No Reino Unido pós-Brexit, crise de custo de vida e medo de radicais impulsionam Partido Trabalhista


Com uma previsão de saltar de 205 cadeiras na Casa dos Comuns para 425, partido lidera as pesquisas e tem tudo para ser o sucessor após 14 anos de conservadores no poder

Por Marina Torres

ENVIADA ESPECIAL, LONDRES — São 10 horas da manhã de um domingo ensolarado em Londres, e o mercado de rua em Hackney, no leste da cidade, está lotado. Enquanto dobra roupas em seu estande, Peter conta sobre a decisão de votar no Partido Trabalhista nas eleições gerais do Reino Unido esta semana. O feirante solta uma risada ao ser perguntado o que pensa sobre um cenário de reeleição do partido conservador na Inglaterra: “De jeito nenhum!”

Peter faz parte de uma parcela da população britânica que vai às urnas nesta quinta-feira, 4 de julho, para dar uma vitória ao Partido Trabalhista nas eleições para o parlamento britânico pela primeira vez em 14 anos. Com uma previsão de saltar de 205 cadeiras na Casa dos Comuns para 425 nas próximas eleições (o equivalente a 65% do total de assentos), de acordo com levantamento realizado em junho pela YouGov, o partido lidera as pesquisas.

Comandado por Keir Starmer, os trabalhistas lideram a atual oposição do Reino Unido. O partido, que governou a Inglaterra pela última vez entre 1997 a 2010, tem histórico de defender causas alinhadas à centro-esquerda, mas tem se aproximado cada vez mais do discurso conservador, apoiado por muitos ingleses.

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Em seu manifesto para as eleições de 2024, os trabalhistas ignoram tópicos como a saída do Reino Unido da União Europeia (apesar de historicamente ter se posicionado contra o Brexit) e se aproxima do partido conservador ao defender medidas de austeridade fiscal. A transformação dos trabalhistas sob Starmer começou quando o partido identificou que havia colocado as vontades de seus membros acima dos anseios do público.

O resultado foi uma derrota acachapante nas eleições de 2019, quando os trabalhistas conquistaram 202 assentos, número mais baixo desde 1935. Na opinião de Starmer, o partido fundado como um “instrumento do poder” para as classes trabalhadoras tinha virado uma “expressão de virtude” para ativistas progressistas e radicais de esquerda.

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Peter, o feirante de Hackney, explica que teme o crescimento do discurso agressivo da direita radical, e vê no partido trabalhista um meio termo para resolver a situação. “Está vendo esse mercado? Tem muitos imigrantes aqui. Eu tenho medo do que esse discurso de ódio possa fazer com essas pessoas,” ele defende.

O mercado de rua em Hackney, no leste de Londres: eleitores preocupados com alta no custo de vida devem dar vitória ao Partido Trabalhista pela primeira vez em 14 anos Foto: Marina Torres / Estadão

A direita radical, cujo crescimento também se fez presente nas eleições parlamentares da União Europeia no último mês, é liderada no Reino Unido pelo partido Reform UK, sob o comando de Nigel Farage. Conhecido pelo discurso anti-imigração, Farage garante que, se eleito, vai retomar as fronteiras do país e congelar a imigração completamente.

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O mercado de Peter faz parte de um setor da economia que depende de imigrantes no Reino Unido. No entanto, nem um cenário de vitória para Starmer seria sinônimo de trégua para aqueles que buscam se assentar no país.

Dados mostram que a imigração no Reino Unido bateu recorde desde a saída da União Europeia (745 mil pessoas em 2022), o que levou o líder trabalhista a declarar que também apoiará a redução do número de imigrantes no país. Starmer afirma ainda que vai investir em treinamento de trabalhadores internos para desencorajar a emissão de vistos de trabalho na Inglaterra.

Custo de vida e bem-estar social

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O Partido Conservador reformulou muitas políticas no Reino Unido desde 2010, quando voltou ao poder, orquestrando a saída do país da União Europeia, reduzindo os gastos com serviços públicos e os gastos com bem-estar social. Mas os britânicos dizem que seu país está pior agora do que quando os Conservadores assumiram o cargo. A insatisfação deles surge em quase todas as questões sobre as quais são questionados, da economia à educação ao Sistema Nacional de Saúde.

No National Health Service (NHS), o admirado serviço de saúde pública do país, as filas para atendimento médico bateram todos os recordes desde a criação do sistema, em 1948, com quase 8 milhões de pessoas atualmente esperando vários meses para conseguir tratamento.

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Mas a economia do Reino Unido é um dos principais pontos de insatisfação. A economia britânica está estagnada desde a crise de 2008, e a pandemia também a atingiu fortemente. Países como Alemanha e Estados Unidos conseguiram recuperar os níveis de crescimento econômico anteriores à crise, mas o Reino Unido nunca recuperou seu ímpeto.

A produtividade, uma medida da produção econômica por cada hora trabalhada, estava crescendo 2% ao ano na década anterior ao crash financeiro. Desde que os conservadores assumiram o poder, cresceu apenas 0,5% ao ano. Uma consequência são salários estagnados: o trabalhador britânico médio ganha apenas £20 a mais por semana do que há 14 anos, após o ajuste pela inflação.

Pessoas nas ruas de Dartford, Londres. Eleitores britânicos votam em eleições parlamentares na quinta-feira, 4. Foto: AP/Kin Cheung
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P. Juliat, 40, vai votar nas eleições inglesas pela primeira vez este ano desde que se mudou para Londres. Para o nigeriano, a economia aparece como um dos tópicos centrais de discussão, assim como uma grande parcela dos ingleses que elegeu o tópico como um dos cinco mais relevantes das eleições de 2024, de acordo com dados do YouGov. “Eu tenho esperança que com a mudança de governo, possamos ver diferenças verdadeiras no custo de vida daqui,” ele comenta.

Juliat não está só em desejar uma mudança de governo para efeitos econômicos: em pesquisa recente realizada pela Redfield and Wilton Strategies, 44% dos entrevistados acreditam que o partido trabalhista é a melhor opção para construir uma economia forte, em comparação aos 29% que dão o voto de confiança a Rishi Sunak.

Enfrentando uma crise de custo de vida com a inflação mais alta em quarenta anos, o PIB (Produto Interno Bruto) da Inglaterra saiu de 1,6% em 2019 para 0,1% em 2023. Para o grupo de Starmer, a crise do custo de vida que acomete a Inglaterra tem raízes na gestão conservadora; para Sunak, é um reflexo da pandemia e guerra da Ucrânia. Ambos partidos se recusam a discutir os efeitos do Brexit, que preocupa analistas.

Comandado por Keir Starmer, Partido Trabalhista tem sido apontado como o favorito para as eleições de 4 de julho. Foto: Stefan Rousseau/PA via AP

Em meio a discussões econômicas, a agenda das eleições gerais no Reino Unido também é composta por um eleitorado cansado da instabilidade política. Depois de 14 anos e 5 primeiros-ministros, há quem esteja decidido a ficar de fora da discussão política este ano.

Jackie, 56, diz que é a primeira vez que não vai votar nas eleições desde que se tornou maior de idade. Em sua opinião, a crise econômica que acomete o país nos últimos anos a desencorajou de ir às urnas esta semana. “Vem um primeiro-ministro ou outro, nós não estamos vendo a diferença. Eu votei no partido trabalhista a minha vida inteira. Agora vou pagar para ver antes de votar de novo,” ela defende.

Para Ronen Palan, professor do departamento de desenvolvimento global da City, University of London, Jackie talvez tenha que esperar, já que as promessas do partido trabalhista ainda parecem vazias. “Ninguém sabe de verdade como o partido trabalhista pretende resolver a questão econômica do país. Eles não têm apresentado muitas soluções concretas,” explica.

ENVIADA ESPECIAL, LONDRES — São 10 horas da manhã de um domingo ensolarado em Londres, e o mercado de rua em Hackney, no leste da cidade, está lotado. Enquanto dobra roupas em seu estande, Peter conta sobre a decisão de votar no Partido Trabalhista nas eleições gerais do Reino Unido esta semana. O feirante solta uma risada ao ser perguntado o que pensa sobre um cenário de reeleição do partido conservador na Inglaterra: “De jeito nenhum!”

Peter faz parte de uma parcela da população britânica que vai às urnas nesta quinta-feira, 4 de julho, para dar uma vitória ao Partido Trabalhista nas eleições para o parlamento britânico pela primeira vez em 14 anos. Com uma previsão de saltar de 205 cadeiras na Casa dos Comuns para 425 nas próximas eleições (o equivalente a 65% do total de assentos), de acordo com levantamento realizado em junho pela YouGov, o partido lidera as pesquisas.

Comandado por Keir Starmer, os trabalhistas lideram a atual oposição do Reino Unido. O partido, que governou a Inglaterra pela última vez entre 1997 a 2010, tem histórico de defender causas alinhadas à centro-esquerda, mas tem se aproximado cada vez mais do discurso conservador, apoiado por muitos ingleses.

Em seu manifesto para as eleições de 2024, os trabalhistas ignoram tópicos como a saída do Reino Unido da União Europeia (apesar de historicamente ter se posicionado contra o Brexit) e se aproxima do partido conservador ao defender medidas de austeridade fiscal. A transformação dos trabalhistas sob Starmer começou quando o partido identificou que havia colocado as vontades de seus membros acima dos anseios do público.

O resultado foi uma derrota acachapante nas eleições de 2019, quando os trabalhistas conquistaram 202 assentos, número mais baixo desde 1935. Na opinião de Starmer, o partido fundado como um “instrumento do poder” para as classes trabalhadoras tinha virado uma “expressão de virtude” para ativistas progressistas e radicais de esquerda.

Peter, o feirante de Hackney, explica que teme o crescimento do discurso agressivo da direita radical, e vê no partido trabalhista um meio termo para resolver a situação. “Está vendo esse mercado? Tem muitos imigrantes aqui. Eu tenho medo do que esse discurso de ódio possa fazer com essas pessoas,” ele defende.

O mercado de rua em Hackney, no leste de Londres: eleitores preocupados com alta no custo de vida devem dar vitória ao Partido Trabalhista pela primeira vez em 14 anos Foto: Marina Torres / Estadão

A direita radical, cujo crescimento também se fez presente nas eleições parlamentares da União Europeia no último mês, é liderada no Reino Unido pelo partido Reform UK, sob o comando de Nigel Farage. Conhecido pelo discurso anti-imigração, Farage garante que, se eleito, vai retomar as fronteiras do país e congelar a imigração completamente.

O mercado de Peter faz parte de um setor da economia que depende de imigrantes no Reino Unido. No entanto, nem um cenário de vitória para Starmer seria sinônimo de trégua para aqueles que buscam se assentar no país.

Dados mostram que a imigração no Reino Unido bateu recorde desde a saída da União Europeia (745 mil pessoas em 2022), o que levou o líder trabalhista a declarar que também apoiará a redução do número de imigrantes no país. Starmer afirma ainda que vai investir em treinamento de trabalhadores internos para desencorajar a emissão de vistos de trabalho na Inglaterra.

Custo de vida e bem-estar social

O Partido Conservador reformulou muitas políticas no Reino Unido desde 2010, quando voltou ao poder, orquestrando a saída do país da União Europeia, reduzindo os gastos com serviços públicos e os gastos com bem-estar social. Mas os britânicos dizem que seu país está pior agora do que quando os Conservadores assumiram o cargo. A insatisfação deles surge em quase todas as questões sobre as quais são questionados, da economia à educação ao Sistema Nacional de Saúde.

No National Health Service (NHS), o admirado serviço de saúde pública do país, as filas para atendimento médico bateram todos os recordes desde a criação do sistema, em 1948, com quase 8 milhões de pessoas atualmente esperando vários meses para conseguir tratamento.

Mas a economia do Reino Unido é um dos principais pontos de insatisfação. A economia britânica está estagnada desde a crise de 2008, e a pandemia também a atingiu fortemente. Países como Alemanha e Estados Unidos conseguiram recuperar os níveis de crescimento econômico anteriores à crise, mas o Reino Unido nunca recuperou seu ímpeto.

A produtividade, uma medida da produção econômica por cada hora trabalhada, estava crescendo 2% ao ano na década anterior ao crash financeiro. Desde que os conservadores assumiram o poder, cresceu apenas 0,5% ao ano. Uma consequência são salários estagnados: o trabalhador britânico médio ganha apenas £20 a mais por semana do que há 14 anos, após o ajuste pela inflação.

Pessoas nas ruas de Dartford, Londres. Eleitores britânicos votam em eleições parlamentares na quinta-feira, 4. Foto: AP/Kin Cheung

P. Juliat, 40, vai votar nas eleições inglesas pela primeira vez este ano desde que se mudou para Londres. Para o nigeriano, a economia aparece como um dos tópicos centrais de discussão, assim como uma grande parcela dos ingleses que elegeu o tópico como um dos cinco mais relevantes das eleições de 2024, de acordo com dados do YouGov. “Eu tenho esperança que com a mudança de governo, possamos ver diferenças verdadeiras no custo de vida daqui,” ele comenta.

Juliat não está só em desejar uma mudança de governo para efeitos econômicos: em pesquisa recente realizada pela Redfield and Wilton Strategies, 44% dos entrevistados acreditam que o partido trabalhista é a melhor opção para construir uma economia forte, em comparação aos 29% que dão o voto de confiança a Rishi Sunak.

Enfrentando uma crise de custo de vida com a inflação mais alta em quarenta anos, o PIB (Produto Interno Bruto) da Inglaterra saiu de 1,6% em 2019 para 0,1% em 2023. Para o grupo de Starmer, a crise do custo de vida que acomete a Inglaterra tem raízes na gestão conservadora; para Sunak, é um reflexo da pandemia e guerra da Ucrânia. Ambos partidos se recusam a discutir os efeitos do Brexit, que preocupa analistas.

Comandado por Keir Starmer, Partido Trabalhista tem sido apontado como o favorito para as eleições de 4 de julho. Foto: Stefan Rousseau/PA via AP

Em meio a discussões econômicas, a agenda das eleições gerais no Reino Unido também é composta por um eleitorado cansado da instabilidade política. Depois de 14 anos e 5 primeiros-ministros, há quem esteja decidido a ficar de fora da discussão política este ano.

Jackie, 56, diz que é a primeira vez que não vai votar nas eleições desde que se tornou maior de idade. Em sua opinião, a crise econômica que acomete o país nos últimos anos a desencorajou de ir às urnas esta semana. “Vem um primeiro-ministro ou outro, nós não estamos vendo a diferença. Eu votei no partido trabalhista a minha vida inteira. Agora vou pagar para ver antes de votar de novo,” ela defende.

Para Ronen Palan, professor do departamento de desenvolvimento global da City, University of London, Jackie talvez tenha que esperar, já que as promessas do partido trabalhista ainda parecem vazias. “Ninguém sabe de verdade como o partido trabalhista pretende resolver a questão econômica do país. Eles não têm apresentado muitas soluções concretas,” explica.

ENVIADA ESPECIAL, LONDRES — São 10 horas da manhã de um domingo ensolarado em Londres, e o mercado de rua em Hackney, no leste da cidade, está lotado. Enquanto dobra roupas em seu estande, Peter conta sobre a decisão de votar no Partido Trabalhista nas eleições gerais do Reino Unido esta semana. O feirante solta uma risada ao ser perguntado o que pensa sobre um cenário de reeleição do partido conservador na Inglaterra: “De jeito nenhum!”

Peter faz parte de uma parcela da população britânica que vai às urnas nesta quinta-feira, 4 de julho, para dar uma vitória ao Partido Trabalhista nas eleições para o parlamento britânico pela primeira vez em 14 anos. Com uma previsão de saltar de 205 cadeiras na Casa dos Comuns para 425 nas próximas eleições (o equivalente a 65% do total de assentos), de acordo com levantamento realizado em junho pela YouGov, o partido lidera as pesquisas.

Comandado por Keir Starmer, os trabalhistas lideram a atual oposição do Reino Unido. O partido, que governou a Inglaterra pela última vez entre 1997 a 2010, tem histórico de defender causas alinhadas à centro-esquerda, mas tem se aproximado cada vez mais do discurso conservador, apoiado por muitos ingleses.

Em seu manifesto para as eleições de 2024, os trabalhistas ignoram tópicos como a saída do Reino Unido da União Europeia (apesar de historicamente ter se posicionado contra o Brexit) e se aproxima do partido conservador ao defender medidas de austeridade fiscal. A transformação dos trabalhistas sob Starmer começou quando o partido identificou que havia colocado as vontades de seus membros acima dos anseios do público.

O resultado foi uma derrota acachapante nas eleições de 2019, quando os trabalhistas conquistaram 202 assentos, número mais baixo desde 1935. Na opinião de Starmer, o partido fundado como um “instrumento do poder” para as classes trabalhadoras tinha virado uma “expressão de virtude” para ativistas progressistas e radicais de esquerda.

Peter, o feirante de Hackney, explica que teme o crescimento do discurso agressivo da direita radical, e vê no partido trabalhista um meio termo para resolver a situação. “Está vendo esse mercado? Tem muitos imigrantes aqui. Eu tenho medo do que esse discurso de ódio possa fazer com essas pessoas,” ele defende.

O mercado de rua em Hackney, no leste de Londres: eleitores preocupados com alta no custo de vida devem dar vitória ao Partido Trabalhista pela primeira vez em 14 anos Foto: Marina Torres / Estadão

A direita radical, cujo crescimento também se fez presente nas eleições parlamentares da União Europeia no último mês, é liderada no Reino Unido pelo partido Reform UK, sob o comando de Nigel Farage. Conhecido pelo discurso anti-imigração, Farage garante que, se eleito, vai retomar as fronteiras do país e congelar a imigração completamente.

O mercado de Peter faz parte de um setor da economia que depende de imigrantes no Reino Unido. No entanto, nem um cenário de vitória para Starmer seria sinônimo de trégua para aqueles que buscam se assentar no país.

Dados mostram que a imigração no Reino Unido bateu recorde desde a saída da União Europeia (745 mil pessoas em 2022), o que levou o líder trabalhista a declarar que também apoiará a redução do número de imigrantes no país. Starmer afirma ainda que vai investir em treinamento de trabalhadores internos para desencorajar a emissão de vistos de trabalho na Inglaterra.

Custo de vida e bem-estar social

O Partido Conservador reformulou muitas políticas no Reino Unido desde 2010, quando voltou ao poder, orquestrando a saída do país da União Europeia, reduzindo os gastos com serviços públicos e os gastos com bem-estar social. Mas os britânicos dizem que seu país está pior agora do que quando os Conservadores assumiram o cargo. A insatisfação deles surge em quase todas as questões sobre as quais são questionados, da economia à educação ao Sistema Nacional de Saúde.

No National Health Service (NHS), o admirado serviço de saúde pública do país, as filas para atendimento médico bateram todos os recordes desde a criação do sistema, em 1948, com quase 8 milhões de pessoas atualmente esperando vários meses para conseguir tratamento.

Mas a economia do Reino Unido é um dos principais pontos de insatisfação. A economia britânica está estagnada desde a crise de 2008, e a pandemia também a atingiu fortemente. Países como Alemanha e Estados Unidos conseguiram recuperar os níveis de crescimento econômico anteriores à crise, mas o Reino Unido nunca recuperou seu ímpeto.

A produtividade, uma medida da produção econômica por cada hora trabalhada, estava crescendo 2% ao ano na década anterior ao crash financeiro. Desde que os conservadores assumiram o poder, cresceu apenas 0,5% ao ano. Uma consequência são salários estagnados: o trabalhador britânico médio ganha apenas £20 a mais por semana do que há 14 anos, após o ajuste pela inflação.

Pessoas nas ruas de Dartford, Londres. Eleitores britânicos votam em eleições parlamentares na quinta-feira, 4. Foto: AP/Kin Cheung

P. Juliat, 40, vai votar nas eleições inglesas pela primeira vez este ano desde que se mudou para Londres. Para o nigeriano, a economia aparece como um dos tópicos centrais de discussão, assim como uma grande parcela dos ingleses que elegeu o tópico como um dos cinco mais relevantes das eleições de 2024, de acordo com dados do YouGov. “Eu tenho esperança que com a mudança de governo, possamos ver diferenças verdadeiras no custo de vida daqui,” ele comenta.

Juliat não está só em desejar uma mudança de governo para efeitos econômicos: em pesquisa recente realizada pela Redfield and Wilton Strategies, 44% dos entrevistados acreditam que o partido trabalhista é a melhor opção para construir uma economia forte, em comparação aos 29% que dão o voto de confiança a Rishi Sunak.

Enfrentando uma crise de custo de vida com a inflação mais alta em quarenta anos, o PIB (Produto Interno Bruto) da Inglaterra saiu de 1,6% em 2019 para 0,1% em 2023. Para o grupo de Starmer, a crise do custo de vida que acomete a Inglaterra tem raízes na gestão conservadora; para Sunak, é um reflexo da pandemia e guerra da Ucrânia. Ambos partidos se recusam a discutir os efeitos do Brexit, que preocupa analistas.

Comandado por Keir Starmer, Partido Trabalhista tem sido apontado como o favorito para as eleições de 4 de julho. Foto: Stefan Rousseau/PA via AP

Em meio a discussões econômicas, a agenda das eleições gerais no Reino Unido também é composta por um eleitorado cansado da instabilidade política. Depois de 14 anos e 5 primeiros-ministros, há quem esteja decidido a ficar de fora da discussão política este ano.

Jackie, 56, diz que é a primeira vez que não vai votar nas eleições desde que se tornou maior de idade. Em sua opinião, a crise econômica que acomete o país nos últimos anos a desencorajou de ir às urnas esta semana. “Vem um primeiro-ministro ou outro, nós não estamos vendo a diferença. Eu votei no partido trabalhista a minha vida inteira. Agora vou pagar para ver antes de votar de novo,” ela defende.

Para Ronen Palan, professor do departamento de desenvolvimento global da City, University of London, Jackie talvez tenha que esperar, já que as promessas do partido trabalhista ainda parecem vazias. “Ninguém sabe de verdade como o partido trabalhista pretende resolver a questão econômica do país. Eles não têm apresentado muitas soluções concretas,” explica.

ENVIADA ESPECIAL, LONDRES — São 10 horas da manhã de um domingo ensolarado em Londres, e o mercado de rua em Hackney, no leste da cidade, está lotado. Enquanto dobra roupas em seu estande, Peter conta sobre a decisão de votar no Partido Trabalhista nas eleições gerais do Reino Unido esta semana. O feirante solta uma risada ao ser perguntado o que pensa sobre um cenário de reeleição do partido conservador na Inglaterra: “De jeito nenhum!”

Peter faz parte de uma parcela da população britânica que vai às urnas nesta quinta-feira, 4 de julho, para dar uma vitória ao Partido Trabalhista nas eleições para o parlamento britânico pela primeira vez em 14 anos. Com uma previsão de saltar de 205 cadeiras na Casa dos Comuns para 425 nas próximas eleições (o equivalente a 65% do total de assentos), de acordo com levantamento realizado em junho pela YouGov, o partido lidera as pesquisas.

Comandado por Keir Starmer, os trabalhistas lideram a atual oposição do Reino Unido. O partido, que governou a Inglaterra pela última vez entre 1997 a 2010, tem histórico de defender causas alinhadas à centro-esquerda, mas tem se aproximado cada vez mais do discurso conservador, apoiado por muitos ingleses.

Em seu manifesto para as eleições de 2024, os trabalhistas ignoram tópicos como a saída do Reino Unido da União Europeia (apesar de historicamente ter se posicionado contra o Brexit) e se aproxima do partido conservador ao defender medidas de austeridade fiscal. A transformação dos trabalhistas sob Starmer começou quando o partido identificou que havia colocado as vontades de seus membros acima dos anseios do público.

O resultado foi uma derrota acachapante nas eleições de 2019, quando os trabalhistas conquistaram 202 assentos, número mais baixo desde 1935. Na opinião de Starmer, o partido fundado como um “instrumento do poder” para as classes trabalhadoras tinha virado uma “expressão de virtude” para ativistas progressistas e radicais de esquerda.

Peter, o feirante de Hackney, explica que teme o crescimento do discurso agressivo da direita radical, e vê no partido trabalhista um meio termo para resolver a situação. “Está vendo esse mercado? Tem muitos imigrantes aqui. Eu tenho medo do que esse discurso de ódio possa fazer com essas pessoas,” ele defende.

O mercado de rua em Hackney, no leste de Londres: eleitores preocupados com alta no custo de vida devem dar vitória ao Partido Trabalhista pela primeira vez em 14 anos Foto: Marina Torres / Estadão

A direita radical, cujo crescimento também se fez presente nas eleições parlamentares da União Europeia no último mês, é liderada no Reino Unido pelo partido Reform UK, sob o comando de Nigel Farage. Conhecido pelo discurso anti-imigração, Farage garante que, se eleito, vai retomar as fronteiras do país e congelar a imigração completamente.

O mercado de Peter faz parte de um setor da economia que depende de imigrantes no Reino Unido. No entanto, nem um cenário de vitória para Starmer seria sinônimo de trégua para aqueles que buscam se assentar no país.

Dados mostram que a imigração no Reino Unido bateu recorde desde a saída da União Europeia (745 mil pessoas em 2022), o que levou o líder trabalhista a declarar que também apoiará a redução do número de imigrantes no país. Starmer afirma ainda que vai investir em treinamento de trabalhadores internos para desencorajar a emissão de vistos de trabalho na Inglaterra.

Custo de vida e bem-estar social

O Partido Conservador reformulou muitas políticas no Reino Unido desde 2010, quando voltou ao poder, orquestrando a saída do país da União Europeia, reduzindo os gastos com serviços públicos e os gastos com bem-estar social. Mas os britânicos dizem que seu país está pior agora do que quando os Conservadores assumiram o cargo. A insatisfação deles surge em quase todas as questões sobre as quais são questionados, da economia à educação ao Sistema Nacional de Saúde.

No National Health Service (NHS), o admirado serviço de saúde pública do país, as filas para atendimento médico bateram todos os recordes desde a criação do sistema, em 1948, com quase 8 milhões de pessoas atualmente esperando vários meses para conseguir tratamento.

Mas a economia do Reino Unido é um dos principais pontos de insatisfação. A economia britânica está estagnada desde a crise de 2008, e a pandemia também a atingiu fortemente. Países como Alemanha e Estados Unidos conseguiram recuperar os níveis de crescimento econômico anteriores à crise, mas o Reino Unido nunca recuperou seu ímpeto.

A produtividade, uma medida da produção econômica por cada hora trabalhada, estava crescendo 2% ao ano na década anterior ao crash financeiro. Desde que os conservadores assumiram o poder, cresceu apenas 0,5% ao ano. Uma consequência são salários estagnados: o trabalhador britânico médio ganha apenas £20 a mais por semana do que há 14 anos, após o ajuste pela inflação.

Pessoas nas ruas de Dartford, Londres. Eleitores britânicos votam em eleições parlamentares na quinta-feira, 4. Foto: AP/Kin Cheung

P. Juliat, 40, vai votar nas eleições inglesas pela primeira vez este ano desde que se mudou para Londres. Para o nigeriano, a economia aparece como um dos tópicos centrais de discussão, assim como uma grande parcela dos ingleses que elegeu o tópico como um dos cinco mais relevantes das eleições de 2024, de acordo com dados do YouGov. “Eu tenho esperança que com a mudança de governo, possamos ver diferenças verdadeiras no custo de vida daqui,” ele comenta.

Juliat não está só em desejar uma mudança de governo para efeitos econômicos: em pesquisa recente realizada pela Redfield and Wilton Strategies, 44% dos entrevistados acreditam que o partido trabalhista é a melhor opção para construir uma economia forte, em comparação aos 29% que dão o voto de confiança a Rishi Sunak.

Enfrentando uma crise de custo de vida com a inflação mais alta em quarenta anos, o PIB (Produto Interno Bruto) da Inglaterra saiu de 1,6% em 2019 para 0,1% em 2023. Para o grupo de Starmer, a crise do custo de vida que acomete a Inglaterra tem raízes na gestão conservadora; para Sunak, é um reflexo da pandemia e guerra da Ucrânia. Ambos partidos se recusam a discutir os efeitos do Brexit, que preocupa analistas.

Comandado por Keir Starmer, Partido Trabalhista tem sido apontado como o favorito para as eleições de 4 de julho. Foto: Stefan Rousseau/PA via AP

Em meio a discussões econômicas, a agenda das eleições gerais no Reino Unido também é composta por um eleitorado cansado da instabilidade política. Depois de 14 anos e 5 primeiros-ministros, há quem esteja decidido a ficar de fora da discussão política este ano.

Jackie, 56, diz que é a primeira vez que não vai votar nas eleições desde que se tornou maior de idade. Em sua opinião, a crise econômica que acomete o país nos últimos anos a desencorajou de ir às urnas esta semana. “Vem um primeiro-ministro ou outro, nós não estamos vendo a diferença. Eu votei no partido trabalhista a minha vida inteira. Agora vou pagar para ver antes de votar de novo,” ela defende.

Para Ronen Palan, professor do departamento de desenvolvimento global da City, University of London, Jackie talvez tenha que esperar, já que as promessas do partido trabalhista ainda parecem vazias. “Ninguém sabe de verdade como o partido trabalhista pretende resolver a questão econômica do país. Eles não têm apresentado muitas soluções concretas,” explica.

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