A ofensiva de Israel na Faixa de Gaza tem se voltado cada vez mais para o sul do território, com suas forças avançando na semana passada para Khan Younis, uma grande cidade na região que tem fornecido abrigo para palestinos deslocados do norte.
Ao longo do fim de semana, tanques e tropas israelenses entraram no centro de Khan Younis, e as Forças de Defesa de Israel (FDI) afirmaram que atingiram túneis subterrâneos na cidade. Descrevendo Khan Younis como um dos redutos do Hamas, o almirante Daniel Hagari, porta-voz das FDI, afirmou que a cidade é um dos lugares em que seus soldados estão travando “batalhas ferozes e difíceis”.
Khan Younis, ao norte da passagem fronteiriça de Rafah, é a maior cidade no sul de Gaza. Antes da guerra, tinha 400 mil habitantes.
A cidade abriga infraestruturas civis, como o Hospital Nasser, e também um dos oito campos da ONU para os refugiados palestinos obrigados a deixar suas casas durante a guerra de 1948. O campo de refugiados de Khan Younis, com cerca de 88.854 refugiados registrados, é superlotado e a maioria da água que abastece a localidade é imprópria para o consumo humano, de acordo com a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina.
Khan Younis foi palco de um massacre em 1956, quando forças israelense atacaram Gaza matando dezenas de refugiados, de acordo com um relatório da ONU. Autoridades israelenses afirmaram que refugiados palestinos faziam parte da resistência, uma acusação que os palestinos negaram, afirmou o relatório.
Após o início da guerra, em 7 de outubro, Khan Younis se tornou um dos principais destinos de palestinos em fuga e ficou lotada de civis deslocados que seguiram a ordem das FDI de deixar suas casas e rumar para o sul. Mas agora a cidade anteriormente considerada segura testemunha alguns dos combates mais pesados.
Khan Younis tem sido ligada a Yehiya Sinwar, o líder do Hamas na Faixa de Gaza. Sinwar nasceu no campo de refugiados de Khan Younis, em 1962, e alguns moradores de Gaza o apelidam de “Açougueiro de Khan Younis”.
No topo da lista de alvos de Israel em Gaza, Sinwar é acusado de planejar o ataque de 7 de outubro contra Israel que deixou pelo menos 1,2 mil mortos. Autoridades israelenses afirmam que Sinwar e outros líderes importantes estão se escondendo no sul.
O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, disse para os combatentes do Hamas se renderem e abandonarem seus líderes. “Acabou. Não morram por Sinwar. Rendam-se agora”, afirmou ele em um vídeo publicado no domingo.
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Khan Younis tem uma história cultural rica, que agora está sob ameaça em meio aos bombardeios. A praça da cidade é margeada por um forte erguido no século 13, durante o Sultanato Mameluco do Egito.
Nos dias recentes, as IDF afirmaram que combates ferozes têm ocorrido simultaneamente em vários redutos do Hamas: em Shejaiya e Jabalya no norte; e em Khan Younis no sul.
Em 10 de dezembro, as IDF afirmaram que usaram “munições precisas” para atacar túneis subterrâneos em Khan Younis e usaram um drone para identificar e eliminar “uma célula terrorista armada” na cidade.
Ao longo da semana passada, Israel pediu que civis se retirassem de partes de Khan Younis, produzindo refugiados mais uma vez; mas os palestinos deslocados afirmam que não há mais para onde ir.
Em 6 de dezembro, cinco escolas da ONU em que civis se abrigavam na região de Khan Younis foram forçadas a ser esvaziadas por ordem de Israel, afirmou em um comunicado o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários. E em 10 e 11 de dezembro, o entorno do Hospital Al-Amal, em Khan Younis, foi bombardeado repetidamente, afirmou a agência na segunda-feira.
Ataques atingiram áreas de Khan Younis que civis imaginavam ser seguras, incluindo um bombardeio que atingiu uma escola e matou e feriu dezenas de deslocados em 5 de dezembro.
“Eles disseram para as pessoas saírem da Cidade de Gaza e virem para Khan Younis. (…) Nós deveríamos estar em áreas não ameaçadas”, disse ao Washington Post Mohammed al-Majayda, que estava vivendo em Khan Younis durante os ataques da semana passada. Muitas pessoas que se abrigavam próximo a ele tinham chegado à cidade no sul um dia antes dos bombardeios começarem, afirmou Majayda. “Eles deveriam avisar que atacariam este edifício”, disse ele, coberto de poeira de escombros. Majayda contou que teve de carregar seu tio idoso, que “não conseguia andar nem se mexer”, até um lugar seguro. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL