‘Nova Guerra Fria’: China supera EUA em disputa sobre influência na Indonésia


País é um importante trunfo na batalha geopolítica entre Washington e Pequim por influência na Ásia

Por Jane Perlez, Eric Schmitt e Sui-Lee Wee
Atualização:

Quando o secretário da Defesa americano, Lloyd Austin, visitou a Indonésia, em novembro, ele pressionou seu homólogo no país a respeito de um contrato de compra de 36 caças de combate de fabricação americana. E deixou a Indonésia sem alcançar um acordo.

Dias antes, a mesma autoridade indonésia, Prabowo Subianto, encontrou-se com o ministro da Defesa da China, e seus países prometeram retomar exercícios militares conjuntos.

Localizada no extremo sul do Mar do Sul da China, a Indonésia, uma nação rica em recursos com uma economia de trilhões de dólares em rápido crescimento e uma enorme população, é um importante trunfo na batalha geopolítica entre Washington e Pequim por influência na Ásia. E sua localização estratégica, com cerca de 17 mil ilhas estendendo-se por milhares de quilômetros de uma via marítima vital, é uma necessidade em defesa à medida que ambos os lados se preparam para um possível conflito por Taiwan, a ilha democrática que a China alega possuir. No cortejo à Indonésia, Pequim parece cada vez mais em vantagem.

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O secretário de Defesa americano, Lloyd Austin (D) é recebido pelo ministro da Defesa da Indonésia, Prabowo Subianto, em Jakarta Foto: Adek Berry/AFP - 21/11/2022

Os chineses forneceram aos indonésios investimentos consideráveis para conquistar uma população apreensiva, injetando bilhões de dólares na exploração das maiores reservas de níquel do mundo e providenciando envios de vacinas contra a covid-19 em um momento crítico. Os chineses têm sido um dos principais parceiros no esforço da Indonésia de desenvolvimento de infraestrutura, incluindo a construção de um trem de alta velocidade, ainda que em um projeto atrasado e de orçamento estourado.

A China investiu mais de US$ 5 bilhões (mais de R$ 25 bilhões) na Indonésia nos primeiros nove meses de 2022, enquanto os EUA investiram cerca de US$ 2 bilhões (cerca de R$ 10 bilhões).

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“Eles nunca dão ordens, jamais”, afirmou a respeito dos chineses o ministro indonésio que coordena assuntos marítimos e de investimentos, Luhut Pandjaitan, durante uma entrevista recente.

Pandjaitan disse que autoridades americanas com frequência aparecem com uma lista de condições onerosas antes de algum investimento poder ser aprovado. “Eu falei isso para Washington: ‘da maneira que vocês negociam com a gente, podem esquecer’”, afirmou Pandjaitan, que é também o principal assessor do líder da Indonésia, Joko Widodo.

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Aliada

A Indonésia, por sua vez, tem retribuído à China. A nação de maioria islâmica votou a favor da posição da China nas Nações Unidas em relação à perseguição chinesa aos uigures, um grupo majoritariamente islâmico. Nos corredores do principal bloco regional, a Associação de Nações do Sudeste Asiático, diplomatas afirmam que a Indonésia é defensora consistente do envolvimento irrestrito da China com os 10 Estados-membros.

Joko gosta de afirmar que continua independente em relação à influência de ambos os países. Mas ele e seu alto-escalão têm demonstrado uma afinidade especial pelo líder chinês, Xi Jinping.

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Um mês depois de Joko chegar ao poder, em outubro de 2014, ele foi a Pequim em sua primeira viagem ao exterior. Desde então, Joko se encontrou cara a cara com Xi oito vezes; e esteve apenas em quatro ocasiões, no total, com o ex-presidente Donald Trump ou o presidente Joe Biden, de acordo com o porta-voz do ministério indonésio de Relações Exteriores, Teuku Faizasyah.

Presidente da Indonésia, Joko Widodo (D), recebe o líder chinês, Xi Jinping, para a cúpula do G-20 em Nusa Dua, um resort em Bali Foto: Achmad Ibrahim/AFP 16/11/2022

Em parte, a calidez indonésia em relação à China tem como base a confluência dos interesses políticos de seus líderes. Desde que assumiu a presidência, Joko tornou infraestrutura um tema recorrente em seu mandato, e Xi coloca investimentos em infraestrutura no cerne de sua estratégia diplomática. Durante sua primeira visita a Pequim, Joko foi apresentado ao trem de alta velocidade em um trajeto da capital chinesa até Tianjin, uma cidade portuária, e, em outubro de 2015, assinou um contrato multibilionário com a China para construir um na Indonésia.

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Historicamente, a Indonésia tem demonstrado um sentimento anti-China. Em 1965, turbas compostas de militares, paramilitares e grupos religiosos atacaram o Partido Comunista da Indonésia, o maior fora da China. As turbas mataram pelo menos meio milhão de pessoas, incluindo de etnia chinesa. Generais linha-dura acusaram Pequim de estar por trás de uma tentativa de golpe de Estado que eles afirmaram ter sido organizada pelo Partido Comunista indonésio. Como resultado, as relações entre Indonésia e China ficaram congeladas por décadas.

As memórias da matança permanecem, e o embaixador chinês na Indonésia, Lu Kang, ex-porta-voz do Ministério de Relações Exteriores em Pequim, parece ter cuidado em não alimentar suspeitas que ardem a fogo lento, optando por carícias diplomáticas em vez de jactâncias nacionalistas nas redes sociais. Em sua conta no Twitter, Lu exibe suas viagens às suaves paisagens de Bali e imagens amistosas do ex-primeiro-ministro chinês Zhou Enlai visitando a Indonésia em 1955, antes das tensões emergirem.

“A China é de longe a parceira comercial número 1, a investidora estrangeira número 1 e, antes da pandemia, era a fonte número 1 de turistas internacionais”, afirmou Tom Lembong, que foi ministro do comércio e do investimento durante os primeiros anos do mandato de Joko. “Muitas elites empresariais e políticas da Indonésia consideram a China a superpotência relevante e os EUA em relativo declínio — e geograficamente distantes.”

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Pandemia

Em menos de uma década, a China estreitou laços com a Indonésia, em muitos casos competindo diretamente com os EUA. A empresa chinesa Tsingshan domina a mineração de níquel no país, por exemplo, e a China também está construindo termoelétricas a carvão e processando níquel bruto em formas utilizáveis em aço inoxidável e baterias de veículos elétricos. Ao fazer isso, a China respondeu a um pedido de Joko por mais processamento de matéria-prima dentro da Indonésia, criando produtos de mais valor a partir do níquel, apesar de preocupações ambientais maiores.

A Indonésia, atingida com força pela pandemia de covid-19, também pôde garantir envios de vacinas chinesas anteriormente. Na época, o ex-presidente Trump deixava claro que os americanos seriam vacinados antes dos imunizantes de fabricação americana serem exportados.

No início de dezembro de 2020, o primeiro avião carregado com vacinas Sinovac, fabricadas na China, aterrissou na Indonésia. Imagens da chegada dos imunizantes apareceram nas TVs de todo o país. Os clérigos muçulmanos da Indonésia concederam certificação halal para as vacinas.

Ainda assim, a relação entre China e Indonésia não prescinde de desafios. Quando a Indonésia anunciou que a China compraria um trem de alta velocidade e uma linha ferroviária de 140 quilômetros entre Jacarta e Bandung, uma capital provincial, a conclusão do projeto foi prometida para 2019.

Mas as finanças do projeto não faziam sentido desde o início, afirmou Faisal Basri, economista proeminente da Universidade da Indonésia e crítico em relação ao projeto. As vendas de passagens não gerariam receita suficiente, as terras estavam proibitivamente caras e a estação final ficaria a quilômetros de Bandung, forçando os passageiros a completar suas viagens com outros meios de transporte.

Trabalhadores colocam trilhos para a estação de trem de alta velocidade em Bandung Foto: Ulet Ifansasti/The New York Times - 9/12/2022

Atualmente o projeto está três anos atrasado, e o custo excedente pode ser de até US$ 1,9 bilhão, de acordo com a firma de pesquisas Katadata, de Jacarta. Um acordo de refinanciamento que o governo indonésio discute com Pequim deverá resultar em uma participação maior da China na posse do sistema ferroviário, de 40% para 60%, afirmou Basri.

Uma viagem teste para exibir o trem durante a reunião do Grupo dos 20, em novembro, com Xi e Joko a bordo, foi cancelada. Uma combinação completa de vagões novos enviados da China está guardados em um hangar.

Conforme Washington trabalha para aprofundar relações na Ásia para se opor à influência chinesa, a Indonésia permanece cautelosa, com cuidado para não enfurecer Pequim.

Para grande desgosto do governo Biden, a Indonésia se opôs fortemente ao plano dos EUA de fornecer à Austrália, sua aliada, submarinos nucleares. Autoridades indonésias afirmaram que querem uma zona livre de energia nuclear em torno de seu território. Essas embarcações teriam de atravessar águas indonésias na hipótese de uma batalha entre EUA e China por Taiwan.

“Nós permaneceríamos neutros” em um conflito EUA-China por Taiwan, afirmou Santo Darmosumarto, diretor para assuntos do Leste da Ásia e Pacífico do Ministério de Relações Exteriores da Indonésia.

Armas

A neutralidade da Indonésia complica esforços de Washington em expansão de fazer face à China na Ásia, afirmou o estrategista de defesa australiano Hugh White. “Militarmente, acesso a bases na Indonésia seria um grande recurso para as forças americanas em uma guerra por Taiwan, mas isso não ocorrerá”, afirmou White.

Em agosto, as Forças Armadas da Indonésia participaram com militares dos EUA de um exercício ar-terra-mar multinacional. Mas à medida que as armas indonésias, a maioria fabricada na Rússia, envelhecem, comprar novos armamentos dos EUA parece improvável. Enquanto isso, em fevereiro do ano passado a Indonésia comprou 42 caças de combate Rafale da França.

Semanas depois de Austin, o secretário de Defesa americano, deixar a Indonésia, em novembro, o governo do país decidiu não comprar caças de combate F-15 citando razões orçamentárias, de acordo com duas autoridades do governo Biden cientes das discussões. As autoridades disseram ter escutado que o custo era elevado demais dado o foco da Indonésia em sua agenda doméstica.

Austin saiu da Indonésia com ganhos exíguos: alguns programas de treinamento adicionais nos EUA para estudantes militares indonésios. Eles também treinam na Rússia e na China. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Quando o secretário da Defesa americano, Lloyd Austin, visitou a Indonésia, em novembro, ele pressionou seu homólogo no país a respeito de um contrato de compra de 36 caças de combate de fabricação americana. E deixou a Indonésia sem alcançar um acordo.

Dias antes, a mesma autoridade indonésia, Prabowo Subianto, encontrou-se com o ministro da Defesa da China, e seus países prometeram retomar exercícios militares conjuntos.

Localizada no extremo sul do Mar do Sul da China, a Indonésia, uma nação rica em recursos com uma economia de trilhões de dólares em rápido crescimento e uma enorme população, é um importante trunfo na batalha geopolítica entre Washington e Pequim por influência na Ásia. E sua localização estratégica, com cerca de 17 mil ilhas estendendo-se por milhares de quilômetros de uma via marítima vital, é uma necessidade em defesa à medida que ambos os lados se preparam para um possível conflito por Taiwan, a ilha democrática que a China alega possuir. No cortejo à Indonésia, Pequim parece cada vez mais em vantagem.

O secretário de Defesa americano, Lloyd Austin (D) é recebido pelo ministro da Defesa da Indonésia, Prabowo Subianto, em Jakarta Foto: Adek Berry/AFP - 21/11/2022

Os chineses forneceram aos indonésios investimentos consideráveis para conquistar uma população apreensiva, injetando bilhões de dólares na exploração das maiores reservas de níquel do mundo e providenciando envios de vacinas contra a covid-19 em um momento crítico. Os chineses têm sido um dos principais parceiros no esforço da Indonésia de desenvolvimento de infraestrutura, incluindo a construção de um trem de alta velocidade, ainda que em um projeto atrasado e de orçamento estourado.

A China investiu mais de US$ 5 bilhões (mais de R$ 25 bilhões) na Indonésia nos primeiros nove meses de 2022, enquanto os EUA investiram cerca de US$ 2 bilhões (cerca de R$ 10 bilhões).

“Eles nunca dão ordens, jamais”, afirmou a respeito dos chineses o ministro indonésio que coordena assuntos marítimos e de investimentos, Luhut Pandjaitan, durante uma entrevista recente.

Pandjaitan disse que autoridades americanas com frequência aparecem com uma lista de condições onerosas antes de algum investimento poder ser aprovado. “Eu falei isso para Washington: ‘da maneira que vocês negociam com a gente, podem esquecer’”, afirmou Pandjaitan, que é também o principal assessor do líder da Indonésia, Joko Widodo.

Aliada

A Indonésia, por sua vez, tem retribuído à China. A nação de maioria islâmica votou a favor da posição da China nas Nações Unidas em relação à perseguição chinesa aos uigures, um grupo majoritariamente islâmico. Nos corredores do principal bloco regional, a Associação de Nações do Sudeste Asiático, diplomatas afirmam que a Indonésia é defensora consistente do envolvimento irrestrito da China com os 10 Estados-membros.

Joko gosta de afirmar que continua independente em relação à influência de ambos os países. Mas ele e seu alto-escalão têm demonstrado uma afinidade especial pelo líder chinês, Xi Jinping.

Um mês depois de Joko chegar ao poder, em outubro de 2014, ele foi a Pequim em sua primeira viagem ao exterior. Desde então, Joko se encontrou cara a cara com Xi oito vezes; e esteve apenas em quatro ocasiões, no total, com o ex-presidente Donald Trump ou o presidente Joe Biden, de acordo com o porta-voz do ministério indonésio de Relações Exteriores, Teuku Faizasyah.

Presidente da Indonésia, Joko Widodo (D), recebe o líder chinês, Xi Jinping, para a cúpula do G-20 em Nusa Dua, um resort em Bali Foto: Achmad Ibrahim/AFP 16/11/2022

Em parte, a calidez indonésia em relação à China tem como base a confluência dos interesses políticos de seus líderes. Desde que assumiu a presidência, Joko tornou infraestrutura um tema recorrente em seu mandato, e Xi coloca investimentos em infraestrutura no cerne de sua estratégia diplomática. Durante sua primeira visita a Pequim, Joko foi apresentado ao trem de alta velocidade em um trajeto da capital chinesa até Tianjin, uma cidade portuária, e, em outubro de 2015, assinou um contrato multibilionário com a China para construir um na Indonésia.

Historicamente, a Indonésia tem demonstrado um sentimento anti-China. Em 1965, turbas compostas de militares, paramilitares e grupos religiosos atacaram o Partido Comunista da Indonésia, o maior fora da China. As turbas mataram pelo menos meio milhão de pessoas, incluindo de etnia chinesa. Generais linha-dura acusaram Pequim de estar por trás de uma tentativa de golpe de Estado que eles afirmaram ter sido organizada pelo Partido Comunista indonésio. Como resultado, as relações entre Indonésia e China ficaram congeladas por décadas.

As memórias da matança permanecem, e o embaixador chinês na Indonésia, Lu Kang, ex-porta-voz do Ministério de Relações Exteriores em Pequim, parece ter cuidado em não alimentar suspeitas que ardem a fogo lento, optando por carícias diplomáticas em vez de jactâncias nacionalistas nas redes sociais. Em sua conta no Twitter, Lu exibe suas viagens às suaves paisagens de Bali e imagens amistosas do ex-primeiro-ministro chinês Zhou Enlai visitando a Indonésia em 1955, antes das tensões emergirem.

“A China é de longe a parceira comercial número 1, a investidora estrangeira número 1 e, antes da pandemia, era a fonte número 1 de turistas internacionais”, afirmou Tom Lembong, que foi ministro do comércio e do investimento durante os primeiros anos do mandato de Joko. “Muitas elites empresariais e políticas da Indonésia consideram a China a superpotência relevante e os EUA em relativo declínio — e geograficamente distantes.”

Pandemia

Em menos de uma década, a China estreitou laços com a Indonésia, em muitos casos competindo diretamente com os EUA. A empresa chinesa Tsingshan domina a mineração de níquel no país, por exemplo, e a China também está construindo termoelétricas a carvão e processando níquel bruto em formas utilizáveis em aço inoxidável e baterias de veículos elétricos. Ao fazer isso, a China respondeu a um pedido de Joko por mais processamento de matéria-prima dentro da Indonésia, criando produtos de mais valor a partir do níquel, apesar de preocupações ambientais maiores.

A Indonésia, atingida com força pela pandemia de covid-19, também pôde garantir envios de vacinas chinesas anteriormente. Na época, o ex-presidente Trump deixava claro que os americanos seriam vacinados antes dos imunizantes de fabricação americana serem exportados.

No início de dezembro de 2020, o primeiro avião carregado com vacinas Sinovac, fabricadas na China, aterrissou na Indonésia. Imagens da chegada dos imunizantes apareceram nas TVs de todo o país. Os clérigos muçulmanos da Indonésia concederam certificação halal para as vacinas.

Ainda assim, a relação entre China e Indonésia não prescinde de desafios. Quando a Indonésia anunciou que a China compraria um trem de alta velocidade e uma linha ferroviária de 140 quilômetros entre Jacarta e Bandung, uma capital provincial, a conclusão do projeto foi prometida para 2019.

Mas as finanças do projeto não faziam sentido desde o início, afirmou Faisal Basri, economista proeminente da Universidade da Indonésia e crítico em relação ao projeto. As vendas de passagens não gerariam receita suficiente, as terras estavam proibitivamente caras e a estação final ficaria a quilômetros de Bandung, forçando os passageiros a completar suas viagens com outros meios de transporte.

Trabalhadores colocam trilhos para a estação de trem de alta velocidade em Bandung Foto: Ulet Ifansasti/The New York Times - 9/12/2022

Atualmente o projeto está três anos atrasado, e o custo excedente pode ser de até US$ 1,9 bilhão, de acordo com a firma de pesquisas Katadata, de Jacarta. Um acordo de refinanciamento que o governo indonésio discute com Pequim deverá resultar em uma participação maior da China na posse do sistema ferroviário, de 40% para 60%, afirmou Basri.

Uma viagem teste para exibir o trem durante a reunião do Grupo dos 20, em novembro, com Xi e Joko a bordo, foi cancelada. Uma combinação completa de vagões novos enviados da China está guardados em um hangar.

Conforme Washington trabalha para aprofundar relações na Ásia para se opor à influência chinesa, a Indonésia permanece cautelosa, com cuidado para não enfurecer Pequim.

Para grande desgosto do governo Biden, a Indonésia se opôs fortemente ao plano dos EUA de fornecer à Austrália, sua aliada, submarinos nucleares. Autoridades indonésias afirmaram que querem uma zona livre de energia nuclear em torno de seu território. Essas embarcações teriam de atravessar águas indonésias na hipótese de uma batalha entre EUA e China por Taiwan.

“Nós permaneceríamos neutros” em um conflito EUA-China por Taiwan, afirmou Santo Darmosumarto, diretor para assuntos do Leste da Ásia e Pacífico do Ministério de Relações Exteriores da Indonésia.

Armas

A neutralidade da Indonésia complica esforços de Washington em expansão de fazer face à China na Ásia, afirmou o estrategista de defesa australiano Hugh White. “Militarmente, acesso a bases na Indonésia seria um grande recurso para as forças americanas em uma guerra por Taiwan, mas isso não ocorrerá”, afirmou White.

Em agosto, as Forças Armadas da Indonésia participaram com militares dos EUA de um exercício ar-terra-mar multinacional. Mas à medida que as armas indonésias, a maioria fabricada na Rússia, envelhecem, comprar novos armamentos dos EUA parece improvável. Enquanto isso, em fevereiro do ano passado a Indonésia comprou 42 caças de combate Rafale da França.

Semanas depois de Austin, o secretário de Defesa americano, deixar a Indonésia, em novembro, o governo do país decidiu não comprar caças de combate F-15 citando razões orçamentárias, de acordo com duas autoridades do governo Biden cientes das discussões. As autoridades disseram ter escutado que o custo era elevado demais dado o foco da Indonésia em sua agenda doméstica.

Austin saiu da Indonésia com ganhos exíguos: alguns programas de treinamento adicionais nos EUA para estudantes militares indonésios. Eles também treinam na Rússia e na China. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Quando o secretário da Defesa americano, Lloyd Austin, visitou a Indonésia, em novembro, ele pressionou seu homólogo no país a respeito de um contrato de compra de 36 caças de combate de fabricação americana. E deixou a Indonésia sem alcançar um acordo.

Dias antes, a mesma autoridade indonésia, Prabowo Subianto, encontrou-se com o ministro da Defesa da China, e seus países prometeram retomar exercícios militares conjuntos.

Localizada no extremo sul do Mar do Sul da China, a Indonésia, uma nação rica em recursos com uma economia de trilhões de dólares em rápido crescimento e uma enorme população, é um importante trunfo na batalha geopolítica entre Washington e Pequim por influência na Ásia. E sua localização estratégica, com cerca de 17 mil ilhas estendendo-se por milhares de quilômetros de uma via marítima vital, é uma necessidade em defesa à medida que ambos os lados se preparam para um possível conflito por Taiwan, a ilha democrática que a China alega possuir. No cortejo à Indonésia, Pequim parece cada vez mais em vantagem.

O secretário de Defesa americano, Lloyd Austin (D) é recebido pelo ministro da Defesa da Indonésia, Prabowo Subianto, em Jakarta Foto: Adek Berry/AFP - 21/11/2022

Os chineses forneceram aos indonésios investimentos consideráveis para conquistar uma população apreensiva, injetando bilhões de dólares na exploração das maiores reservas de níquel do mundo e providenciando envios de vacinas contra a covid-19 em um momento crítico. Os chineses têm sido um dos principais parceiros no esforço da Indonésia de desenvolvimento de infraestrutura, incluindo a construção de um trem de alta velocidade, ainda que em um projeto atrasado e de orçamento estourado.

A China investiu mais de US$ 5 bilhões (mais de R$ 25 bilhões) na Indonésia nos primeiros nove meses de 2022, enquanto os EUA investiram cerca de US$ 2 bilhões (cerca de R$ 10 bilhões).

“Eles nunca dão ordens, jamais”, afirmou a respeito dos chineses o ministro indonésio que coordena assuntos marítimos e de investimentos, Luhut Pandjaitan, durante uma entrevista recente.

Pandjaitan disse que autoridades americanas com frequência aparecem com uma lista de condições onerosas antes de algum investimento poder ser aprovado. “Eu falei isso para Washington: ‘da maneira que vocês negociam com a gente, podem esquecer’”, afirmou Pandjaitan, que é também o principal assessor do líder da Indonésia, Joko Widodo.

Aliada

A Indonésia, por sua vez, tem retribuído à China. A nação de maioria islâmica votou a favor da posição da China nas Nações Unidas em relação à perseguição chinesa aos uigures, um grupo majoritariamente islâmico. Nos corredores do principal bloco regional, a Associação de Nações do Sudeste Asiático, diplomatas afirmam que a Indonésia é defensora consistente do envolvimento irrestrito da China com os 10 Estados-membros.

Joko gosta de afirmar que continua independente em relação à influência de ambos os países. Mas ele e seu alto-escalão têm demonstrado uma afinidade especial pelo líder chinês, Xi Jinping.

Um mês depois de Joko chegar ao poder, em outubro de 2014, ele foi a Pequim em sua primeira viagem ao exterior. Desde então, Joko se encontrou cara a cara com Xi oito vezes; e esteve apenas em quatro ocasiões, no total, com o ex-presidente Donald Trump ou o presidente Joe Biden, de acordo com o porta-voz do ministério indonésio de Relações Exteriores, Teuku Faizasyah.

Presidente da Indonésia, Joko Widodo (D), recebe o líder chinês, Xi Jinping, para a cúpula do G-20 em Nusa Dua, um resort em Bali Foto: Achmad Ibrahim/AFP 16/11/2022

Em parte, a calidez indonésia em relação à China tem como base a confluência dos interesses políticos de seus líderes. Desde que assumiu a presidência, Joko tornou infraestrutura um tema recorrente em seu mandato, e Xi coloca investimentos em infraestrutura no cerne de sua estratégia diplomática. Durante sua primeira visita a Pequim, Joko foi apresentado ao trem de alta velocidade em um trajeto da capital chinesa até Tianjin, uma cidade portuária, e, em outubro de 2015, assinou um contrato multibilionário com a China para construir um na Indonésia.

Historicamente, a Indonésia tem demonstrado um sentimento anti-China. Em 1965, turbas compostas de militares, paramilitares e grupos religiosos atacaram o Partido Comunista da Indonésia, o maior fora da China. As turbas mataram pelo menos meio milhão de pessoas, incluindo de etnia chinesa. Generais linha-dura acusaram Pequim de estar por trás de uma tentativa de golpe de Estado que eles afirmaram ter sido organizada pelo Partido Comunista indonésio. Como resultado, as relações entre Indonésia e China ficaram congeladas por décadas.

As memórias da matança permanecem, e o embaixador chinês na Indonésia, Lu Kang, ex-porta-voz do Ministério de Relações Exteriores em Pequim, parece ter cuidado em não alimentar suspeitas que ardem a fogo lento, optando por carícias diplomáticas em vez de jactâncias nacionalistas nas redes sociais. Em sua conta no Twitter, Lu exibe suas viagens às suaves paisagens de Bali e imagens amistosas do ex-primeiro-ministro chinês Zhou Enlai visitando a Indonésia em 1955, antes das tensões emergirem.

“A China é de longe a parceira comercial número 1, a investidora estrangeira número 1 e, antes da pandemia, era a fonte número 1 de turistas internacionais”, afirmou Tom Lembong, que foi ministro do comércio e do investimento durante os primeiros anos do mandato de Joko. “Muitas elites empresariais e políticas da Indonésia consideram a China a superpotência relevante e os EUA em relativo declínio — e geograficamente distantes.”

Pandemia

Em menos de uma década, a China estreitou laços com a Indonésia, em muitos casos competindo diretamente com os EUA. A empresa chinesa Tsingshan domina a mineração de níquel no país, por exemplo, e a China também está construindo termoelétricas a carvão e processando níquel bruto em formas utilizáveis em aço inoxidável e baterias de veículos elétricos. Ao fazer isso, a China respondeu a um pedido de Joko por mais processamento de matéria-prima dentro da Indonésia, criando produtos de mais valor a partir do níquel, apesar de preocupações ambientais maiores.

A Indonésia, atingida com força pela pandemia de covid-19, também pôde garantir envios de vacinas chinesas anteriormente. Na época, o ex-presidente Trump deixava claro que os americanos seriam vacinados antes dos imunizantes de fabricação americana serem exportados.

No início de dezembro de 2020, o primeiro avião carregado com vacinas Sinovac, fabricadas na China, aterrissou na Indonésia. Imagens da chegada dos imunizantes apareceram nas TVs de todo o país. Os clérigos muçulmanos da Indonésia concederam certificação halal para as vacinas.

Ainda assim, a relação entre China e Indonésia não prescinde de desafios. Quando a Indonésia anunciou que a China compraria um trem de alta velocidade e uma linha ferroviária de 140 quilômetros entre Jacarta e Bandung, uma capital provincial, a conclusão do projeto foi prometida para 2019.

Mas as finanças do projeto não faziam sentido desde o início, afirmou Faisal Basri, economista proeminente da Universidade da Indonésia e crítico em relação ao projeto. As vendas de passagens não gerariam receita suficiente, as terras estavam proibitivamente caras e a estação final ficaria a quilômetros de Bandung, forçando os passageiros a completar suas viagens com outros meios de transporte.

Trabalhadores colocam trilhos para a estação de trem de alta velocidade em Bandung Foto: Ulet Ifansasti/The New York Times - 9/12/2022

Atualmente o projeto está três anos atrasado, e o custo excedente pode ser de até US$ 1,9 bilhão, de acordo com a firma de pesquisas Katadata, de Jacarta. Um acordo de refinanciamento que o governo indonésio discute com Pequim deverá resultar em uma participação maior da China na posse do sistema ferroviário, de 40% para 60%, afirmou Basri.

Uma viagem teste para exibir o trem durante a reunião do Grupo dos 20, em novembro, com Xi e Joko a bordo, foi cancelada. Uma combinação completa de vagões novos enviados da China está guardados em um hangar.

Conforme Washington trabalha para aprofundar relações na Ásia para se opor à influência chinesa, a Indonésia permanece cautelosa, com cuidado para não enfurecer Pequim.

Para grande desgosto do governo Biden, a Indonésia se opôs fortemente ao plano dos EUA de fornecer à Austrália, sua aliada, submarinos nucleares. Autoridades indonésias afirmaram que querem uma zona livre de energia nuclear em torno de seu território. Essas embarcações teriam de atravessar águas indonésias na hipótese de uma batalha entre EUA e China por Taiwan.

“Nós permaneceríamos neutros” em um conflito EUA-China por Taiwan, afirmou Santo Darmosumarto, diretor para assuntos do Leste da Ásia e Pacífico do Ministério de Relações Exteriores da Indonésia.

Armas

A neutralidade da Indonésia complica esforços de Washington em expansão de fazer face à China na Ásia, afirmou o estrategista de defesa australiano Hugh White. “Militarmente, acesso a bases na Indonésia seria um grande recurso para as forças americanas em uma guerra por Taiwan, mas isso não ocorrerá”, afirmou White.

Em agosto, as Forças Armadas da Indonésia participaram com militares dos EUA de um exercício ar-terra-mar multinacional. Mas à medida que as armas indonésias, a maioria fabricada na Rússia, envelhecem, comprar novos armamentos dos EUA parece improvável. Enquanto isso, em fevereiro do ano passado a Indonésia comprou 42 caças de combate Rafale da França.

Semanas depois de Austin, o secretário de Defesa americano, deixar a Indonésia, em novembro, o governo do país decidiu não comprar caças de combate F-15 citando razões orçamentárias, de acordo com duas autoridades do governo Biden cientes das discussões. As autoridades disseram ter escutado que o custo era elevado demais dado o foco da Indonésia em sua agenda doméstica.

Austin saiu da Indonésia com ganhos exíguos: alguns programas de treinamento adicionais nos EUA para estudantes militares indonésios. Eles também treinam na Rússia e na China. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Quando o secretário da Defesa americano, Lloyd Austin, visitou a Indonésia, em novembro, ele pressionou seu homólogo no país a respeito de um contrato de compra de 36 caças de combate de fabricação americana. E deixou a Indonésia sem alcançar um acordo.

Dias antes, a mesma autoridade indonésia, Prabowo Subianto, encontrou-se com o ministro da Defesa da China, e seus países prometeram retomar exercícios militares conjuntos.

Localizada no extremo sul do Mar do Sul da China, a Indonésia, uma nação rica em recursos com uma economia de trilhões de dólares em rápido crescimento e uma enorme população, é um importante trunfo na batalha geopolítica entre Washington e Pequim por influência na Ásia. E sua localização estratégica, com cerca de 17 mil ilhas estendendo-se por milhares de quilômetros de uma via marítima vital, é uma necessidade em defesa à medida que ambos os lados se preparam para um possível conflito por Taiwan, a ilha democrática que a China alega possuir. No cortejo à Indonésia, Pequim parece cada vez mais em vantagem.

O secretário de Defesa americano, Lloyd Austin (D) é recebido pelo ministro da Defesa da Indonésia, Prabowo Subianto, em Jakarta Foto: Adek Berry/AFP - 21/11/2022

Os chineses forneceram aos indonésios investimentos consideráveis para conquistar uma população apreensiva, injetando bilhões de dólares na exploração das maiores reservas de níquel do mundo e providenciando envios de vacinas contra a covid-19 em um momento crítico. Os chineses têm sido um dos principais parceiros no esforço da Indonésia de desenvolvimento de infraestrutura, incluindo a construção de um trem de alta velocidade, ainda que em um projeto atrasado e de orçamento estourado.

A China investiu mais de US$ 5 bilhões (mais de R$ 25 bilhões) na Indonésia nos primeiros nove meses de 2022, enquanto os EUA investiram cerca de US$ 2 bilhões (cerca de R$ 10 bilhões).

“Eles nunca dão ordens, jamais”, afirmou a respeito dos chineses o ministro indonésio que coordena assuntos marítimos e de investimentos, Luhut Pandjaitan, durante uma entrevista recente.

Pandjaitan disse que autoridades americanas com frequência aparecem com uma lista de condições onerosas antes de algum investimento poder ser aprovado. “Eu falei isso para Washington: ‘da maneira que vocês negociam com a gente, podem esquecer’”, afirmou Pandjaitan, que é também o principal assessor do líder da Indonésia, Joko Widodo.

Aliada

A Indonésia, por sua vez, tem retribuído à China. A nação de maioria islâmica votou a favor da posição da China nas Nações Unidas em relação à perseguição chinesa aos uigures, um grupo majoritariamente islâmico. Nos corredores do principal bloco regional, a Associação de Nações do Sudeste Asiático, diplomatas afirmam que a Indonésia é defensora consistente do envolvimento irrestrito da China com os 10 Estados-membros.

Joko gosta de afirmar que continua independente em relação à influência de ambos os países. Mas ele e seu alto-escalão têm demonstrado uma afinidade especial pelo líder chinês, Xi Jinping.

Um mês depois de Joko chegar ao poder, em outubro de 2014, ele foi a Pequim em sua primeira viagem ao exterior. Desde então, Joko se encontrou cara a cara com Xi oito vezes; e esteve apenas em quatro ocasiões, no total, com o ex-presidente Donald Trump ou o presidente Joe Biden, de acordo com o porta-voz do ministério indonésio de Relações Exteriores, Teuku Faizasyah.

Presidente da Indonésia, Joko Widodo (D), recebe o líder chinês, Xi Jinping, para a cúpula do G-20 em Nusa Dua, um resort em Bali Foto: Achmad Ibrahim/AFP 16/11/2022

Em parte, a calidez indonésia em relação à China tem como base a confluência dos interesses políticos de seus líderes. Desde que assumiu a presidência, Joko tornou infraestrutura um tema recorrente em seu mandato, e Xi coloca investimentos em infraestrutura no cerne de sua estratégia diplomática. Durante sua primeira visita a Pequim, Joko foi apresentado ao trem de alta velocidade em um trajeto da capital chinesa até Tianjin, uma cidade portuária, e, em outubro de 2015, assinou um contrato multibilionário com a China para construir um na Indonésia.

Historicamente, a Indonésia tem demonstrado um sentimento anti-China. Em 1965, turbas compostas de militares, paramilitares e grupos religiosos atacaram o Partido Comunista da Indonésia, o maior fora da China. As turbas mataram pelo menos meio milhão de pessoas, incluindo de etnia chinesa. Generais linha-dura acusaram Pequim de estar por trás de uma tentativa de golpe de Estado que eles afirmaram ter sido organizada pelo Partido Comunista indonésio. Como resultado, as relações entre Indonésia e China ficaram congeladas por décadas.

As memórias da matança permanecem, e o embaixador chinês na Indonésia, Lu Kang, ex-porta-voz do Ministério de Relações Exteriores em Pequim, parece ter cuidado em não alimentar suspeitas que ardem a fogo lento, optando por carícias diplomáticas em vez de jactâncias nacionalistas nas redes sociais. Em sua conta no Twitter, Lu exibe suas viagens às suaves paisagens de Bali e imagens amistosas do ex-primeiro-ministro chinês Zhou Enlai visitando a Indonésia em 1955, antes das tensões emergirem.

“A China é de longe a parceira comercial número 1, a investidora estrangeira número 1 e, antes da pandemia, era a fonte número 1 de turistas internacionais”, afirmou Tom Lembong, que foi ministro do comércio e do investimento durante os primeiros anos do mandato de Joko. “Muitas elites empresariais e políticas da Indonésia consideram a China a superpotência relevante e os EUA em relativo declínio — e geograficamente distantes.”

Pandemia

Em menos de uma década, a China estreitou laços com a Indonésia, em muitos casos competindo diretamente com os EUA. A empresa chinesa Tsingshan domina a mineração de níquel no país, por exemplo, e a China também está construindo termoelétricas a carvão e processando níquel bruto em formas utilizáveis em aço inoxidável e baterias de veículos elétricos. Ao fazer isso, a China respondeu a um pedido de Joko por mais processamento de matéria-prima dentro da Indonésia, criando produtos de mais valor a partir do níquel, apesar de preocupações ambientais maiores.

A Indonésia, atingida com força pela pandemia de covid-19, também pôde garantir envios de vacinas chinesas anteriormente. Na época, o ex-presidente Trump deixava claro que os americanos seriam vacinados antes dos imunizantes de fabricação americana serem exportados.

No início de dezembro de 2020, o primeiro avião carregado com vacinas Sinovac, fabricadas na China, aterrissou na Indonésia. Imagens da chegada dos imunizantes apareceram nas TVs de todo o país. Os clérigos muçulmanos da Indonésia concederam certificação halal para as vacinas.

Ainda assim, a relação entre China e Indonésia não prescinde de desafios. Quando a Indonésia anunciou que a China compraria um trem de alta velocidade e uma linha ferroviária de 140 quilômetros entre Jacarta e Bandung, uma capital provincial, a conclusão do projeto foi prometida para 2019.

Mas as finanças do projeto não faziam sentido desde o início, afirmou Faisal Basri, economista proeminente da Universidade da Indonésia e crítico em relação ao projeto. As vendas de passagens não gerariam receita suficiente, as terras estavam proibitivamente caras e a estação final ficaria a quilômetros de Bandung, forçando os passageiros a completar suas viagens com outros meios de transporte.

Trabalhadores colocam trilhos para a estação de trem de alta velocidade em Bandung Foto: Ulet Ifansasti/The New York Times - 9/12/2022

Atualmente o projeto está três anos atrasado, e o custo excedente pode ser de até US$ 1,9 bilhão, de acordo com a firma de pesquisas Katadata, de Jacarta. Um acordo de refinanciamento que o governo indonésio discute com Pequim deverá resultar em uma participação maior da China na posse do sistema ferroviário, de 40% para 60%, afirmou Basri.

Uma viagem teste para exibir o trem durante a reunião do Grupo dos 20, em novembro, com Xi e Joko a bordo, foi cancelada. Uma combinação completa de vagões novos enviados da China está guardados em um hangar.

Conforme Washington trabalha para aprofundar relações na Ásia para se opor à influência chinesa, a Indonésia permanece cautelosa, com cuidado para não enfurecer Pequim.

Para grande desgosto do governo Biden, a Indonésia se opôs fortemente ao plano dos EUA de fornecer à Austrália, sua aliada, submarinos nucleares. Autoridades indonésias afirmaram que querem uma zona livre de energia nuclear em torno de seu território. Essas embarcações teriam de atravessar águas indonésias na hipótese de uma batalha entre EUA e China por Taiwan.

“Nós permaneceríamos neutros” em um conflito EUA-China por Taiwan, afirmou Santo Darmosumarto, diretor para assuntos do Leste da Ásia e Pacífico do Ministério de Relações Exteriores da Indonésia.

Armas

A neutralidade da Indonésia complica esforços de Washington em expansão de fazer face à China na Ásia, afirmou o estrategista de defesa australiano Hugh White. “Militarmente, acesso a bases na Indonésia seria um grande recurso para as forças americanas em uma guerra por Taiwan, mas isso não ocorrerá”, afirmou White.

Em agosto, as Forças Armadas da Indonésia participaram com militares dos EUA de um exercício ar-terra-mar multinacional. Mas à medida que as armas indonésias, a maioria fabricada na Rússia, envelhecem, comprar novos armamentos dos EUA parece improvável. Enquanto isso, em fevereiro do ano passado a Indonésia comprou 42 caças de combate Rafale da França.

Semanas depois de Austin, o secretário de Defesa americano, deixar a Indonésia, em novembro, o governo do país decidiu não comprar caças de combate F-15 citando razões orçamentárias, de acordo com duas autoridades do governo Biden cientes das discussões. As autoridades disseram ter escutado que o custo era elevado demais dado o foco da Indonésia em sua agenda doméstica.

Austin saiu da Indonésia com ganhos exíguos: alguns programas de treinamento adicionais nos EUA para estudantes militares indonésios. Eles também treinam na Rússia e na China. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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