O antissionismo é uma forma politicamente correta de antissemitismo, diz analista espanhola


Em visita a São Paulo, Pilar Rahola critica a maneira que a esquerda tem lidado com a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas e diz que o Irã arquitetou os ataques do dia 7 de outubro

Por Daniel Gateno
Foto: Pilar Rahola/Divulg
Entrevista comPilar RaholaJornalista, analista e política espanhola

O antissionismo é uma forma mais politicamente correta de ser antissemita, aponta Pilar Rahola, jornalista, analista política e política espanhola, ao ser perguntada sobre o aumento de antissemitismo no mundo após o dia 7 de outubro, quando terroristas do Hamas mataram mais de 1.200 pessoas no sul de Israel, iniciando uma nova guerra na região. Rahola viajou ao Brasil a convite da Beit Halochem Brasil, da StandWithUs e do CAM - Movimento de Combate ao Antissemitismo, para palestras, encontros com políticos e universidades.

Nascida em Barcelona, Rahola foi deputada federal de 1993 a 2000. Apesar de se considerar de esquerda, a ativista critica a maneira com que políticos deste espectro têm lidado com a guerra no Oriente Médio. “A esquerda deveria pensar na violência de gênero que as mulheres sofreram no dia 7 de outubro, com muitas israelenses sendo estupradas e muitas mulheres ainda sequestradas pelo Hamas”.

Em entrevista ao Estadão, Rahola também destaca a participação do Irã no planejamento dos ataques contra o território israelense. “A ideia de Teerã era justamente congelar os acordos que mudaram a região, desestabilizar as relações dos países vizinhos com Israel e criar uma situação de conflito”, completa.

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Mulheres protestam na sede da ONU em Manhattan para questionarem a demora da ONU em reconhecer a violência sexual perpetrada pelo grupo terrorista Hamas no dia 7 de outubro  Foto: Dave Sanders / NYT

Confira trechos da entrevista:

Em um artigo recente você escreveu que o Irã esteve por trás do ataque terrorista do Hamas. Como você enxerga os próximos passos do conflito entre Irã e Israel? O que pode acontecer?

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Falar sobre o Irã neste momento é a única forma de tentar entender o que está acontecendo. Não é possível analisar os ataques terroristas do Hamas no dia 7 de outubro sem entender as manobras geopolíticas do Irã na região. A relação entre o Irã e o Hamas é muito forte, assim como o relacionamento de Teerã com o Hezbollah no Líbano.

O Irã foi responsável pelo massacre do dia 7 de outubro, interrompendo as negociações de paz de Israel e Arábia Saudita e prejudicando a estabilidade dos Acordos de Abraão. A ideia de Teerã era justamente congelar os acordos que mudaram a região, desestabilizar as relações dos países vizinhos com Israel e criar uma situação de conflito.

Mesmo que uma confrontação direta com Israel seja improvável neste momento, o Irã atua junto ao Hezbollah na fronteira do norte de Israel, com milhares de mísseis apontados para o país. Os houthis no Iêmen também estão participando das provocações e são apoiados por Teerã.

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Acredito que o envio de porta-aviões americanos para a região pode ter dispersado a possibilidade de uma guerra com mais atores envolvidos, mas o Irã conseguiu o objetivo de desestabilizar a região.

Tanques israelenses se movimentam em direção a Faixa de Gaza  Foto: Menahem Kahana/AFP

Em que estágio da guerra estamos neste momento, dois meses após os ataques do Hamas. Os conflitos devem continuar por muito mais tempo?

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Qualquer pessoa decente quer que a guerra acabe logo. É impossível saber quanto tempo vai demorar para a guerra acabar, principalmente porque muitos sequestrados ainda estão na Faixa de Gaza e o grupo Hamas tem uma infraestrutura militar muito forte e se esconde nos túneis ao redor da Faixa de Gaza.

Nos últimos dias as Forças de Defesa de Israel tem feito uma forte ofensiva no sul de Israel e pode ser que a guerra esteja mais próxima do final. Se a guerra demorar a acabar, fico muito preocupada com a situação dos reféns que ainda estão no enclave palestino.

Esta guerra começou para acabar com o grupo terrorista Hamas, que é uma organização jihadista que tem uma ideologia do mal, não se diferencia do Estado Islâmico e da Al-Qaeda, também não é nada diferente do perpetrado pelos nazistas. São ideologias da morte, que alimentam o conceito da morte. Não existe trégua, não tem como fazer paz com o Hamas e se Israel não acabar com este grupo terrorista, outros ataques vão acontecer, os próprios líderes do Hamas disseram que o dia 7 de outubro havia sido só o começo.

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É necessário destruir o Hamas também para construir um futuro melhor para os palestinos. A reconstrução da Faixa de Gaza deve ocorrer com financiamento internacional.

Estamos vendo um aumento do antissemitismo em todo o mundo. Na sua avaliação, antissemitismo e antissionismo são a mesma coisa?

Faz parte da democracia poder criticar um país por determinadas ações e eu posso opinar sobre o presidente do Brasil e eu não sou brasileira e você pode opinar sobre os políticos da Espanha e acredito que isso vale para Israel.

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Porém, aqueles que se proclamam como antissionistas são antissemitas para mim porque o sionismo é o direito a um Estado para um povo que foi sistematicamente perseguido e que foi quase exterminado na Europa. A única maneira dos judeus se sentirem protegidos é a existência do Estado de Israel

O antissionismo é uma armadilha, porque os que são antissionistas são contra os judeus terem um Estado e isso está fundamentalmente relacionado com o preconceito com os judeus. É muito fácil a pessoa ser antissemita e negar isso com o discurso de que é apenas anti-israelense.

Muitos partidos de esquerda especialmente têm uma posição de questionamento à existência do Estado de Israel, de negação de sua existência. Não tem como os judeus serem os culpados de tudo, não é possível que o único Estado judeu do mundo seja o culpado de tudo. O antissionismo é uma forma mais politicamente correta de ser antissemita.

Como é possível combater esta onda de antissemitismo?

O antissemitismo não começou no dia 7 de outubro, o preconceito sempre existiu e a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas mostra isso.

Quem diz que não existe nem um pouco de antissemitismo no lugar onde vive está fora da realidade. Há 15 anos eu estive em São Paulo e apontei que precisávamos colocar uma barreira nesta criminalização de Israel.

Na França, li que 1000 atos antissemitas foram registrados no mês passado de diferentes níveis, assim como o aumento do antissemitismo nas universidades americanas. Acredito que hoje todas as comunidades judaicas do mundo estão sofrendo mais com isso, principalmente quando tentam falar mais sobre Israel, mostrar um outro lado.

Como você avalia a resposta de países do Ocidente a guerra? A esquerda parece se identificar mais naturalmente com a causa palestina e a direita com Israel

Não deveria ser assim, porque o problema não é ideológico. O Irã não é de esquerda ou de direita, o Hezbollah também não. Os partidos de esquerda há muito tempo vem se posicionando contra Israel e a favor da Palestina, mas acredito que a maioria dos israelenses quer um Estado Palestino também, não é contra isso.

Eu acredito que os palestinos devem viver em paz e precisam ter um futuro, o problema é que as autoridades palestinas recusaram a criação de um Estado palestino em cinco oportunidades. Na minha opinião, a melhor maneira de defender os palestinos é liberar o povo palestino das organizações terroristas que os governam.

A esquerda deveria pensar na violência de gênero que as mulheres sofreram no dia 7 de outubro, com muitas israelenses sendo estupradas e muitas mulheres ainda sequestradas pelo Hamas, é necessário pensar nisso e pensar nos direitos humanos para todos.

O antissionismo é uma forma mais politicamente correta de ser antissemita, aponta Pilar Rahola, jornalista, analista política e política espanhola, ao ser perguntada sobre o aumento de antissemitismo no mundo após o dia 7 de outubro, quando terroristas do Hamas mataram mais de 1.200 pessoas no sul de Israel, iniciando uma nova guerra na região. Rahola viajou ao Brasil a convite da Beit Halochem Brasil, da StandWithUs e do CAM - Movimento de Combate ao Antissemitismo, para palestras, encontros com políticos e universidades.

Nascida em Barcelona, Rahola foi deputada federal de 1993 a 2000. Apesar de se considerar de esquerda, a ativista critica a maneira com que políticos deste espectro têm lidado com a guerra no Oriente Médio. “A esquerda deveria pensar na violência de gênero que as mulheres sofreram no dia 7 de outubro, com muitas israelenses sendo estupradas e muitas mulheres ainda sequestradas pelo Hamas”.

Em entrevista ao Estadão, Rahola também destaca a participação do Irã no planejamento dos ataques contra o território israelense. “A ideia de Teerã era justamente congelar os acordos que mudaram a região, desestabilizar as relações dos países vizinhos com Israel e criar uma situação de conflito”, completa.

Mulheres protestam na sede da ONU em Manhattan para questionarem a demora da ONU em reconhecer a violência sexual perpetrada pelo grupo terrorista Hamas no dia 7 de outubro  Foto: Dave Sanders / NYT

Confira trechos da entrevista:

Em um artigo recente você escreveu que o Irã esteve por trás do ataque terrorista do Hamas. Como você enxerga os próximos passos do conflito entre Irã e Israel? O que pode acontecer?

Falar sobre o Irã neste momento é a única forma de tentar entender o que está acontecendo. Não é possível analisar os ataques terroristas do Hamas no dia 7 de outubro sem entender as manobras geopolíticas do Irã na região. A relação entre o Irã e o Hamas é muito forte, assim como o relacionamento de Teerã com o Hezbollah no Líbano.

O Irã foi responsável pelo massacre do dia 7 de outubro, interrompendo as negociações de paz de Israel e Arábia Saudita e prejudicando a estabilidade dos Acordos de Abraão. A ideia de Teerã era justamente congelar os acordos que mudaram a região, desestabilizar as relações dos países vizinhos com Israel e criar uma situação de conflito.

Mesmo que uma confrontação direta com Israel seja improvável neste momento, o Irã atua junto ao Hezbollah na fronteira do norte de Israel, com milhares de mísseis apontados para o país. Os houthis no Iêmen também estão participando das provocações e são apoiados por Teerã.

Acredito que o envio de porta-aviões americanos para a região pode ter dispersado a possibilidade de uma guerra com mais atores envolvidos, mas o Irã conseguiu o objetivo de desestabilizar a região.

Tanques israelenses se movimentam em direção a Faixa de Gaza  Foto: Menahem Kahana/AFP

Em que estágio da guerra estamos neste momento, dois meses após os ataques do Hamas. Os conflitos devem continuar por muito mais tempo?

Qualquer pessoa decente quer que a guerra acabe logo. É impossível saber quanto tempo vai demorar para a guerra acabar, principalmente porque muitos sequestrados ainda estão na Faixa de Gaza e o grupo Hamas tem uma infraestrutura militar muito forte e se esconde nos túneis ao redor da Faixa de Gaza.

Nos últimos dias as Forças de Defesa de Israel tem feito uma forte ofensiva no sul de Israel e pode ser que a guerra esteja mais próxima do final. Se a guerra demorar a acabar, fico muito preocupada com a situação dos reféns que ainda estão no enclave palestino.

Esta guerra começou para acabar com o grupo terrorista Hamas, que é uma organização jihadista que tem uma ideologia do mal, não se diferencia do Estado Islâmico e da Al-Qaeda, também não é nada diferente do perpetrado pelos nazistas. São ideologias da morte, que alimentam o conceito da morte. Não existe trégua, não tem como fazer paz com o Hamas e se Israel não acabar com este grupo terrorista, outros ataques vão acontecer, os próprios líderes do Hamas disseram que o dia 7 de outubro havia sido só o começo.

É necessário destruir o Hamas também para construir um futuro melhor para os palestinos. A reconstrução da Faixa de Gaza deve ocorrer com financiamento internacional.

Estamos vendo um aumento do antissemitismo em todo o mundo. Na sua avaliação, antissemitismo e antissionismo são a mesma coisa?

Faz parte da democracia poder criticar um país por determinadas ações e eu posso opinar sobre o presidente do Brasil e eu não sou brasileira e você pode opinar sobre os políticos da Espanha e acredito que isso vale para Israel.

Porém, aqueles que se proclamam como antissionistas são antissemitas para mim porque o sionismo é o direito a um Estado para um povo que foi sistematicamente perseguido e que foi quase exterminado na Europa. A única maneira dos judeus se sentirem protegidos é a existência do Estado de Israel

O antissionismo é uma armadilha, porque os que são antissionistas são contra os judeus terem um Estado e isso está fundamentalmente relacionado com o preconceito com os judeus. É muito fácil a pessoa ser antissemita e negar isso com o discurso de que é apenas anti-israelense.

Muitos partidos de esquerda especialmente têm uma posição de questionamento à existência do Estado de Israel, de negação de sua existência. Não tem como os judeus serem os culpados de tudo, não é possível que o único Estado judeu do mundo seja o culpado de tudo. O antissionismo é uma forma mais politicamente correta de ser antissemita.

Como é possível combater esta onda de antissemitismo?

O antissemitismo não começou no dia 7 de outubro, o preconceito sempre existiu e a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas mostra isso.

Quem diz que não existe nem um pouco de antissemitismo no lugar onde vive está fora da realidade. Há 15 anos eu estive em São Paulo e apontei que precisávamos colocar uma barreira nesta criminalização de Israel.

Na França, li que 1000 atos antissemitas foram registrados no mês passado de diferentes níveis, assim como o aumento do antissemitismo nas universidades americanas. Acredito que hoje todas as comunidades judaicas do mundo estão sofrendo mais com isso, principalmente quando tentam falar mais sobre Israel, mostrar um outro lado.

Como você avalia a resposta de países do Ocidente a guerra? A esquerda parece se identificar mais naturalmente com a causa palestina e a direita com Israel

Não deveria ser assim, porque o problema não é ideológico. O Irã não é de esquerda ou de direita, o Hezbollah também não. Os partidos de esquerda há muito tempo vem se posicionando contra Israel e a favor da Palestina, mas acredito que a maioria dos israelenses quer um Estado Palestino também, não é contra isso.

Eu acredito que os palestinos devem viver em paz e precisam ter um futuro, o problema é que as autoridades palestinas recusaram a criação de um Estado palestino em cinco oportunidades. Na minha opinião, a melhor maneira de defender os palestinos é liberar o povo palestino das organizações terroristas que os governam.

A esquerda deveria pensar na violência de gênero que as mulheres sofreram no dia 7 de outubro, com muitas israelenses sendo estupradas e muitas mulheres ainda sequestradas pelo Hamas, é necessário pensar nisso e pensar nos direitos humanos para todos.

O antissionismo é uma forma mais politicamente correta de ser antissemita, aponta Pilar Rahola, jornalista, analista política e política espanhola, ao ser perguntada sobre o aumento de antissemitismo no mundo após o dia 7 de outubro, quando terroristas do Hamas mataram mais de 1.200 pessoas no sul de Israel, iniciando uma nova guerra na região. Rahola viajou ao Brasil a convite da Beit Halochem Brasil, da StandWithUs e do CAM - Movimento de Combate ao Antissemitismo, para palestras, encontros com políticos e universidades.

Nascida em Barcelona, Rahola foi deputada federal de 1993 a 2000. Apesar de se considerar de esquerda, a ativista critica a maneira com que políticos deste espectro têm lidado com a guerra no Oriente Médio. “A esquerda deveria pensar na violência de gênero que as mulheres sofreram no dia 7 de outubro, com muitas israelenses sendo estupradas e muitas mulheres ainda sequestradas pelo Hamas”.

Em entrevista ao Estadão, Rahola também destaca a participação do Irã no planejamento dos ataques contra o território israelense. “A ideia de Teerã era justamente congelar os acordos que mudaram a região, desestabilizar as relações dos países vizinhos com Israel e criar uma situação de conflito”, completa.

Mulheres protestam na sede da ONU em Manhattan para questionarem a demora da ONU em reconhecer a violência sexual perpetrada pelo grupo terrorista Hamas no dia 7 de outubro  Foto: Dave Sanders / NYT

Confira trechos da entrevista:

Em um artigo recente você escreveu que o Irã esteve por trás do ataque terrorista do Hamas. Como você enxerga os próximos passos do conflito entre Irã e Israel? O que pode acontecer?

Falar sobre o Irã neste momento é a única forma de tentar entender o que está acontecendo. Não é possível analisar os ataques terroristas do Hamas no dia 7 de outubro sem entender as manobras geopolíticas do Irã na região. A relação entre o Irã e o Hamas é muito forte, assim como o relacionamento de Teerã com o Hezbollah no Líbano.

O Irã foi responsável pelo massacre do dia 7 de outubro, interrompendo as negociações de paz de Israel e Arábia Saudita e prejudicando a estabilidade dos Acordos de Abraão. A ideia de Teerã era justamente congelar os acordos que mudaram a região, desestabilizar as relações dos países vizinhos com Israel e criar uma situação de conflito.

Mesmo que uma confrontação direta com Israel seja improvável neste momento, o Irã atua junto ao Hezbollah na fronteira do norte de Israel, com milhares de mísseis apontados para o país. Os houthis no Iêmen também estão participando das provocações e são apoiados por Teerã.

Acredito que o envio de porta-aviões americanos para a região pode ter dispersado a possibilidade de uma guerra com mais atores envolvidos, mas o Irã conseguiu o objetivo de desestabilizar a região.

Tanques israelenses se movimentam em direção a Faixa de Gaza  Foto: Menahem Kahana/AFP

Em que estágio da guerra estamos neste momento, dois meses após os ataques do Hamas. Os conflitos devem continuar por muito mais tempo?

Qualquer pessoa decente quer que a guerra acabe logo. É impossível saber quanto tempo vai demorar para a guerra acabar, principalmente porque muitos sequestrados ainda estão na Faixa de Gaza e o grupo Hamas tem uma infraestrutura militar muito forte e se esconde nos túneis ao redor da Faixa de Gaza.

Nos últimos dias as Forças de Defesa de Israel tem feito uma forte ofensiva no sul de Israel e pode ser que a guerra esteja mais próxima do final. Se a guerra demorar a acabar, fico muito preocupada com a situação dos reféns que ainda estão no enclave palestino.

Esta guerra começou para acabar com o grupo terrorista Hamas, que é uma organização jihadista que tem uma ideologia do mal, não se diferencia do Estado Islâmico e da Al-Qaeda, também não é nada diferente do perpetrado pelos nazistas. São ideologias da morte, que alimentam o conceito da morte. Não existe trégua, não tem como fazer paz com o Hamas e se Israel não acabar com este grupo terrorista, outros ataques vão acontecer, os próprios líderes do Hamas disseram que o dia 7 de outubro havia sido só o começo.

É necessário destruir o Hamas também para construir um futuro melhor para os palestinos. A reconstrução da Faixa de Gaza deve ocorrer com financiamento internacional.

Estamos vendo um aumento do antissemitismo em todo o mundo. Na sua avaliação, antissemitismo e antissionismo são a mesma coisa?

Faz parte da democracia poder criticar um país por determinadas ações e eu posso opinar sobre o presidente do Brasil e eu não sou brasileira e você pode opinar sobre os políticos da Espanha e acredito que isso vale para Israel.

Porém, aqueles que se proclamam como antissionistas são antissemitas para mim porque o sionismo é o direito a um Estado para um povo que foi sistematicamente perseguido e que foi quase exterminado na Europa. A única maneira dos judeus se sentirem protegidos é a existência do Estado de Israel

O antissionismo é uma armadilha, porque os que são antissionistas são contra os judeus terem um Estado e isso está fundamentalmente relacionado com o preconceito com os judeus. É muito fácil a pessoa ser antissemita e negar isso com o discurso de que é apenas anti-israelense.

Muitos partidos de esquerda especialmente têm uma posição de questionamento à existência do Estado de Israel, de negação de sua existência. Não tem como os judeus serem os culpados de tudo, não é possível que o único Estado judeu do mundo seja o culpado de tudo. O antissionismo é uma forma mais politicamente correta de ser antissemita.

Como é possível combater esta onda de antissemitismo?

O antissemitismo não começou no dia 7 de outubro, o preconceito sempre existiu e a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas mostra isso.

Quem diz que não existe nem um pouco de antissemitismo no lugar onde vive está fora da realidade. Há 15 anos eu estive em São Paulo e apontei que precisávamos colocar uma barreira nesta criminalização de Israel.

Na França, li que 1000 atos antissemitas foram registrados no mês passado de diferentes níveis, assim como o aumento do antissemitismo nas universidades americanas. Acredito que hoje todas as comunidades judaicas do mundo estão sofrendo mais com isso, principalmente quando tentam falar mais sobre Israel, mostrar um outro lado.

Como você avalia a resposta de países do Ocidente a guerra? A esquerda parece se identificar mais naturalmente com a causa palestina e a direita com Israel

Não deveria ser assim, porque o problema não é ideológico. O Irã não é de esquerda ou de direita, o Hezbollah também não. Os partidos de esquerda há muito tempo vem se posicionando contra Israel e a favor da Palestina, mas acredito que a maioria dos israelenses quer um Estado Palestino também, não é contra isso.

Eu acredito que os palestinos devem viver em paz e precisam ter um futuro, o problema é que as autoridades palestinas recusaram a criação de um Estado palestino em cinco oportunidades. Na minha opinião, a melhor maneira de defender os palestinos é liberar o povo palestino das organizações terroristas que os governam.

A esquerda deveria pensar na violência de gênero que as mulheres sofreram no dia 7 de outubro, com muitas israelenses sendo estupradas e muitas mulheres ainda sequestradas pelo Hamas, é necessário pensar nisso e pensar nos direitos humanos para todos.

O antissionismo é uma forma mais politicamente correta de ser antissemita, aponta Pilar Rahola, jornalista, analista política e política espanhola, ao ser perguntada sobre o aumento de antissemitismo no mundo após o dia 7 de outubro, quando terroristas do Hamas mataram mais de 1.200 pessoas no sul de Israel, iniciando uma nova guerra na região. Rahola viajou ao Brasil a convite da Beit Halochem Brasil, da StandWithUs e do CAM - Movimento de Combate ao Antissemitismo, para palestras, encontros com políticos e universidades.

Nascida em Barcelona, Rahola foi deputada federal de 1993 a 2000. Apesar de se considerar de esquerda, a ativista critica a maneira com que políticos deste espectro têm lidado com a guerra no Oriente Médio. “A esquerda deveria pensar na violência de gênero que as mulheres sofreram no dia 7 de outubro, com muitas israelenses sendo estupradas e muitas mulheres ainda sequestradas pelo Hamas”.

Em entrevista ao Estadão, Rahola também destaca a participação do Irã no planejamento dos ataques contra o território israelense. “A ideia de Teerã era justamente congelar os acordos que mudaram a região, desestabilizar as relações dos países vizinhos com Israel e criar uma situação de conflito”, completa.

Mulheres protestam na sede da ONU em Manhattan para questionarem a demora da ONU em reconhecer a violência sexual perpetrada pelo grupo terrorista Hamas no dia 7 de outubro  Foto: Dave Sanders / NYT

Confira trechos da entrevista:

Em um artigo recente você escreveu que o Irã esteve por trás do ataque terrorista do Hamas. Como você enxerga os próximos passos do conflito entre Irã e Israel? O que pode acontecer?

Falar sobre o Irã neste momento é a única forma de tentar entender o que está acontecendo. Não é possível analisar os ataques terroristas do Hamas no dia 7 de outubro sem entender as manobras geopolíticas do Irã na região. A relação entre o Irã e o Hamas é muito forte, assim como o relacionamento de Teerã com o Hezbollah no Líbano.

O Irã foi responsável pelo massacre do dia 7 de outubro, interrompendo as negociações de paz de Israel e Arábia Saudita e prejudicando a estabilidade dos Acordos de Abraão. A ideia de Teerã era justamente congelar os acordos que mudaram a região, desestabilizar as relações dos países vizinhos com Israel e criar uma situação de conflito.

Mesmo que uma confrontação direta com Israel seja improvável neste momento, o Irã atua junto ao Hezbollah na fronteira do norte de Israel, com milhares de mísseis apontados para o país. Os houthis no Iêmen também estão participando das provocações e são apoiados por Teerã.

Acredito que o envio de porta-aviões americanos para a região pode ter dispersado a possibilidade de uma guerra com mais atores envolvidos, mas o Irã conseguiu o objetivo de desestabilizar a região.

Tanques israelenses se movimentam em direção a Faixa de Gaza  Foto: Menahem Kahana/AFP

Em que estágio da guerra estamos neste momento, dois meses após os ataques do Hamas. Os conflitos devem continuar por muito mais tempo?

Qualquer pessoa decente quer que a guerra acabe logo. É impossível saber quanto tempo vai demorar para a guerra acabar, principalmente porque muitos sequestrados ainda estão na Faixa de Gaza e o grupo Hamas tem uma infraestrutura militar muito forte e se esconde nos túneis ao redor da Faixa de Gaza.

Nos últimos dias as Forças de Defesa de Israel tem feito uma forte ofensiva no sul de Israel e pode ser que a guerra esteja mais próxima do final. Se a guerra demorar a acabar, fico muito preocupada com a situação dos reféns que ainda estão no enclave palestino.

Esta guerra começou para acabar com o grupo terrorista Hamas, que é uma organização jihadista que tem uma ideologia do mal, não se diferencia do Estado Islâmico e da Al-Qaeda, também não é nada diferente do perpetrado pelos nazistas. São ideologias da morte, que alimentam o conceito da morte. Não existe trégua, não tem como fazer paz com o Hamas e se Israel não acabar com este grupo terrorista, outros ataques vão acontecer, os próprios líderes do Hamas disseram que o dia 7 de outubro havia sido só o começo.

É necessário destruir o Hamas também para construir um futuro melhor para os palestinos. A reconstrução da Faixa de Gaza deve ocorrer com financiamento internacional.

Estamos vendo um aumento do antissemitismo em todo o mundo. Na sua avaliação, antissemitismo e antissionismo são a mesma coisa?

Faz parte da democracia poder criticar um país por determinadas ações e eu posso opinar sobre o presidente do Brasil e eu não sou brasileira e você pode opinar sobre os políticos da Espanha e acredito que isso vale para Israel.

Porém, aqueles que se proclamam como antissionistas são antissemitas para mim porque o sionismo é o direito a um Estado para um povo que foi sistematicamente perseguido e que foi quase exterminado na Europa. A única maneira dos judeus se sentirem protegidos é a existência do Estado de Israel

O antissionismo é uma armadilha, porque os que são antissionistas são contra os judeus terem um Estado e isso está fundamentalmente relacionado com o preconceito com os judeus. É muito fácil a pessoa ser antissemita e negar isso com o discurso de que é apenas anti-israelense.

Muitos partidos de esquerda especialmente têm uma posição de questionamento à existência do Estado de Israel, de negação de sua existência. Não tem como os judeus serem os culpados de tudo, não é possível que o único Estado judeu do mundo seja o culpado de tudo. O antissionismo é uma forma mais politicamente correta de ser antissemita.

Como é possível combater esta onda de antissemitismo?

O antissemitismo não começou no dia 7 de outubro, o preconceito sempre existiu e a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas mostra isso.

Quem diz que não existe nem um pouco de antissemitismo no lugar onde vive está fora da realidade. Há 15 anos eu estive em São Paulo e apontei que precisávamos colocar uma barreira nesta criminalização de Israel.

Na França, li que 1000 atos antissemitas foram registrados no mês passado de diferentes níveis, assim como o aumento do antissemitismo nas universidades americanas. Acredito que hoje todas as comunidades judaicas do mundo estão sofrendo mais com isso, principalmente quando tentam falar mais sobre Israel, mostrar um outro lado.

Como você avalia a resposta de países do Ocidente a guerra? A esquerda parece se identificar mais naturalmente com a causa palestina e a direita com Israel

Não deveria ser assim, porque o problema não é ideológico. O Irã não é de esquerda ou de direita, o Hezbollah também não. Os partidos de esquerda há muito tempo vem se posicionando contra Israel e a favor da Palestina, mas acredito que a maioria dos israelenses quer um Estado Palestino também, não é contra isso.

Eu acredito que os palestinos devem viver em paz e precisam ter um futuro, o problema é que as autoridades palestinas recusaram a criação de um Estado palestino em cinco oportunidades. Na minha opinião, a melhor maneira de defender os palestinos é liberar o povo palestino das organizações terroristas que os governam.

A esquerda deveria pensar na violência de gênero que as mulheres sofreram no dia 7 de outubro, com muitas israelenses sendo estupradas e muitas mulheres ainda sequestradas pelo Hamas, é necessário pensar nisso e pensar nos direitos humanos para todos.

O antissionismo é uma forma mais politicamente correta de ser antissemita, aponta Pilar Rahola, jornalista, analista política e política espanhola, ao ser perguntada sobre o aumento de antissemitismo no mundo após o dia 7 de outubro, quando terroristas do Hamas mataram mais de 1.200 pessoas no sul de Israel, iniciando uma nova guerra na região. Rahola viajou ao Brasil a convite da Beit Halochem Brasil, da StandWithUs e do CAM - Movimento de Combate ao Antissemitismo, para palestras, encontros com políticos e universidades.

Nascida em Barcelona, Rahola foi deputada federal de 1993 a 2000. Apesar de se considerar de esquerda, a ativista critica a maneira com que políticos deste espectro têm lidado com a guerra no Oriente Médio. “A esquerda deveria pensar na violência de gênero que as mulheres sofreram no dia 7 de outubro, com muitas israelenses sendo estupradas e muitas mulheres ainda sequestradas pelo Hamas”.

Em entrevista ao Estadão, Rahola também destaca a participação do Irã no planejamento dos ataques contra o território israelense. “A ideia de Teerã era justamente congelar os acordos que mudaram a região, desestabilizar as relações dos países vizinhos com Israel e criar uma situação de conflito”, completa.

Mulheres protestam na sede da ONU em Manhattan para questionarem a demora da ONU em reconhecer a violência sexual perpetrada pelo grupo terrorista Hamas no dia 7 de outubro  Foto: Dave Sanders / NYT

Confira trechos da entrevista:

Em um artigo recente você escreveu que o Irã esteve por trás do ataque terrorista do Hamas. Como você enxerga os próximos passos do conflito entre Irã e Israel? O que pode acontecer?

Falar sobre o Irã neste momento é a única forma de tentar entender o que está acontecendo. Não é possível analisar os ataques terroristas do Hamas no dia 7 de outubro sem entender as manobras geopolíticas do Irã na região. A relação entre o Irã e o Hamas é muito forte, assim como o relacionamento de Teerã com o Hezbollah no Líbano.

O Irã foi responsável pelo massacre do dia 7 de outubro, interrompendo as negociações de paz de Israel e Arábia Saudita e prejudicando a estabilidade dos Acordos de Abraão. A ideia de Teerã era justamente congelar os acordos que mudaram a região, desestabilizar as relações dos países vizinhos com Israel e criar uma situação de conflito.

Mesmo que uma confrontação direta com Israel seja improvável neste momento, o Irã atua junto ao Hezbollah na fronteira do norte de Israel, com milhares de mísseis apontados para o país. Os houthis no Iêmen também estão participando das provocações e são apoiados por Teerã.

Acredito que o envio de porta-aviões americanos para a região pode ter dispersado a possibilidade de uma guerra com mais atores envolvidos, mas o Irã conseguiu o objetivo de desestabilizar a região.

Tanques israelenses se movimentam em direção a Faixa de Gaza  Foto: Menahem Kahana/AFP

Em que estágio da guerra estamos neste momento, dois meses após os ataques do Hamas. Os conflitos devem continuar por muito mais tempo?

Qualquer pessoa decente quer que a guerra acabe logo. É impossível saber quanto tempo vai demorar para a guerra acabar, principalmente porque muitos sequestrados ainda estão na Faixa de Gaza e o grupo Hamas tem uma infraestrutura militar muito forte e se esconde nos túneis ao redor da Faixa de Gaza.

Nos últimos dias as Forças de Defesa de Israel tem feito uma forte ofensiva no sul de Israel e pode ser que a guerra esteja mais próxima do final. Se a guerra demorar a acabar, fico muito preocupada com a situação dos reféns que ainda estão no enclave palestino.

Esta guerra começou para acabar com o grupo terrorista Hamas, que é uma organização jihadista que tem uma ideologia do mal, não se diferencia do Estado Islâmico e da Al-Qaeda, também não é nada diferente do perpetrado pelos nazistas. São ideologias da morte, que alimentam o conceito da morte. Não existe trégua, não tem como fazer paz com o Hamas e se Israel não acabar com este grupo terrorista, outros ataques vão acontecer, os próprios líderes do Hamas disseram que o dia 7 de outubro havia sido só o começo.

É necessário destruir o Hamas também para construir um futuro melhor para os palestinos. A reconstrução da Faixa de Gaza deve ocorrer com financiamento internacional.

Estamos vendo um aumento do antissemitismo em todo o mundo. Na sua avaliação, antissemitismo e antissionismo são a mesma coisa?

Faz parte da democracia poder criticar um país por determinadas ações e eu posso opinar sobre o presidente do Brasil e eu não sou brasileira e você pode opinar sobre os políticos da Espanha e acredito que isso vale para Israel.

Porém, aqueles que se proclamam como antissionistas são antissemitas para mim porque o sionismo é o direito a um Estado para um povo que foi sistematicamente perseguido e que foi quase exterminado na Europa. A única maneira dos judeus se sentirem protegidos é a existência do Estado de Israel

O antissionismo é uma armadilha, porque os que são antissionistas são contra os judeus terem um Estado e isso está fundamentalmente relacionado com o preconceito com os judeus. É muito fácil a pessoa ser antissemita e negar isso com o discurso de que é apenas anti-israelense.

Muitos partidos de esquerda especialmente têm uma posição de questionamento à existência do Estado de Israel, de negação de sua existência. Não tem como os judeus serem os culpados de tudo, não é possível que o único Estado judeu do mundo seja o culpado de tudo. O antissionismo é uma forma mais politicamente correta de ser antissemita.

Como é possível combater esta onda de antissemitismo?

O antissemitismo não começou no dia 7 de outubro, o preconceito sempre existiu e a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas mostra isso.

Quem diz que não existe nem um pouco de antissemitismo no lugar onde vive está fora da realidade. Há 15 anos eu estive em São Paulo e apontei que precisávamos colocar uma barreira nesta criminalização de Israel.

Na França, li que 1000 atos antissemitas foram registrados no mês passado de diferentes níveis, assim como o aumento do antissemitismo nas universidades americanas. Acredito que hoje todas as comunidades judaicas do mundo estão sofrendo mais com isso, principalmente quando tentam falar mais sobre Israel, mostrar um outro lado.

Como você avalia a resposta de países do Ocidente a guerra? A esquerda parece se identificar mais naturalmente com a causa palestina e a direita com Israel

Não deveria ser assim, porque o problema não é ideológico. O Irã não é de esquerda ou de direita, o Hezbollah também não. Os partidos de esquerda há muito tempo vem se posicionando contra Israel e a favor da Palestina, mas acredito que a maioria dos israelenses quer um Estado Palestino também, não é contra isso.

Eu acredito que os palestinos devem viver em paz e precisam ter um futuro, o problema é que as autoridades palestinas recusaram a criação de um Estado palestino em cinco oportunidades. Na minha opinião, a melhor maneira de defender os palestinos é liberar o povo palestino das organizações terroristas que os governam.

A esquerda deveria pensar na violência de gênero que as mulheres sofreram no dia 7 de outubro, com muitas israelenses sendo estupradas e muitas mulheres ainda sequestradas pelo Hamas, é necessário pensar nisso e pensar nos direitos humanos para todos.

Entrevista por Daniel Gateno

Repórter da editoria de internacional do Estadão

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