Ataque a Israel é primeiro teste de fogo para a diplomacia brasileira do governo Lula; leia análise


Brasil está na presidência do Conselho de Segurança da ONU e convocou reunião de emergência para discutir a guerra em Israel

Por Roberto Uebel*
Atualização:

Dentre as diversas escolas de pensamento de Relações Internacionais, uma delas, o construtivismo, fala sobre a virada linguística, isto é, a mudança do discurso dos agentes políticos face aos acontecimentos internacionais. Talvez este é o melhor conceito para explicar o contexto que agora impera para diplomacia brasileira na presidência do Conselho de Segurança das Nações Unidas, haja vista os últimos eventos na Faixa de Gaza e em Israel.

Histórico defensor da existência de dois Estados, um palestino e outro israelense, como solução para um conflito igualmente histórico, o Brasil sempre se posicionou a partir de princípios pragmáticos e equidistantes em sua renomada diplomacia, salvo raras exceções, como nos governos de Jânio Quadros e Jair Bolsonaro, pontos fora da curva que foram corrigidos pelos seus sucessores.

Lar para centenas de milhares de imigrantes, e seus descendentes, judeus, muçulmanos, israelenses e palestinos, o Brasil construiu ao longo das últimas décadas uma política externa defensora do entendimento mútuo e do diálogo como único caminho para a paz entre os dois povos. Lula, nas presidências anteriores, recebeu e visitou os chefes de Estado e governo de Israel, bem como as autoridades palestinas, e seus chanceleres visitaram, em múltiplas ocasiões, Tel Aviv, Jerusalém, Ramallah e inclusive Gaza, hoje centro dos conflitos.

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Palestinos buscam nos escombros de prédio destruído por ataque israelense em resposta a ofensiva do Hamas. Foto: AP Photo/Fatima Shbair

Ao assumir a presidência temporária do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o Brasil afastou a agenda da Guerra na Ucrânia, tema delicado e controverso para o Itamaraty, e colocou como prioridade outras questões, como as migrações internacionais e as tensões políticas no Haiti. Não imaginava que uma semana depois seria provocado a tomar um posicionamento a partir da incursão de forças do Hamas – com apoio do governo palestino da Faixa de Gaza – contra Israel e do estado de guerra declarado pelo premier israelense, Binyamin Netanyahu, imediatamente após os primeiros foguetes caírem em seu país.

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Este será o primeiro teste de fogo para a diplomacia brasileira sob o terceiro governo do presidente Lula, que neste momento busca construir pontes e retomar laços políticos e comerciais com seus antigos parceiros. Em que pese as agendas de Netanyahu, hoje considerado um líder autoritário e de extrema-direita, e Lula sejam dissonantes, Brasília se vê pressionada, assim como Washington e Bruxelas, a adotar um tom pró-diálogo, no qual ambos os lados deverão ceder, afinal, ninguém deseja uma nova zona de guerra e com o ingresso de potências externas, como Rússia e China, tampouco a presença de Irã, Turquia e Arábia Saudita em um conflito já potencializado neste sábado.

Restará observarmos se a mudança do discurso da diplomacia brasileira ocorrerá a tempo de evitar uma nova guerra, em um mundo cada vez mais realista. Se vencer este teste, o novo governo estará de fato credenciado para alçar voos maiores, inclusive o pleito de um assento definitivo no Conselho de Segurança e como mediador legítimo para outros conflitos, seja na Ucrânia, em Karabakh ou em qualquer outra parte do cada vez mais tensionado sistema internacional.

* Roberto Uebel é doutor em estudos estratégicos internacionais e professor de Relações Internacionais da ESPM.

Dentre as diversas escolas de pensamento de Relações Internacionais, uma delas, o construtivismo, fala sobre a virada linguística, isto é, a mudança do discurso dos agentes políticos face aos acontecimentos internacionais. Talvez este é o melhor conceito para explicar o contexto que agora impera para diplomacia brasileira na presidência do Conselho de Segurança das Nações Unidas, haja vista os últimos eventos na Faixa de Gaza e em Israel.

Histórico defensor da existência de dois Estados, um palestino e outro israelense, como solução para um conflito igualmente histórico, o Brasil sempre se posicionou a partir de princípios pragmáticos e equidistantes em sua renomada diplomacia, salvo raras exceções, como nos governos de Jânio Quadros e Jair Bolsonaro, pontos fora da curva que foram corrigidos pelos seus sucessores.

Lar para centenas de milhares de imigrantes, e seus descendentes, judeus, muçulmanos, israelenses e palestinos, o Brasil construiu ao longo das últimas décadas uma política externa defensora do entendimento mútuo e do diálogo como único caminho para a paz entre os dois povos. Lula, nas presidências anteriores, recebeu e visitou os chefes de Estado e governo de Israel, bem como as autoridades palestinas, e seus chanceleres visitaram, em múltiplas ocasiões, Tel Aviv, Jerusalém, Ramallah e inclusive Gaza, hoje centro dos conflitos.

Palestinos buscam nos escombros de prédio destruído por ataque israelense em resposta a ofensiva do Hamas. Foto: AP Photo/Fatima Shbair

Ao assumir a presidência temporária do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o Brasil afastou a agenda da Guerra na Ucrânia, tema delicado e controverso para o Itamaraty, e colocou como prioridade outras questões, como as migrações internacionais e as tensões políticas no Haiti. Não imaginava que uma semana depois seria provocado a tomar um posicionamento a partir da incursão de forças do Hamas – com apoio do governo palestino da Faixa de Gaza – contra Israel e do estado de guerra declarado pelo premier israelense, Binyamin Netanyahu, imediatamente após os primeiros foguetes caírem em seu país.

Este será o primeiro teste de fogo para a diplomacia brasileira sob o terceiro governo do presidente Lula, que neste momento busca construir pontes e retomar laços políticos e comerciais com seus antigos parceiros. Em que pese as agendas de Netanyahu, hoje considerado um líder autoritário e de extrema-direita, e Lula sejam dissonantes, Brasília se vê pressionada, assim como Washington e Bruxelas, a adotar um tom pró-diálogo, no qual ambos os lados deverão ceder, afinal, ninguém deseja uma nova zona de guerra e com o ingresso de potências externas, como Rússia e China, tampouco a presença de Irã, Turquia e Arábia Saudita em um conflito já potencializado neste sábado.

Restará observarmos se a mudança do discurso da diplomacia brasileira ocorrerá a tempo de evitar uma nova guerra, em um mundo cada vez mais realista. Se vencer este teste, o novo governo estará de fato credenciado para alçar voos maiores, inclusive o pleito de um assento definitivo no Conselho de Segurança e como mediador legítimo para outros conflitos, seja na Ucrânia, em Karabakh ou em qualquer outra parte do cada vez mais tensionado sistema internacional.

* Roberto Uebel é doutor em estudos estratégicos internacionais e professor de Relações Internacionais da ESPM.

Dentre as diversas escolas de pensamento de Relações Internacionais, uma delas, o construtivismo, fala sobre a virada linguística, isto é, a mudança do discurso dos agentes políticos face aos acontecimentos internacionais. Talvez este é o melhor conceito para explicar o contexto que agora impera para diplomacia brasileira na presidência do Conselho de Segurança das Nações Unidas, haja vista os últimos eventos na Faixa de Gaza e em Israel.

Histórico defensor da existência de dois Estados, um palestino e outro israelense, como solução para um conflito igualmente histórico, o Brasil sempre se posicionou a partir de princípios pragmáticos e equidistantes em sua renomada diplomacia, salvo raras exceções, como nos governos de Jânio Quadros e Jair Bolsonaro, pontos fora da curva que foram corrigidos pelos seus sucessores.

Lar para centenas de milhares de imigrantes, e seus descendentes, judeus, muçulmanos, israelenses e palestinos, o Brasil construiu ao longo das últimas décadas uma política externa defensora do entendimento mútuo e do diálogo como único caminho para a paz entre os dois povos. Lula, nas presidências anteriores, recebeu e visitou os chefes de Estado e governo de Israel, bem como as autoridades palestinas, e seus chanceleres visitaram, em múltiplas ocasiões, Tel Aviv, Jerusalém, Ramallah e inclusive Gaza, hoje centro dos conflitos.

Palestinos buscam nos escombros de prédio destruído por ataque israelense em resposta a ofensiva do Hamas. Foto: AP Photo/Fatima Shbair

Ao assumir a presidência temporária do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o Brasil afastou a agenda da Guerra na Ucrânia, tema delicado e controverso para o Itamaraty, e colocou como prioridade outras questões, como as migrações internacionais e as tensões políticas no Haiti. Não imaginava que uma semana depois seria provocado a tomar um posicionamento a partir da incursão de forças do Hamas – com apoio do governo palestino da Faixa de Gaza – contra Israel e do estado de guerra declarado pelo premier israelense, Binyamin Netanyahu, imediatamente após os primeiros foguetes caírem em seu país.

Este será o primeiro teste de fogo para a diplomacia brasileira sob o terceiro governo do presidente Lula, que neste momento busca construir pontes e retomar laços políticos e comerciais com seus antigos parceiros. Em que pese as agendas de Netanyahu, hoje considerado um líder autoritário e de extrema-direita, e Lula sejam dissonantes, Brasília se vê pressionada, assim como Washington e Bruxelas, a adotar um tom pró-diálogo, no qual ambos os lados deverão ceder, afinal, ninguém deseja uma nova zona de guerra e com o ingresso de potências externas, como Rússia e China, tampouco a presença de Irã, Turquia e Arábia Saudita em um conflito já potencializado neste sábado.

Restará observarmos se a mudança do discurso da diplomacia brasileira ocorrerá a tempo de evitar uma nova guerra, em um mundo cada vez mais realista. Se vencer este teste, o novo governo estará de fato credenciado para alçar voos maiores, inclusive o pleito de um assento definitivo no Conselho de Segurança e como mediador legítimo para outros conflitos, seja na Ucrânia, em Karabakh ou em qualquer outra parte do cada vez mais tensionado sistema internacional.

* Roberto Uebel é doutor em estudos estratégicos internacionais e professor de Relações Internacionais da ESPM.

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