SANTIAGO - Autoridades do Chile decretaram toque de recolher em quatro cidades da região de Valparaíso, entre elas o balneário turístico de Viña del Mar, em meio à piora dos incêndios florestais no país. Pelo menos 112 pessoas morreram desde sexta-feira. Autoridades locais pediram para moradores dos locais mais afetados deixarem suas casas com rapidez, à medida que as equipes de resgate têm dificuldades para combater as chamas.
“Devemos dizer que, com as informações que temos do Serviço Médico Legal há 112 pessoas mortas, 32 corpos identificados”, disse o subsecretário dessa pasta, Manuel Monsalve, em uma coletiva de imprensa com o comitê de emergência, que mantém “40 incêndios em combate”.
Mais de 1,6 mil pessoas estão desalojadas em Valparaíso e 200 estão desaparecidos. As autoridades locais já consideram esta a maior emergência natural desde o terremoto de 2010, que deixou 525 mortos e milhares de feridos no sul do país. Em um discurso transmitido pela televisão nacional, o presidente Gabriel Boric alertou que o número de mortos poderia piorar.
“Se você for orientado a evacuar, não hesite em fazê-lo”, disse Boric. “Os incêndios estão avançando rapidamente e as condições climáticas dificultaram o controle. Há altas temperaturas, ventos fortes e baixa umidade.”
Calor acima do normal
A ministra do Interior, Carolina Tohá, disse no sábado que 92 incêndios florestais estavam queimando no centro e no sul do país, onde as temperaturas têm sido excepcionalmente altas nesta semana.
Os incêndios mais mortais ocorreram na região de Valparaíso, onde as autoridades pediram a milhares de pessoas que evacuassem suas casas.
Enquanto isso, em áreas mais distantes dos incêndios, os moradores foram orientados a ficar em casa para que os carros de bombeiros, ambulâncias e outros veículos de emergência pudessem se deslocar pelas estradas com mais facilidade.
Tohá disse que dois incêndios próximos às cidades de Quilpué e Villa Alemana haviam queimado pelo menos 8 mil hectares desde sexta-feira. Um dos incêndios estava ameaçando a cidade turística litorânea de Viña del Mar, onde alguns bairros já haviam sido duramente atingidos.
Em Villa Independencia, um bairro em uma encosta no extremo leste da cidade, vários quarteirões de casas e empresas foram destruídos. Carros queimados com vidros quebrados se alinhavam nas ruas, que estavam cobertas de cinzas.
“Estou aqui há 32 anos e nunca imaginei que isso fosse acontecer”, disse Rolando Fernández, um dos moradores que perdeu sua casa.
Ele disse que viu pela primeira vez o fogo ardendo em uma colina próxima na sexta-feira à tarde e que, em 15 minutos, a área estava envolta em chamas e fumaça, forçando todos a correr para salvar suas vidas.
“Trabalhei minha vida inteira e agora fiquei sem nada”, disse Fernández.
Três abrigos foram montados na região de Valparaíso, e 19 helicópteros e mais de 450 bombeiros foram levados para a área para combater as chamas, disse Tohá.
Os incêndios estavam queimando em montanhas de difícil acesso, como os bairros construídos precariamente na orla de Viña del Mar.
As autoridades informaram que houve falta de energia elétrica em decorrência do incêndio, e Tohá disse que, na região de Valparaíso, quatro hospitais e três casas de repouso para idosos tiveram que ser evacuados. O incêndio também destruiu dois terminais de ônibus, informou o ministro do Interior.
O padrão climático El Niño causou secas e temperaturas mais altas do que o normal no oeste da América do Sul este ano, aumentando o risco de incêndios florestais. Em janeiro, mais de 17.000 hectares de florestas foram destruídos na Colômbia por incêndios que se seguiram a várias semanas de clima seco./AP, AFP e EFE