A agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA) está na lista de cotados para o Nobel da Paz, que será anunciado nesta sexta-feira, 11. A escolha, contudo, seria polêmica. Isso porque Israel acusou funcionários da organização de envolvimento com o ataque terrorista do Hamas, estopim para a guerra que escala no Oriente Médio.
Essa não seria a primeira premiação controvertida do Nobel. A medalha é concedida aos que trabalham em prol de um mundo melhor e do progresso da humanidade. Pelo menos era esse o desejo de Alfred Nobel, inventor da honraria. Mas alguns ganhadores - de diversas categorias e não apenas o da Paz - despertaram dúvidas quanto o real motivo de serem escolhidos, se de fato o mereciam e até mesmo se a descoberta premiada é verdadeira. Veja alguns desses casos abaixo.
Fritz Haber - Nobel de Química (1918)
Fritz Harber foi premiado em 1918 com o Nobel de Química por descobrir como criar amônia a partir de gases de nitrogênio e hidrogênio.
Seu método foi utilizado para fabricar fertilizantes e impulsionar a agricultura no mundo. Contudo, a mesma descoberta foi usada durante a 1.ª Guerra, quando Harber supervisionou o primeiro grande ataque químico da história em Ypres, na Bélgica, em 1915, que matou milhares de soldados das tropas aliadas.
Johannes Fibiger - Nobel de Medicina (1926)
O cientista dinamarquês Johannes Fibiger ganhou o Nobel de Medicina em 1926 por descobrir que uma lombriga causava câncer em ratos. Havia apenas um problema: isso não era verdade.
Fibiger insistiu em suas pesquisas que desenvolveram câncer os ratos que ingeriram larvas das lombrigas ao comer baratas. Na época, os juízes do prêmio acreditavam que a informação fazia sentido. Mais tarde, descobriu-se que os animais desenvolveram a doença, na verdade, por falta de vitamina A.
Paul Mueller - Nobel de Medicina (1948)
O cientista suíço Paul Mueller ganhou o Nobel de Medicina em 1948 por descobrir que o DDT (diclorodifeniltricloroetano) era um pesticida poderoso que poderia matar muitas moscas, mosquitos e besouros em um curto espaço de tempo.
Apesar de o composto se provar muito eficaz ao proteger diversos cultivos e combater doenças provocadas por insetos, como a malária, descobriu-se também que ele não era algo tão positivo assim.
Em 1960, ambientalistas descobriram que o DDT estava envenenando a vida selvagem e o meio ambiente. Os Estados Unidos baniram a substância em 1972 e, 29 anos depois, o uso dela foi proibido por um tratado internacional.
Mais sobre o Prêmio Nobel
António Egas Moniz - Nobel de Medicina (1949)
O português António Egas Moniz inventou em 1949 a lobotomia, com o objetivo de tratar doenças mentais. O método se tornou muito popular e, ao fim da cerimônia, foi qualificado como “uma das descobertas mais importantes já feitas na terapia psiquiátrica”.
Contudo, a prática teve graves efeitos colaterais. Alguns pacientes morreram e outros tiveram sérios danos ao cérebro durante o procedimento.
Henry Kissinger - Nobel da Paz (1973)
Conhecido como um dos premiados mais polêmicos, Henry Kissinger ganhou o prêmio em 1973 pelos esforços para o fim da Guerra do Vietnã.
Mas críticos apontam o envolvimento de Kissinger na Operação Condor enquanto era secretário de Estado americano e os bombardeios contra o Vietnã, o Laos e o Camboja como elementos para questionar a escolha dele como ganhador.
Mahatma Gandhi - Nobel da Paz (não recebido)
O líder indiano Mahatma Gandhi, considerado um pivô da luta contra a violência, foi indicado para o Nobel da Paz mais de uma vez. Mesmo assim, nunca ganhou.
O comitê da premiação, que raramente admite um erro, acabou mais tarde reconhecendo que não premiar Gandhi foi uma falha. Em 1989 - 41 anos após a morte do indiano - a instituição prestou um tributo a Gandhi enquanto concediam o Nobel da Paz daquele ano a Dalai Lama.
Aung San Suu Kyi - Nobel da Paz (1991)
A ex-líder de Mianmar, Aung San Suu Kyi, ganhou o Nobel da Paz em 1991 por sua “luta pela democracia e direitos humanos” em seu país.
Mas em 2017, investigadores da ONU emitiram um relatório no qual acusavam Aung de promover uma campanha de “limpeza étnica” contra a minoria muçulmana rohingya.
Rigoberta Menchútum - Nobel da Paz (1992)
Rigoberta Menchútum ganhou o Nobel da Paz em 1992 por seu trabalho por justiça social e conciliação étnico-cultural, calcada no respeito aos direitos dos povos indígenas. Ela escreveu um livro em que relatava as atrocidades cometidas contra os maias.
Contudo, após a premiação, levantou-se a questão de que a ativista poderia ter aumentado as histórias para tornar o livro mais emocionante.
Yasser Arafat - Nobel da Paz (1994)
Yasser Arafat ganhou o Nobel da Paz em 1994 por seu trabalho, ao lado do então premiê israelense, Yitzhak Rabin, e o então ministro das Relações Exteriores, Shimon Peres, nos acordos de Oslo, que criaram “oportunidades para um novo desenvolvimento em direção à fraternidade no Oriente Médio”.
Muitos críticos condenam a premiação por vê-lo como um terrorista com “longo legado de promoção da violência”. Além disso, destacam a complicada relação de Arafat com o Hamas, as alegações de corrupção e a aversão a se comprometer com as proposições dos acordos de Oslo.
Wangari Maathai - Nobel da Paz (2004)
Wangari Maathai ganhou o Nobel da Paz em 2004 por sua contribuição em questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável, democracia e paz.
A premiação, no entanto, foi ofuscada após uma declaração da ativista a um jornal queniano. Na ocasião, ela afirmou que a aids foi desenvolvida por cientistas ocidentais para dizimar a população da África.
Barack Obama - Nobel da Paz (2009)
O ex-presidente americano Barack Obama ganhou o Nobel da Paz em 2009 por seus esforços extraordinários em fortalecer a diplomacia internacional e a cooperação entre pessoas.
Contudo, a nomeação dele ocorreu apenas 12 dias após tomar posse como presidente americano. Muitos acusaram o comitê do Nobel de tomar uma decisão política ao premiá-lo.
Ellen Johnson Sirleaf - Nobel da Paz (2011)
Ao lado de outras duas mulheres, Ellen Johnson Sirleaf ganhou o Nobel da Paz em 2011 “por sua luta não-violenta pela segurança das mulheres e pelos direitos das mulheres de participar dos trabalhos da construção da paz” quando era presidente da Libéria.
Em 2012, durante uma entrevista ao jornal britânico Guardian, ela se viu envolvida em uma polêmica ao defender as leis de seu país que determinam como crime práticas homossexuais.
Juan Manuel Santos - Nobel da Paz (2016)
O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, ganhou em 2016 o Nobel da Paz por suas tentativas de estabelecer um acordo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
A polêmica desta vez está no fato de que a guerrilha, parte fundamental do acordo, não foi premiada junto ao mandatário. / Agências internacionais