O incrível fenômeno do trumpismo com ‘características chinesas’


Por que muitos na China torcem por Donald Trump, apesar das tarifas e da equipe agressiva

Por The Economist

A internet na China não é um lugar amigável para admiradores de qualquer coisa que seja americana. O espaço é governado por nacionalistas cuspidores de fogo, ajudados por censores que são rápidos em acabar com as opiniões liberais. No entanto, enquanto a China digere as implicações da reeleição de Donald Trump como presidente, incluindo sua ameaça de tarifas enormes sobre produtos chineses, muitos internautas veem nele algo de que gostam.

Em seu próprio mundo de ansiedade econômica e divisões sociais escancarada, vertentes do movimento Maga parecem ser familiares. Os nacionalistas da China podem ser surpreendentemente trumpianos. Alguns deles são até pró-Trump.

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Com certeza, muitos dos que torcem por Trump o fazem por desprezo pelos Estados Unidos. Eles compartilham clipes de seus momentos mais ridículos e zombam de suas indicações para cargos no gabinete — eles não provam a falsidade da democracia, com empregos tão flagrantemente distribuídos a apoiadores leais, independentemente da sua adequação?

Os nacionalistas adoram a ideia de que Trump pode enfraquecer o apoio americano a Taiwan ou acabar com a ajuda militar à Ucrânia. Eles se referem a ele por um apelido: Chuan Jianguo, que significa “Trump, o construtor de nações”. É para ser um nome irônico — eles querem dizer que ele está fortalecendo a China ao minar a América.

Imagem de 2019 mostra o então presidente dos EUA, Donald Trump, ao lado do líder chinês Xi Jinping durante a Cúpula do G-20, no Japão. Volta de Trump à Casa Branca no ano que vem deve agravar relação EUA-China Foto: Susan Walsh/AP
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Mas os nacionalistas chineses também admiram genuinamente aspectos de Trump. Eles gostam de sua imagem de homem forte e das visões sociais conservadoras que ele professa. “Há muitas lições a serem aprendidas por nossos departamentos governamentais com a chegada de Trump ao poder”, escreveu um médico, Ning Fanggang, que tem quase 1,6 milhão de seguidores no site de microblogs Weibo e apoia um ataque a Taiwan, bem como a condenação do ativismo LGBT. “A lição mais importante é esta: vozes altas não representam necessariamente a verdadeira vontade do povo”, disse ele, referindo-se ao apoio dos democratas aos direitos LGBT. “A eleição de Trump revelou que a grande maioria das pessoas comuns se opunha profundamente a essas ideias.”

Nas semanas mais recentes, nacionalistas chineses expressaram indignação com um vídeo que mostra Jin Xing, uma celebridade transgênero, levantando uma bandeira do arco-íris em uma apresentação (Jin já foi coronel em uma trupe de dança do exército chinês). Eles também aplaudiram os discursos de campanha de Trump a respeito de questões trans.

Um usuário do Weibo com mais de 700.000 seguidores postou um clipe de um deles, no qual Trump prometeu “derrotar o veneno tóxico da ideologia de gênero”. Jin e pessoas como ela, disse o blogueiro, “devem estar espumando de raiva”. Os comentaristas concordaram. “É por isso que não quero que Trump vença”, disse um. “Só Harris pode tornar os EUA ainda piores.”

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Muitos dos nacionalistas ignoram as falas de Trump prevendo a imposição de tarifas de 60% sobre produtos chineses. Um deles é Ren Yi, um príncipe educado em Harvard (como são conhecidos os descendentes de políticos poderosos). Ren atende pelo nome de “Presidente Coelho” nas redes sociais (seus seguidores no Weibo somam mais de 1,8 milhão). Ele disse à Economist que os instintos de Trump não são necessariamente anti-China.

Por exemplo, ele observa, o presidente eleito sugeriu que reverteria a proibição ao TikTok, um aplicativo de compartilhamento de vídeos de propriedade chinesa, e convidaria as montadoras chinesas a fazer negócios nos EUA. As falas sobre tarifas são apenas uma tática, acredita Ren: Trump pode mudar de ideia se as empresas chinesas investirem nos EUA.

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Ren e outros nacionalistas consideram promissora a associação de Trump com Elon Musk, cuja empresa automobilística, Tesla, fabrica mais da metade de seus veículos na China. Algumas das escolhas de Trump para cargos governamentais podem ser agressivos em relação à China, mas outros, como Musk, parecem ser “muito mais abertos” à China, diz Ren.

Um caça chinês decolando de porta-avião durante um exercício militar próximo à Taiwan. China afirma que usará força para retomar a ilha autônoma caso necessário Foto: An Ni/Xinhua via AP

Um grupo particularmente vocal de nacionalistas é conhecido como xiaofenhong, ou “pequenos rosas”. Esses internautas jovens e ferozmente patriotas não são o tipo de pessoa que, nos EUA, seria considerada um típico apoiador de Trump. Acadêmicos chineses dizem que os rosas geralmente têm alta escolaridade e são habitantes urbanos. Os pequenos rosas originais eram principalmente mulheres jovens, embora o grupo agora seja mais diverso. Assim como os seguidores do movimento Maga nos EUA, os principais alvos de seu descontentamento são os liberais domésticos, como Jin.

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A opinião pública na China é polarizada. Guerras culturais acontecem, assim como nos EUA. Alguns nacionalistas compartilham a visão de mundo misógina de jovens homens no Ocidente conhecidos como “incels” (celibatários involuntários), que culpam mulheres supostamente superpoderosas e exigentes por sua incapacidade de formar relacionamentos sexuais. Na China, essas pessoas às vezes se autodepreciam como diaosi, que significa literalmente “pentelhos”. Elas travam batalhas intermináveis online com as feministas igualmente fervorosas da China.

Os liberais cibernéticos apontam a ironia das visões pró-Trump de seus oponentes. “Alguns dos chamados ‘pequenos rosas’ e blogueiros patrióticos no Weibo passam os dias se opondo ao feminismo e aos direitos LGBT, demonizando a esquerda, e acabam idolatrando uma sequência de direitistas desequilibrados e anti-China”, escreveu um usuário do Weibo que tem mais de 390.000 seguidores após a vitória de Trump.

Trabalhadores chineses em uma fábrica de carros elétricos em Jinhua, em Zhejiang. Trump promete impor tarifas nos EUA contra produtos do país Foto: Adek Berry/AFP
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O sentimento pró-Trump, no entanto, não convencerá o líder chinês, Xi Jinping, a melhorar sua disposição em relação ao próximo presidente dos Estados Unidos. Xi compartilha as visões dos nacionalistas quanto aos valores sociais. E ele sem dúvida adoraria se Trump se mostrasse tão negociador em relação a Taiwan e tão antipático à Ucrânia quanto seus apoiadores na China esperam que ele seja.

Mas Xi certamente está ansioso diante do retorno de Trump. Isso tornará o relacionamento da China com os Estados Unidos mais imprevisível. Também poderia — se as tarifas ameaçadas por Trump realmente se materializarem — prejudicar ainda mais a economia da China, já em dificuldades. A eleição dos Estados Unidos pode até ter lembrado Xi, obcecado por estabilidade, de algo que os pequenos rosas podem ter medo de dizer em voz alta: cidadãos amargurados pelo mal-estar econômico podem se voltar contra as elites. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

A internet na China não é um lugar amigável para admiradores de qualquer coisa que seja americana. O espaço é governado por nacionalistas cuspidores de fogo, ajudados por censores que são rápidos em acabar com as opiniões liberais. No entanto, enquanto a China digere as implicações da reeleição de Donald Trump como presidente, incluindo sua ameaça de tarifas enormes sobre produtos chineses, muitos internautas veem nele algo de que gostam.

Em seu próprio mundo de ansiedade econômica e divisões sociais escancarada, vertentes do movimento Maga parecem ser familiares. Os nacionalistas da China podem ser surpreendentemente trumpianos. Alguns deles são até pró-Trump.

Com certeza, muitos dos que torcem por Trump o fazem por desprezo pelos Estados Unidos. Eles compartilham clipes de seus momentos mais ridículos e zombam de suas indicações para cargos no gabinete — eles não provam a falsidade da democracia, com empregos tão flagrantemente distribuídos a apoiadores leais, independentemente da sua adequação?

Os nacionalistas adoram a ideia de que Trump pode enfraquecer o apoio americano a Taiwan ou acabar com a ajuda militar à Ucrânia. Eles se referem a ele por um apelido: Chuan Jianguo, que significa “Trump, o construtor de nações”. É para ser um nome irônico — eles querem dizer que ele está fortalecendo a China ao minar a América.

Imagem de 2019 mostra o então presidente dos EUA, Donald Trump, ao lado do líder chinês Xi Jinping durante a Cúpula do G-20, no Japão. Volta de Trump à Casa Branca no ano que vem deve agravar relação EUA-China Foto: Susan Walsh/AP

Mas os nacionalistas chineses também admiram genuinamente aspectos de Trump. Eles gostam de sua imagem de homem forte e das visões sociais conservadoras que ele professa. “Há muitas lições a serem aprendidas por nossos departamentos governamentais com a chegada de Trump ao poder”, escreveu um médico, Ning Fanggang, que tem quase 1,6 milhão de seguidores no site de microblogs Weibo e apoia um ataque a Taiwan, bem como a condenação do ativismo LGBT. “A lição mais importante é esta: vozes altas não representam necessariamente a verdadeira vontade do povo”, disse ele, referindo-se ao apoio dos democratas aos direitos LGBT. “A eleição de Trump revelou que a grande maioria das pessoas comuns se opunha profundamente a essas ideias.”

Nas semanas mais recentes, nacionalistas chineses expressaram indignação com um vídeo que mostra Jin Xing, uma celebridade transgênero, levantando uma bandeira do arco-íris em uma apresentação (Jin já foi coronel em uma trupe de dança do exército chinês). Eles também aplaudiram os discursos de campanha de Trump a respeito de questões trans.

Um usuário do Weibo com mais de 700.000 seguidores postou um clipe de um deles, no qual Trump prometeu “derrotar o veneno tóxico da ideologia de gênero”. Jin e pessoas como ela, disse o blogueiro, “devem estar espumando de raiva”. Os comentaristas concordaram. “É por isso que não quero que Trump vença”, disse um. “Só Harris pode tornar os EUA ainda piores.”

Muitos dos nacionalistas ignoram as falas de Trump prevendo a imposição de tarifas de 60% sobre produtos chineses. Um deles é Ren Yi, um príncipe educado em Harvard (como são conhecidos os descendentes de políticos poderosos). Ren atende pelo nome de “Presidente Coelho” nas redes sociais (seus seguidores no Weibo somam mais de 1,8 milhão). Ele disse à Economist que os instintos de Trump não são necessariamente anti-China.

Por exemplo, ele observa, o presidente eleito sugeriu que reverteria a proibição ao TikTok, um aplicativo de compartilhamento de vídeos de propriedade chinesa, e convidaria as montadoras chinesas a fazer negócios nos EUA. As falas sobre tarifas são apenas uma tática, acredita Ren: Trump pode mudar de ideia se as empresas chinesas investirem nos EUA.

Ren e outros nacionalistas consideram promissora a associação de Trump com Elon Musk, cuja empresa automobilística, Tesla, fabrica mais da metade de seus veículos na China. Algumas das escolhas de Trump para cargos governamentais podem ser agressivos em relação à China, mas outros, como Musk, parecem ser “muito mais abertos” à China, diz Ren.

Um caça chinês decolando de porta-avião durante um exercício militar próximo à Taiwan. China afirma que usará força para retomar a ilha autônoma caso necessário Foto: An Ni/Xinhua via AP

Um grupo particularmente vocal de nacionalistas é conhecido como xiaofenhong, ou “pequenos rosas”. Esses internautas jovens e ferozmente patriotas não são o tipo de pessoa que, nos EUA, seria considerada um típico apoiador de Trump. Acadêmicos chineses dizem que os rosas geralmente têm alta escolaridade e são habitantes urbanos. Os pequenos rosas originais eram principalmente mulheres jovens, embora o grupo agora seja mais diverso. Assim como os seguidores do movimento Maga nos EUA, os principais alvos de seu descontentamento são os liberais domésticos, como Jin.

A opinião pública na China é polarizada. Guerras culturais acontecem, assim como nos EUA. Alguns nacionalistas compartilham a visão de mundo misógina de jovens homens no Ocidente conhecidos como “incels” (celibatários involuntários), que culpam mulheres supostamente superpoderosas e exigentes por sua incapacidade de formar relacionamentos sexuais. Na China, essas pessoas às vezes se autodepreciam como diaosi, que significa literalmente “pentelhos”. Elas travam batalhas intermináveis online com as feministas igualmente fervorosas da China.

Os liberais cibernéticos apontam a ironia das visões pró-Trump de seus oponentes. “Alguns dos chamados ‘pequenos rosas’ e blogueiros patrióticos no Weibo passam os dias se opondo ao feminismo e aos direitos LGBT, demonizando a esquerda, e acabam idolatrando uma sequência de direitistas desequilibrados e anti-China”, escreveu um usuário do Weibo que tem mais de 390.000 seguidores após a vitória de Trump.

Trabalhadores chineses em uma fábrica de carros elétricos em Jinhua, em Zhejiang. Trump promete impor tarifas nos EUA contra produtos do país Foto: Adek Berry/AFP

O sentimento pró-Trump, no entanto, não convencerá o líder chinês, Xi Jinping, a melhorar sua disposição em relação ao próximo presidente dos Estados Unidos. Xi compartilha as visões dos nacionalistas quanto aos valores sociais. E ele sem dúvida adoraria se Trump se mostrasse tão negociador em relação a Taiwan e tão antipático à Ucrânia quanto seus apoiadores na China esperam que ele seja.

Mas Xi certamente está ansioso diante do retorno de Trump. Isso tornará o relacionamento da China com os Estados Unidos mais imprevisível. Também poderia — se as tarifas ameaçadas por Trump realmente se materializarem — prejudicar ainda mais a economia da China, já em dificuldades. A eleição dos Estados Unidos pode até ter lembrado Xi, obcecado por estabilidade, de algo que os pequenos rosas podem ter medo de dizer em voz alta: cidadãos amargurados pelo mal-estar econômico podem se voltar contra as elites. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

A internet na China não é um lugar amigável para admiradores de qualquer coisa que seja americana. O espaço é governado por nacionalistas cuspidores de fogo, ajudados por censores que são rápidos em acabar com as opiniões liberais. No entanto, enquanto a China digere as implicações da reeleição de Donald Trump como presidente, incluindo sua ameaça de tarifas enormes sobre produtos chineses, muitos internautas veem nele algo de que gostam.

Em seu próprio mundo de ansiedade econômica e divisões sociais escancarada, vertentes do movimento Maga parecem ser familiares. Os nacionalistas da China podem ser surpreendentemente trumpianos. Alguns deles são até pró-Trump.

Com certeza, muitos dos que torcem por Trump o fazem por desprezo pelos Estados Unidos. Eles compartilham clipes de seus momentos mais ridículos e zombam de suas indicações para cargos no gabinete — eles não provam a falsidade da democracia, com empregos tão flagrantemente distribuídos a apoiadores leais, independentemente da sua adequação?

Os nacionalistas adoram a ideia de que Trump pode enfraquecer o apoio americano a Taiwan ou acabar com a ajuda militar à Ucrânia. Eles se referem a ele por um apelido: Chuan Jianguo, que significa “Trump, o construtor de nações”. É para ser um nome irônico — eles querem dizer que ele está fortalecendo a China ao minar a América.

Imagem de 2019 mostra o então presidente dos EUA, Donald Trump, ao lado do líder chinês Xi Jinping durante a Cúpula do G-20, no Japão. Volta de Trump à Casa Branca no ano que vem deve agravar relação EUA-China Foto: Susan Walsh/AP

Mas os nacionalistas chineses também admiram genuinamente aspectos de Trump. Eles gostam de sua imagem de homem forte e das visões sociais conservadoras que ele professa. “Há muitas lições a serem aprendidas por nossos departamentos governamentais com a chegada de Trump ao poder”, escreveu um médico, Ning Fanggang, que tem quase 1,6 milhão de seguidores no site de microblogs Weibo e apoia um ataque a Taiwan, bem como a condenação do ativismo LGBT. “A lição mais importante é esta: vozes altas não representam necessariamente a verdadeira vontade do povo”, disse ele, referindo-se ao apoio dos democratas aos direitos LGBT. “A eleição de Trump revelou que a grande maioria das pessoas comuns se opunha profundamente a essas ideias.”

Nas semanas mais recentes, nacionalistas chineses expressaram indignação com um vídeo que mostra Jin Xing, uma celebridade transgênero, levantando uma bandeira do arco-íris em uma apresentação (Jin já foi coronel em uma trupe de dança do exército chinês). Eles também aplaudiram os discursos de campanha de Trump a respeito de questões trans.

Um usuário do Weibo com mais de 700.000 seguidores postou um clipe de um deles, no qual Trump prometeu “derrotar o veneno tóxico da ideologia de gênero”. Jin e pessoas como ela, disse o blogueiro, “devem estar espumando de raiva”. Os comentaristas concordaram. “É por isso que não quero que Trump vença”, disse um. “Só Harris pode tornar os EUA ainda piores.”

Muitos dos nacionalistas ignoram as falas de Trump prevendo a imposição de tarifas de 60% sobre produtos chineses. Um deles é Ren Yi, um príncipe educado em Harvard (como são conhecidos os descendentes de políticos poderosos). Ren atende pelo nome de “Presidente Coelho” nas redes sociais (seus seguidores no Weibo somam mais de 1,8 milhão). Ele disse à Economist que os instintos de Trump não são necessariamente anti-China.

Por exemplo, ele observa, o presidente eleito sugeriu que reverteria a proibição ao TikTok, um aplicativo de compartilhamento de vídeos de propriedade chinesa, e convidaria as montadoras chinesas a fazer negócios nos EUA. As falas sobre tarifas são apenas uma tática, acredita Ren: Trump pode mudar de ideia se as empresas chinesas investirem nos EUA.

Ren e outros nacionalistas consideram promissora a associação de Trump com Elon Musk, cuja empresa automobilística, Tesla, fabrica mais da metade de seus veículos na China. Algumas das escolhas de Trump para cargos governamentais podem ser agressivos em relação à China, mas outros, como Musk, parecem ser “muito mais abertos” à China, diz Ren.

Um caça chinês decolando de porta-avião durante um exercício militar próximo à Taiwan. China afirma que usará força para retomar a ilha autônoma caso necessário Foto: An Ni/Xinhua via AP

Um grupo particularmente vocal de nacionalistas é conhecido como xiaofenhong, ou “pequenos rosas”. Esses internautas jovens e ferozmente patriotas não são o tipo de pessoa que, nos EUA, seria considerada um típico apoiador de Trump. Acadêmicos chineses dizem que os rosas geralmente têm alta escolaridade e são habitantes urbanos. Os pequenos rosas originais eram principalmente mulheres jovens, embora o grupo agora seja mais diverso. Assim como os seguidores do movimento Maga nos EUA, os principais alvos de seu descontentamento são os liberais domésticos, como Jin.

A opinião pública na China é polarizada. Guerras culturais acontecem, assim como nos EUA. Alguns nacionalistas compartilham a visão de mundo misógina de jovens homens no Ocidente conhecidos como “incels” (celibatários involuntários), que culpam mulheres supostamente superpoderosas e exigentes por sua incapacidade de formar relacionamentos sexuais. Na China, essas pessoas às vezes se autodepreciam como diaosi, que significa literalmente “pentelhos”. Elas travam batalhas intermináveis online com as feministas igualmente fervorosas da China.

Os liberais cibernéticos apontam a ironia das visões pró-Trump de seus oponentes. “Alguns dos chamados ‘pequenos rosas’ e blogueiros patrióticos no Weibo passam os dias se opondo ao feminismo e aos direitos LGBT, demonizando a esquerda, e acabam idolatrando uma sequência de direitistas desequilibrados e anti-China”, escreveu um usuário do Weibo que tem mais de 390.000 seguidores após a vitória de Trump.

Trabalhadores chineses em uma fábrica de carros elétricos em Jinhua, em Zhejiang. Trump promete impor tarifas nos EUA contra produtos do país Foto: Adek Berry/AFP

O sentimento pró-Trump, no entanto, não convencerá o líder chinês, Xi Jinping, a melhorar sua disposição em relação ao próximo presidente dos Estados Unidos. Xi compartilha as visões dos nacionalistas quanto aos valores sociais. E ele sem dúvida adoraria se Trump se mostrasse tão negociador em relação a Taiwan e tão antipático à Ucrânia quanto seus apoiadores na China esperam que ele seja.

Mas Xi certamente está ansioso diante do retorno de Trump. Isso tornará o relacionamento da China com os Estados Unidos mais imprevisível. Também poderia — se as tarifas ameaçadas por Trump realmente se materializarem — prejudicar ainda mais a economia da China, já em dificuldades. A eleição dos Estados Unidos pode até ter lembrado Xi, obcecado por estabilidade, de algo que os pequenos rosas podem ter medo de dizer em voz alta: cidadãos amargurados pelo mal-estar econômico podem se voltar contra as elites. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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