Uma assessora da família real britânica pediu afastamento nesta quarta-feira, 30, após fazer comentários racistas sobre as origens de uma ativista negra. O caso aconteceu durante uma recepção no Palácio de Buckingham e mergulhou a Casa Real em um novo episódio de racismo. O nome da assessora não foi divulgado, mas segundo a imprensa britânica e americana se trata de Lady Susan Hussey, de 83 anos, madrinha do príncipe William.
Em nota, o palácio real afirmou que o incidente, ocorrido nesta terça-feira, 29, foi levado “extremamente a sério”. “Foram feitos comentários inaceitáveis e realmente lamentáveis”, disse o palácio em nota. “A pessoa em questão deseja expressar as mais profundas desculpas e deixou sua função honorária com efeito imediato”.
Embora a instituição tenha sido cobrada várias vezes nos últimos anos por questões raciais, este é o primeiro caso que afeta o reinado de Charles III, de 74 anos, que assumiu o trono em setembro após a morte da rainha Elizabeth II. O caso coincide com o início da primeira viagem de William, de 40 anos, como príncipe-herdeiro. William está nos Estados Unidos, onde moram desde 2020 o irmão Harry e a cunhada, a ex-atriz Meghan Markle.
Harry e Meghan deixaram o Reino Unido e a família real após alegarem que foram alvos de comentários racistas, devido à origem mestiça de Meghan. O caso aconteceu durante o reinado de Elizabeth II e teve grande repercussão.
Nos Estados Unidos, William e a esposa, Catherine, se pronunciaram através de um porta-voz. “Acho que é importante esclarecer que o racismo não tem cabimento na nossa sociedade”, declarou o assessor em Boston, onde o príncipe está para entregar o prêmio Earthshot a projetos ecológicos inovadores.
Em 2021, após as alegações de racismo feitas por Harry e Meghan no programa da Oprah Winfrey, William reagiu com irritação e disse que a família real não era “racista em absoluto”. As alegações eram de que um dos membros da realeza demonstrava preocupação com a cor da pele dos filhos de Harry e Meghan.
Em entrevista à rede britânica Channel 4 na terça-feira, o chefe da divisão antiterrorista da polícia britânica, Neil Basu, afirmou que Meghan Markle sofreu ameaças de morte “repugnantes” de ultradireitistas no Reino Unido enquanto foi membro ativo da família real britânica. Harry criticou publicamente a cobertura sobre Meghan, de 41 anos, por parte da imprensa sensacionalista britânica e condenou o “racismo descarado dos trolls nas redes sociais e os comentários dos artigos na web”.
O caso
A diretora da organização de defesa das vítimas de violência de gênero Sistah Space, Ngozi Fulani, relatou que um membro da comitiva real lhe perguntou insistentemente sobre as suas origens durante uma recepção oferecida pela rainha consorte, Camilla, no Palácio de Buckingham.
No Twitter, Fulani afirmou que teve “sentimentos contraditórios” sobre a visita. Segundo ela, a assessora mexeu em seu cabelo dez minutos depois que ela chegou ao palácio para verificar a identificação que levava presa ao peito e perguntou de onde ela era. Após responder que havia nascido e crescido no Reino Unido, a assessora insistiu: “Não, mas de onde vem na África?”, “Mas de onde é realmente, de onde é seu povo?”, “Quando vieram pela primeira vez?”.
A diretora afirmou que não soube como reagir e disse ter ficado atordoada e sem palavras. “Não podia dizer isso à rainha consorte”, declarou.
Dama de companhia da rainha Elizabeth II
A assessora foi identificada pela imprensa britânica como Susan Hussey, de 83 anos. Madrinha de William, Hussey foi dama de companhia da rainha Elizabeth II durante décadas e uma de suas auxiliares de maior confiança. Ela esteve ao lado da monarca no veículo que a levou ao funeral do seu marido, Philip, em abril de 2021.
A rainha consorte Camilla suprimiu a figura das damas de companhia, mas Hussey foi mantida como membro da comitiva real. /AFP