THE WASHINGTON POST - Os militares russos em breve esgotarão sua capacidade de combate e serão forçados a interromper sua ofensiva na Ucrânia, de acordo com previsões de inteligência e especialistas militares. “Chegará um momento em que os pequenos avanços se tornarão insustentáveis à luz dos custos e eles precisarão de uma pausa para recuperar a capacidade”, disse um alto comandante ocidental, falando sob condição de anonimato.
A avaliação ocorre apesar do avanço russo, incluindo a captura da cidade de Severodonetsk, maior centro urbano tomado pela Rússia no leste desde o lançamento da última ofensiva em Donbas, há quase três meses.
Os russos estão agora se aproximando da cidade de Lisichansk, na margem oposta do Rio Donetsk. A captura da cidade daria a Moscou quase o controle total da região de Luhansk, um dos objetivos declarados da Rússia.
Desafio
Capturar Lisichansk é um desafio, porque a cidade fica em terreno mais alto e o Rio Donetsk impede os avanços. Por isso, as tropas russas parecem decididas a cercar a cidade pelo outro lado do rio.
Mas os avanços lentos ocorrem às custas do gasto pesado de munição, principalmente projéteis de artilharia, que estão sendo disparados a uma taxa que quase nenhum exército do mundo seria capaz de sustentar por muito tempo. Ao mesmo tempo, a Rússia continua perdendo equipamentos e homens, o que coloca em dúvida quanto tempo mais ela pode sustentar a ofensiva.
Moscou não fala em prazo, mas o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, citando avaliações da inteligência, indicou que a Rússia pode continuar apenas pelos “próximos meses”. “Depois disso, os recursos estarão esgotados”, disse Johnson ao jornal alemão Sueddeutsche Zeitung.
Comentaristas russos também notam os desafios, principalmente a escassez de homens. “A Rússia não tem força suficiente na zona da operação na Ucrânia. Levando em conta a linha de frente de mil quilômetros (ou mais)”, escreveu o blogueiro militar russo Yuri Kotyenok no Telegram.
Seu navegador não suporta esse video.
Os russos afirmaram o uso de mísseis hipersônicos na Ucrânia, recurso que não havia sido utilizado e que segundo Putin, faz parte de um armamento "invencível"
Ele estima que a Rússia precise de 500 mil soldados para atingir seus objetivos, o que só seria possível com um mobilização em larga escala de militares, uma decisão arriscada e impopular que o presidente, Vladimir Putin, até agora evitou.
Problemas
A guerra já superou as previsões de que a capacidade ofensiva da Rússia atingiria o pico no verão. O recrutamento de soldados e reservistas conseguiu de 40 mil a 50 mil homens para substituir mortos ou incapacitados na Ucrânia, segundo Kiev. Ainda segundo os ucranianos, os russos já estariam recorrendo a tanques mais antigos, na falta de blindados modernos.
Os russos, porém, ainda têm vantagem sobre as forças ucranianas, que também sofrem. Kiev estima perder cerca de 200 soldados por dia. Os ucranianos estão quase totalmente sem munição da era soviética, da qual dependem seus próprios sistemas de armas, e ainda estão em processo de transição para os sistemas ocidentais.
Atualizações sobre a guerra
Desta forma, as condições para os ucranianos devem melhorar, assim que as armas ocidentais mais sofisticadas chegarem, enquanto as forças russas tendem a se deteriorar com o tempo, afirma o general americano Ben Hodges, do Centro de Análise de Políticas Europeias.
“Em algum momento, nos próximos meses, os ucranianos terão recebido armamento ocidental suficiente para que possam iniciar uma contraofensiva e reverter a maré da guerra. Continuo muito otimista de que a Ucrânia vencerá até o final deste ano”, disse Hodges.