Nenhum debate presidencial teve tanto impacto em uma eleição quanto o realizado entre Joe Biden e Donald Trump em 27 de junho. O desempenho de Biden foi tão desastroso que seu próprio partido o pressionou a desistir.
Desde que Kamala Harris, a vice-presidente, o substituiu como candidata dos democratas, a disputa ficou mais acirrada. Agora está pau-a-pau, de acordo com o modelo da The Economist. Em 10 de setembro, Harris enfrentará Trump em um segundo debate presidencial. Quanta diferença isso fará?
Foi somente em 1960, quando John Kennedy e Richard Nixon se enfrentaram na televisão, que dois candidatos à presidência debateram entre si. Desde então, os jornalistas têm atribuído grande importância a esses eventos.
Dizem que os candidatos ganham “impulso”; bons desempenhos são “viradores de jogo”. As gafes podem dominar a conversa política: no debate com Jimmy Carter em 1976, o Presidente Gerald Ford afirmou, de forma ridícula, que a Polônia estava livre da influência soviética.
Os cientistas políticos têm se mostrado céticos quanto ao efeito dos debates. Robert Erikson, da Universidade de Colúmbia, e Christopher Wlezien, da Universidade do Texas em Austin, analisaram as eleições presidenciais de 1960 a 2008. Eles descobriram que as pesquisas realizadas antes dos debates eram muito próximas das realizadas uma semana depois deles.
Uma análise mais aprofundada feita pela The Economist dos dados compilados pelos mesmos pesquisadores sugere que os debates também fizeram pouca diferença em 2012, ou mesmo em 2016, quando o primeiro confronto direto entre Hillary Clinton e Trump atraiu um recorde de 84 milhões de espectadores.
Os debates de 2020 se destacaram - não por causa de seu efeito nas pesquisas, mas porque foram pouco mais do que brigas. Trump chamou Biden de estúpido; Biden apelidou seu oponente de “palhaço” e perguntou, exasperado: “Você pode calar a boca, cara?” Um estudo concluiu que esse foi o confronto presidencial mais desrespeitoso de todos os tempos.
Em circunstâncias normais, não é de surpreender que os debates raramente façam diferença. Quem assiste tende a já estar interessado em política, e as pesquisas sugerem que os partidários têm maior probabilidade de assistir do que os independentes.
Muitos espectadores já terão se decidido. E, na maioria dos ciclos, os candidatos já estão fazendo campanha há meses quando os debates chegam, seja nas primárias ou na Casa Branca. Eles já são bem conhecidos dos eleitores.
Esta eleição é diferente. Harris tornou-se a candidata do Partido Democrata muito tarde na disputa. Ela já é bem conhecida por aqueles que acompanham a política de perto - não apenas por seus quatro anos como vice-presidente, mas também por seu período como senadora e por sua candidatura malsucedida à indicação democrata em 2020.
Mas muitos americanos ainda estão começando a conhecê-la. Pesquisas sugerem que os eleitores tiram o máximo proveito dos debates quando sabem menos sobre os candidatos.
Até o momento, os eleitores estão gostando do que veem: imediatamente antes do debate que fez com que Biden se retirasse da disputa, o índice de apoio à Harris disparou. Os americanos já tiveram uma amostra de sua habilidade como debatedora.
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Ela enfrentou Mike Pence no debate sobre a vice-presidência em 2020 e levou a melhor, de acordo com as pesquisas da época. Além disso, sua carreira como promotora lhe deu uma determinação inabalável, que foi exibida em 2018 quando, como senadora, ela interrogou Brett Kavanaugh durante sua avaliação para uma vaga na Suprema Corte.
Se Harris conseguir demonstrar a mesma habilidade contra Trump, ela poderá conquistar mais americanos durante esse debate. E em uma disputa acirrada, isso pode ser crucial.