‘Nós perdemos tudo’: palestinos que fugiram da guerra em Gaza enfrentam exílio doloroso no Egito


Desde o início da guerra, o Egito recebeu quase 100 mil palestinos que fugiram da Faixa de Gaza em meio à guerra do Hamas com Israel

Por Sofiane Alsaar

CAIRO, EGITO - “Nós perdemos tudo”, afirma Raghad Shbeir, uma jovem que fugiu da Faixa de Gaza e que, como dezenas de milhares de palestinos, vive em um cenário de limbo no Cairo, desorientada, sem saber a quem recorrer para obter ajuda.

“Entramos em contato com várias organizações, em vão. Algumas nunca nos responderam, outras pediram para aguardarmos”, conta Shbeir, 22 anos.

Para ela, o principal obstáculo é o estatuto legal que estes palestinos têm no Egito, onde possuem permissão de residência de apenas 45 dias.

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Pessoas carregam bandeiras palestinas enquanto apreciam a dança do grupo folclórico palestina Al-Faluja no Cairo, Egito, em 1º de junho de 2024 Foto: Mohamed Abd El Ghany/Reuters

Shbeir, assim como vários palestinos, conta com a ajuda de parentes que vivem no Cairo e que proporcionaram abrigo.

Sem emprego ou renda, outros recorrem a várias ONGs, que estão sobrecarregadas com as demandas, ou a redes de ajuda.

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Os palestinos precisam de tudo, explica Nassim Touil, um americano de 26 anos que coordena uma campanha de ajuda.

“Diferentes grupos e indivíduos emprestaram apartamentos, arrecadaram dinheiro, medicamentos, alimentos e roupas”, disse, antes de destacar que os deslocados “precisam de dinheiro para os gastos diários”.

Touil afirma que muitas pessoas mal conseguem pagar por um exame médico, após meses “vivendo em tendas, sobrevivendo graças a conservas vencidas e alimentos com vermes”.

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Todos os deslocados estão marcados pelo horror de uma guerra que continua em Gaza, uma viagem de cinco horas de carro a partir da capital egípcia.

O conflito em Gaza teve início em 7 de outubro, quando terroristas do Hamas mataram 1.194 pessoas, civis em sua maioria, no sul de Israel, segundo um balanço da AFP com base em dados oficiais israelenses.

Em represália, Israel lançou uma ofensiva na Faixa de Gaza que deixou mais de 36.600 mortos, também civis na maioria, segundo o balanço mais recente do Ministério da Saúde do governo do Hamas.

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Situação precária

Mohanad al Sindawy nasceu no sul do território palestino e agora vive perto do aeroporto do Cairo. Cada vez que escuta um avião, ele demora algum tempo para perceber que não está em Gaza e que não há perigo de um bombardeio.

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“Cada vez que ouvimos um avião, entramos em pânico”, relata o homem de 23 anos.

Até ações cotidianas, como tomar banho, recordam a destruição da guerra. “Em Gaza, tomar banho era uma luta”, conta.

Desde o início da guerra, o Egito recebeu quase 100 mil palestinos que fugiram de Gaza, informou Diab Al Louh, representante no Cairo da Autoridade Palestina, que tem um controle limitado na Cisjordânia.

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Muitos foram deslocados diversas vezes antes de conseguir sair de Gaza e chegaram ao Egito com os poucos pertences que conseguiram carregar nas mãos.

Todos os dias, dezenas de pessoas aguardam diante da representação palestina para saber se as solicitações de ajuda foram aprovadas e muitos vivem em uma situação de grande precariedade, já que vários utilizaram todo o dinheiro que possuíam para fugir de Gaza.

“Eu saí com 13 parentes e no total pagamos 75 mil dólares para a única empresa privada que organiza retiradas”, explica Shbeir.

Palestinos observam as consequências do ataque israelense a uma escola administrada pela ONU em 6 de junho de 2024 Foto: Ismael Abu Dayyah/AP

Ficar no Egito não é uma opção

O Egito assinou um tratado de paz com Israel em 1979, mas o país tem um forte sentimento de solidariedade com os palestinos.

O governo do presidente Abdel Fatah al-Sisi alertou Israel em várias ocasiões que não vai tolerar tentativas de forçar um êxodo em massa da população de Gaza, o que poderia significar o fim da causa palestina.

O Egito abriga centenas de milhares de refugiados das guerras no Iêmen, Síria e Sudão, que são considerados pelo governo como “hóspedes” e estão autorizados a residir, trabalhar e estudar.

Mas os palestinos não recebem a proteção do Alto Comissariado das Nações Unidas para o Refugiados (ACNUR) e a agência responsável de maneira específica pelos palestinos, a UNRWA, tem apenas um escritório de ligação no Egito.

Portanto, para os palestinos é muito difícil obter permissões de trabalho.

“Ficar no Egito não é uma opção”, afirma Shbeir.

Sindawy poderia obter um trabalho remoto, pois em Gaza administrava uma empresa de marketing digital, mas explica que não consegue se concentrar devido ao seu estado “psicológico”.

O jovem diz que não consegue pensar no futuro porque dedica “todo o tempo a acompanhar as notícias e a obter informações sobre os seus parentes” em Gaza, que enfrentam os bombardeios.

Agora vivemos à espera de um cessar-fogo”, disse ele. “Depois, talvez possamos pensar na próxima etapa de nossas vidas”.

CAIRO, EGITO - “Nós perdemos tudo”, afirma Raghad Shbeir, uma jovem que fugiu da Faixa de Gaza e que, como dezenas de milhares de palestinos, vive em um cenário de limbo no Cairo, desorientada, sem saber a quem recorrer para obter ajuda.

“Entramos em contato com várias organizações, em vão. Algumas nunca nos responderam, outras pediram para aguardarmos”, conta Shbeir, 22 anos.

Para ela, o principal obstáculo é o estatuto legal que estes palestinos têm no Egito, onde possuem permissão de residência de apenas 45 dias.

Pessoas carregam bandeiras palestinas enquanto apreciam a dança do grupo folclórico palestina Al-Faluja no Cairo, Egito, em 1º de junho de 2024 Foto: Mohamed Abd El Ghany/Reuters

Shbeir, assim como vários palestinos, conta com a ajuda de parentes que vivem no Cairo e que proporcionaram abrigo.

Sem emprego ou renda, outros recorrem a várias ONGs, que estão sobrecarregadas com as demandas, ou a redes de ajuda.

Os palestinos precisam de tudo, explica Nassim Touil, um americano de 26 anos que coordena uma campanha de ajuda.

“Diferentes grupos e indivíduos emprestaram apartamentos, arrecadaram dinheiro, medicamentos, alimentos e roupas”, disse, antes de destacar que os deslocados “precisam de dinheiro para os gastos diários”.

Touil afirma que muitas pessoas mal conseguem pagar por um exame médico, após meses “vivendo em tendas, sobrevivendo graças a conservas vencidas e alimentos com vermes”.

Todos os deslocados estão marcados pelo horror de uma guerra que continua em Gaza, uma viagem de cinco horas de carro a partir da capital egípcia.

O conflito em Gaza teve início em 7 de outubro, quando terroristas do Hamas mataram 1.194 pessoas, civis em sua maioria, no sul de Israel, segundo um balanço da AFP com base em dados oficiais israelenses.

Em represália, Israel lançou uma ofensiva na Faixa de Gaza que deixou mais de 36.600 mortos, também civis na maioria, segundo o balanço mais recente do Ministério da Saúde do governo do Hamas.

Situação precária

Mohanad al Sindawy nasceu no sul do território palestino e agora vive perto do aeroporto do Cairo. Cada vez que escuta um avião, ele demora algum tempo para perceber que não está em Gaza e que não há perigo de um bombardeio.

“Cada vez que ouvimos um avião, entramos em pânico”, relata o homem de 23 anos.

Até ações cotidianas, como tomar banho, recordam a destruição da guerra. “Em Gaza, tomar banho era uma luta”, conta.

Desde o início da guerra, o Egito recebeu quase 100 mil palestinos que fugiram de Gaza, informou Diab Al Louh, representante no Cairo da Autoridade Palestina, que tem um controle limitado na Cisjordânia.

Muitos foram deslocados diversas vezes antes de conseguir sair de Gaza e chegaram ao Egito com os poucos pertences que conseguiram carregar nas mãos.

Todos os dias, dezenas de pessoas aguardam diante da representação palestina para saber se as solicitações de ajuda foram aprovadas e muitos vivem em uma situação de grande precariedade, já que vários utilizaram todo o dinheiro que possuíam para fugir de Gaza.

“Eu saí com 13 parentes e no total pagamos 75 mil dólares para a única empresa privada que organiza retiradas”, explica Shbeir.

Palestinos observam as consequências do ataque israelense a uma escola administrada pela ONU em 6 de junho de 2024 Foto: Ismael Abu Dayyah/AP

Ficar no Egito não é uma opção

O Egito assinou um tratado de paz com Israel em 1979, mas o país tem um forte sentimento de solidariedade com os palestinos.

O governo do presidente Abdel Fatah al-Sisi alertou Israel em várias ocasiões que não vai tolerar tentativas de forçar um êxodo em massa da população de Gaza, o que poderia significar o fim da causa palestina.

O Egito abriga centenas de milhares de refugiados das guerras no Iêmen, Síria e Sudão, que são considerados pelo governo como “hóspedes” e estão autorizados a residir, trabalhar e estudar.

Mas os palestinos não recebem a proteção do Alto Comissariado das Nações Unidas para o Refugiados (ACNUR) e a agência responsável de maneira específica pelos palestinos, a UNRWA, tem apenas um escritório de ligação no Egito.

Portanto, para os palestinos é muito difícil obter permissões de trabalho.

“Ficar no Egito não é uma opção”, afirma Shbeir.

Sindawy poderia obter um trabalho remoto, pois em Gaza administrava uma empresa de marketing digital, mas explica que não consegue se concentrar devido ao seu estado “psicológico”.

O jovem diz que não consegue pensar no futuro porque dedica “todo o tempo a acompanhar as notícias e a obter informações sobre os seus parentes” em Gaza, que enfrentam os bombardeios.

Agora vivemos à espera de um cessar-fogo”, disse ele. “Depois, talvez possamos pensar na próxima etapa de nossas vidas”.

CAIRO, EGITO - “Nós perdemos tudo”, afirma Raghad Shbeir, uma jovem que fugiu da Faixa de Gaza e que, como dezenas de milhares de palestinos, vive em um cenário de limbo no Cairo, desorientada, sem saber a quem recorrer para obter ajuda.

“Entramos em contato com várias organizações, em vão. Algumas nunca nos responderam, outras pediram para aguardarmos”, conta Shbeir, 22 anos.

Para ela, o principal obstáculo é o estatuto legal que estes palestinos têm no Egito, onde possuem permissão de residência de apenas 45 dias.

Pessoas carregam bandeiras palestinas enquanto apreciam a dança do grupo folclórico palestina Al-Faluja no Cairo, Egito, em 1º de junho de 2024 Foto: Mohamed Abd El Ghany/Reuters

Shbeir, assim como vários palestinos, conta com a ajuda de parentes que vivem no Cairo e que proporcionaram abrigo.

Sem emprego ou renda, outros recorrem a várias ONGs, que estão sobrecarregadas com as demandas, ou a redes de ajuda.

Os palestinos precisam de tudo, explica Nassim Touil, um americano de 26 anos que coordena uma campanha de ajuda.

“Diferentes grupos e indivíduos emprestaram apartamentos, arrecadaram dinheiro, medicamentos, alimentos e roupas”, disse, antes de destacar que os deslocados “precisam de dinheiro para os gastos diários”.

Touil afirma que muitas pessoas mal conseguem pagar por um exame médico, após meses “vivendo em tendas, sobrevivendo graças a conservas vencidas e alimentos com vermes”.

Todos os deslocados estão marcados pelo horror de uma guerra que continua em Gaza, uma viagem de cinco horas de carro a partir da capital egípcia.

O conflito em Gaza teve início em 7 de outubro, quando terroristas do Hamas mataram 1.194 pessoas, civis em sua maioria, no sul de Israel, segundo um balanço da AFP com base em dados oficiais israelenses.

Em represália, Israel lançou uma ofensiva na Faixa de Gaza que deixou mais de 36.600 mortos, também civis na maioria, segundo o balanço mais recente do Ministério da Saúde do governo do Hamas.

Situação precária

Mohanad al Sindawy nasceu no sul do território palestino e agora vive perto do aeroporto do Cairo. Cada vez que escuta um avião, ele demora algum tempo para perceber que não está em Gaza e que não há perigo de um bombardeio.

“Cada vez que ouvimos um avião, entramos em pânico”, relata o homem de 23 anos.

Até ações cotidianas, como tomar banho, recordam a destruição da guerra. “Em Gaza, tomar banho era uma luta”, conta.

Desde o início da guerra, o Egito recebeu quase 100 mil palestinos que fugiram de Gaza, informou Diab Al Louh, representante no Cairo da Autoridade Palestina, que tem um controle limitado na Cisjordânia.

Muitos foram deslocados diversas vezes antes de conseguir sair de Gaza e chegaram ao Egito com os poucos pertences que conseguiram carregar nas mãos.

Todos os dias, dezenas de pessoas aguardam diante da representação palestina para saber se as solicitações de ajuda foram aprovadas e muitos vivem em uma situação de grande precariedade, já que vários utilizaram todo o dinheiro que possuíam para fugir de Gaza.

“Eu saí com 13 parentes e no total pagamos 75 mil dólares para a única empresa privada que organiza retiradas”, explica Shbeir.

Palestinos observam as consequências do ataque israelense a uma escola administrada pela ONU em 6 de junho de 2024 Foto: Ismael Abu Dayyah/AP

Ficar no Egito não é uma opção

O Egito assinou um tratado de paz com Israel em 1979, mas o país tem um forte sentimento de solidariedade com os palestinos.

O governo do presidente Abdel Fatah al-Sisi alertou Israel em várias ocasiões que não vai tolerar tentativas de forçar um êxodo em massa da população de Gaza, o que poderia significar o fim da causa palestina.

O Egito abriga centenas de milhares de refugiados das guerras no Iêmen, Síria e Sudão, que são considerados pelo governo como “hóspedes” e estão autorizados a residir, trabalhar e estudar.

Mas os palestinos não recebem a proteção do Alto Comissariado das Nações Unidas para o Refugiados (ACNUR) e a agência responsável de maneira específica pelos palestinos, a UNRWA, tem apenas um escritório de ligação no Egito.

Portanto, para os palestinos é muito difícil obter permissões de trabalho.

“Ficar no Egito não é uma opção”, afirma Shbeir.

Sindawy poderia obter um trabalho remoto, pois em Gaza administrava uma empresa de marketing digital, mas explica que não consegue se concentrar devido ao seu estado “psicológico”.

O jovem diz que não consegue pensar no futuro porque dedica “todo o tempo a acompanhar as notícias e a obter informações sobre os seus parentes” em Gaza, que enfrentam os bombardeios.

Agora vivemos à espera de um cessar-fogo”, disse ele. “Depois, talvez possamos pensar na próxima etapa de nossas vidas”.

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