LIMA ― Empossada como presidente do Peru após a tentativa frustrada de golpe Estado de Pedro Castillo, a advogada Dina Boluarte deve apresentar os nomes de seu primeiro gabinete ministerial nesta quinta-feira, 8, enquanto um cenário de incerteza toma conta da política nacional.
Primeira mulher a alcançar a Presidência do país, Dina pediu uma trégua à oposição para tentar superar a profunda crise institucional e montar sua equipe, um passo importante que permitirá sentir a orientação do novo governo. Diante de um Parlamento hostil, dominado pela direita, as decisões iniciais da nova presidente serão cruciais para saber se ela vai concretizar o objetivo de governar ou se será obrigada a recuar e convocar eleições gerais antecipadas.
No primeiro discurso como chefe de Estado, Dina pediu a “unidade nacional” e fez um apelo para que os partidos deixem de lado as ideologias, uma referência tácita ao confronto que marcou a relação entre o governo do esquerdista Castillo e o Congresso, dominado pela direita. Ela também condenou a tentativa de Castillo de romper com a ordem democrática.
“Houve uma tentativa de golpe de Estado... que não encontrou eco nas instituições da democracia e nas ruas. Este Congresso da República tomou uma decisão e é meu dever agir de acordo. Assumo o cargo de presidente da república consciente da enorme responsabilidade que me recai e minha primeira invocação... é convocar a mais ampla unidade de todos os peruanos”, afirmou Boluarte.
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Depois fez um aceno à Organização dos Estados Americanos (OEA): “Faço um pedido muito concreto à representação nacional, solicito uma trégua política para instalar um governo de unidade nacional”. Em 1º de dezembro, uma missão da OEA que monitora a crise política peruana solicitou uma trégua de 100 dias entre o Executivo e o Legislativo, o que não aconteceu.
Embora tenha sido confirmada no cargo, analistas e políticos peruanos consideram a continuidade de Dina no cargo difícil. Sem bancada própria no Congresso, alguns consideram que a presidente enfrenta uma situação de fragilidade muito similar à vivida entre 2018 e 2020 pelo então presidente Martín Vizcarra, que acabou perdendo o cargo.
“Não tem bancada no Congresso, está sozinha”, advertiu o ex-presidente Ollanta Humala na quarta-feira em entrevista ao Canal N. “Ela não tem as ferramentas para governar, deve convocar eleições antecipadas, pode ser renunciando para que o presidente do Congresso assuma e antecipe as eleições”, acrescentou Humala, que governou o país de 2011 a 2016.
O ex-presidente expressou ceticismo sobre o futuro do governo de Boluarte. “O que acontece hoje é uma trégua que vai durar um mês ou talvez mais, mas depois aparecerão os grandes problemas do país”, disse.
“Desejo que a sua gestão seja cumprida no respeito às instituições democráticas, à separação de poderes e ao desenvolvimento do nosso país”, tuitou a líder de direita Keiko Fujimori. “Desejamos sucesso na formação de um governo de unidade nacional”, acrescentou.
A filha do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000) afirmou que seu partido, Força Popular, a principal minoria do Congresso, apoiará a nova presidente.
Dina Boluarte pode ter a seu favor o enorme descrédito do Congresso, marcado por escândalos de corrupção. O Parlamento tem índice de rejeição de 86% nas pesquisas recentes./ Com AFP