Nobel da Paz: De medalhas dissolvidas a prêmios leiloados, veja curiosidades sobre a premiação


Um prêmio pode ser retirado de alguém? Já roubaram a medalha de algum ganhador? Saiba essas e outras questões

Por Redação

ESTOCOLMO - A temporada do Nobel segue nesta sexta-feira, 11, com o anúncio do prêmio para a paz. Ao longo da semana, foram laureados os grandes nomes da Literatura, Medicina, Química e Física. Na segunda-feira, 14, será a vez da Economia.

Mas por que não há Nobel de Matemática? O comitê do Nobel concede prêmio póstumo? A honraria pode ser retirada de alguém? É possível leiloar uma medalha do Nobel? Confira as respostas para essas questões e outras curiosidades sobre o prêmio Nobel e suas categorias.

Medalhas de ouro dissolvidas

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Quando os nazistas invadiram a Dinamarca em abril de 1940, o Instituto Niels Bohr se preocupou com o destino das medalhas que os cientistas alemães Max von Laue e James Frank, ganhadores do Nobel de Física em 1914 e 1925, respectivamente, haviam guardado lá para evitar que fossem confiscadas.

“No império de Hitler, era quase um pecado capital tirar ouro do país, e como o nome de Laue estava gravado na medalha, se as forças invasoras a tivessem descoberto teria havido consequências muito sérias para ele”, escreveu em 1962 o químico húngaro George de Hevesy, que trabalhava no Instituto.

Exibição de medalha entregue aos vencedores do Prêmio Nobel.  Foto: Matt Dunham/Associated Press
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Ao invés de enterrá-las, De Hevesy dissolveu as duas medalhas de ouro 23 quilates com água régia, um dos poucos reagentes capazes de atacar o nobre metal. Armazenada em uma prateleira do seu laboratório, a solução laranja passou despercebida pelos nazistas.

Uma vez terminada a guerra, De Hevesy - que ganhou o Nobel em 1943 - provocou a precipitação do ouro em 1950, o que permitiu à Fundação Nobel entregar novamente as medalhas aos dois laureados alemães em 1952.

Prêmios em família

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A história da família francesa Curie se funde com a dos prêmios Nobel. Em 1903, o casal Pierre e Marie Curie ganhou o prêmio de Física, e em 1911 Marie Curie recebeu o de Química, tornando-se o primeiro casal premiado.

Em 1935, a filha deles, Irene Joliot-Curie, e seu marido, Frédéric Joliot, ganharam o prêmio de Química. A irmã mais nova de Irene, Eve Curie, casou-se com Henry Richardson Labouisse, o qual, como diretor do Unicef, recebeu o Nobel da Paz em 1965.

Outros casais já foram recompensados. Em 1974, o sueco Gunnar Myrdal foi contemplado com o Nobel de Economia e, oito anos depois, sua mulher, Alva, ganhou o da Paz.

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Pais e filhos também acrescentaram seus nomes na história do Nobel, como os Bohr. Niels, o pai, ganhou o prêmio de Física em 1922, e Aage Niels, o filho, em 1975.

Premiados que não foram à cerimônia

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Desde 1901, cinco ganhadores do Nobel da Paz não puderam participar da cerimônia em Oslo. Em 1936, o jornalista e pacifista alemão Carl von Ossietzky não foi pois estava em um campo de concentração nazista. Em 2010, o dissidente chinês Liu Xiaobo foi preso e, portanto, sua cadeira, na qual o prêmio foi depositado, ficou simbolicamente vazia.

Em 1975, o físico e dissidente soviético Andrei Sakharov foi representado por sua mulher, Elena Bonner. Oito anos depois, o sindicalista polonês Lech Walesa não viajou para Oslo por medo de não poder retornar ao seu país.

Em prisão domiciliar, a líder da oposição de Mianmar, Aung San Suu Kyi, que recebeu o prêmio em 1991, foi autorizada pelo conselho militar governante a viajar para Oslo, mas se absteve de ir com medo de não poder voltar.

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Manifestante exibe cartaz em que pede liberdade para a Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, presa em Mianmar. Foto: AFP

Nobel dado pode ser retirado?

Um prêmio Nobel não pode ser retirado do ganhador em nenhuma circunstância. Contudo, alguns já tiveram suas medalhas desaparecidas em circunstâncias bizarras, trágicas ou espetaculares.

Matemática deixada de lado

Por que não existe um Nobel de Matemática? Pesquisadores da década de 1980 cunharam uma lenda: Nobel procurou vingar-se do amante de uma de suas própria amantes, o matemático Gösta Mittag-Leffler, embora nada sustente essa hipótese.

A explicação mais plausível para essa ausência é dupla. Em 1895, quando Nobel escreveu seu testamento, uma recompensa na área da matemática já existia na Suécia e, aparentemente, ele não via o benefício de instituir um segundo. Além disso, no início do século 20, as elites e a opinião pública favoreciam as disciplinas aplicadas.

Confusão em plena Guerra Fria

O nome dos laureados está gravado no verso das medalhas, exceto nos prêmios da Paz e de Economia, que o carregam nas laterais. Esta pequena diferença aumenta as possibilidades de confusão.

Os premiados com o Nobel de Economia em 1975, o russo Leonid Kantorovish e o americano Tjalling Koopmans, voltaram aos seus países com as medalhas “erradas”, relata o site da premiação.

Como os dois países estavam em plena Guerra Fria, foram necessários quatro anos de esforços diplomáticos para que as medalhas chegassem às mãos de seus verdadeiros proprietários.

Prêmios leiloados

A medalha de ganhador do Nobel da Paz de 1926 do francês Aristide Briand foi vendida após a morte dele por € 12,2 mil em 2008.

Seis anos depois, o bilionário russo Alisher Usmanov adquiriu por US$ 4,1 milhões, sem contar as comissões, a medalha de James Watson, um dos descobridores da estrutura do DNA e autor de declarações polêmicas sobre a inteligência dos africanos.

A compra acabou sendo um negócio próspero para o biólogo americano, já que o comprador decidiu devolver a medalha posteriormente.

Roubo de medalhas

O Ecomuseu da cidade francesa de Saint-Nazaire não conseguiu desfrutar durante muito tempo da medalha de Aristide Briand que comprou. Ela foi roubada em 2015 e desde então não se tem notícias dela.

Na Índia, ladrões se apoderaram em 2017 da medalha do Nobel da Paz Kailash Satyarthi em sua casa. Tratava-se de uma cópia - a verdadeira estava exposta em um museu - e foi rapidamente recuperada.

Menos sorte teve o Nobel de Literatura de 1913, Rabindranath Tagore, cuja medalha foi roubada em 2004 e continua em paradeiro desconhecido.

Galeria com fotos de premiados no Norwegian Nobel Institute, em Oslo.  Foto: Jonathan Nackstrand/AFP

Prêmio após a morte?

Desde 1974, os estatutos da Fundação Nobel estipulam que um prêmio não pode ser concedido postumamente, a menos que a pessoa morra após ser anunciada como ganhadora.

Antes disso, apenas dois nomes - ambos cidadãos suecos - haviam sido recompensados após a morte: o diplomata Dag Hammarskjöld (Nobel da Paz em 1961) e o poeta Erik Axel Karlfeldt (Nobel de Literatura em 1931).

Em 2011, após anúncio do prêmio de Medicina, a Assembleia Nobel do Instituto Karolinska soube da morte de um ganhador, o canadense Ralph Steinman, que morreu apenas três dias antes. No entanto, a instituição decidiu manter seu nome na lista dos vencedores mesmo assim.

Um presente para Goebbels

Em 1943, o ganhador do Nobel de Literatura de 1920 Knut Hamsun deu de presente o seu prêmio ao ministro da propaganda nazista Joseph Goebbels.

O escritor norueguês e simpatizante nazista foi condenado por traição quatro anos depois e passou o resto de sua vida em instituições mentais. Até hoje não se sabe o que aconteceu com a medalha dele. / AFP

ESTOCOLMO - A temporada do Nobel segue nesta sexta-feira, 11, com o anúncio do prêmio para a paz. Ao longo da semana, foram laureados os grandes nomes da Literatura, Medicina, Química e Física. Na segunda-feira, 14, será a vez da Economia.

Mas por que não há Nobel de Matemática? O comitê do Nobel concede prêmio póstumo? A honraria pode ser retirada de alguém? É possível leiloar uma medalha do Nobel? Confira as respostas para essas questões e outras curiosidades sobre o prêmio Nobel e suas categorias.

Medalhas de ouro dissolvidas

Quando os nazistas invadiram a Dinamarca em abril de 1940, o Instituto Niels Bohr se preocupou com o destino das medalhas que os cientistas alemães Max von Laue e James Frank, ganhadores do Nobel de Física em 1914 e 1925, respectivamente, haviam guardado lá para evitar que fossem confiscadas.

“No império de Hitler, era quase um pecado capital tirar ouro do país, e como o nome de Laue estava gravado na medalha, se as forças invasoras a tivessem descoberto teria havido consequências muito sérias para ele”, escreveu em 1962 o químico húngaro George de Hevesy, que trabalhava no Instituto.

Exibição de medalha entregue aos vencedores do Prêmio Nobel.  Foto: Matt Dunham/Associated Press

Ao invés de enterrá-las, De Hevesy dissolveu as duas medalhas de ouro 23 quilates com água régia, um dos poucos reagentes capazes de atacar o nobre metal. Armazenada em uma prateleira do seu laboratório, a solução laranja passou despercebida pelos nazistas.

Uma vez terminada a guerra, De Hevesy - que ganhou o Nobel em 1943 - provocou a precipitação do ouro em 1950, o que permitiu à Fundação Nobel entregar novamente as medalhas aos dois laureados alemães em 1952.

Prêmios em família

A história da família francesa Curie se funde com a dos prêmios Nobel. Em 1903, o casal Pierre e Marie Curie ganhou o prêmio de Física, e em 1911 Marie Curie recebeu o de Química, tornando-se o primeiro casal premiado.

Em 1935, a filha deles, Irene Joliot-Curie, e seu marido, Frédéric Joliot, ganharam o prêmio de Química. A irmã mais nova de Irene, Eve Curie, casou-se com Henry Richardson Labouisse, o qual, como diretor do Unicef, recebeu o Nobel da Paz em 1965.

Outros casais já foram recompensados. Em 1974, o sueco Gunnar Myrdal foi contemplado com o Nobel de Economia e, oito anos depois, sua mulher, Alva, ganhou o da Paz.

Pais e filhos também acrescentaram seus nomes na história do Nobel, como os Bohr. Niels, o pai, ganhou o prêmio de Física em 1922, e Aage Niels, o filho, em 1975.

Premiados que não foram à cerimônia

Desde 1901, cinco ganhadores do Nobel da Paz não puderam participar da cerimônia em Oslo. Em 1936, o jornalista e pacifista alemão Carl von Ossietzky não foi pois estava em um campo de concentração nazista. Em 2010, o dissidente chinês Liu Xiaobo foi preso e, portanto, sua cadeira, na qual o prêmio foi depositado, ficou simbolicamente vazia.

Em 1975, o físico e dissidente soviético Andrei Sakharov foi representado por sua mulher, Elena Bonner. Oito anos depois, o sindicalista polonês Lech Walesa não viajou para Oslo por medo de não poder retornar ao seu país.

Em prisão domiciliar, a líder da oposição de Mianmar, Aung San Suu Kyi, que recebeu o prêmio em 1991, foi autorizada pelo conselho militar governante a viajar para Oslo, mas se absteve de ir com medo de não poder voltar.

Manifestante exibe cartaz em que pede liberdade para a Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, presa em Mianmar. Foto: AFP

Nobel dado pode ser retirado?

Um prêmio Nobel não pode ser retirado do ganhador em nenhuma circunstância. Contudo, alguns já tiveram suas medalhas desaparecidas em circunstâncias bizarras, trágicas ou espetaculares.

Matemática deixada de lado

Por que não existe um Nobel de Matemática? Pesquisadores da década de 1980 cunharam uma lenda: Nobel procurou vingar-se do amante de uma de suas própria amantes, o matemático Gösta Mittag-Leffler, embora nada sustente essa hipótese.

A explicação mais plausível para essa ausência é dupla. Em 1895, quando Nobel escreveu seu testamento, uma recompensa na área da matemática já existia na Suécia e, aparentemente, ele não via o benefício de instituir um segundo. Além disso, no início do século 20, as elites e a opinião pública favoreciam as disciplinas aplicadas.

Confusão em plena Guerra Fria

O nome dos laureados está gravado no verso das medalhas, exceto nos prêmios da Paz e de Economia, que o carregam nas laterais. Esta pequena diferença aumenta as possibilidades de confusão.

Os premiados com o Nobel de Economia em 1975, o russo Leonid Kantorovish e o americano Tjalling Koopmans, voltaram aos seus países com as medalhas “erradas”, relata o site da premiação.

Como os dois países estavam em plena Guerra Fria, foram necessários quatro anos de esforços diplomáticos para que as medalhas chegassem às mãos de seus verdadeiros proprietários.

Prêmios leiloados

A medalha de ganhador do Nobel da Paz de 1926 do francês Aristide Briand foi vendida após a morte dele por € 12,2 mil em 2008.

Seis anos depois, o bilionário russo Alisher Usmanov adquiriu por US$ 4,1 milhões, sem contar as comissões, a medalha de James Watson, um dos descobridores da estrutura do DNA e autor de declarações polêmicas sobre a inteligência dos africanos.

A compra acabou sendo um negócio próspero para o biólogo americano, já que o comprador decidiu devolver a medalha posteriormente.

Roubo de medalhas

O Ecomuseu da cidade francesa de Saint-Nazaire não conseguiu desfrutar durante muito tempo da medalha de Aristide Briand que comprou. Ela foi roubada em 2015 e desde então não se tem notícias dela.

Na Índia, ladrões se apoderaram em 2017 da medalha do Nobel da Paz Kailash Satyarthi em sua casa. Tratava-se de uma cópia - a verdadeira estava exposta em um museu - e foi rapidamente recuperada.

Menos sorte teve o Nobel de Literatura de 1913, Rabindranath Tagore, cuja medalha foi roubada em 2004 e continua em paradeiro desconhecido.

Galeria com fotos de premiados no Norwegian Nobel Institute, em Oslo.  Foto: Jonathan Nackstrand/AFP

Prêmio após a morte?

Desde 1974, os estatutos da Fundação Nobel estipulam que um prêmio não pode ser concedido postumamente, a menos que a pessoa morra após ser anunciada como ganhadora.

Antes disso, apenas dois nomes - ambos cidadãos suecos - haviam sido recompensados após a morte: o diplomata Dag Hammarskjöld (Nobel da Paz em 1961) e o poeta Erik Axel Karlfeldt (Nobel de Literatura em 1931).

Em 2011, após anúncio do prêmio de Medicina, a Assembleia Nobel do Instituto Karolinska soube da morte de um ganhador, o canadense Ralph Steinman, que morreu apenas três dias antes. No entanto, a instituição decidiu manter seu nome na lista dos vencedores mesmo assim.

Um presente para Goebbels

Em 1943, o ganhador do Nobel de Literatura de 1920 Knut Hamsun deu de presente o seu prêmio ao ministro da propaganda nazista Joseph Goebbels.

O escritor norueguês e simpatizante nazista foi condenado por traição quatro anos depois e passou o resto de sua vida em instituições mentais. Até hoje não se sabe o que aconteceu com a medalha dele. / AFP

ESTOCOLMO - A temporada do Nobel segue nesta sexta-feira, 11, com o anúncio do prêmio para a paz. Ao longo da semana, foram laureados os grandes nomes da Literatura, Medicina, Química e Física. Na segunda-feira, 14, será a vez da Economia.

Mas por que não há Nobel de Matemática? O comitê do Nobel concede prêmio póstumo? A honraria pode ser retirada de alguém? É possível leiloar uma medalha do Nobel? Confira as respostas para essas questões e outras curiosidades sobre o prêmio Nobel e suas categorias.

Medalhas de ouro dissolvidas

Quando os nazistas invadiram a Dinamarca em abril de 1940, o Instituto Niels Bohr se preocupou com o destino das medalhas que os cientistas alemães Max von Laue e James Frank, ganhadores do Nobel de Física em 1914 e 1925, respectivamente, haviam guardado lá para evitar que fossem confiscadas.

“No império de Hitler, era quase um pecado capital tirar ouro do país, e como o nome de Laue estava gravado na medalha, se as forças invasoras a tivessem descoberto teria havido consequências muito sérias para ele”, escreveu em 1962 o químico húngaro George de Hevesy, que trabalhava no Instituto.

Exibição de medalha entregue aos vencedores do Prêmio Nobel.  Foto: Matt Dunham/Associated Press

Ao invés de enterrá-las, De Hevesy dissolveu as duas medalhas de ouro 23 quilates com água régia, um dos poucos reagentes capazes de atacar o nobre metal. Armazenada em uma prateleira do seu laboratório, a solução laranja passou despercebida pelos nazistas.

Uma vez terminada a guerra, De Hevesy - que ganhou o Nobel em 1943 - provocou a precipitação do ouro em 1950, o que permitiu à Fundação Nobel entregar novamente as medalhas aos dois laureados alemães em 1952.

Prêmios em família

A história da família francesa Curie se funde com a dos prêmios Nobel. Em 1903, o casal Pierre e Marie Curie ganhou o prêmio de Física, e em 1911 Marie Curie recebeu o de Química, tornando-se o primeiro casal premiado.

Em 1935, a filha deles, Irene Joliot-Curie, e seu marido, Frédéric Joliot, ganharam o prêmio de Química. A irmã mais nova de Irene, Eve Curie, casou-se com Henry Richardson Labouisse, o qual, como diretor do Unicef, recebeu o Nobel da Paz em 1965.

Outros casais já foram recompensados. Em 1974, o sueco Gunnar Myrdal foi contemplado com o Nobel de Economia e, oito anos depois, sua mulher, Alva, ganhou o da Paz.

Pais e filhos também acrescentaram seus nomes na história do Nobel, como os Bohr. Niels, o pai, ganhou o prêmio de Física em 1922, e Aage Niels, o filho, em 1975.

Premiados que não foram à cerimônia

Desde 1901, cinco ganhadores do Nobel da Paz não puderam participar da cerimônia em Oslo. Em 1936, o jornalista e pacifista alemão Carl von Ossietzky não foi pois estava em um campo de concentração nazista. Em 2010, o dissidente chinês Liu Xiaobo foi preso e, portanto, sua cadeira, na qual o prêmio foi depositado, ficou simbolicamente vazia.

Em 1975, o físico e dissidente soviético Andrei Sakharov foi representado por sua mulher, Elena Bonner. Oito anos depois, o sindicalista polonês Lech Walesa não viajou para Oslo por medo de não poder retornar ao seu país.

Em prisão domiciliar, a líder da oposição de Mianmar, Aung San Suu Kyi, que recebeu o prêmio em 1991, foi autorizada pelo conselho militar governante a viajar para Oslo, mas se absteve de ir com medo de não poder voltar.

Manifestante exibe cartaz em que pede liberdade para a Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, presa em Mianmar. Foto: AFP

Nobel dado pode ser retirado?

Um prêmio Nobel não pode ser retirado do ganhador em nenhuma circunstância. Contudo, alguns já tiveram suas medalhas desaparecidas em circunstâncias bizarras, trágicas ou espetaculares.

Matemática deixada de lado

Por que não existe um Nobel de Matemática? Pesquisadores da década de 1980 cunharam uma lenda: Nobel procurou vingar-se do amante de uma de suas própria amantes, o matemático Gösta Mittag-Leffler, embora nada sustente essa hipótese.

A explicação mais plausível para essa ausência é dupla. Em 1895, quando Nobel escreveu seu testamento, uma recompensa na área da matemática já existia na Suécia e, aparentemente, ele não via o benefício de instituir um segundo. Além disso, no início do século 20, as elites e a opinião pública favoreciam as disciplinas aplicadas.

Confusão em plena Guerra Fria

O nome dos laureados está gravado no verso das medalhas, exceto nos prêmios da Paz e de Economia, que o carregam nas laterais. Esta pequena diferença aumenta as possibilidades de confusão.

Os premiados com o Nobel de Economia em 1975, o russo Leonid Kantorovish e o americano Tjalling Koopmans, voltaram aos seus países com as medalhas “erradas”, relata o site da premiação.

Como os dois países estavam em plena Guerra Fria, foram necessários quatro anos de esforços diplomáticos para que as medalhas chegassem às mãos de seus verdadeiros proprietários.

Prêmios leiloados

A medalha de ganhador do Nobel da Paz de 1926 do francês Aristide Briand foi vendida após a morte dele por € 12,2 mil em 2008.

Seis anos depois, o bilionário russo Alisher Usmanov adquiriu por US$ 4,1 milhões, sem contar as comissões, a medalha de James Watson, um dos descobridores da estrutura do DNA e autor de declarações polêmicas sobre a inteligência dos africanos.

A compra acabou sendo um negócio próspero para o biólogo americano, já que o comprador decidiu devolver a medalha posteriormente.

Roubo de medalhas

O Ecomuseu da cidade francesa de Saint-Nazaire não conseguiu desfrutar durante muito tempo da medalha de Aristide Briand que comprou. Ela foi roubada em 2015 e desde então não se tem notícias dela.

Na Índia, ladrões se apoderaram em 2017 da medalha do Nobel da Paz Kailash Satyarthi em sua casa. Tratava-se de uma cópia - a verdadeira estava exposta em um museu - e foi rapidamente recuperada.

Menos sorte teve o Nobel de Literatura de 1913, Rabindranath Tagore, cuja medalha foi roubada em 2004 e continua em paradeiro desconhecido.

Galeria com fotos de premiados no Norwegian Nobel Institute, em Oslo.  Foto: Jonathan Nackstrand/AFP

Prêmio após a morte?

Desde 1974, os estatutos da Fundação Nobel estipulam que um prêmio não pode ser concedido postumamente, a menos que a pessoa morra após ser anunciada como ganhadora.

Antes disso, apenas dois nomes - ambos cidadãos suecos - haviam sido recompensados após a morte: o diplomata Dag Hammarskjöld (Nobel da Paz em 1961) e o poeta Erik Axel Karlfeldt (Nobel de Literatura em 1931).

Em 2011, após anúncio do prêmio de Medicina, a Assembleia Nobel do Instituto Karolinska soube da morte de um ganhador, o canadense Ralph Steinman, que morreu apenas três dias antes. No entanto, a instituição decidiu manter seu nome na lista dos vencedores mesmo assim.

Um presente para Goebbels

Em 1943, o ganhador do Nobel de Literatura de 1920 Knut Hamsun deu de presente o seu prêmio ao ministro da propaganda nazista Joseph Goebbels.

O escritor norueguês e simpatizante nazista foi condenado por traição quatro anos depois e passou o resto de sua vida em instituições mentais. Até hoje não se sabe o que aconteceu com a medalha dele. / AFP

ESTOCOLMO - A temporada do Nobel segue nesta sexta-feira, 11, com o anúncio do prêmio para a paz. Ao longo da semana, foram laureados os grandes nomes da Literatura, Medicina, Química e Física. Na segunda-feira, 14, será a vez da Economia.

Mas por que não há Nobel de Matemática? O comitê do Nobel concede prêmio póstumo? A honraria pode ser retirada de alguém? É possível leiloar uma medalha do Nobel? Confira as respostas para essas questões e outras curiosidades sobre o prêmio Nobel e suas categorias.

Medalhas de ouro dissolvidas

Quando os nazistas invadiram a Dinamarca em abril de 1940, o Instituto Niels Bohr se preocupou com o destino das medalhas que os cientistas alemães Max von Laue e James Frank, ganhadores do Nobel de Física em 1914 e 1925, respectivamente, haviam guardado lá para evitar que fossem confiscadas.

“No império de Hitler, era quase um pecado capital tirar ouro do país, e como o nome de Laue estava gravado na medalha, se as forças invasoras a tivessem descoberto teria havido consequências muito sérias para ele”, escreveu em 1962 o químico húngaro George de Hevesy, que trabalhava no Instituto.

Exibição de medalha entregue aos vencedores do Prêmio Nobel.  Foto: Matt Dunham/Associated Press

Ao invés de enterrá-las, De Hevesy dissolveu as duas medalhas de ouro 23 quilates com água régia, um dos poucos reagentes capazes de atacar o nobre metal. Armazenada em uma prateleira do seu laboratório, a solução laranja passou despercebida pelos nazistas.

Uma vez terminada a guerra, De Hevesy - que ganhou o Nobel em 1943 - provocou a precipitação do ouro em 1950, o que permitiu à Fundação Nobel entregar novamente as medalhas aos dois laureados alemães em 1952.

Prêmios em família

A história da família francesa Curie se funde com a dos prêmios Nobel. Em 1903, o casal Pierre e Marie Curie ganhou o prêmio de Física, e em 1911 Marie Curie recebeu o de Química, tornando-se o primeiro casal premiado.

Em 1935, a filha deles, Irene Joliot-Curie, e seu marido, Frédéric Joliot, ganharam o prêmio de Química. A irmã mais nova de Irene, Eve Curie, casou-se com Henry Richardson Labouisse, o qual, como diretor do Unicef, recebeu o Nobel da Paz em 1965.

Outros casais já foram recompensados. Em 1974, o sueco Gunnar Myrdal foi contemplado com o Nobel de Economia e, oito anos depois, sua mulher, Alva, ganhou o da Paz.

Pais e filhos também acrescentaram seus nomes na história do Nobel, como os Bohr. Niels, o pai, ganhou o prêmio de Física em 1922, e Aage Niels, o filho, em 1975.

Premiados que não foram à cerimônia

Desde 1901, cinco ganhadores do Nobel da Paz não puderam participar da cerimônia em Oslo. Em 1936, o jornalista e pacifista alemão Carl von Ossietzky não foi pois estava em um campo de concentração nazista. Em 2010, o dissidente chinês Liu Xiaobo foi preso e, portanto, sua cadeira, na qual o prêmio foi depositado, ficou simbolicamente vazia.

Em 1975, o físico e dissidente soviético Andrei Sakharov foi representado por sua mulher, Elena Bonner. Oito anos depois, o sindicalista polonês Lech Walesa não viajou para Oslo por medo de não poder retornar ao seu país.

Em prisão domiciliar, a líder da oposição de Mianmar, Aung San Suu Kyi, que recebeu o prêmio em 1991, foi autorizada pelo conselho militar governante a viajar para Oslo, mas se absteve de ir com medo de não poder voltar.

Manifestante exibe cartaz em que pede liberdade para a Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, presa em Mianmar. Foto: AFP

Nobel dado pode ser retirado?

Um prêmio Nobel não pode ser retirado do ganhador em nenhuma circunstância. Contudo, alguns já tiveram suas medalhas desaparecidas em circunstâncias bizarras, trágicas ou espetaculares.

Matemática deixada de lado

Por que não existe um Nobel de Matemática? Pesquisadores da década de 1980 cunharam uma lenda: Nobel procurou vingar-se do amante de uma de suas própria amantes, o matemático Gösta Mittag-Leffler, embora nada sustente essa hipótese.

A explicação mais plausível para essa ausência é dupla. Em 1895, quando Nobel escreveu seu testamento, uma recompensa na área da matemática já existia na Suécia e, aparentemente, ele não via o benefício de instituir um segundo. Além disso, no início do século 20, as elites e a opinião pública favoreciam as disciplinas aplicadas.

Confusão em plena Guerra Fria

O nome dos laureados está gravado no verso das medalhas, exceto nos prêmios da Paz e de Economia, que o carregam nas laterais. Esta pequena diferença aumenta as possibilidades de confusão.

Os premiados com o Nobel de Economia em 1975, o russo Leonid Kantorovish e o americano Tjalling Koopmans, voltaram aos seus países com as medalhas “erradas”, relata o site da premiação.

Como os dois países estavam em plena Guerra Fria, foram necessários quatro anos de esforços diplomáticos para que as medalhas chegassem às mãos de seus verdadeiros proprietários.

Prêmios leiloados

A medalha de ganhador do Nobel da Paz de 1926 do francês Aristide Briand foi vendida após a morte dele por € 12,2 mil em 2008.

Seis anos depois, o bilionário russo Alisher Usmanov adquiriu por US$ 4,1 milhões, sem contar as comissões, a medalha de James Watson, um dos descobridores da estrutura do DNA e autor de declarações polêmicas sobre a inteligência dos africanos.

A compra acabou sendo um negócio próspero para o biólogo americano, já que o comprador decidiu devolver a medalha posteriormente.

Roubo de medalhas

O Ecomuseu da cidade francesa de Saint-Nazaire não conseguiu desfrutar durante muito tempo da medalha de Aristide Briand que comprou. Ela foi roubada em 2015 e desde então não se tem notícias dela.

Na Índia, ladrões se apoderaram em 2017 da medalha do Nobel da Paz Kailash Satyarthi em sua casa. Tratava-se de uma cópia - a verdadeira estava exposta em um museu - e foi rapidamente recuperada.

Menos sorte teve o Nobel de Literatura de 1913, Rabindranath Tagore, cuja medalha foi roubada em 2004 e continua em paradeiro desconhecido.

Galeria com fotos de premiados no Norwegian Nobel Institute, em Oslo.  Foto: Jonathan Nackstrand/AFP

Prêmio após a morte?

Desde 1974, os estatutos da Fundação Nobel estipulam que um prêmio não pode ser concedido postumamente, a menos que a pessoa morra após ser anunciada como ganhadora.

Antes disso, apenas dois nomes - ambos cidadãos suecos - haviam sido recompensados após a morte: o diplomata Dag Hammarskjöld (Nobel da Paz em 1961) e o poeta Erik Axel Karlfeldt (Nobel de Literatura em 1931).

Em 2011, após anúncio do prêmio de Medicina, a Assembleia Nobel do Instituto Karolinska soube da morte de um ganhador, o canadense Ralph Steinman, que morreu apenas três dias antes. No entanto, a instituição decidiu manter seu nome na lista dos vencedores mesmo assim.

Um presente para Goebbels

Em 1943, o ganhador do Nobel de Literatura de 1920 Knut Hamsun deu de presente o seu prêmio ao ministro da propaganda nazista Joseph Goebbels.

O escritor norueguês e simpatizante nazista foi condenado por traição quatro anos depois e passou o resto de sua vida em instituições mentais. Até hoje não se sabe o que aconteceu com a medalha dele. / AFP

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