O que realmente aconteceu na reunião entre Biden e Netanyahu? Leia artigo de Thomas Friedman


Encontro descrito como ‘caloroso e amistoso’ frustrou quem esperava censura ao ataque contra o Judiciário israelense; um detalhe, no entanto, passou despercebido

Por Thomas Friedman

THE NEW YORK TIMES - Nas semanas recentes tem havido muita discussão sobre a idade de Joe Biden. Ele é velho. Mas vocês sabem o que vem com a idade além do caminhar mais vagaroso e de esquecer palavras? Sabedoria — especialmente em relação a como lidar com encontros diplomáticos em que muita coisa está em jogo sem estragar tudo (nem deixar que as coisas degringolem antes que você assim o queira). E foi isso que eu acho que vi na reunião cara a cara do presidente americano com o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, na quarta-feira, em Nova York.

A reunião deprimiu muitos repórteres de Israel e israelenses que conheço, porque Netanyahu contou para todo mundo depois como o encontro foi caloroso e amistoso. E Biden discorreu sobre os laços inquebráveis entre os Estados Unidos e o Estado judaico. Muitos israelenses detestam tanto Netanyahu que queriam ver Biden censurando o golpe no Judiciário que ele montou — e quando isso não ocorreu eles consideraram a reunião uma enorme oportunidade perdida.

Sim, sim, eu entendo, eu lhes disse. Mas vocês não viram? Perguntei-lhes.

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O quê? Responderam-me.

Imagem exibe aperto de mão entre primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu (à esq.), e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden (à dir.), no dia 20 deste mês Foto: Susan Walsh / AP

Ainda que Biden tenha publicamente colocado seu braço direito sobre o ombro de Netanyahu — precisamente para neutralizar qualquer ataque dos republicanos classificando-o como duro demais com Israel — eu ouvi que o presidente estava, POR ASSIM DIZER, usando sua mão esquerda para colocar no bolso do paletó de Bibi uma tarefa de lição de casa. Foi como um mágico em ação; nós temos que assistir o replay em câmara duplamente lenta para ver o truque.

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E vocês sabem o que a tarefa de lição de casa lhe disse? Minha apuração sugere algo principalmente nessa linha:

“Bibi, você quer esse acordo que normalizaria as relações entre Israel e Arábia Saudita. Eu também quero. Mas para conseguir esse acordo, eu terei de fazer algo realmente difícil: forjar um pacto de defesa mútua com os sauditas e talvez concordar com algum tipo de programa nuclear civil para o Reino sob controles rígidos. O líder saudita, o príncipe-herdeiro Mohammed bin Salman, também terá de fazer algo realmente difícil: normalizar relações entre a nação que abriga as duas cidades mais sagradas do Islã, Meca e Medina, com o Estado judaico. E você também terá de fazer algo realmente difícil agora.”

“Você terá de concordar com termos para normalização de relações com a Arábia Saudita que lhe exigirão refrear, de maneira verificável, os assentamentos coloniais judaicos na Cisjordânia, melhorar as condições de vida e movimento dos palestinos que vivem por lá, aumentar o controle palestino sobre mais áreas povoadas do território segundo determinado pelos Acordos de Oslo e concordar, em geral, em dar passos no caminho que preserva a solução de dois Estados mesmo que o pacto da sua coalizão de governo defenda a anexação. Agora, Bibi, eu, como seu estimado, caloroso e próximo amigo, jamais lhe diria como conduzir sua política — muito menos pediria para você mandar pelos ares sua coalizão doida concordando com termos que os supremacistas judeus de extrema direita de seu gabinete nunca engoliriam. Não, eu jamais faria isso. Isso seria intervir na sua política. Isso seria errado. Eu só estou lhe dizendo, Bibi, que você tem uma lição de casa a fazer, meu estimado, caloroso e próximo amigão. E você tem que entregar a tarefa nas próximas semanas.”

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Foi uma aula magistral a respeito de como um presidente americano coloca uma decisão fatídica nas mãos de um líder israelense — uma decisão que representa o desafio mais pungente da carreira política desse líder israelense. Que é: ou acabar com o gabinete extremista que você construiu para manter-se fora da cadeia — e substituí-lo por uma coalizão de unidade nacional — ou acabar com a chance de paz com a Arábia Saudita, que é capaz de pavimentar o caminho para o Estado de Israel ser aceito por todo o mundo muçulmano.

E Biden fez tudo isso dando a parecer quem realmente ele é — um dos melhores amigos que Israel já teve — ao mesmo tempo desativando qualquer reação negativa nos EUA.

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Portanto, eu não estou entrando no debate sobre Biden ser ou não velho demais para concorrer à reeleição. Eu só estou lhes dizendo que, quando se trata de diplomacia, idade e experiência são suas melhores qualidades.

A propósito, eu também sou meio velho — acabo de completar 70 anos. Mas ainda enxergo perfeitamente. E o bom de ser velho — e ainda ter vista boa — é que eu não preciso de replay instantâneo para ver um mago da diplomacia em ação. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

THE NEW YORK TIMES - Nas semanas recentes tem havido muita discussão sobre a idade de Joe Biden. Ele é velho. Mas vocês sabem o que vem com a idade além do caminhar mais vagaroso e de esquecer palavras? Sabedoria — especialmente em relação a como lidar com encontros diplomáticos em que muita coisa está em jogo sem estragar tudo (nem deixar que as coisas degringolem antes que você assim o queira). E foi isso que eu acho que vi na reunião cara a cara do presidente americano com o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, na quarta-feira, em Nova York.

A reunião deprimiu muitos repórteres de Israel e israelenses que conheço, porque Netanyahu contou para todo mundo depois como o encontro foi caloroso e amistoso. E Biden discorreu sobre os laços inquebráveis entre os Estados Unidos e o Estado judaico. Muitos israelenses detestam tanto Netanyahu que queriam ver Biden censurando o golpe no Judiciário que ele montou — e quando isso não ocorreu eles consideraram a reunião uma enorme oportunidade perdida.

Sim, sim, eu entendo, eu lhes disse. Mas vocês não viram? Perguntei-lhes.

O quê? Responderam-me.

Imagem exibe aperto de mão entre primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu (à esq.), e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden (à dir.), no dia 20 deste mês Foto: Susan Walsh / AP

Ainda que Biden tenha publicamente colocado seu braço direito sobre o ombro de Netanyahu — precisamente para neutralizar qualquer ataque dos republicanos classificando-o como duro demais com Israel — eu ouvi que o presidente estava, POR ASSIM DIZER, usando sua mão esquerda para colocar no bolso do paletó de Bibi uma tarefa de lição de casa. Foi como um mágico em ação; nós temos que assistir o replay em câmara duplamente lenta para ver o truque.

E vocês sabem o que a tarefa de lição de casa lhe disse? Minha apuração sugere algo principalmente nessa linha:

“Bibi, você quer esse acordo que normalizaria as relações entre Israel e Arábia Saudita. Eu também quero. Mas para conseguir esse acordo, eu terei de fazer algo realmente difícil: forjar um pacto de defesa mútua com os sauditas e talvez concordar com algum tipo de programa nuclear civil para o Reino sob controles rígidos. O líder saudita, o príncipe-herdeiro Mohammed bin Salman, também terá de fazer algo realmente difícil: normalizar relações entre a nação que abriga as duas cidades mais sagradas do Islã, Meca e Medina, com o Estado judaico. E você também terá de fazer algo realmente difícil agora.”

“Você terá de concordar com termos para normalização de relações com a Arábia Saudita que lhe exigirão refrear, de maneira verificável, os assentamentos coloniais judaicos na Cisjordânia, melhorar as condições de vida e movimento dos palestinos que vivem por lá, aumentar o controle palestino sobre mais áreas povoadas do território segundo determinado pelos Acordos de Oslo e concordar, em geral, em dar passos no caminho que preserva a solução de dois Estados mesmo que o pacto da sua coalizão de governo defenda a anexação. Agora, Bibi, eu, como seu estimado, caloroso e próximo amigo, jamais lhe diria como conduzir sua política — muito menos pediria para você mandar pelos ares sua coalizão doida concordando com termos que os supremacistas judeus de extrema direita de seu gabinete nunca engoliriam. Não, eu jamais faria isso. Isso seria intervir na sua política. Isso seria errado. Eu só estou lhe dizendo, Bibi, que você tem uma lição de casa a fazer, meu estimado, caloroso e próximo amigão. E você tem que entregar a tarefa nas próximas semanas.”

Foi uma aula magistral a respeito de como um presidente americano coloca uma decisão fatídica nas mãos de um líder israelense — uma decisão que representa o desafio mais pungente da carreira política desse líder israelense. Que é: ou acabar com o gabinete extremista que você construiu para manter-se fora da cadeia — e substituí-lo por uma coalizão de unidade nacional — ou acabar com a chance de paz com a Arábia Saudita, que é capaz de pavimentar o caminho para o Estado de Israel ser aceito por todo o mundo muçulmano.

E Biden fez tudo isso dando a parecer quem realmente ele é — um dos melhores amigos que Israel já teve — ao mesmo tempo desativando qualquer reação negativa nos EUA.

Portanto, eu não estou entrando no debate sobre Biden ser ou não velho demais para concorrer à reeleição. Eu só estou lhes dizendo que, quando se trata de diplomacia, idade e experiência são suas melhores qualidades.

A propósito, eu também sou meio velho — acabo de completar 70 anos. Mas ainda enxergo perfeitamente. E o bom de ser velho — e ainda ter vista boa — é que eu não preciso de replay instantâneo para ver um mago da diplomacia em ação. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

THE NEW YORK TIMES - Nas semanas recentes tem havido muita discussão sobre a idade de Joe Biden. Ele é velho. Mas vocês sabem o que vem com a idade além do caminhar mais vagaroso e de esquecer palavras? Sabedoria — especialmente em relação a como lidar com encontros diplomáticos em que muita coisa está em jogo sem estragar tudo (nem deixar que as coisas degringolem antes que você assim o queira). E foi isso que eu acho que vi na reunião cara a cara do presidente americano com o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, na quarta-feira, em Nova York.

A reunião deprimiu muitos repórteres de Israel e israelenses que conheço, porque Netanyahu contou para todo mundo depois como o encontro foi caloroso e amistoso. E Biden discorreu sobre os laços inquebráveis entre os Estados Unidos e o Estado judaico. Muitos israelenses detestam tanto Netanyahu que queriam ver Biden censurando o golpe no Judiciário que ele montou — e quando isso não ocorreu eles consideraram a reunião uma enorme oportunidade perdida.

Sim, sim, eu entendo, eu lhes disse. Mas vocês não viram? Perguntei-lhes.

O quê? Responderam-me.

Imagem exibe aperto de mão entre primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu (à esq.), e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden (à dir.), no dia 20 deste mês Foto: Susan Walsh / AP

Ainda que Biden tenha publicamente colocado seu braço direito sobre o ombro de Netanyahu — precisamente para neutralizar qualquer ataque dos republicanos classificando-o como duro demais com Israel — eu ouvi que o presidente estava, POR ASSIM DIZER, usando sua mão esquerda para colocar no bolso do paletó de Bibi uma tarefa de lição de casa. Foi como um mágico em ação; nós temos que assistir o replay em câmara duplamente lenta para ver o truque.

E vocês sabem o que a tarefa de lição de casa lhe disse? Minha apuração sugere algo principalmente nessa linha:

“Bibi, você quer esse acordo que normalizaria as relações entre Israel e Arábia Saudita. Eu também quero. Mas para conseguir esse acordo, eu terei de fazer algo realmente difícil: forjar um pacto de defesa mútua com os sauditas e talvez concordar com algum tipo de programa nuclear civil para o Reino sob controles rígidos. O líder saudita, o príncipe-herdeiro Mohammed bin Salman, também terá de fazer algo realmente difícil: normalizar relações entre a nação que abriga as duas cidades mais sagradas do Islã, Meca e Medina, com o Estado judaico. E você também terá de fazer algo realmente difícil agora.”

“Você terá de concordar com termos para normalização de relações com a Arábia Saudita que lhe exigirão refrear, de maneira verificável, os assentamentos coloniais judaicos na Cisjordânia, melhorar as condições de vida e movimento dos palestinos que vivem por lá, aumentar o controle palestino sobre mais áreas povoadas do território segundo determinado pelos Acordos de Oslo e concordar, em geral, em dar passos no caminho que preserva a solução de dois Estados mesmo que o pacto da sua coalizão de governo defenda a anexação. Agora, Bibi, eu, como seu estimado, caloroso e próximo amigo, jamais lhe diria como conduzir sua política — muito menos pediria para você mandar pelos ares sua coalizão doida concordando com termos que os supremacistas judeus de extrema direita de seu gabinete nunca engoliriam. Não, eu jamais faria isso. Isso seria intervir na sua política. Isso seria errado. Eu só estou lhe dizendo, Bibi, que você tem uma lição de casa a fazer, meu estimado, caloroso e próximo amigão. E você tem que entregar a tarefa nas próximas semanas.”

Foi uma aula magistral a respeito de como um presidente americano coloca uma decisão fatídica nas mãos de um líder israelense — uma decisão que representa o desafio mais pungente da carreira política desse líder israelense. Que é: ou acabar com o gabinete extremista que você construiu para manter-se fora da cadeia — e substituí-lo por uma coalizão de unidade nacional — ou acabar com a chance de paz com a Arábia Saudita, que é capaz de pavimentar o caminho para o Estado de Israel ser aceito por todo o mundo muçulmano.

E Biden fez tudo isso dando a parecer quem realmente ele é — um dos melhores amigos que Israel já teve — ao mesmo tempo desativando qualquer reação negativa nos EUA.

Portanto, eu não estou entrando no debate sobre Biden ser ou não velho demais para concorrer à reeleição. Eu só estou lhes dizendo que, quando se trata de diplomacia, idade e experiência são suas melhores qualidades.

A propósito, eu também sou meio velho — acabo de completar 70 anos. Mas ainda enxergo perfeitamente. E o bom de ser velho — e ainda ter vista boa — é que eu não preciso de replay instantâneo para ver um mago da diplomacia em ação. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

THE NEW YORK TIMES - Nas semanas recentes tem havido muita discussão sobre a idade de Joe Biden. Ele é velho. Mas vocês sabem o que vem com a idade além do caminhar mais vagaroso e de esquecer palavras? Sabedoria — especialmente em relação a como lidar com encontros diplomáticos em que muita coisa está em jogo sem estragar tudo (nem deixar que as coisas degringolem antes que você assim o queira). E foi isso que eu acho que vi na reunião cara a cara do presidente americano com o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, na quarta-feira, em Nova York.

A reunião deprimiu muitos repórteres de Israel e israelenses que conheço, porque Netanyahu contou para todo mundo depois como o encontro foi caloroso e amistoso. E Biden discorreu sobre os laços inquebráveis entre os Estados Unidos e o Estado judaico. Muitos israelenses detestam tanto Netanyahu que queriam ver Biden censurando o golpe no Judiciário que ele montou — e quando isso não ocorreu eles consideraram a reunião uma enorme oportunidade perdida.

Sim, sim, eu entendo, eu lhes disse. Mas vocês não viram? Perguntei-lhes.

O quê? Responderam-me.

Imagem exibe aperto de mão entre primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu (à esq.), e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden (à dir.), no dia 20 deste mês Foto: Susan Walsh / AP

Ainda que Biden tenha publicamente colocado seu braço direito sobre o ombro de Netanyahu — precisamente para neutralizar qualquer ataque dos republicanos classificando-o como duro demais com Israel — eu ouvi que o presidente estava, POR ASSIM DIZER, usando sua mão esquerda para colocar no bolso do paletó de Bibi uma tarefa de lição de casa. Foi como um mágico em ação; nós temos que assistir o replay em câmara duplamente lenta para ver o truque.

E vocês sabem o que a tarefa de lição de casa lhe disse? Minha apuração sugere algo principalmente nessa linha:

“Bibi, você quer esse acordo que normalizaria as relações entre Israel e Arábia Saudita. Eu também quero. Mas para conseguir esse acordo, eu terei de fazer algo realmente difícil: forjar um pacto de defesa mútua com os sauditas e talvez concordar com algum tipo de programa nuclear civil para o Reino sob controles rígidos. O líder saudita, o príncipe-herdeiro Mohammed bin Salman, também terá de fazer algo realmente difícil: normalizar relações entre a nação que abriga as duas cidades mais sagradas do Islã, Meca e Medina, com o Estado judaico. E você também terá de fazer algo realmente difícil agora.”

“Você terá de concordar com termos para normalização de relações com a Arábia Saudita que lhe exigirão refrear, de maneira verificável, os assentamentos coloniais judaicos na Cisjordânia, melhorar as condições de vida e movimento dos palestinos que vivem por lá, aumentar o controle palestino sobre mais áreas povoadas do território segundo determinado pelos Acordos de Oslo e concordar, em geral, em dar passos no caminho que preserva a solução de dois Estados mesmo que o pacto da sua coalizão de governo defenda a anexação. Agora, Bibi, eu, como seu estimado, caloroso e próximo amigo, jamais lhe diria como conduzir sua política — muito menos pediria para você mandar pelos ares sua coalizão doida concordando com termos que os supremacistas judeus de extrema direita de seu gabinete nunca engoliriam. Não, eu jamais faria isso. Isso seria intervir na sua política. Isso seria errado. Eu só estou lhe dizendo, Bibi, que você tem uma lição de casa a fazer, meu estimado, caloroso e próximo amigão. E você tem que entregar a tarefa nas próximas semanas.”

Foi uma aula magistral a respeito de como um presidente americano coloca uma decisão fatídica nas mãos de um líder israelense — uma decisão que representa o desafio mais pungente da carreira política desse líder israelense. Que é: ou acabar com o gabinete extremista que você construiu para manter-se fora da cadeia — e substituí-lo por uma coalizão de unidade nacional — ou acabar com a chance de paz com a Arábia Saudita, que é capaz de pavimentar o caminho para o Estado de Israel ser aceito por todo o mundo muçulmano.

E Biden fez tudo isso dando a parecer quem realmente ele é — um dos melhores amigos que Israel já teve — ao mesmo tempo desativando qualquer reação negativa nos EUA.

Portanto, eu não estou entrando no debate sobre Biden ser ou não velho demais para concorrer à reeleição. Eu só estou lhes dizendo que, quando se trata de diplomacia, idade e experiência são suas melhores qualidades.

A propósito, eu também sou meio velho — acabo de completar 70 anos. Mas ainda enxergo perfeitamente. E o bom de ser velho — e ainda ter vista boa — é que eu não preciso de replay instantâneo para ver um mago da diplomacia em ação. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

THE NEW YORK TIMES - Nas semanas recentes tem havido muita discussão sobre a idade de Joe Biden. Ele é velho. Mas vocês sabem o que vem com a idade além do caminhar mais vagaroso e de esquecer palavras? Sabedoria — especialmente em relação a como lidar com encontros diplomáticos em que muita coisa está em jogo sem estragar tudo (nem deixar que as coisas degringolem antes que você assim o queira). E foi isso que eu acho que vi na reunião cara a cara do presidente americano com o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, na quarta-feira, em Nova York.

A reunião deprimiu muitos repórteres de Israel e israelenses que conheço, porque Netanyahu contou para todo mundo depois como o encontro foi caloroso e amistoso. E Biden discorreu sobre os laços inquebráveis entre os Estados Unidos e o Estado judaico. Muitos israelenses detestam tanto Netanyahu que queriam ver Biden censurando o golpe no Judiciário que ele montou — e quando isso não ocorreu eles consideraram a reunião uma enorme oportunidade perdida.

Sim, sim, eu entendo, eu lhes disse. Mas vocês não viram? Perguntei-lhes.

O quê? Responderam-me.

Imagem exibe aperto de mão entre primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu (à esq.), e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden (à dir.), no dia 20 deste mês Foto: Susan Walsh / AP

Ainda que Biden tenha publicamente colocado seu braço direito sobre o ombro de Netanyahu — precisamente para neutralizar qualquer ataque dos republicanos classificando-o como duro demais com Israel — eu ouvi que o presidente estava, POR ASSIM DIZER, usando sua mão esquerda para colocar no bolso do paletó de Bibi uma tarefa de lição de casa. Foi como um mágico em ação; nós temos que assistir o replay em câmara duplamente lenta para ver o truque.

E vocês sabem o que a tarefa de lição de casa lhe disse? Minha apuração sugere algo principalmente nessa linha:

“Bibi, você quer esse acordo que normalizaria as relações entre Israel e Arábia Saudita. Eu também quero. Mas para conseguir esse acordo, eu terei de fazer algo realmente difícil: forjar um pacto de defesa mútua com os sauditas e talvez concordar com algum tipo de programa nuclear civil para o Reino sob controles rígidos. O líder saudita, o príncipe-herdeiro Mohammed bin Salman, também terá de fazer algo realmente difícil: normalizar relações entre a nação que abriga as duas cidades mais sagradas do Islã, Meca e Medina, com o Estado judaico. E você também terá de fazer algo realmente difícil agora.”

“Você terá de concordar com termos para normalização de relações com a Arábia Saudita que lhe exigirão refrear, de maneira verificável, os assentamentos coloniais judaicos na Cisjordânia, melhorar as condições de vida e movimento dos palestinos que vivem por lá, aumentar o controle palestino sobre mais áreas povoadas do território segundo determinado pelos Acordos de Oslo e concordar, em geral, em dar passos no caminho que preserva a solução de dois Estados mesmo que o pacto da sua coalizão de governo defenda a anexação. Agora, Bibi, eu, como seu estimado, caloroso e próximo amigo, jamais lhe diria como conduzir sua política — muito menos pediria para você mandar pelos ares sua coalizão doida concordando com termos que os supremacistas judeus de extrema direita de seu gabinete nunca engoliriam. Não, eu jamais faria isso. Isso seria intervir na sua política. Isso seria errado. Eu só estou lhe dizendo, Bibi, que você tem uma lição de casa a fazer, meu estimado, caloroso e próximo amigão. E você tem que entregar a tarefa nas próximas semanas.”

Foi uma aula magistral a respeito de como um presidente americano coloca uma decisão fatídica nas mãos de um líder israelense — uma decisão que representa o desafio mais pungente da carreira política desse líder israelense. Que é: ou acabar com o gabinete extremista que você construiu para manter-se fora da cadeia — e substituí-lo por uma coalizão de unidade nacional — ou acabar com a chance de paz com a Arábia Saudita, que é capaz de pavimentar o caminho para o Estado de Israel ser aceito por todo o mundo muçulmano.

E Biden fez tudo isso dando a parecer quem realmente ele é — um dos melhores amigos que Israel já teve — ao mesmo tempo desativando qualquer reação negativa nos EUA.

Portanto, eu não estou entrando no debate sobre Biden ser ou não velho demais para concorrer à reeleição. Eu só estou lhes dizendo que, quando se trata de diplomacia, idade e experiência são suas melhores qualidades.

A propósito, eu também sou meio velho — acabo de completar 70 anos. Mas ainda enxergo perfeitamente. E o bom de ser velho — e ainda ter vista boa — é que eu não preciso de replay instantâneo para ver um mago da diplomacia em ação. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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