‘O erro do Partido Democrata foi achar que o voto latino era homogêneo’, diz pesquisadora


Segundo a professora venezuelana Maria Isabel Puerta Riera, embora o voto latino tenha ido em sua maioria para os democratas, ele nunca foi um apoio completo ao partido

Por Carolina Marins

O voto latino ganhou os holofotes nessas eleições de meio de mandato nos Estados Unidos e virou uma batalha entre republicanos e democratas em alguns Estados-chave. Até então interpretado como um eleitorado que votava majoritariamente no Partido Democrata, o tamanho deste apoio vem dando sinais de queda e este ano pesquisas de intenção de votos capturaram uma tendência de migração do eleitorado que ainda não é suficiente para reverter o cenário, mas liga sinais de alerta em democratas.

Segundo a venezuelana e professora de Ciência Política e Relações Internacionais do Valencia College da Flórida, María Isabel Puerta Riera, o erro de todos que analisam a política americana, mas principalmente do Partido Democrata, é interpretar o eleitorado latino como algo monolítico e não capturar as suas diversidades - de origens, crenças, religiosidade, idade e outros.

Ao longo da reta final da campanha para as eleições legislativas, democratas correram para recuperar o tempo não investido nesse eleitorado, que é o segundo maior dos EUA, atrás apenas dos americanos brancos. Depois de inferir, durante anos, que o voto latino era uma garantia, o partido investiu em convencer esse eleitorado de que prestará maior atenção às suas demandas em uma tentativa de ao menos fazê-los votar e evitar a enorme abstenção vista em 2020.

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Uma urna para depositar a cédula de votação com letreito em espanhol em Silver Spring, Maryland Foto: Brendan Smialowski/AFP

Estadão: Estamos realmente vendo uma mudança no voto latino ou foi um erro de interpretação assumir que ele sempre seria democrata?

Puerta Riera: Parte do problema é que o voto latino nunca foi um voto monolítico e nunca foi um voto para os democratas. O que houve foi uma forte maioria de votos indo para os democratas, mas o Partido Republicano também sempre contou com os votos dos cubano-americanos, especialmente os que vieram na primeira onda logo após a Revolução Cubana. E isso se deu por muitas razões, não só ideológicas, mas também pelas diferenças com os democratas, sobretudo a oposição do partido às sanções à Cuba. Mas também vimos isso em colombianos, nicaraguenses, etc., que não encontram no Partido Democrata uma posição sólida como a dos republicanos.

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Porém, há um tipo de narrativa de que os latinos são democratas por padrão e isso é um erro que quase todos nós que tentamos interpretar a política dos Estados Unidos como algo preto e branco caímos quando se trata de latinos. Ignoramos muitos outros aspectos, por exemplo, os latinos tendem a ser muito mais conservadores e há outro fator que perpassa isso, que é a religiosidade. Então, há uma convergência [em parte desse eleitorado] que vai além do ideológico, porque também é cultural, com o Partido Republicano que é conservador.

Por que então essa diversidade do voto, especialmente do voto do latino conservador, começou a ficar mais evidente agora?

O erro de algumas campanhas foi tentar igualar os latinos como se estivessem todos aqui por motivos políticos ou porque a imigração é uma questão que vai nos mobilizar. Há uma porcentagem de setores dentro do eleitoral latino que não se mobiliza por isso. Existe um problema e uma desconexão de algumas campanhas políticas e isso nos leva a pensar que os democratas estão perdendo terreno e que os republicanos estão fazendo algo diferente.

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E de fato estão fazendo, estão alcançando essas comunidades, mas estão entendendo as suas diferenças, por exemplo, os republicanos entendem que nem todos os texanos de origem latina ou latinos aqui na Flórida são mobilizados pela imigração. Outra coisa: eles têm tido muito sucesso em gerar medo com o socialismo, conectando o socialismo com o Partido Democrata, e é algo bem sucedido porque essa é uma população que não sabe distinguir o que é o socialismo e simplesmente associa um partido que não é conservador com a esquerda.

O presidente Joe Biden durante os últimos dias de campanha antes das eleições de meio de mandato  Foto: Michael Reynolds/EPA/EFE

Por fim, não podemos colocar esse voto dentro de uma mesma caixinha, como se todos fossem iguais. O fato de que falamos espanhol não nos torna iguais culturalmente. Há inclusive latinos que suas famílias moram há tanto tempo nos EUA que eles não se identificam como nada além de americanos e nem sequer falam espanhol.

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Você falou que é um erro achar que a pauta migratória é um fator de mobilização deste eleitorado, ao mesmo tempo o tema virou um campo de batalha nos Estados do sul. Essa disputa então não afeta o voto latino?

Pelo que observo, tanto aqui quanto um pouco no Texas, há na comunidade latina uma falta de solidariedade com o imigrante que está chegando agora ilegalmente. Isso é uma percepção totalmente empírica, pelo que percebo no meu entorno e não com base em dados. Mas vemos essa falta de solidariedade.

E me parece que isso explica por que desde 2016 houve uma aproximação desse eleitorado [aos republicanos], por exemplo, o eleitorado venezuelano-americano aqui na Flórida, que é entorno de 2% a 3% dos votantes, não deu uma votação esmagadora para Trump em 2016, mas já nas eleições de 2018 e 2020 começamos a ver que havia uma mudança qualitativa em termos da percepção venezuelana-americana de que o Partido Republicano os representa melhor. E não só pelo tema migratório, mas tema por ser um eleitorado profundamente conservador, anti-LGBT+ e que está muito ligado à religião. Então, o tema da migração importa muito menos do que essas outras pautas.

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Cartazes de apoio ao governador da Flórida, Ron DeSantis, que esteve envolvido em disputas em torno do tema migratório na Flórida e no Texas. Pesquisas apontam que o republicano tem ganhado apoio entre os latinos Foto: Giorgio Vieira/AFP

Interessante você trazer essa influência da religião no eleitorado, porque uma pesquisa do Pew Research Center publicada em setembro mostrou que, apesar do voto latino ser muito conectado à religião, a mudança na lei de aborto foi algo que não agradou. O que explica esse fenômeno?

Está ocorrendo uma mudança de uma progressiva secularização do eleitorado latino, muito relacionado também com a idade desse eleitorado. Há sim um forte componente religioso, isso é inegável, não podemos ignorar que as igrejas, principalmente as pentecostais, tiveram uma penetração enorme aqui, mas assim como avançaram, houve também um aumento da secularização. O que você vê nesses dados é uma luta política que está tomando uma cor diferente.

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Quando você tem uma Suprema Corte tomando decisões baseadas na religião, um Congresso com deputados republicanos cada vez mais propensos a justificar suas decisões e projetos de lei com base na religião, você vai ver gente rechaçando isso. Essa questão está expondo uma polarização que vai além do ideológico, mas é parte de uma guerra cultural.

Mas tenho a impressão de que o aborto terá um peso muito maior nas eleições do que as pesquisas estão mostrando. Vejo isso no meu entorno, nas mulheres das minhas salas de aula. Não sei se é um problema de metodologia ou se as pessoas estão se censurando, mas este será um tema que fará as pessoas irem votar, junto com a inflação.

Falando em inflação, este é justamente o tema que mais tem desagradado o eleitorado latino em relação aos democratas e nem o pacote econômico do governo parece ter revertido isso, por que a Economia tem sido o maior fator de mobilização entre latinos?

A Economia foi o fator mais difícil, para todas as pessoas, porque houve um aumento no custo de vida, no preço de alimentos, energia e da gasolina que afetou o bolso. Porém, uma parte do eleitorado, a maioria jovem com formação universitária, também viu um aumento de seu salário ou até conseguiu trocar de emprego para uma oportunidade melhor. Mas os latinos, e outros grupos minoritários como negros e mães-solo não viram essa melhora na taxa de emprego, por exemplo.

E isso se soma com o fato de que os democratas não conseguiram comunicar seu pacote de leis, por exemplo, o de redução da inflação e o de infraestrutura, esses dois pacotes de leis. Eles têm que aprender a explicar melhor em termos muito mais simples para que as pessoas entendam do que se trata e como isso pode reduzir o impacto que a inflação está tendo em suas vidas.

O voto latino ganhou os holofotes nessas eleições de meio de mandato nos Estados Unidos e virou uma batalha entre republicanos e democratas em alguns Estados-chave. Até então interpretado como um eleitorado que votava majoritariamente no Partido Democrata, o tamanho deste apoio vem dando sinais de queda e este ano pesquisas de intenção de votos capturaram uma tendência de migração do eleitorado que ainda não é suficiente para reverter o cenário, mas liga sinais de alerta em democratas.

Segundo a venezuelana e professora de Ciência Política e Relações Internacionais do Valencia College da Flórida, María Isabel Puerta Riera, o erro de todos que analisam a política americana, mas principalmente do Partido Democrata, é interpretar o eleitorado latino como algo monolítico e não capturar as suas diversidades - de origens, crenças, religiosidade, idade e outros.

Ao longo da reta final da campanha para as eleições legislativas, democratas correram para recuperar o tempo não investido nesse eleitorado, que é o segundo maior dos EUA, atrás apenas dos americanos brancos. Depois de inferir, durante anos, que o voto latino era uma garantia, o partido investiu em convencer esse eleitorado de que prestará maior atenção às suas demandas em uma tentativa de ao menos fazê-los votar e evitar a enorme abstenção vista em 2020.

Uma urna para depositar a cédula de votação com letreito em espanhol em Silver Spring, Maryland Foto: Brendan Smialowski/AFP

Estadão: Estamos realmente vendo uma mudança no voto latino ou foi um erro de interpretação assumir que ele sempre seria democrata?

Puerta Riera: Parte do problema é que o voto latino nunca foi um voto monolítico e nunca foi um voto para os democratas. O que houve foi uma forte maioria de votos indo para os democratas, mas o Partido Republicano também sempre contou com os votos dos cubano-americanos, especialmente os que vieram na primeira onda logo após a Revolução Cubana. E isso se deu por muitas razões, não só ideológicas, mas também pelas diferenças com os democratas, sobretudo a oposição do partido às sanções à Cuba. Mas também vimos isso em colombianos, nicaraguenses, etc., que não encontram no Partido Democrata uma posição sólida como a dos republicanos.

Porém, há um tipo de narrativa de que os latinos são democratas por padrão e isso é um erro que quase todos nós que tentamos interpretar a política dos Estados Unidos como algo preto e branco caímos quando se trata de latinos. Ignoramos muitos outros aspectos, por exemplo, os latinos tendem a ser muito mais conservadores e há outro fator que perpassa isso, que é a religiosidade. Então, há uma convergência [em parte desse eleitorado] que vai além do ideológico, porque também é cultural, com o Partido Republicano que é conservador.

Por que então essa diversidade do voto, especialmente do voto do latino conservador, começou a ficar mais evidente agora?

O erro de algumas campanhas foi tentar igualar os latinos como se estivessem todos aqui por motivos políticos ou porque a imigração é uma questão que vai nos mobilizar. Há uma porcentagem de setores dentro do eleitoral latino que não se mobiliza por isso. Existe um problema e uma desconexão de algumas campanhas políticas e isso nos leva a pensar que os democratas estão perdendo terreno e que os republicanos estão fazendo algo diferente.

E de fato estão fazendo, estão alcançando essas comunidades, mas estão entendendo as suas diferenças, por exemplo, os republicanos entendem que nem todos os texanos de origem latina ou latinos aqui na Flórida são mobilizados pela imigração. Outra coisa: eles têm tido muito sucesso em gerar medo com o socialismo, conectando o socialismo com o Partido Democrata, e é algo bem sucedido porque essa é uma população que não sabe distinguir o que é o socialismo e simplesmente associa um partido que não é conservador com a esquerda.

O presidente Joe Biden durante os últimos dias de campanha antes das eleições de meio de mandato  Foto: Michael Reynolds/EPA/EFE

Por fim, não podemos colocar esse voto dentro de uma mesma caixinha, como se todos fossem iguais. O fato de que falamos espanhol não nos torna iguais culturalmente. Há inclusive latinos que suas famílias moram há tanto tempo nos EUA que eles não se identificam como nada além de americanos e nem sequer falam espanhol.

Você falou que é um erro achar que a pauta migratória é um fator de mobilização deste eleitorado, ao mesmo tempo o tema virou um campo de batalha nos Estados do sul. Essa disputa então não afeta o voto latino?

Pelo que observo, tanto aqui quanto um pouco no Texas, há na comunidade latina uma falta de solidariedade com o imigrante que está chegando agora ilegalmente. Isso é uma percepção totalmente empírica, pelo que percebo no meu entorno e não com base em dados. Mas vemos essa falta de solidariedade.

E me parece que isso explica por que desde 2016 houve uma aproximação desse eleitorado [aos republicanos], por exemplo, o eleitorado venezuelano-americano aqui na Flórida, que é entorno de 2% a 3% dos votantes, não deu uma votação esmagadora para Trump em 2016, mas já nas eleições de 2018 e 2020 começamos a ver que havia uma mudança qualitativa em termos da percepção venezuelana-americana de que o Partido Republicano os representa melhor. E não só pelo tema migratório, mas tema por ser um eleitorado profundamente conservador, anti-LGBT+ e que está muito ligado à religião. Então, o tema da migração importa muito menos do que essas outras pautas.

Cartazes de apoio ao governador da Flórida, Ron DeSantis, que esteve envolvido em disputas em torno do tema migratório na Flórida e no Texas. Pesquisas apontam que o republicano tem ganhado apoio entre os latinos Foto: Giorgio Vieira/AFP

Interessante você trazer essa influência da religião no eleitorado, porque uma pesquisa do Pew Research Center publicada em setembro mostrou que, apesar do voto latino ser muito conectado à religião, a mudança na lei de aborto foi algo que não agradou. O que explica esse fenômeno?

Está ocorrendo uma mudança de uma progressiva secularização do eleitorado latino, muito relacionado também com a idade desse eleitorado. Há sim um forte componente religioso, isso é inegável, não podemos ignorar que as igrejas, principalmente as pentecostais, tiveram uma penetração enorme aqui, mas assim como avançaram, houve também um aumento da secularização. O que você vê nesses dados é uma luta política que está tomando uma cor diferente.

Quando você tem uma Suprema Corte tomando decisões baseadas na religião, um Congresso com deputados republicanos cada vez mais propensos a justificar suas decisões e projetos de lei com base na religião, você vai ver gente rechaçando isso. Essa questão está expondo uma polarização que vai além do ideológico, mas é parte de uma guerra cultural.

Mas tenho a impressão de que o aborto terá um peso muito maior nas eleições do que as pesquisas estão mostrando. Vejo isso no meu entorno, nas mulheres das minhas salas de aula. Não sei se é um problema de metodologia ou se as pessoas estão se censurando, mas este será um tema que fará as pessoas irem votar, junto com a inflação.

Falando em inflação, este é justamente o tema que mais tem desagradado o eleitorado latino em relação aos democratas e nem o pacote econômico do governo parece ter revertido isso, por que a Economia tem sido o maior fator de mobilização entre latinos?

A Economia foi o fator mais difícil, para todas as pessoas, porque houve um aumento no custo de vida, no preço de alimentos, energia e da gasolina que afetou o bolso. Porém, uma parte do eleitorado, a maioria jovem com formação universitária, também viu um aumento de seu salário ou até conseguiu trocar de emprego para uma oportunidade melhor. Mas os latinos, e outros grupos minoritários como negros e mães-solo não viram essa melhora na taxa de emprego, por exemplo.

E isso se soma com o fato de que os democratas não conseguiram comunicar seu pacote de leis, por exemplo, o de redução da inflação e o de infraestrutura, esses dois pacotes de leis. Eles têm que aprender a explicar melhor em termos muito mais simples para que as pessoas entendam do que se trata e como isso pode reduzir o impacto que a inflação está tendo em suas vidas.

O voto latino ganhou os holofotes nessas eleições de meio de mandato nos Estados Unidos e virou uma batalha entre republicanos e democratas em alguns Estados-chave. Até então interpretado como um eleitorado que votava majoritariamente no Partido Democrata, o tamanho deste apoio vem dando sinais de queda e este ano pesquisas de intenção de votos capturaram uma tendência de migração do eleitorado que ainda não é suficiente para reverter o cenário, mas liga sinais de alerta em democratas.

Segundo a venezuelana e professora de Ciência Política e Relações Internacionais do Valencia College da Flórida, María Isabel Puerta Riera, o erro de todos que analisam a política americana, mas principalmente do Partido Democrata, é interpretar o eleitorado latino como algo monolítico e não capturar as suas diversidades - de origens, crenças, religiosidade, idade e outros.

Ao longo da reta final da campanha para as eleições legislativas, democratas correram para recuperar o tempo não investido nesse eleitorado, que é o segundo maior dos EUA, atrás apenas dos americanos brancos. Depois de inferir, durante anos, que o voto latino era uma garantia, o partido investiu em convencer esse eleitorado de que prestará maior atenção às suas demandas em uma tentativa de ao menos fazê-los votar e evitar a enorme abstenção vista em 2020.

Uma urna para depositar a cédula de votação com letreito em espanhol em Silver Spring, Maryland Foto: Brendan Smialowski/AFP

Estadão: Estamos realmente vendo uma mudança no voto latino ou foi um erro de interpretação assumir que ele sempre seria democrata?

Puerta Riera: Parte do problema é que o voto latino nunca foi um voto monolítico e nunca foi um voto para os democratas. O que houve foi uma forte maioria de votos indo para os democratas, mas o Partido Republicano também sempre contou com os votos dos cubano-americanos, especialmente os que vieram na primeira onda logo após a Revolução Cubana. E isso se deu por muitas razões, não só ideológicas, mas também pelas diferenças com os democratas, sobretudo a oposição do partido às sanções à Cuba. Mas também vimos isso em colombianos, nicaraguenses, etc., que não encontram no Partido Democrata uma posição sólida como a dos republicanos.

Porém, há um tipo de narrativa de que os latinos são democratas por padrão e isso é um erro que quase todos nós que tentamos interpretar a política dos Estados Unidos como algo preto e branco caímos quando se trata de latinos. Ignoramos muitos outros aspectos, por exemplo, os latinos tendem a ser muito mais conservadores e há outro fator que perpassa isso, que é a religiosidade. Então, há uma convergência [em parte desse eleitorado] que vai além do ideológico, porque também é cultural, com o Partido Republicano que é conservador.

Por que então essa diversidade do voto, especialmente do voto do latino conservador, começou a ficar mais evidente agora?

O erro de algumas campanhas foi tentar igualar os latinos como se estivessem todos aqui por motivos políticos ou porque a imigração é uma questão que vai nos mobilizar. Há uma porcentagem de setores dentro do eleitoral latino que não se mobiliza por isso. Existe um problema e uma desconexão de algumas campanhas políticas e isso nos leva a pensar que os democratas estão perdendo terreno e que os republicanos estão fazendo algo diferente.

E de fato estão fazendo, estão alcançando essas comunidades, mas estão entendendo as suas diferenças, por exemplo, os republicanos entendem que nem todos os texanos de origem latina ou latinos aqui na Flórida são mobilizados pela imigração. Outra coisa: eles têm tido muito sucesso em gerar medo com o socialismo, conectando o socialismo com o Partido Democrata, e é algo bem sucedido porque essa é uma população que não sabe distinguir o que é o socialismo e simplesmente associa um partido que não é conservador com a esquerda.

O presidente Joe Biden durante os últimos dias de campanha antes das eleições de meio de mandato  Foto: Michael Reynolds/EPA/EFE

Por fim, não podemos colocar esse voto dentro de uma mesma caixinha, como se todos fossem iguais. O fato de que falamos espanhol não nos torna iguais culturalmente. Há inclusive latinos que suas famílias moram há tanto tempo nos EUA que eles não se identificam como nada além de americanos e nem sequer falam espanhol.

Você falou que é um erro achar que a pauta migratória é um fator de mobilização deste eleitorado, ao mesmo tempo o tema virou um campo de batalha nos Estados do sul. Essa disputa então não afeta o voto latino?

Pelo que observo, tanto aqui quanto um pouco no Texas, há na comunidade latina uma falta de solidariedade com o imigrante que está chegando agora ilegalmente. Isso é uma percepção totalmente empírica, pelo que percebo no meu entorno e não com base em dados. Mas vemos essa falta de solidariedade.

E me parece que isso explica por que desde 2016 houve uma aproximação desse eleitorado [aos republicanos], por exemplo, o eleitorado venezuelano-americano aqui na Flórida, que é entorno de 2% a 3% dos votantes, não deu uma votação esmagadora para Trump em 2016, mas já nas eleições de 2018 e 2020 começamos a ver que havia uma mudança qualitativa em termos da percepção venezuelana-americana de que o Partido Republicano os representa melhor. E não só pelo tema migratório, mas tema por ser um eleitorado profundamente conservador, anti-LGBT+ e que está muito ligado à religião. Então, o tema da migração importa muito menos do que essas outras pautas.

Cartazes de apoio ao governador da Flórida, Ron DeSantis, que esteve envolvido em disputas em torno do tema migratório na Flórida e no Texas. Pesquisas apontam que o republicano tem ganhado apoio entre os latinos Foto: Giorgio Vieira/AFP

Interessante você trazer essa influência da religião no eleitorado, porque uma pesquisa do Pew Research Center publicada em setembro mostrou que, apesar do voto latino ser muito conectado à religião, a mudança na lei de aborto foi algo que não agradou. O que explica esse fenômeno?

Está ocorrendo uma mudança de uma progressiva secularização do eleitorado latino, muito relacionado também com a idade desse eleitorado. Há sim um forte componente religioso, isso é inegável, não podemos ignorar que as igrejas, principalmente as pentecostais, tiveram uma penetração enorme aqui, mas assim como avançaram, houve também um aumento da secularização. O que você vê nesses dados é uma luta política que está tomando uma cor diferente.

Quando você tem uma Suprema Corte tomando decisões baseadas na religião, um Congresso com deputados republicanos cada vez mais propensos a justificar suas decisões e projetos de lei com base na religião, você vai ver gente rechaçando isso. Essa questão está expondo uma polarização que vai além do ideológico, mas é parte de uma guerra cultural.

Mas tenho a impressão de que o aborto terá um peso muito maior nas eleições do que as pesquisas estão mostrando. Vejo isso no meu entorno, nas mulheres das minhas salas de aula. Não sei se é um problema de metodologia ou se as pessoas estão se censurando, mas este será um tema que fará as pessoas irem votar, junto com a inflação.

Falando em inflação, este é justamente o tema que mais tem desagradado o eleitorado latino em relação aos democratas e nem o pacote econômico do governo parece ter revertido isso, por que a Economia tem sido o maior fator de mobilização entre latinos?

A Economia foi o fator mais difícil, para todas as pessoas, porque houve um aumento no custo de vida, no preço de alimentos, energia e da gasolina que afetou o bolso. Porém, uma parte do eleitorado, a maioria jovem com formação universitária, também viu um aumento de seu salário ou até conseguiu trocar de emprego para uma oportunidade melhor. Mas os latinos, e outros grupos minoritários como negros e mães-solo não viram essa melhora na taxa de emprego, por exemplo.

E isso se soma com o fato de que os democratas não conseguiram comunicar seu pacote de leis, por exemplo, o de redução da inflação e o de infraestrutura, esses dois pacotes de leis. Eles têm que aprender a explicar melhor em termos muito mais simples para que as pessoas entendam do que se trata e como isso pode reduzir o impacto que a inflação está tendo em suas vidas.

O voto latino ganhou os holofotes nessas eleições de meio de mandato nos Estados Unidos e virou uma batalha entre republicanos e democratas em alguns Estados-chave. Até então interpretado como um eleitorado que votava majoritariamente no Partido Democrata, o tamanho deste apoio vem dando sinais de queda e este ano pesquisas de intenção de votos capturaram uma tendência de migração do eleitorado que ainda não é suficiente para reverter o cenário, mas liga sinais de alerta em democratas.

Segundo a venezuelana e professora de Ciência Política e Relações Internacionais do Valencia College da Flórida, María Isabel Puerta Riera, o erro de todos que analisam a política americana, mas principalmente do Partido Democrata, é interpretar o eleitorado latino como algo monolítico e não capturar as suas diversidades - de origens, crenças, religiosidade, idade e outros.

Ao longo da reta final da campanha para as eleições legislativas, democratas correram para recuperar o tempo não investido nesse eleitorado, que é o segundo maior dos EUA, atrás apenas dos americanos brancos. Depois de inferir, durante anos, que o voto latino era uma garantia, o partido investiu em convencer esse eleitorado de que prestará maior atenção às suas demandas em uma tentativa de ao menos fazê-los votar e evitar a enorme abstenção vista em 2020.

Uma urna para depositar a cédula de votação com letreito em espanhol em Silver Spring, Maryland Foto: Brendan Smialowski/AFP

Estadão: Estamos realmente vendo uma mudança no voto latino ou foi um erro de interpretação assumir que ele sempre seria democrata?

Puerta Riera: Parte do problema é que o voto latino nunca foi um voto monolítico e nunca foi um voto para os democratas. O que houve foi uma forte maioria de votos indo para os democratas, mas o Partido Republicano também sempre contou com os votos dos cubano-americanos, especialmente os que vieram na primeira onda logo após a Revolução Cubana. E isso se deu por muitas razões, não só ideológicas, mas também pelas diferenças com os democratas, sobretudo a oposição do partido às sanções à Cuba. Mas também vimos isso em colombianos, nicaraguenses, etc., que não encontram no Partido Democrata uma posição sólida como a dos republicanos.

Porém, há um tipo de narrativa de que os latinos são democratas por padrão e isso é um erro que quase todos nós que tentamos interpretar a política dos Estados Unidos como algo preto e branco caímos quando se trata de latinos. Ignoramos muitos outros aspectos, por exemplo, os latinos tendem a ser muito mais conservadores e há outro fator que perpassa isso, que é a religiosidade. Então, há uma convergência [em parte desse eleitorado] que vai além do ideológico, porque também é cultural, com o Partido Republicano que é conservador.

Por que então essa diversidade do voto, especialmente do voto do latino conservador, começou a ficar mais evidente agora?

O erro de algumas campanhas foi tentar igualar os latinos como se estivessem todos aqui por motivos políticos ou porque a imigração é uma questão que vai nos mobilizar. Há uma porcentagem de setores dentro do eleitoral latino que não se mobiliza por isso. Existe um problema e uma desconexão de algumas campanhas políticas e isso nos leva a pensar que os democratas estão perdendo terreno e que os republicanos estão fazendo algo diferente.

E de fato estão fazendo, estão alcançando essas comunidades, mas estão entendendo as suas diferenças, por exemplo, os republicanos entendem que nem todos os texanos de origem latina ou latinos aqui na Flórida são mobilizados pela imigração. Outra coisa: eles têm tido muito sucesso em gerar medo com o socialismo, conectando o socialismo com o Partido Democrata, e é algo bem sucedido porque essa é uma população que não sabe distinguir o que é o socialismo e simplesmente associa um partido que não é conservador com a esquerda.

O presidente Joe Biden durante os últimos dias de campanha antes das eleições de meio de mandato  Foto: Michael Reynolds/EPA/EFE

Por fim, não podemos colocar esse voto dentro de uma mesma caixinha, como se todos fossem iguais. O fato de que falamos espanhol não nos torna iguais culturalmente. Há inclusive latinos que suas famílias moram há tanto tempo nos EUA que eles não se identificam como nada além de americanos e nem sequer falam espanhol.

Você falou que é um erro achar que a pauta migratória é um fator de mobilização deste eleitorado, ao mesmo tempo o tema virou um campo de batalha nos Estados do sul. Essa disputa então não afeta o voto latino?

Pelo que observo, tanto aqui quanto um pouco no Texas, há na comunidade latina uma falta de solidariedade com o imigrante que está chegando agora ilegalmente. Isso é uma percepção totalmente empírica, pelo que percebo no meu entorno e não com base em dados. Mas vemos essa falta de solidariedade.

E me parece que isso explica por que desde 2016 houve uma aproximação desse eleitorado [aos republicanos], por exemplo, o eleitorado venezuelano-americano aqui na Flórida, que é entorno de 2% a 3% dos votantes, não deu uma votação esmagadora para Trump em 2016, mas já nas eleições de 2018 e 2020 começamos a ver que havia uma mudança qualitativa em termos da percepção venezuelana-americana de que o Partido Republicano os representa melhor. E não só pelo tema migratório, mas tema por ser um eleitorado profundamente conservador, anti-LGBT+ e que está muito ligado à religião. Então, o tema da migração importa muito menos do que essas outras pautas.

Cartazes de apoio ao governador da Flórida, Ron DeSantis, que esteve envolvido em disputas em torno do tema migratório na Flórida e no Texas. Pesquisas apontam que o republicano tem ganhado apoio entre os latinos Foto: Giorgio Vieira/AFP

Interessante você trazer essa influência da religião no eleitorado, porque uma pesquisa do Pew Research Center publicada em setembro mostrou que, apesar do voto latino ser muito conectado à religião, a mudança na lei de aborto foi algo que não agradou. O que explica esse fenômeno?

Está ocorrendo uma mudança de uma progressiva secularização do eleitorado latino, muito relacionado também com a idade desse eleitorado. Há sim um forte componente religioso, isso é inegável, não podemos ignorar que as igrejas, principalmente as pentecostais, tiveram uma penetração enorme aqui, mas assim como avançaram, houve também um aumento da secularização. O que você vê nesses dados é uma luta política que está tomando uma cor diferente.

Quando você tem uma Suprema Corte tomando decisões baseadas na religião, um Congresso com deputados republicanos cada vez mais propensos a justificar suas decisões e projetos de lei com base na religião, você vai ver gente rechaçando isso. Essa questão está expondo uma polarização que vai além do ideológico, mas é parte de uma guerra cultural.

Mas tenho a impressão de que o aborto terá um peso muito maior nas eleições do que as pesquisas estão mostrando. Vejo isso no meu entorno, nas mulheres das minhas salas de aula. Não sei se é um problema de metodologia ou se as pessoas estão se censurando, mas este será um tema que fará as pessoas irem votar, junto com a inflação.

Falando em inflação, este é justamente o tema que mais tem desagradado o eleitorado latino em relação aos democratas e nem o pacote econômico do governo parece ter revertido isso, por que a Economia tem sido o maior fator de mobilização entre latinos?

A Economia foi o fator mais difícil, para todas as pessoas, porque houve um aumento no custo de vida, no preço de alimentos, energia e da gasolina que afetou o bolso. Porém, uma parte do eleitorado, a maioria jovem com formação universitária, também viu um aumento de seu salário ou até conseguiu trocar de emprego para uma oportunidade melhor. Mas os latinos, e outros grupos minoritários como negros e mães-solo não viram essa melhora na taxa de emprego, por exemplo.

E isso se soma com o fato de que os democratas não conseguiram comunicar seu pacote de leis, por exemplo, o de redução da inflação e o de infraestrutura, esses dois pacotes de leis. Eles têm que aprender a explicar melhor em termos muito mais simples para que as pessoas entendam do que se trata e como isso pode reduzir o impacto que a inflação está tendo em suas vidas.

O voto latino ganhou os holofotes nessas eleições de meio de mandato nos Estados Unidos e virou uma batalha entre republicanos e democratas em alguns Estados-chave. Até então interpretado como um eleitorado que votava majoritariamente no Partido Democrata, o tamanho deste apoio vem dando sinais de queda e este ano pesquisas de intenção de votos capturaram uma tendência de migração do eleitorado que ainda não é suficiente para reverter o cenário, mas liga sinais de alerta em democratas.

Segundo a venezuelana e professora de Ciência Política e Relações Internacionais do Valencia College da Flórida, María Isabel Puerta Riera, o erro de todos que analisam a política americana, mas principalmente do Partido Democrata, é interpretar o eleitorado latino como algo monolítico e não capturar as suas diversidades - de origens, crenças, religiosidade, idade e outros.

Ao longo da reta final da campanha para as eleições legislativas, democratas correram para recuperar o tempo não investido nesse eleitorado, que é o segundo maior dos EUA, atrás apenas dos americanos brancos. Depois de inferir, durante anos, que o voto latino era uma garantia, o partido investiu em convencer esse eleitorado de que prestará maior atenção às suas demandas em uma tentativa de ao menos fazê-los votar e evitar a enorme abstenção vista em 2020.

Uma urna para depositar a cédula de votação com letreito em espanhol em Silver Spring, Maryland Foto: Brendan Smialowski/AFP

Estadão: Estamos realmente vendo uma mudança no voto latino ou foi um erro de interpretação assumir que ele sempre seria democrata?

Puerta Riera: Parte do problema é que o voto latino nunca foi um voto monolítico e nunca foi um voto para os democratas. O que houve foi uma forte maioria de votos indo para os democratas, mas o Partido Republicano também sempre contou com os votos dos cubano-americanos, especialmente os que vieram na primeira onda logo após a Revolução Cubana. E isso se deu por muitas razões, não só ideológicas, mas também pelas diferenças com os democratas, sobretudo a oposição do partido às sanções à Cuba. Mas também vimos isso em colombianos, nicaraguenses, etc., que não encontram no Partido Democrata uma posição sólida como a dos republicanos.

Porém, há um tipo de narrativa de que os latinos são democratas por padrão e isso é um erro que quase todos nós que tentamos interpretar a política dos Estados Unidos como algo preto e branco caímos quando se trata de latinos. Ignoramos muitos outros aspectos, por exemplo, os latinos tendem a ser muito mais conservadores e há outro fator que perpassa isso, que é a religiosidade. Então, há uma convergência [em parte desse eleitorado] que vai além do ideológico, porque também é cultural, com o Partido Republicano que é conservador.

Por que então essa diversidade do voto, especialmente do voto do latino conservador, começou a ficar mais evidente agora?

O erro de algumas campanhas foi tentar igualar os latinos como se estivessem todos aqui por motivos políticos ou porque a imigração é uma questão que vai nos mobilizar. Há uma porcentagem de setores dentro do eleitoral latino que não se mobiliza por isso. Existe um problema e uma desconexão de algumas campanhas políticas e isso nos leva a pensar que os democratas estão perdendo terreno e que os republicanos estão fazendo algo diferente.

E de fato estão fazendo, estão alcançando essas comunidades, mas estão entendendo as suas diferenças, por exemplo, os republicanos entendem que nem todos os texanos de origem latina ou latinos aqui na Flórida são mobilizados pela imigração. Outra coisa: eles têm tido muito sucesso em gerar medo com o socialismo, conectando o socialismo com o Partido Democrata, e é algo bem sucedido porque essa é uma população que não sabe distinguir o que é o socialismo e simplesmente associa um partido que não é conservador com a esquerda.

O presidente Joe Biden durante os últimos dias de campanha antes das eleições de meio de mandato  Foto: Michael Reynolds/EPA/EFE

Por fim, não podemos colocar esse voto dentro de uma mesma caixinha, como se todos fossem iguais. O fato de que falamos espanhol não nos torna iguais culturalmente. Há inclusive latinos que suas famílias moram há tanto tempo nos EUA que eles não se identificam como nada além de americanos e nem sequer falam espanhol.

Você falou que é um erro achar que a pauta migratória é um fator de mobilização deste eleitorado, ao mesmo tempo o tema virou um campo de batalha nos Estados do sul. Essa disputa então não afeta o voto latino?

Pelo que observo, tanto aqui quanto um pouco no Texas, há na comunidade latina uma falta de solidariedade com o imigrante que está chegando agora ilegalmente. Isso é uma percepção totalmente empírica, pelo que percebo no meu entorno e não com base em dados. Mas vemos essa falta de solidariedade.

E me parece que isso explica por que desde 2016 houve uma aproximação desse eleitorado [aos republicanos], por exemplo, o eleitorado venezuelano-americano aqui na Flórida, que é entorno de 2% a 3% dos votantes, não deu uma votação esmagadora para Trump em 2016, mas já nas eleições de 2018 e 2020 começamos a ver que havia uma mudança qualitativa em termos da percepção venezuelana-americana de que o Partido Republicano os representa melhor. E não só pelo tema migratório, mas tema por ser um eleitorado profundamente conservador, anti-LGBT+ e que está muito ligado à religião. Então, o tema da migração importa muito menos do que essas outras pautas.

Cartazes de apoio ao governador da Flórida, Ron DeSantis, que esteve envolvido em disputas em torno do tema migratório na Flórida e no Texas. Pesquisas apontam que o republicano tem ganhado apoio entre os latinos Foto: Giorgio Vieira/AFP

Interessante você trazer essa influência da religião no eleitorado, porque uma pesquisa do Pew Research Center publicada em setembro mostrou que, apesar do voto latino ser muito conectado à religião, a mudança na lei de aborto foi algo que não agradou. O que explica esse fenômeno?

Está ocorrendo uma mudança de uma progressiva secularização do eleitorado latino, muito relacionado também com a idade desse eleitorado. Há sim um forte componente religioso, isso é inegável, não podemos ignorar que as igrejas, principalmente as pentecostais, tiveram uma penetração enorme aqui, mas assim como avançaram, houve também um aumento da secularização. O que você vê nesses dados é uma luta política que está tomando uma cor diferente.

Quando você tem uma Suprema Corte tomando decisões baseadas na religião, um Congresso com deputados republicanos cada vez mais propensos a justificar suas decisões e projetos de lei com base na religião, você vai ver gente rechaçando isso. Essa questão está expondo uma polarização que vai além do ideológico, mas é parte de uma guerra cultural.

Mas tenho a impressão de que o aborto terá um peso muito maior nas eleições do que as pesquisas estão mostrando. Vejo isso no meu entorno, nas mulheres das minhas salas de aula. Não sei se é um problema de metodologia ou se as pessoas estão se censurando, mas este será um tema que fará as pessoas irem votar, junto com a inflação.

Falando em inflação, este é justamente o tema que mais tem desagradado o eleitorado latino em relação aos democratas e nem o pacote econômico do governo parece ter revertido isso, por que a Economia tem sido o maior fator de mobilização entre latinos?

A Economia foi o fator mais difícil, para todas as pessoas, porque houve um aumento no custo de vida, no preço de alimentos, energia e da gasolina que afetou o bolso. Porém, uma parte do eleitorado, a maioria jovem com formação universitária, também viu um aumento de seu salário ou até conseguiu trocar de emprego para uma oportunidade melhor. Mas os latinos, e outros grupos minoritários como negros e mães-solo não viram essa melhora na taxa de emprego, por exemplo.

E isso se soma com o fato de que os democratas não conseguiram comunicar seu pacote de leis, por exemplo, o de redução da inflação e o de infraestrutura, esses dois pacotes de leis. Eles têm que aprender a explicar melhor em termos muito mais simples para que as pessoas entendam do que se trata e como isso pode reduzir o impacto que a inflação está tendo em suas vidas.

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