Como o assassinato de um candidato pode mudar a eleição no Equador? Três analistas explicam


O homicídio sem precedentes de Fernando Villavicencio, um crítico veemente da corrupção, abalou o país durante a campanha para a eleição de 20 de agosto

Por Redação
Atualização:

O candidato à presidência do Equador Fernando Villavicencio foi assassinado, à medida que a criminalidade e a violência relacionada ao tráfico de drogas continuam a abalar o país.

Villavicencio foi alvo de disparos durante um evento de campanha em Quito, em 9 de agosto. Um suspeito foi morto na troca de tiros com a polícia que se seguiu, e outras nove pessoas, incluindo dois policiais e um candidato à Assembleia Nacional, foram baleadas. É a primeira vez na história do Equador que um candidato à presidência do país morre assassinado.

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O acontecimento abalou o país que se prepara para realizar eleições gerais em 20 de agosto. Criminalidade e violência relacionada ao narcotráfico têm aumentado no Equador há anos, e Villavicencio, um ex-jornalista, era um dos candidatos presidenciais que criticava mais veementemente o problema.

O candidato presidencial Fernando Villavicencio discursando em um comício de campanha em uma escola minutos antes de ser morto a tiros ao sair da escola em Quito, Equador, quarta-feira, 9 de agosto de 2023. Foto: AP

A AQ pediu para observadores compartilharem suas reações aos acontecimentos. Nós atualizaremos esta página conforme desdobramentos sucedam.

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Sebastián Hurtado, presidente da consultoria de risco político Prófitas

A criminalidade, uma grande preocupação entre os eleitores equatorianos, já era ponto focal da próxima eleição presidencial. O assassinato sem precedentes do candidato Fernando Villavicencio deverá agitar significativamente a dinâmica da disputa.

Este evento chocante poderia enfraquecer forças políticas que tradicionalmente se opõem a Villavicencio, principalmente os correístas, de esquerda, que estavam em conflito com ele havia anos. Agora eles enfrentarão maior escrutínio e crítica. Luisa González, a candidata do correísmo à presidência, tem liderado as pesquisas consistentemente e pareceu capaz de vencer no primeiro turno.

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Mas agora, em face ao assassinato de ontem, ela poderá encontrar uma disputa mais desafiadora. Um segundo turno intensamente competitivo tornou-se subitamente mais provável. (Se no primeiro turno nenhum candidato à presidência receber mais que 50% dos votos ou uma combinação entre 40% dos votos mais uma vantagem de 10 pontos porcentuais sobre o segundo colocado, uma disputa em segundo turno ocorrerá em 15 de outubro.)

Candidatos de direita conhecidos por suas posições anticorreístas, como Otto Sonnenholzner e Jan Topic, podem perceber impulso em seu apoio. Pesquisas recentes indicavam que esses dois candidatos e Villavicencio estavam essencialmente empatados em segundo lugar dentro da margem de erro.

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Topic, conhecido por sua posição linha-dura em segurança, pode se posicionar para ser o maior beneficiado de um aumento na demanda pública por ação contundente contra o crime. Contudo, o nome e a imagem de Villavicencio provavelmente continuarão nas cédulas, e os votos por ele irão para o candidato selecionado por seu partido, o que limitará os ganhos possíveis de Sonnenholzner e Topic.

O presidente Guillermo Lasso, que já foi criticado por fracassar em lidar com a crescente crise de segurança, provavelmente será submetido a um escrutínio ainda maior. Deve-se esperar pedidos por sua renúncia, e um processo de impeachment em andamento poderá ser retomado quando a Assembleia Nacional voltar a se reunir, após as eleições.

Um soldado revista um motorista em um bloqueio de estrada em Guayaquil, Equador, quinta-feira, 10 de agosto de 2023.  Foto: Cesar Munoz / AP
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Acima de tudo, a ousadia deste assassinato, praticado em plena luz do dia apesar da proteção policial substancial a Villavicencio, expõe suspeitas alarmantes a respeito do nível de infiltração do crime organizado nas forças de segurança do Equador. As ramificações deste evento trágico são multifacetadas e complexas — e deverão deixar uma marca duradoura no ambiente político do Equador e nas políticas de seus governos nos próximos anos.

Camila Ulloa, coordenadora de democracia, transparência e participação cidadã do Grupo Faro

O Equador enfrenta um aumento sem precedentes em insegurança e violência. Desde 2018, sua reputação forte no passado de um dos locais mais seguros da região ruiu, e 2022 foi o ano mais violento de sua história. Juntamente com um aumento de cinco vezes no número de mortes violentas nos cinco anos recentes, 2023 agora testemunha níveis de violência política sem precedentes.

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Durante a campanha para as eleições locais de fevereiro, os assassinatos de dois candidatos a prefeito desprenderam ondas de choque que atingiram todo o país, e vários postulantes acabaram vítimas de ataques violentos. O prefeito de Manta foi assassinado em julho, e o atual ciclo eleitoral foi obscurecido por dois homicídios: primeiro de um candidato à Assembleia Nacional, Rider Sánchez, e mais recentemente o repentino assassinato do candidato presidencial Fernando Villavicencio.

Esses eventos recentes surtem impacto duplo: não apenas obscurecem os processos eleitorais, infligindo sofrimento e inculcando medo nos cidadãos, mas também impõem reveses profundos aos fundamentos da própria democracia equatoriana. De um lado, os níveis em elevação de violência e insegurança pública corroem a legitimidade do Estado em razão da ausência absoluta de ações e políticas eficazes. Essas circunstâncias também inibem o envolvimento da sociedade civil e a participação dos cidadãos na política. T

alvez mais significativamente, uma crescente inclinação à aceitação de tendências autoritárias tenha fincado raiz na população, amplificando um aumento da desconfiança em relação a instituições e regramentos jurídicos.

Este quadro sombrio molda significativamente o curso desta eleição. O debate e a agenda política revolverão crescentemente em torno do tema da insegurança e da violência, e as campanhas nestes dias finais colocará foco em prover soluções ao problema. Os resultados eleitorais também poderiam ser influenciados por essa dinâmica, favorecendo candidatos com fortes discursos “mano dura”.

Lorena Villavicencio, irmã do candidato presidencial assassinado Fernando Villavicencio, chega com seu marido ao necrotério onde o corpo de seu irmão está sendo mantido em Quito, Equador, quinta-feira, 10 de agosto de 2023.  Foto: Carlos Noriega / AP

Will Freeman, pesquisador de estudos latino-americanos do Council on Foreign Relations e colunista da Americas Quarterly

Quando estive no Equador pela última vez, em maio, um conselheiro do ministro de Relações Exteriores disse-me, “Daqui a dez anos, este país poderá ser um Estado falido”, o que me pareceu hipérbole — naquele momento. Talvez não mais. Mesmo que não seja ainda um Estado falido, o Equador já descambou perturbadoramente para o caminho de virar um narco-Estado.

Não que tenhamos evidências de conivência dos níveis mais altos do governo, como em Honduras sob o ex-presidente Juan Orlando Hernández, mas emergem sinais de cumplicidade e conluio de autoridades no sistema prisional, nas polícias, nas Forças Armadas e no Judiciário. Nenhuma análise do assassinato de Villavicencio — ou de outros políticos assassinados recentemente — que não considere este contexto é válida. A impunidade tem se tornado a norma.

Nós ainda não sabemos quem está por trás do assassinato de Villavicencio, apesar de um vídeo não verificado independentemente mostrar líderes do grupo criminoso Los Lobos — uma das maiores gangues do país — assumindo a autoria. Uma investigação minuciosa e independente deve explorar as falhas da segurança fornecida a Villavicencio pelo governo para proteger sua vida.

Neste momento, muitas peças não se encaixam. Por que Villavicencio foi colocado em um carro normal, não no veículo blindado que estava a caminho para buscá-lo? Por que nenhum agente de segurança entrou com ele no carro? O que nós sim sabemos é que Villavicencio afirmou que vinha recebendo ameaças de morte da organização criminosa Los Choneros — outra das maiores gangues do Equador — em razão de suas propostas contra corrupção e criminalidade.

Prometer investigar corrupção em órgãos públicos e conivência com o crime organizado transformou Villavicencio em alvo. Os líderes políticos do Equador devem agora se inspirar em sua coragem de confrontar esses temas. Se não o fizerem, será cada vez mais difícil extirpar a impunidade e suas profusas consequências. /AQ, COM TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

O candidato à presidência do Equador Fernando Villavicencio foi assassinado, à medida que a criminalidade e a violência relacionada ao tráfico de drogas continuam a abalar o país.

Villavicencio foi alvo de disparos durante um evento de campanha em Quito, em 9 de agosto. Um suspeito foi morto na troca de tiros com a polícia que se seguiu, e outras nove pessoas, incluindo dois policiais e um candidato à Assembleia Nacional, foram baleadas. É a primeira vez na história do Equador que um candidato à presidência do país morre assassinado.

O acontecimento abalou o país que se prepara para realizar eleições gerais em 20 de agosto. Criminalidade e violência relacionada ao narcotráfico têm aumentado no Equador há anos, e Villavicencio, um ex-jornalista, era um dos candidatos presidenciais que criticava mais veementemente o problema.

O candidato presidencial Fernando Villavicencio discursando em um comício de campanha em uma escola minutos antes de ser morto a tiros ao sair da escola em Quito, Equador, quarta-feira, 9 de agosto de 2023. Foto: AP

A AQ pediu para observadores compartilharem suas reações aos acontecimentos. Nós atualizaremos esta página conforme desdobramentos sucedam.

Sebastián Hurtado, presidente da consultoria de risco político Prófitas

A criminalidade, uma grande preocupação entre os eleitores equatorianos, já era ponto focal da próxima eleição presidencial. O assassinato sem precedentes do candidato Fernando Villavicencio deverá agitar significativamente a dinâmica da disputa.

Este evento chocante poderia enfraquecer forças políticas que tradicionalmente se opõem a Villavicencio, principalmente os correístas, de esquerda, que estavam em conflito com ele havia anos. Agora eles enfrentarão maior escrutínio e crítica. Luisa González, a candidata do correísmo à presidência, tem liderado as pesquisas consistentemente e pareceu capaz de vencer no primeiro turno.

Mas agora, em face ao assassinato de ontem, ela poderá encontrar uma disputa mais desafiadora. Um segundo turno intensamente competitivo tornou-se subitamente mais provável. (Se no primeiro turno nenhum candidato à presidência receber mais que 50% dos votos ou uma combinação entre 40% dos votos mais uma vantagem de 10 pontos porcentuais sobre o segundo colocado, uma disputa em segundo turno ocorrerá em 15 de outubro.)

Candidatos de direita conhecidos por suas posições anticorreístas, como Otto Sonnenholzner e Jan Topic, podem perceber impulso em seu apoio. Pesquisas recentes indicavam que esses dois candidatos e Villavicencio estavam essencialmente empatados em segundo lugar dentro da margem de erro.

Topic, conhecido por sua posição linha-dura em segurança, pode se posicionar para ser o maior beneficiado de um aumento na demanda pública por ação contundente contra o crime. Contudo, o nome e a imagem de Villavicencio provavelmente continuarão nas cédulas, e os votos por ele irão para o candidato selecionado por seu partido, o que limitará os ganhos possíveis de Sonnenholzner e Topic.

O presidente Guillermo Lasso, que já foi criticado por fracassar em lidar com a crescente crise de segurança, provavelmente será submetido a um escrutínio ainda maior. Deve-se esperar pedidos por sua renúncia, e um processo de impeachment em andamento poderá ser retomado quando a Assembleia Nacional voltar a se reunir, após as eleições.

Um soldado revista um motorista em um bloqueio de estrada em Guayaquil, Equador, quinta-feira, 10 de agosto de 2023.  Foto: Cesar Munoz / AP

Acima de tudo, a ousadia deste assassinato, praticado em plena luz do dia apesar da proteção policial substancial a Villavicencio, expõe suspeitas alarmantes a respeito do nível de infiltração do crime organizado nas forças de segurança do Equador. As ramificações deste evento trágico são multifacetadas e complexas — e deverão deixar uma marca duradoura no ambiente político do Equador e nas políticas de seus governos nos próximos anos.

Camila Ulloa, coordenadora de democracia, transparência e participação cidadã do Grupo Faro

O Equador enfrenta um aumento sem precedentes em insegurança e violência. Desde 2018, sua reputação forte no passado de um dos locais mais seguros da região ruiu, e 2022 foi o ano mais violento de sua história. Juntamente com um aumento de cinco vezes no número de mortes violentas nos cinco anos recentes, 2023 agora testemunha níveis de violência política sem precedentes.

Durante a campanha para as eleições locais de fevereiro, os assassinatos de dois candidatos a prefeito desprenderam ondas de choque que atingiram todo o país, e vários postulantes acabaram vítimas de ataques violentos. O prefeito de Manta foi assassinado em julho, e o atual ciclo eleitoral foi obscurecido por dois homicídios: primeiro de um candidato à Assembleia Nacional, Rider Sánchez, e mais recentemente o repentino assassinato do candidato presidencial Fernando Villavicencio.

Esses eventos recentes surtem impacto duplo: não apenas obscurecem os processos eleitorais, infligindo sofrimento e inculcando medo nos cidadãos, mas também impõem reveses profundos aos fundamentos da própria democracia equatoriana. De um lado, os níveis em elevação de violência e insegurança pública corroem a legitimidade do Estado em razão da ausência absoluta de ações e políticas eficazes. Essas circunstâncias também inibem o envolvimento da sociedade civil e a participação dos cidadãos na política. T

alvez mais significativamente, uma crescente inclinação à aceitação de tendências autoritárias tenha fincado raiz na população, amplificando um aumento da desconfiança em relação a instituições e regramentos jurídicos.

Este quadro sombrio molda significativamente o curso desta eleição. O debate e a agenda política revolverão crescentemente em torno do tema da insegurança e da violência, e as campanhas nestes dias finais colocará foco em prover soluções ao problema. Os resultados eleitorais também poderiam ser influenciados por essa dinâmica, favorecendo candidatos com fortes discursos “mano dura”.

Lorena Villavicencio, irmã do candidato presidencial assassinado Fernando Villavicencio, chega com seu marido ao necrotério onde o corpo de seu irmão está sendo mantido em Quito, Equador, quinta-feira, 10 de agosto de 2023.  Foto: Carlos Noriega / AP

Will Freeman, pesquisador de estudos latino-americanos do Council on Foreign Relations e colunista da Americas Quarterly

Quando estive no Equador pela última vez, em maio, um conselheiro do ministro de Relações Exteriores disse-me, “Daqui a dez anos, este país poderá ser um Estado falido”, o que me pareceu hipérbole — naquele momento. Talvez não mais. Mesmo que não seja ainda um Estado falido, o Equador já descambou perturbadoramente para o caminho de virar um narco-Estado.

Não que tenhamos evidências de conivência dos níveis mais altos do governo, como em Honduras sob o ex-presidente Juan Orlando Hernández, mas emergem sinais de cumplicidade e conluio de autoridades no sistema prisional, nas polícias, nas Forças Armadas e no Judiciário. Nenhuma análise do assassinato de Villavicencio — ou de outros políticos assassinados recentemente — que não considere este contexto é válida. A impunidade tem se tornado a norma.

Nós ainda não sabemos quem está por trás do assassinato de Villavicencio, apesar de um vídeo não verificado independentemente mostrar líderes do grupo criminoso Los Lobos — uma das maiores gangues do país — assumindo a autoria. Uma investigação minuciosa e independente deve explorar as falhas da segurança fornecida a Villavicencio pelo governo para proteger sua vida.

Neste momento, muitas peças não se encaixam. Por que Villavicencio foi colocado em um carro normal, não no veículo blindado que estava a caminho para buscá-lo? Por que nenhum agente de segurança entrou com ele no carro? O que nós sim sabemos é que Villavicencio afirmou que vinha recebendo ameaças de morte da organização criminosa Los Choneros — outra das maiores gangues do Equador — em razão de suas propostas contra corrupção e criminalidade.

Prometer investigar corrupção em órgãos públicos e conivência com o crime organizado transformou Villavicencio em alvo. Os líderes políticos do Equador devem agora se inspirar em sua coragem de confrontar esses temas. Se não o fizerem, será cada vez mais difícil extirpar a impunidade e suas profusas consequências. /AQ, COM TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

O candidato à presidência do Equador Fernando Villavicencio foi assassinado, à medida que a criminalidade e a violência relacionada ao tráfico de drogas continuam a abalar o país.

Villavicencio foi alvo de disparos durante um evento de campanha em Quito, em 9 de agosto. Um suspeito foi morto na troca de tiros com a polícia que se seguiu, e outras nove pessoas, incluindo dois policiais e um candidato à Assembleia Nacional, foram baleadas. É a primeira vez na história do Equador que um candidato à presidência do país morre assassinado.

O acontecimento abalou o país que se prepara para realizar eleições gerais em 20 de agosto. Criminalidade e violência relacionada ao narcotráfico têm aumentado no Equador há anos, e Villavicencio, um ex-jornalista, era um dos candidatos presidenciais que criticava mais veementemente o problema.

O candidato presidencial Fernando Villavicencio discursando em um comício de campanha em uma escola minutos antes de ser morto a tiros ao sair da escola em Quito, Equador, quarta-feira, 9 de agosto de 2023. Foto: AP

A AQ pediu para observadores compartilharem suas reações aos acontecimentos. Nós atualizaremos esta página conforme desdobramentos sucedam.

Sebastián Hurtado, presidente da consultoria de risco político Prófitas

A criminalidade, uma grande preocupação entre os eleitores equatorianos, já era ponto focal da próxima eleição presidencial. O assassinato sem precedentes do candidato Fernando Villavicencio deverá agitar significativamente a dinâmica da disputa.

Este evento chocante poderia enfraquecer forças políticas que tradicionalmente se opõem a Villavicencio, principalmente os correístas, de esquerda, que estavam em conflito com ele havia anos. Agora eles enfrentarão maior escrutínio e crítica. Luisa González, a candidata do correísmo à presidência, tem liderado as pesquisas consistentemente e pareceu capaz de vencer no primeiro turno.

Mas agora, em face ao assassinato de ontem, ela poderá encontrar uma disputa mais desafiadora. Um segundo turno intensamente competitivo tornou-se subitamente mais provável. (Se no primeiro turno nenhum candidato à presidência receber mais que 50% dos votos ou uma combinação entre 40% dos votos mais uma vantagem de 10 pontos porcentuais sobre o segundo colocado, uma disputa em segundo turno ocorrerá em 15 de outubro.)

Candidatos de direita conhecidos por suas posições anticorreístas, como Otto Sonnenholzner e Jan Topic, podem perceber impulso em seu apoio. Pesquisas recentes indicavam que esses dois candidatos e Villavicencio estavam essencialmente empatados em segundo lugar dentro da margem de erro.

Topic, conhecido por sua posição linha-dura em segurança, pode se posicionar para ser o maior beneficiado de um aumento na demanda pública por ação contundente contra o crime. Contudo, o nome e a imagem de Villavicencio provavelmente continuarão nas cédulas, e os votos por ele irão para o candidato selecionado por seu partido, o que limitará os ganhos possíveis de Sonnenholzner e Topic.

O presidente Guillermo Lasso, que já foi criticado por fracassar em lidar com a crescente crise de segurança, provavelmente será submetido a um escrutínio ainda maior. Deve-se esperar pedidos por sua renúncia, e um processo de impeachment em andamento poderá ser retomado quando a Assembleia Nacional voltar a se reunir, após as eleições.

Um soldado revista um motorista em um bloqueio de estrada em Guayaquil, Equador, quinta-feira, 10 de agosto de 2023.  Foto: Cesar Munoz / AP

Acima de tudo, a ousadia deste assassinato, praticado em plena luz do dia apesar da proteção policial substancial a Villavicencio, expõe suspeitas alarmantes a respeito do nível de infiltração do crime organizado nas forças de segurança do Equador. As ramificações deste evento trágico são multifacetadas e complexas — e deverão deixar uma marca duradoura no ambiente político do Equador e nas políticas de seus governos nos próximos anos.

Camila Ulloa, coordenadora de democracia, transparência e participação cidadã do Grupo Faro

O Equador enfrenta um aumento sem precedentes em insegurança e violência. Desde 2018, sua reputação forte no passado de um dos locais mais seguros da região ruiu, e 2022 foi o ano mais violento de sua história. Juntamente com um aumento de cinco vezes no número de mortes violentas nos cinco anos recentes, 2023 agora testemunha níveis de violência política sem precedentes.

Durante a campanha para as eleições locais de fevereiro, os assassinatos de dois candidatos a prefeito desprenderam ondas de choque que atingiram todo o país, e vários postulantes acabaram vítimas de ataques violentos. O prefeito de Manta foi assassinado em julho, e o atual ciclo eleitoral foi obscurecido por dois homicídios: primeiro de um candidato à Assembleia Nacional, Rider Sánchez, e mais recentemente o repentino assassinato do candidato presidencial Fernando Villavicencio.

Esses eventos recentes surtem impacto duplo: não apenas obscurecem os processos eleitorais, infligindo sofrimento e inculcando medo nos cidadãos, mas também impõem reveses profundos aos fundamentos da própria democracia equatoriana. De um lado, os níveis em elevação de violência e insegurança pública corroem a legitimidade do Estado em razão da ausência absoluta de ações e políticas eficazes. Essas circunstâncias também inibem o envolvimento da sociedade civil e a participação dos cidadãos na política. T

alvez mais significativamente, uma crescente inclinação à aceitação de tendências autoritárias tenha fincado raiz na população, amplificando um aumento da desconfiança em relação a instituições e regramentos jurídicos.

Este quadro sombrio molda significativamente o curso desta eleição. O debate e a agenda política revolverão crescentemente em torno do tema da insegurança e da violência, e as campanhas nestes dias finais colocará foco em prover soluções ao problema. Os resultados eleitorais também poderiam ser influenciados por essa dinâmica, favorecendo candidatos com fortes discursos “mano dura”.

Lorena Villavicencio, irmã do candidato presidencial assassinado Fernando Villavicencio, chega com seu marido ao necrotério onde o corpo de seu irmão está sendo mantido em Quito, Equador, quinta-feira, 10 de agosto de 2023.  Foto: Carlos Noriega / AP

Will Freeman, pesquisador de estudos latino-americanos do Council on Foreign Relations e colunista da Americas Quarterly

Quando estive no Equador pela última vez, em maio, um conselheiro do ministro de Relações Exteriores disse-me, “Daqui a dez anos, este país poderá ser um Estado falido”, o que me pareceu hipérbole — naquele momento. Talvez não mais. Mesmo que não seja ainda um Estado falido, o Equador já descambou perturbadoramente para o caminho de virar um narco-Estado.

Não que tenhamos evidências de conivência dos níveis mais altos do governo, como em Honduras sob o ex-presidente Juan Orlando Hernández, mas emergem sinais de cumplicidade e conluio de autoridades no sistema prisional, nas polícias, nas Forças Armadas e no Judiciário. Nenhuma análise do assassinato de Villavicencio — ou de outros políticos assassinados recentemente — que não considere este contexto é válida. A impunidade tem se tornado a norma.

Nós ainda não sabemos quem está por trás do assassinato de Villavicencio, apesar de um vídeo não verificado independentemente mostrar líderes do grupo criminoso Los Lobos — uma das maiores gangues do país — assumindo a autoria. Uma investigação minuciosa e independente deve explorar as falhas da segurança fornecida a Villavicencio pelo governo para proteger sua vida.

Neste momento, muitas peças não se encaixam. Por que Villavicencio foi colocado em um carro normal, não no veículo blindado que estava a caminho para buscá-lo? Por que nenhum agente de segurança entrou com ele no carro? O que nós sim sabemos é que Villavicencio afirmou que vinha recebendo ameaças de morte da organização criminosa Los Choneros — outra das maiores gangues do Equador — em razão de suas propostas contra corrupção e criminalidade.

Prometer investigar corrupção em órgãos públicos e conivência com o crime organizado transformou Villavicencio em alvo. Os líderes políticos do Equador devem agora se inspirar em sua coragem de confrontar esses temas. Se não o fizerem, será cada vez mais difícil extirpar a impunidade e suas profusas consequências. /AQ, COM TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

O candidato à presidência do Equador Fernando Villavicencio foi assassinado, à medida que a criminalidade e a violência relacionada ao tráfico de drogas continuam a abalar o país.

Villavicencio foi alvo de disparos durante um evento de campanha em Quito, em 9 de agosto. Um suspeito foi morto na troca de tiros com a polícia que se seguiu, e outras nove pessoas, incluindo dois policiais e um candidato à Assembleia Nacional, foram baleadas. É a primeira vez na história do Equador que um candidato à presidência do país morre assassinado.

O acontecimento abalou o país que se prepara para realizar eleições gerais em 20 de agosto. Criminalidade e violência relacionada ao narcotráfico têm aumentado no Equador há anos, e Villavicencio, um ex-jornalista, era um dos candidatos presidenciais que criticava mais veementemente o problema.

O candidato presidencial Fernando Villavicencio discursando em um comício de campanha em uma escola minutos antes de ser morto a tiros ao sair da escola em Quito, Equador, quarta-feira, 9 de agosto de 2023. Foto: AP

A AQ pediu para observadores compartilharem suas reações aos acontecimentos. Nós atualizaremos esta página conforme desdobramentos sucedam.

Sebastián Hurtado, presidente da consultoria de risco político Prófitas

A criminalidade, uma grande preocupação entre os eleitores equatorianos, já era ponto focal da próxima eleição presidencial. O assassinato sem precedentes do candidato Fernando Villavicencio deverá agitar significativamente a dinâmica da disputa.

Este evento chocante poderia enfraquecer forças políticas que tradicionalmente se opõem a Villavicencio, principalmente os correístas, de esquerda, que estavam em conflito com ele havia anos. Agora eles enfrentarão maior escrutínio e crítica. Luisa González, a candidata do correísmo à presidência, tem liderado as pesquisas consistentemente e pareceu capaz de vencer no primeiro turno.

Mas agora, em face ao assassinato de ontem, ela poderá encontrar uma disputa mais desafiadora. Um segundo turno intensamente competitivo tornou-se subitamente mais provável. (Se no primeiro turno nenhum candidato à presidência receber mais que 50% dos votos ou uma combinação entre 40% dos votos mais uma vantagem de 10 pontos porcentuais sobre o segundo colocado, uma disputa em segundo turno ocorrerá em 15 de outubro.)

Candidatos de direita conhecidos por suas posições anticorreístas, como Otto Sonnenholzner e Jan Topic, podem perceber impulso em seu apoio. Pesquisas recentes indicavam que esses dois candidatos e Villavicencio estavam essencialmente empatados em segundo lugar dentro da margem de erro.

Topic, conhecido por sua posição linha-dura em segurança, pode se posicionar para ser o maior beneficiado de um aumento na demanda pública por ação contundente contra o crime. Contudo, o nome e a imagem de Villavicencio provavelmente continuarão nas cédulas, e os votos por ele irão para o candidato selecionado por seu partido, o que limitará os ganhos possíveis de Sonnenholzner e Topic.

O presidente Guillermo Lasso, que já foi criticado por fracassar em lidar com a crescente crise de segurança, provavelmente será submetido a um escrutínio ainda maior. Deve-se esperar pedidos por sua renúncia, e um processo de impeachment em andamento poderá ser retomado quando a Assembleia Nacional voltar a se reunir, após as eleições.

Um soldado revista um motorista em um bloqueio de estrada em Guayaquil, Equador, quinta-feira, 10 de agosto de 2023.  Foto: Cesar Munoz / AP

Acima de tudo, a ousadia deste assassinato, praticado em plena luz do dia apesar da proteção policial substancial a Villavicencio, expõe suspeitas alarmantes a respeito do nível de infiltração do crime organizado nas forças de segurança do Equador. As ramificações deste evento trágico são multifacetadas e complexas — e deverão deixar uma marca duradoura no ambiente político do Equador e nas políticas de seus governos nos próximos anos.

Camila Ulloa, coordenadora de democracia, transparência e participação cidadã do Grupo Faro

O Equador enfrenta um aumento sem precedentes em insegurança e violência. Desde 2018, sua reputação forte no passado de um dos locais mais seguros da região ruiu, e 2022 foi o ano mais violento de sua história. Juntamente com um aumento de cinco vezes no número de mortes violentas nos cinco anos recentes, 2023 agora testemunha níveis de violência política sem precedentes.

Durante a campanha para as eleições locais de fevereiro, os assassinatos de dois candidatos a prefeito desprenderam ondas de choque que atingiram todo o país, e vários postulantes acabaram vítimas de ataques violentos. O prefeito de Manta foi assassinado em julho, e o atual ciclo eleitoral foi obscurecido por dois homicídios: primeiro de um candidato à Assembleia Nacional, Rider Sánchez, e mais recentemente o repentino assassinato do candidato presidencial Fernando Villavicencio.

Esses eventos recentes surtem impacto duplo: não apenas obscurecem os processos eleitorais, infligindo sofrimento e inculcando medo nos cidadãos, mas também impõem reveses profundos aos fundamentos da própria democracia equatoriana. De um lado, os níveis em elevação de violência e insegurança pública corroem a legitimidade do Estado em razão da ausência absoluta de ações e políticas eficazes. Essas circunstâncias também inibem o envolvimento da sociedade civil e a participação dos cidadãos na política. T

alvez mais significativamente, uma crescente inclinação à aceitação de tendências autoritárias tenha fincado raiz na população, amplificando um aumento da desconfiança em relação a instituições e regramentos jurídicos.

Este quadro sombrio molda significativamente o curso desta eleição. O debate e a agenda política revolverão crescentemente em torno do tema da insegurança e da violência, e as campanhas nestes dias finais colocará foco em prover soluções ao problema. Os resultados eleitorais também poderiam ser influenciados por essa dinâmica, favorecendo candidatos com fortes discursos “mano dura”.

Lorena Villavicencio, irmã do candidato presidencial assassinado Fernando Villavicencio, chega com seu marido ao necrotério onde o corpo de seu irmão está sendo mantido em Quito, Equador, quinta-feira, 10 de agosto de 2023.  Foto: Carlos Noriega / AP

Will Freeman, pesquisador de estudos latino-americanos do Council on Foreign Relations e colunista da Americas Quarterly

Quando estive no Equador pela última vez, em maio, um conselheiro do ministro de Relações Exteriores disse-me, “Daqui a dez anos, este país poderá ser um Estado falido”, o que me pareceu hipérbole — naquele momento. Talvez não mais. Mesmo que não seja ainda um Estado falido, o Equador já descambou perturbadoramente para o caminho de virar um narco-Estado.

Não que tenhamos evidências de conivência dos níveis mais altos do governo, como em Honduras sob o ex-presidente Juan Orlando Hernández, mas emergem sinais de cumplicidade e conluio de autoridades no sistema prisional, nas polícias, nas Forças Armadas e no Judiciário. Nenhuma análise do assassinato de Villavicencio — ou de outros políticos assassinados recentemente — que não considere este contexto é válida. A impunidade tem se tornado a norma.

Nós ainda não sabemos quem está por trás do assassinato de Villavicencio, apesar de um vídeo não verificado independentemente mostrar líderes do grupo criminoso Los Lobos — uma das maiores gangues do país — assumindo a autoria. Uma investigação minuciosa e independente deve explorar as falhas da segurança fornecida a Villavicencio pelo governo para proteger sua vida.

Neste momento, muitas peças não se encaixam. Por que Villavicencio foi colocado em um carro normal, não no veículo blindado que estava a caminho para buscá-lo? Por que nenhum agente de segurança entrou com ele no carro? O que nós sim sabemos é que Villavicencio afirmou que vinha recebendo ameaças de morte da organização criminosa Los Choneros — outra das maiores gangues do Equador — em razão de suas propostas contra corrupção e criminalidade.

Prometer investigar corrupção em órgãos públicos e conivência com o crime organizado transformou Villavicencio em alvo. Os líderes políticos do Equador devem agora se inspirar em sua coragem de confrontar esses temas. Se não o fizerem, será cada vez mais difícil extirpar a impunidade e suas profusas consequências. /AQ, COM TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

O candidato à presidência do Equador Fernando Villavicencio foi assassinado, à medida que a criminalidade e a violência relacionada ao tráfico de drogas continuam a abalar o país.

Villavicencio foi alvo de disparos durante um evento de campanha em Quito, em 9 de agosto. Um suspeito foi morto na troca de tiros com a polícia que se seguiu, e outras nove pessoas, incluindo dois policiais e um candidato à Assembleia Nacional, foram baleadas. É a primeira vez na história do Equador que um candidato à presidência do país morre assassinado.

O acontecimento abalou o país que se prepara para realizar eleições gerais em 20 de agosto. Criminalidade e violência relacionada ao narcotráfico têm aumentado no Equador há anos, e Villavicencio, um ex-jornalista, era um dos candidatos presidenciais que criticava mais veementemente o problema.

O candidato presidencial Fernando Villavicencio discursando em um comício de campanha em uma escola minutos antes de ser morto a tiros ao sair da escola em Quito, Equador, quarta-feira, 9 de agosto de 2023. Foto: AP

A AQ pediu para observadores compartilharem suas reações aos acontecimentos. Nós atualizaremos esta página conforme desdobramentos sucedam.

Sebastián Hurtado, presidente da consultoria de risco político Prófitas

A criminalidade, uma grande preocupação entre os eleitores equatorianos, já era ponto focal da próxima eleição presidencial. O assassinato sem precedentes do candidato Fernando Villavicencio deverá agitar significativamente a dinâmica da disputa.

Este evento chocante poderia enfraquecer forças políticas que tradicionalmente se opõem a Villavicencio, principalmente os correístas, de esquerda, que estavam em conflito com ele havia anos. Agora eles enfrentarão maior escrutínio e crítica. Luisa González, a candidata do correísmo à presidência, tem liderado as pesquisas consistentemente e pareceu capaz de vencer no primeiro turno.

Mas agora, em face ao assassinato de ontem, ela poderá encontrar uma disputa mais desafiadora. Um segundo turno intensamente competitivo tornou-se subitamente mais provável. (Se no primeiro turno nenhum candidato à presidência receber mais que 50% dos votos ou uma combinação entre 40% dos votos mais uma vantagem de 10 pontos porcentuais sobre o segundo colocado, uma disputa em segundo turno ocorrerá em 15 de outubro.)

Candidatos de direita conhecidos por suas posições anticorreístas, como Otto Sonnenholzner e Jan Topic, podem perceber impulso em seu apoio. Pesquisas recentes indicavam que esses dois candidatos e Villavicencio estavam essencialmente empatados em segundo lugar dentro da margem de erro.

Topic, conhecido por sua posição linha-dura em segurança, pode se posicionar para ser o maior beneficiado de um aumento na demanda pública por ação contundente contra o crime. Contudo, o nome e a imagem de Villavicencio provavelmente continuarão nas cédulas, e os votos por ele irão para o candidato selecionado por seu partido, o que limitará os ganhos possíveis de Sonnenholzner e Topic.

O presidente Guillermo Lasso, que já foi criticado por fracassar em lidar com a crescente crise de segurança, provavelmente será submetido a um escrutínio ainda maior. Deve-se esperar pedidos por sua renúncia, e um processo de impeachment em andamento poderá ser retomado quando a Assembleia Nacional voltar a se reunir, após as eleições.

Um soldado revista um motorista em um bloqueio de estrada em Guayaquil, Equador, quinta-feira, 10 de agosto de 2023.  Foto: Cesar Munoz / AP

Acima de tudo, a ousadia deste assassinato, praticado em plena luz do dia apesar da proteção policial substancial a Villavicencio, expõe suspeitas alarmantes a respeito do nível de infiltração do crime organizado nas forças de segurança do Equador. As ramificações deste evento trágico são multifacetadas e complexas — e deverão deixar uma marca duradoura no ambiente político do Equador e nas políticas de seus governos nos próximos anos.

Camila Ulloa, coordenadora de democracia, transparência e participação cidadã do Grupo Faro

O Equador enfrenta um aumento sem precedentes em insegurança e violência. Desde 2018, sua reputação forte no passado de um dos locais mais seguros da região ruiu, e 2022 foi o ano mais violento de sua história. Juntamente com um aumento de cinco vezes no número de mortes violentas nos cinco anos recentes, 2023 agora testemunha níveis de violência política sem precedentes.

Durante a campanha para as eleições locais de fevereiro, os assassinatos de dois candidatos a prefeito desprenderam ondas de choque que atingiram todo o país, e vários postulantes acabaram vítimas de ataques violentos. O prefeito de Manta foi assassinado em julho, e o atual ciclo eleitoral foi obscurecido por dois homicídios: primeiro de um candidato à Assembleia Nacional, Rider Sánchez, e mais recentemente o repentino assassinato do candidato presidencial Fernando Villavicencio.

Esses eventos recentes surtem impacto duplo: não apenas obscurecem os processos eleitorais, infligindo sofrimento e inculcando medo nos cidadãos, mas também impõem reveses profundos aos fundamentos da própria democracia equatoriana. De um lado, os níveis em elevação de violência e insegurança pública corroem a legitimidade do Estado em razão da ausência absoluta de ações e políticas eficazes. Essas circunstâncias também inibem o envolvimento da sociedade civil e a participação dos cidadãos na política. T

alvez mais significativamente, uma crescente inclinação à aceitação de tendências autoritárias tenha fincado raiz na população, amplificando um aumento da desconfiança em relação a instituições e regramentos jurídicos.

Este quadro sombrio molda significativamente o curso desta eleição. O debate e a agenda política revolverão crescentemente em torno do tema da insegurança e da violência, e as campanhas nestes dias finais colocará foco em prover soluções ao problema. Os resultados eleitorais também poderiam ser influenciados por essa dinâmica, favorecendo candidatos com fortes discursos “mano dura”.

Lorena Villavicencio, irmã do candidato presidencial assassinado Fernando Villavicencio, chega com seu marido ao necrotério onde o corpo de seu irmão está sendo mantido em Quito, Equador, quinta-feira, 10 de agosto de 2023.  Foto: Carlos Noriega / AP

Will Freeman, pesquisador de estudos latino-americanos do Council on Foreign Relations e colunista da Americas Quarterly

Quando estive no Equador pela última vez, em maio, um conselheiro do ministro de Relações Exteriores disse-me, “Daqui a dez anos, este país poderá ser um Estado falido”, o que me pareceu hipérbole — naquele momento. Talvez não mais. Mesmo que não seja ainda um Estado falido, o Equador já descambou perturbadoramente para o caminho de virar um narco-Estado.

Não que tenhamos evidências de conivência dos níveis mais altos do governo, como em Honduras sob o ex-presidente Juan Orlando Hernández, mas emergem sinais de cumplicidade e conluio de autoridades no sistema prisional, nas polícias, nas Forças Armadas e no Judiciário. Nenhuma análise do assassinato de Villavicencio — ou de outros políticos assassinados recentemente — que não considere este contexto é válida. A impunidade tem se tornado a norma.

Nós ainda não sabemos quem está por trás do assassinato de Villavicencio, apesar de um vídeo não verificado independentemente mostrar líderes do grupo criminoso Los Lobos — uma das maiores gangues do país — assumindo a autoria. Uma investigação minuciosa e independente deve explorar as falhas da segurança fornecida a Villavicencio pelo governo para proteger sua vida.

Neste momento, muitas peças não se encaixam. Por que Villavicencio foi colocado em um carro normal, não no veículo blindado que estava a caminho para buscá-lo? Por que nenhum agente de segurança entrou com ele no carro? O que nós sim sabemos é que Villavicencio afirmou que vinha recebendo ameaças de morte da organização criminosa Los Choneros — outra das maiores gangues do Equador — em razão de suas propostas contra corrupção e criminalidade.

Prometer investigar corrupção em órgãos públicos e conivência com o crime organizado transformou Villavicencio em alvo. Os líderes políticos do Equador devem agora se inspirar em sua coragem de confrontar esses temas. Se não o fizerem, será cada vez mais difícil extirpar a impunidade e suas profusas consequências. /AQ, COM TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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