KIEV - Os avanços da Rússia em uma pequena cidade mineradora de sal levantaram preocupações nos país ocidentais que agora discutem a possibilidade de enviar tanques pesados para a Ucrânia. Embora uma vitória russa em Soledar não seja um ganho militar tão significativo, abriria caminhos para uma ofensiva maior que visa conquistar todo o leste ucraniano. Por isso, o Ocidente estuda enviar armamentos mais pesados para que Kiev consiga fazer avanços o quanto antes.
Depois de concordar em enviar o poderoso sistema de defesa aérea americano Patriot e veículos blindados de combate pela primeira vez no fim do ano passado, os aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) parecem dispostos que os tanques ocidentais modernos sejam adicionados à lista crescente de armas pesadas enviadas para a Ucrânia, à medida que os Estados Unidos e seus aliados assumem mais riscos para defender o país. Os governos do Reino Unido e da Polônia pressionam os demais aliados a enviar as armas, enquanto o governo alemão se mostra o mais reticente.
As discussões ocorrem quando a Ucrânia luta para não perder o controle da pequena cidade de Soledar, onde uma ofensiva pesado com auxilio do letal grupo de mercenários Wagner, tem deixado a cidade em cenário de terra arrasada. Nesta sexta-feira, 13, a Rússia voltou a reivindicar a captura da cidade, mas Kiev nega.
Depois de uma série de contratempos para a Rússia, a captura de Soledar representaria o maior sucesso das forças de Moscou na Ucrânia em meses, embora analistas militares tenham alertado que a pequena cidade tem valor estratégico limitado.
Controlar a pequena cidade faz parte de uma ofensiva maior para tomar a cidade vizinha de Bakhmut, como parte do objetivo russo de controlar toda a região de Donbas. Embora a captura de Soledar não deva mudar rapidamente a batalha no leste, isso daria às forças de Moscou novos locais para colocar a artilharia, com o potencial de cercar parcialmente Bakhmut pelo norte, e poderia pressionar as linhas de abastecimento ucranianas que correm em direção ao cidade.
Além disso, Camille Grand, especialista em defesa do Conselho Europeu de Relações Exteriores, que deixou o cargo de secretária-geral assistente da Otan para investimentos em defesa no final do ano passado, observou que Moscou parece estar mobilizando centenas de milhares de novos recrutas para sua ofensiva. Isso, em parte, impulsionou o debate sobre os tanques, disse ela, “para permitir que as forças ucranianas alcancem um progresso significativo agora”. Segundo um alto funcionário da inteligência ocidental, a Rússia estaria se preparando para uma ofensiva logo após o inverno do Hemisfério Norte, que acaba em março.
Tanques alemães
A Ucrânia já recebeu do Ocidente alguns veículos de combate blindados, mas deseja desde o princípio receber os poderosos tanques de fabricação alemã Leopard 2 que estão nos arsenais de outros aliados da Otan. Especialistas dizem que, em números significativos, os tanques aumentariam substancialmente a capacidade da Ucrânia de repelir as forças russas.
Os tanques, projetados há mais de um século para romper a guerra de trincheiras, são uma combinação de poder de fogo, mobilidade e efeito de choque. Armados com grandes canhões, movendo-se sobre trilhos de metal e construídos com armadura protetora mais forte do que qualquer outra arma em um campo de batalha, os tanques podem passar por terrenos acidentados, lamacentos ou arenosos, onde os veículos de combate com rodas podem ter mais dificuldade.
Na Ucrânia, as autoridades dizem que os veículos blindados desempenharão um papel fundamental nas batalhas pelo controle das cidades ferozmente disputadas nas províncias do leste que fazem fronteira com a Rússia. O comandante militar mais graduado da Ucrânia, general Valeri Zaluzhni, disse que precisa de cerca de 300 tanques e cerca de 600 veículos de combate blindados ocidentais para fazer a diferença.
Os aliados da Otan que já fizeram parte da esfera soviética deram seus tanques da era soviética à Ucrânia. Mas grande parte da frota de Kiev foi destruída ou desgastada por meses de batalha, e está ficando sem munição, sendo incompatíveis com as munições ocidentais.
Desde que a guerra começou há quase um ano, o Ocidente tem resistido em dar algumas de suas armas mais potentes à Ucrânia, temendo que isso levasse a Otan a um conflito direto com a Rússia. Mas vendo a resistência ucraniana, poucas perspectivas de negociações de paz em breve e um impasse no campo de batalha, os aliados estão cedendo.
Os Patriots com os quais concordaram em enviar recentemente são o sistema de defesa aérea americano mais avançados e ajudarão a proteger Kiev e outras áreas densamente povoadas de ataques russos que prejudicaram a rede elétrica da Ucrânia. Os veículos de combate blindados aprovados na semana passada são mais leves e fáceis de manobrar no campo de batalha do que os tanques e podem transportar mais tropas, mas não são tão poderosos.
Também existem algumas armas que ainda não estão sendo consideradas, incluindo caças e mísseis de longo alcance que podem atingir a Crimeia ocupada e a própria Rússia. O governo de Joe Biden, liderando a coalizão de aliados que fornecem armas à Ucrânia, ainda está retendo os tanques M1 Abrams de fabricação americana, que exigem manutenção constante e combustível especial, e que as autoridades dizem ser escassos demais.
Mas as autoridades americanas afirmam que nunca impediram a Alemanha ou qualquer outra nação de enviar tanques ocidentais para a Ucrânia. Há cerca de 2.000 tanques Leopard de fabricação alemã em mais de uma dúzia de bases em toda a Europa. Alguns poderiam ser enviados rapidamente para a Ucrânia se Berlim aprovasse, embora as tripulações ucranianas tivessem que ser treinadas para usá-los.
A Ucrânia espera que o aumento da pressão por parte do Reino Unido e da Polônia convença o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, a autorizar a exportação. “Alguém sempre tem que dar o exemplo”, disse o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, à emissora estatal polonesa TVP Info na quinta-feira, 12.
A questão de permitir ou não o envio dos Leopards para a Ucrânia provavelmente chegará ao auge em uma reunião em 20 de janeiro de altos funcionários da defesa e militares de dezenas de nações, incluindo países da Otan, na Base Aérea de Ramstein, na Alemanha./NYT