, na medida do possível”, escreveram os parlamentares na carta de 25 de março, a qual foi publicada pela primeira vez pelo site Michigan Advance.

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Apontado pelo governo dos Estados Unidos como o local de origem do novo coronavírus, o Instituto de Virologia chinês de Wuhan estuda alguns dos patógenos mais perigosos do mundo.

Whitmer capitalizou a atenção que recebeu por causa dos ataques, defendendo firmemente sua abordagem cautelosa em relação ao vírus e revelando-se uma anti-Trump. Ela usou uma camiseta com os dizeres “Aquela mulher de Michigan” em uma entrevista com Trevor Noah, do ‘The Daily Show’, em 1º de abril. Sua resposta à pandemia ajudou sua ascensão política nacional e a colocou em disputa para se tornar uma possível companheira de candidatura de Joe Biden.

Anita Kruschinska, de 46 anos, dona de uma fazenda de coelhos e aves no norte de Michigan, votou em Trump em 2016 e em Schuette, oponente republicano de Whitmer, em 2018. Mas agora apoia as medidas de Whitmer contra a pandemia e deseja que a governadora estenda as restrições que desencorajariam os moradores urbanos a viajarem para casas de veraneio na sua região do Estado. Ela tem uma doença autoimune e acredita que o vírus seria sua sentença de morte.

Ela criticou a reação do governo Trump à pandemia e disse que esse fato pode influenciar a forma como votará este ano. “Eles subestimaram demais esse vírus”, disse Kruschinska. Ela estava esperando para ver “como tudo vai acontecer” antes de decidir.

Vários líderes, entre eles Whitmer, disseram temer que os protestos ponham em risco os esforços para conter o vírus, em parte porque envolvem grandes multidões de pessoas que estão ignorando as recomendações de distanciamento social. Sandy Baruah, que chefia a Câmara Regional de Detroit e que liderou a Administração das Pequenas Empresas dos Estados Unidos sob o presidente George W. Bush, disse que as pessoas que desobedecem às restrições podem espalhar o vírus.

“Estamos preocupados com isso, porque realmente acelerou a dinâmica política naquilo que, na verdade, é uma emergência de saúde pública”, disse Baruah. “A governadora e os líderes legislativos não encontraram uma maneira de trabalhar juntos durante esta crise."

Governadora enfrenta pressão

Baruah teme que o crescente rancor partidário possa agravar a emergência de saúde pública. Os parlamentares estaduais começaram a contestar a autoridade da governadora de estender seu decreto de emergência do fim de abril e a processaram na semana passada. Os manifestantes aproveitaram a oportunidade e alguns grupos começaram a pedir a reabertura do comércio.

O deputado estadual Mark Huizenga, do Partido Republicano, em cujo distrito se localiza o Condado de Kent, disse que não queria ver os empresários desobedecendo às ordens da governadora, mesmo tendo apoiado o processo que contestou sua autoridade, alegando que está “operando sob o entendimento de que esta é a lei”.

Mas, na barbearia de Owosso, o xerife local disse que não aplicará as ordens de Whitmer. Os parlamentares republicanos não apoiaram os esforços de Whitmer para fazer com que as empresas cumprissem as medidas. O porta-voz de Chatfield, Gideon D'Assandro, classificou as ordens de Whitmer como “legalmente questionáveis, na melhor das hipóteses”.

O conflito deixou em situação difícil empresários como Bill Mansfield, dono de uma fazenda de lavanda que atrai turistas de todo o mundo durante o verão. Mansfield disse que quer mais clareza sobre quando as restrições para reuniões públicas podem mudar. A fazenda aluga seu celeiro para shows, festas e casamentos, e ele não sabe o que dizer aos clientes.

“As noivas e as famílias estão ligando e perguntando: ‘Como vai ser? Qual é a política de reembolso?’”, disse ele. “Estamos preparados para seguir qualquer regra, mas simplesmente não sabemos quais são as regras."

Mansfield, que vota no Partido Republicano, disse que seu ponto de vista também não se alinha com o dos manifestantes que querem a reabertura imediata do estado. Ele teme o que isso pode significar para seus funcionários que interagem com o público, guiando passeios pela fazenda e vendendo máscaras e biscoitos de lavanda na loja de presentes.

“Amo meus funcionários”, disse ele. “Não quero ficar ao lado dos loucos que só pensam em reabrir o comércio, custe o que custar."/ W. POST

TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

OWOSSO, EUA - Uma milícia armada resolveu guardar a porta de uma barbearia, em Owosso, em Michigan, para evitar que a polícia, seguindo ordens estaduais de restrições por causa da pandemia do coronavírus, feche o local. Reunidos lá desde segunda-feira, todos vestem moletons com o nome de Trump, chapéus de caubói do presidente e também têm bandeiras do republicano. O local se tornou um bastião da extrema direita. 

O grupo não se reúne lá porque precise desesperadamente dos cortes de cabelo de Karl Manke, de 77 anos, mas para se opor à abordagem da governadora democrata de Michigan, Gretchen Whitmer, no combate ao surto de coronavírus no Estado. A covid-19 já infectou 48 mil e matou mais de 4,6 mil em Michigan – o quarto maior total do país. 

Karl Manke é proprietário da barbearia que virou foco de resistência à quarentena em Michigan Foto: Jeff Kowalsky/AFP

O novo protesto, assim como outros semelhantes, incluindo dois no mês passado, que tiveram a participação de manifestantes com suásticas, bandeiras confederadas e rifles dentro da Assembleia Legislativa local, alarmou democratas e republicanos. Trump aprovou tudo. Disse que se tratava de “pessoas boas” que só “queriam suas vidas de volta”. 

Os manifestantes dizem que só querem evitar o colapso econômico e exigem uma mudança radical na resposta do Estado à pandemia ao insistirem que o governo inflaciona o número de mortos. Por manter o lugar aberto, Manke já responde a duas ações por contravenção e um juiz quer ouvir seus argumentos.

Tradicionalmente, as votações em Michigan tendem a eleger políticos de centro. E, para muitos eleitores, as medidas adotadas estão corretas. De acordo com uma pesquisa do Washington Post-Ipsos, divulgada terça-feira, 72% da população aprova as medidas do governo. Whitmer acusa os republicanos de incentivar os atos. “Seríamos muito melhores se levássemos em conta uma plataforma focada na ciência e menos na política.” 

Mike Shirkey, líder dos republicanos no Senado estadual, condenou os manifestantes que estavam “se valendo de ameaças de violência para provocar medo e rancor”. Assustados com os manifestantes fortemente armados, alguns parlamentares vestiram coletes à prova de balas durante os protestos de 30 de abril.

“Eles não representam os republicanos do Senado”, afirmou Shirkey em comunicado. “Esses supostos manifestantes são, na melhor das hipóteses, um bando de idiotas”.

O principal organizador do evento, Ryan Kelley, agente imobiliário em Grand Rapids, disse estar desapontado com os muitos parlamentares republicanos que não quiseram suspender todas as restrições imediatamente. “Vocês foram eleitos para servir o povo”, disse ele. “Não foram eleitos para servir a si mesmos."

O debate dos últimos dias sobre o combate ao coronavírus resume a dinâmica política do Estado, que tradicionalmente gravitava em torno do centro, com moderados de ambos os lados.

Campo de batalha para 2020

Ainda que Trump tenha vencido no Estado com 10.700 votos em 2016, há sinais de que Michigan está oscilando para a esquerda, montando, uma vez mais, um grande campo de batalha em 2020. Essa oscilação está bem evidente no Condado de Kent, onde fica Grand Rapids, cidade natal do falecido presidente Gerald R. Ford

O condado tem o quarto maior número de casos de vírus no Estado e é o epicentro do surto no oeste de Michigan, região onde Trump teve um bom desempenho em 2016. Dois anos depois de Trump derrotar Hillary Clinton por três pontos no Condado de Kent, Whitmer superou o republicano Bill Schuette, procurador-geral do Estado, em quatro pontos percentuais.

Os democratas moderados também conquistaram duas cadeiras que até 2018 eram ocupadas por republicanos.

Agora, alguns veem sinais de que os ataques de Trump a Whitmer – e seu apoio a manifestantes da linha-dura – poderiam comprometer ainda mais suas perspectivas. Trump criticou a governadora de primeiro mandato no Twitter e na televisão, chegando a chamá-la de “Whitmer Meia-boca” em um tuite. 

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As máscaras passaram a ser encaradas como vitais na luta contra o novo coronavírus e ganharam as ruas em todo o mundo. Na Islândia, a proteção não combate apenas a doença, mas com terror e humor ajuda a manter o distanciamento social.

Em uma entrevista coletiva no fim de março, depois que Whitmer qualificou como inadequada a resposta federal à pandemia, Trump insinuou que Whitmer era ingrata e disse que havia instruído o vice-presidente Mike Pence a não ligar para ela. Trump não usou o nome da governadora, referindo-se a ela apenas como “aquela mulher de Michigan”.

O deputado Fred Upton, um republicano moderado que representa uma região do oeste de Michigan e enfrenta um difícil desafio na reeleição, vem trabalhando quase 24 horas por dia na varanda lateral de sua casa em St. Josesph, ajudando eleitores afetados pela pandemia. Ele se recusou a comentar os ataques de Trump a Whitmer, com quem se comunica regularmente por meio de mensagens de texto.

“Estou focado no que meu pessoal quer que eu faça, ou seja, seguir resolvendo problemas”, disse Upton. “Meu foco está aqui, não em ficar apontando dedos para acusar os outros. Não é do meu estilo."

Pouco antes do início dos ataques de Trump, toda a delegação do Congresso de Michigan – com seis republicanos – havia escrito uma carta ao vice-presidente pressionando-o a fornecer mais equipamentos de proteção pessoal. O que o Estado havia recebido, escreveram eles, era “insuficiente diante das circunstâncias”.

“Pedimos que o senhor aprove imediatamente as solicitações pendentes de EPI e materiais de teste para Michigan, na medida do possível”, escreveram os parlamentares na carta de 25 de março, a qual foi publicada pela primeira vez pelo site Michigan Advance.

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Apontado pelo governo dos Estados Unidos como o local de origem do novo coronavírus, o Instituto de Virologia chinês de Wuhan estuda alguns dos patógenos mais perigosos do mundo.

Whitmer capitalizou a atenção que recebeu por causa dos ataques, defendendo firmemente sua abordagem cautelosa em relação ao vírus e revelando-se uma anti-Trump. Ela usou uma camiseta com os dizeres “Aquela mulher de Michigan” em uma entrevista com Trevor Noah, do ‘The Daily Show’, em 1º de abril. Sua resposta à pandemia ajudou sua ascensão política nacional e a colocou em disputa para se tornar uma possível companheira de candidatura de Joe Biden.

Anita Kruschinska, de 46 anos, dona de uma fazenda de coelhos e aves no norte de Michigan, votou em Trump em 2016 e em Schuette, oponente republicano de Whitmer, em 2018. Mas agora apoia as medidas de Whitmer contra a pandemia e deseja que a governadora estenda as restrições que desencorajariam os moradores urbanos a viajarem para casas de veraneio na sua região do Estado. Ela tem uma doença autoimune e acredita que o vírus seria sua sentença de morte.

Ela criticou a reação do governo Trump à pandemia e disse que esse fato pode influenciar a forma como votará este ano. “Eles subestimaram demais esse vírus”, disse Kruschinska. Ela estava esperando para ver “como tudo vai acontecer” antes de decidir.

Vários líderes, entre eles Whitmer, disseram temer que os protestos ponham em risco os esforços para conter o vírus, em parte porque envolvem grandes multidões de pessoas que estão ignorando as recomendações de distanciamento social. Sandy Baruah, que chefia a Câmara Regional de Detroit e que liderou a Administração das Pequenas Empresas dos Estados Unidos sob o presidente George W. Bush, disse que as pessoas que desobedecem às restrições podem espalhar o vírus.

“Estamos preocupados com isso, porque realmente acelerou a dinâmica política naquilo que, na verdade, é uma emergência de saúde pública”, disse Baruah. “A governadora e os líderes legislativos não encontraram uma maneira de trabalhar juntos durante esta crise."

Governadora enfrenta pressão

Baruah teme que o crescente rancor partidário possa agravar a emergência de saúde pública. Os parlamentares estaduais começaram a contestar a autoridade da governadora de estender seu decreto de emergência do fim de abril e a processaram na semana passada. Os manifestantes aproveitaram a oportunidade e alguns grupos começaram a pedir a reabertura do comércio.

O deputado estadual Mark Huizenga, do Partido Republicano, em cujo distrito se localiza o Condado de Kent, disse que não queria ver os empresários desobedecendo às ordens da governadora, mesmo tendo apoiado o processo que contestou sua autoridade, alegando que está “operando sob o entendimento de que esta é a lei”.

Mas, na barbearia de Owosso, o xerife local disse que não aplicará as ordens de Whitmer. Os parlamentares republicanos não apoiaram os esforços de Whitmer para fazer com que as empresas cumprissem as medidas. O porta-voz de Chatfield, Gideon D'Assandro, classificou as ordens de Whitmer como “legalmente questionáveis, na melhor das hipóteses”.

O conflito deixou em situação difícil empresários como Bill Mansfield, dono de uma fazenda de lavanda que atrai turistas de todo o mundo durante o verão. Mansfield disse que quer mais clareza sobre quando as restrições para reuniões públicas podem mudar. A fazenda aluga seu celeiro para shows, festas e casamentos, e ele não sabe o que dizer aos clientes.

“As noivas e as famílias estão ligando e perguntando: ‘Como vai ser? Qual é a política de reembolso?’”, disse ele. “Estamos preparados para seguir qualquer regra, mas simplesmente não sabemos quais são as regras."

Mansfield, que vota no Partido Republicano, disse que seu ponto de vista também não se alinha com o dos manifestantes que querem a reabertura imediata do estado. Ele teme o que isso pode significar para seus funcionários que interagem com o público, guiando passeios pela fazenda e vendendo máscaras e biscoitos de lavanda na loja de presentes.

“Amo meus funcionários”, disse ele. “Não quero ficar ao lado dos loucos que só pensam em reabrir o comércio, custe o que custar."/ W. POST

TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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