Número recorde de cubanos nos EUA supera anos de crises


Cerca de 177 mil cubanos, entre outubro de 2021 e julho deste ano, tentaram entrar em território americano

Por Fernanda Simas
Atualização:

HAVANA - De um lado, filas para comprar alimentos, crise energética e piora da situação social com a pandemia. Do outro, a suspensão da obrigatoriedade de visto por parte da Nicarágua e a facilidade para receber asilo nos Estados Unidos. Ligando as duas pontas, a agilidade da comunicação por meio das redes sociais. Isso levou o número de cubanos tentando entrar nos EUA ao recorde de 177.848 até agora no ano fiscal de 2022 (entre outubro de 2021 e julho de 2022).

Foi assim que Renan (nome fictício) deixou Cuba no início deste ano. Sozinho, foi até a Nicarágua, onde conseguiu entrar sem precisar de um visto e, de lá, partiu para o México e os EUA. Outros cubanos contaram ao Estadão que, desde o começo do ano, as formas e o momento de deixar a ilha têm sido temas de conversas nas ruas do centro de Havana. Isso se torna um desafio ao governo de Miguel Díaz-Canel e reforça a dificuldade do governo Joe Biden em lidar com o tema migratório.

Cubanos caminham por Havana; dificuldades econômicas aumentaram com a pandemia  Foto: EFE/Yander Zamora
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“Tenho um amigo que está fazendo um trajeto pela Sérvia até a Europa. Ontem (quarta-feira), ele chegou à Grécia. Outro se refugiou na Costa Rica após passar pela Nicarágua. E outros cubanos, como eu, ainda não tentaram por essas vias porque não querem se separar das famílias e buscam emigrar de forma legal. A cada dia, a gente descobre sobre mais pessoas próximas que conseguiram chegar aos EUA ou estão a caminho”, conta o irmão de Renan, Juan (nome fictício).

O número de cubanos às portas dos EUA de forma ilegal neste ano fiscal já é 4,5 vezes maior do que no ano fiscal anterior (entre outubro de 2020 e setembro de 2021) e analistas acreditam que deve continuar aumentando. “A piora da condição social e econômica, com a pandemia, mais a onda de protestos de 2021 são fatores que levaram à migração que estamos vendo agora”, explica Gabrielle Oliveira, professora em Harvard que realiza pesquisas com famílias de imigrantes.

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O cônsul de Cuba em São Paulo, Pedro Monzón, reconhece que a situação na ilha é complexa e avalia a saída dos cubanos. “A situação econômica está muito difícil. Trump adotou diversas medidas que nos prejudicaram. Além disso, ocorreu a pandemia, com falta de medicamentos, e agora temos uma crise internacional, com inflação alta, preços mais altos em todo o mundo. Aqui ninguém passa fome, mas estão se formando filas muito longas. E quando a situação econômica se aperta assim, as pessoas buscam uma forma de sair.”

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Monzón também confirma a dificuldade na área energética e atribui parte disso ao embargo americano. “Comprar petróleo está mais caro. Os EUA impuseram barreiras para a entrada de petróleo em Cuba e recentemente tivemos incêndios importantes em Matanzas, que queimou muito petróleo. Isso tudo tem um reflexo, mas o governo está continuamente procurando soluções.”

Maior êxodo cubano ocorreu após a revolução

O maior êxodo cubano em direção aos EUA ocorreu entre os anos 1959 e 1962, quando 248.100 cubanos deixaram a ilha após a vitória da Revolução Cubana. A migração de 2022 supera as ocorridas durante as crises de 1980 – quando o Porto de Mariel foi aberto para aqueles que desejassem sair da ilha e 124.800 cubanos foram em direção aos EUA entre abril e setembro – e de 1994, quando 30.900 cubanos deixaram a ilha entre agosto e setembro na crise dos balseiros.

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Monzón acredita que, com uma melhora da situação, muitos desses cubanos devem regressar. “Algum dia, quando a situação econômica melhorar, muitos vão voltar. Porque não foram por questões políticas”, diz o cônsul. Gabrielle Oliveria explica que essa movimentação ocorreu depois de 2013, por exemplo, com as políticas do ex-presidente Barack Obama.

“A mudança mais significativa e impactante com relação aos anos 1980 e 1994 foi o avanço na comunicação. Os celulares não eram tão usados, não existia Twitter, Facebook, Instagram, WhatsApp”, afirma o presidente do Conselho Econômico e Comercial EUA-Cuba, John Kavulich.

Gabrielle Oliveira lembra que os picos de nacionalidades dos imigrantes que chegam de forma irregular aos EUA – entre 2021 e 2022 foram registradas as chegadas massivas de haitianos e venezuelanos, por exemplo – indicam “que existe uma comunicação muito forte nessas redes imigrantes, nas quais as pessoas compartilham caminhos e momentos e estão com esperanças”, mas atribui o recorde cubano a outros fatores.

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Ela explica que a viagem de Cuba aos EUA pode chegar a US$ 10 mil e a migração de um país para outro vem aumentando desde 2021, mas o fato de a Nicarágua ter suspendido a necessidade de vistos aos cubanos facilitou a travessia, então “muitos cubanos que iam pela América do Sul ou faziam a travessia complicada por barco (até os EUA), podem agora ir pela Nicarágua.”

Cubanos são atraídos por tratamento diferenciado nos EUA

O outro ponto que atrai os cubanos aos EUA é o tratamento diferente que recebem em comparação a imigrantes de outras nacionalidades. “É considerado um exílio político, desde a Guerra Fria, com cubanos escolhendo os EUA como uma sociedade melhor. A probabilidade de eles conseguirem um green card ou cidadania é muito maior, eles não entram com medo de serem pegos”, diz Gabrielle Oliveira.

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Guardas na fronteira dos Estados Unidos com o México Foto: AFP PHOTO / US Air Force /SrA Alexandra Minor

Tecnicamente, os cubanos passam pelos mesmos procedimentos de outros imigrantes, mas por conta da política diferenciada, recebem, por exemplo, uma assistência financeira. São US$ 325 ao mês para os adultos e US$ 200 ao mês para as crianças, pelo período de três meses.

“Os EUA são o destino mais procurado porque podem regularizar sua situação em pouco tempo. Além disso, estão perto e podem ajudar suas famílias em Cuba. Agora, ir pela Nicarágua se transformou em um grande negócio, uma passagem pode custar até US$ 4 mil. Por isso, alguns cubanos estão optando por outros caminhos, como pela Europa”, conta Juan, que avalia como sair do país com a família. “Analisei todas as rotas, mas não concretizei nada porque somos eu, minha mulher e nossos dois filhos. Recebemos uma bolsa para estudar na Espanha, mas tivemos os vistos negados alegando que tínhamos pouco dinheiro para nos mantermos lá.”

Se esse é mais um desafio na política migratória de Joe Biden, também coloca em questão o governo do cubano Miguel Díaz-Canel. “A mensagem é que os cidadãos não confiam que ele possa liderar o país para uma vida melhor. O êxodo reforça a narrativa de que o governo de Cuba prefere manter políticas que falham, relacionamentos que falham”, explica Kavulich.

Segundo Monzón, o governo cubano está tomando providências e tem o apoio da população, mesmo depois dos grandes protestos de 2021. “Isso tudo (crise econômica e pandemia) criou o ambiente para as manifestações do ano passado, mas a população não se rebelou contra o governo. Estamos criando melhores condições em Cuba, a juventude está organizada para fazer campanhas para pedir que as pessoas não saiam do país”, afirmou.

HAVANA - De um lado, filas para comprar alimentos, crise energética e piora da situação social com a pandemia. Do outro, a suspensão da obrigatoriedade de visto por parte da Nicarágua e a facilidade para receber asilo nos Estados Unidos. Ligando as duas pontas, a agilidade da comunicação por meio das redes sociais. Isso levou o número de cubanos tentando entrar nos EUA ao recorde de 177.848 até agora no ano fiscal de 2022 (entre outubro de 2021 e julho de 2022).

Foi assim que Renan (nome fictício) deixou Cuba no início deste ano. Sozinho, foi até a Nicarágua, onde conseguiu entrar sem precisar de um visto e, de lá, partiu para o México e os EUA. Outros cubanos contaram ao Estadão que, desde o começo do ano, as formas e o momento de deixar a ilha têm sido temas de conversas nas ruas do centro de Havana. Isso se torna um desafio ao governo de Miguel Díaz-Canel e reforça a dificuldade do governo Joe Biden em lidar com o tema migratório.

Cubanos caminham por Havana; dificuldades econômicas aumentaram com a pandemia  Foto: EFE/Yander Zamora

“Tenho um amigo que está fazendo um trajeto pela Sérvia até a Europa. Ontem (quarta-feira), ele chegou à Grécia. Outro se refugiou na Costa Rica após passar pela Nicarágua. E outros cubanos, como eu, ainda não tentaram por essas vias porque não querem se separar das famílias e buscam emigrar de forma legal. A cada dia, a gente descobre sobre mais pessoas próximas que conseguiram chegar aos EUA ou estão a caminho”, conta o irmão de Renan, Juan (nome fictício).

O número de cubanos às portas dos EUA de forma ilegal neste ano fiscal já é 4,5 vezes maior do que no ano fiscal anterior (entre outubro de 2020 e setembro de 2021) e analistas acreditam que deve continuar aumentando. “A piora da condição social e econômica, com a pandemia, mais a onda de protestos de 2021 são fatores que levaram à migração que estamos vendo agora”, explica Gabrielle Oliveira, professora em Harvard que realiza pesquisas com famílias de imigrantes.

O cônsul de Cuba em São Paulo, Pedro Monzón, reconhece que a situação na ilha é complexa e avalia a saída dos cubanos. “A situação econômica está muito difícil. Trump adotou diversas medidas que nos prejudicaram. Além disso, ocorreu a pandemia, com falta de medicamentos, e agora temos uma crise internacional, com inflação alta, preços mais altos em todo o mundo. Aqui ninguém passa fome, mas estão se formando filas muito longas. E quando a situação econômica se aperta assim, as pessoas buscam uma forma de sair.”

Monzón também confirma a dificuldade na área energética e atribui parte disso ao embargo americano. “Comprar petróleo está mais caro. Os EUA impuseram barreiras para a entrada de petróleo em Cuba e recentemente tivemos incêndios importantes em Matanzas, que queimou muito petróleo. Isso tudo tem um reflexo, mas o governo está continuamente procurando soluções.”

Maior êxodo cubano ocorreu após a revolução

O maior êxodo cubano em direção aos EUA ocorreu entre os anos 1959 e 1962, quando 248.100 cubanos deixaram a ilha após a vitória da Revolução Cubana. A migração de 2022 supera as ocorridas durante as crises de 1980 – quando o Porto de Mariel foi aberto para aqueles que desejassem sair da ilha e 124.800 cubanos foram em direção aos EUA entre abril e setembro – e de 1994, quando 30.900 cubanos deixaram a ilha entre agosto e setembro na crise dos balseiros.

Monzón acredita que, com uma melhora da situação, muitos desses cubanos devem regressar. “Algum dia, quando a situação econômica melhorar, muitos vão voltar. Porque não foram por questões políticas”, diz o cônsul. Gabrielle Oliveria explica que essa movimentação ocorreu depois de 2013, por exemplo, com as políticas do ex-presidente Barack Obama.

“A mudança mais significativa e impactante com relação aos anos 1980 e 1994 foi o avanço na comunicação. Os celulares não eram tão usados, não existia Twitter, Facebook, Instagram, WhatsApp”, afirma o presidente do Conselho Econômico e Comercial EUA-Cuba, John Kavulich.

Gabrielle Oliveira lembra que os picos de nacionalidades dos imigrantes que chegam de forma irregular aos EUA – entre 2021 e 2022 foram registradas as chegadas massivas de haitianos e venezuelanos, por exemplo – indicam “que existe uma comunicação muito forte nessas redes imigrantes, nas quais as pessoas compartilham caminhos e momentos e estão com esperanças”, mas atribui o recorde cubano a outros fatores.

Ela explica que a viagem de Cuba aos EUA pode chegar a US$ 10 mil e a migração de um país para outro vem aumentando desde 2021, mas o fato de a Nicarágua ter suspendido a necessidade de vistos aos cubanos facilitou a travessia, então “muitos cubanos que iam pela América do Sul ou faziam a travessia complicada por barco (até os EUA), podem agora ir pela Nicarágua.”

Cubanos são atraídos por tratamento diferenciado nos EUA

O outro ponto que atrai os cubanos aos EUA é o tratamento diferente que recebem em comparação a imigrantes de outras nacionalidades. “É considerado um exílio político, desde a Guerra Fria, com cubanos escolhendo os EUA como uma sociedade melhor. A probabilidade de eles conseguirem um green card ou cidadania é muito maior, eles não entram com medo de serem pegos”, diz Gabrielle Oliveira.

Guardas na fronteira dos Estados Unidos com o México Foto: AFP PHOTO / US Air Force /SrA Alexandra Minor

Tecnicamente, os cubanos passam pelos mesmos procedimentos de outros imigrantes, mas por conta da política diferenciada, recebem, por exemplo, uma assistência financeira. São US$ 325 ao mês para os adultos e US$ 200 ao mês para as crianças, pelo período de três meses.

“Os EUA são o destino mais procurado porque podem regularizar sua situação em pouco tempo. Além disso, estão perto e podem ajudar suas famílias em Cuba. Agora, ir pela Nicarágua se transformou em um grande negócio, uma passagem pode custar até US$ 4 mil. Por isso, alguns cubanos estão optando por outros caminhos, como pela Europa”, conta Juan, que avalia como sair do país com a família. “Analisei todas as rotas, mas não concretizei nada porque somos eu, minha mulher e nossos dois filhos. Recebemos uma bolsa para estudar na Espanha, mas tivemos os vistos negados alegando que tínhamos pouco dinheiro para nos mantermos lá.”

Se esse é mais um desafio na política migratória de Joe Biden, também coloca em questão o governo do cubano Miguel Díaz-Canel. “A mensagem é que os cidadãos não confiam que ele possa liderar o país para uma vida melhor. O êxodo reforça a narrativa de que o governo de Cuba prefere manter políticas que falham, relacionamentos que falham”, explica Kavulich.

Segundo Monzón, o governo cubano está tomando providências e tem o apoio da população, mesmo depois dos grandes protestos de 2021. “Isso tudo (crise econômica e pandemia) criou o ambiente para as manifestações do ano passado, mas a população não se rebelou contra o governo. Estamos criando melhores condições em Cuba, a juventude está organizada para fazer campanhas para pedir que as pessoas não saiam do país”, afirmou.

HAVANA - De um lado, filas para comprar alimentos, crise energética e piora da situação social com a pandemia. Do outro, a suspensão da obrigatoriedade de visto por parte da Nicarágua e a facilidade para receber asilo nos Estados Unidos. Ligando as duas pontas, a agilidade da comunicação por meio das redes sociais. Isso levou o número de cubanos tentando entrar nos EUA ao recorde de 177.848 até agora no ano fiscal de 2022 (entre outubro de 2021 e julho de 2022).

Foi assim que Renan (nome fictício) deixou Cuba no início deste ano. Sozinho, foi até a Nicarágua, onde conseguiu entrar sem precisar de um visto e, de lá, partiu para o México e os EUA. Outros cubanos contaram ao Estadão que, desde o começo do ano, as formas e o momento de deixar a ilha têm sido temas de conversas nas ruas do centro de Havana. Isso se torna um desafio ao governo de Miguel Díaz-Canel e reforça a dificuldade do governo Joe Biden em lidar com o tema migratório.

Cubanos caminham por Havana; dificuldades econômicas aumentaram com a pandemia  Foto: EFE/Yander Zamora

“Tenho um amigo que está fazendo um trajeto pela Sérvia até a Europa. Ontem (quarta-feira), ele chegou à Grécia. Outro se refugiou na Costa Rica após passar pela Nicarágua. E outros cubanos, como eu, ainda não tentaram por essas vias porque não querem se separar das famílias e buscam emigrar de forma legal. A cada dia, a gente descobre sobre mais pessoas próximas que conseguiram chegar aos EUA ou estão a caminho”, conta o irmão de Renan, Juan (nome fictício).

O número de cubanos às portas dos EUA de forma ilegal neste ano fiscal já é 4,5 vezes maior do que no ano fiscal anterior (entre outubro de 2020 e setembro de 2021) e analistas acreditam que deve continuar aumentando. “A piora da condição social e econômica, com a pandemia, mais a onda de protestos de 2021 são fatores que levaram à migração que estamos vendo agora”, explica Gabrielle Oliveira, professora em Harvard que realiza pesquisas com famílias de imigrantes.

O cônsul de Cuba em São Paulo, Pedro Monzón, reconhece que a situação na ilha é complexa e avalia a saída dos cubanos. “A situação econômica está muito difícil. Trump adotou diversas medidas que nos prejudicaram. Além disso, ocorreu a pandemia, com falta de medicamentos, e agora temos uma crise internacional, com inflação alta, preços mais altos em todo o mundo. Aqui ninguém passa fome, mas estão se formando filas muito longas. E quando a situação econômica se aperta assim, as pessoas buscam uma forma de sair.”

Monzón também confirma a dificuldade na área energética e atribui parte disso ao embargo americano. “Comprar petróleo está mais caro. Os EUA impuseram barreiras para a entrada de petróleo em Cuba e recentemente tivemos incêndios importantes em Matanzas, que queimou muito petróleo. Isso tudo tem um reflexo, mas o governo está continuamente procurando soluções.”

Maior êxodo cubano ocorreu após a revolução

O maior êxodo cubano em direção aos EUA ocorreu entre os anos 1959 e 1962, quando 248.100 cubanos deixaram a ilha após a vitória da Revolução Cubana. A migração de 2022 supera as ocorridas durante as crises de 1980 – quando o Porto de Mariel foi aberto para aqueles que desejassem sair da ilha e 124.800 cubanos foram em direção aos EUA entre abril e setembro – e de 1994, quando 30.900 cubanos deixaram a ilha entre agosto e setembro na crise dos balseiros.

Monzón acredita que, com uma melhora da situação, muitos desses cubanos devem regressar. “Algum dia, quando a situação econômica melhorar, muitos vão voltar. Porque não foram por questões políticas”, diz o cônsul. Gabrielle Oliveria explica que essa movimentação ocorreu depois de 2013, por exemplo, com as políticas do ex-presidente Barack Obama.

“A mudança mais significativa e impactante com relação aos anos 1980 e 1994 foi o avanço na comunicação. Os celulares não eram tão usados, não existia Twitter, Facebook, Instagram, WhatsApp”, afirma o presidente do Conselho Econômico e Comercial EUA-Cuba, John Kavulich.

Gabrielle Oliveira lembra que os picos de nacionalidades dos imigrantes que chegam de forma irregular aos EUA – entre 2021 e 2022 foram registradas as chegadas massivas de haitianos e venezuelanos, por exemplo – indicam “que existe uma comunicação muito forte nessas redes imigrantes, nas quais as pessoas compartilham caminhos e momentos e estão com esperanças”, mas atribui o recorde cubano a outros fatores.

Ela explica que a viagem de Cuba aos EUA pode chegar a US$ 10 mil e a migração de um país para outro vem aumentando desde 2021, mas o fato de a Nicarágua ter suspendido a necessidade de vistos aos cubanos facilitou a travessia, então “muitos cubanos que iam pela América do Sul ou faziam a travessia complicada por barco (até os EUA), podem agora ir pela Nicarágua.”

Cubanos são atraídos por tratamento diferenciado nos EUA

O outro ponto que atrai os cubanos aos EUA é o tratamento diferente que recebem em comparação a imigrantes de outras nacionalidades. “É considerado um exílio político, desde a Guerra Fria, com cubanos escolhendo os EUA como uma sociedade melhor. A probabilidade de eles conseguirem um green card ou cidadania é muito maior, eles não entram com medo de serem pegos”, diz Gabrielle Oliveira.

Guardas na fronteira dos Estados Unidos com o México Foto: AFP PHOTO / US Air Force /SrA Alexandra Minor

Tecnicamente, os cubanos passam pelos mesmos procedimentos de outros imigrantes, mas por conta da política diferenciada, recebem, por exemplo, uma assistência financeira. São US$ 325 ao mês para os adultos e US$ 200 ao mês para as crianças, pelo período de três meses.

“Os EUA são o destino mais procurado porque podem regularizar sua situação em pouco tempo. Além disso, estão perto e podem ajudar suas famílias em Cuba. Agora, ir pela Nicarágua se transformou em um grande negócio, uma passagem pode custar até US$ 4 mil. Por isso, alguns cubanos estão optando por outros caminhos, como pela Europa”, conta Juan, que avalia como sair do país com a família. “Analisei todas as rotas, mas não concretizei nada porque somos eu, minha mulher e nossos dois filhos. Recebemos uma bolsa para estudar na Espanha, mas tivemos os vistos negados alegando que tínhamos pouco dinheiro para nos mantermos lá.”

Se esse é mais um desafio na política migratória de Joe Biden, também coloca em questão o governo do cubano Miguel Díaz-Canel. “A mensagem é que os cidadãos não confiam que ele possa liderar o país para uma vida melhor. O êxodo reforça a narrativa de que o governo de Cuba prefere manter políticas que falham, relacionamentos que falham”, explica Kavulich.

Segundo Monzón, o governo cubano está tomando providências e tem o apoio da população, mesmo depois dos grandes protestos de 2021. “Isso tudo (crise econômica e pandemia) criou o ambiente para as manifestações do ano passado, mas a população não se rebelou contra o governo. Estamos criando melhores condições em Cuba, a juventude está organizada para fazer campanhas para pedir que as pessoas não saiam do país”, afirmou.

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