Analista político e professor de Relações Internacionais da FGV-SP. Escreve quinzenalmente

Opinião|Nova Guerra Fria entre China, Rússia e EUA revigorou o G-7; leia coluna de Oliver Stuenkel


Turbulências geopolíticas dão novo sentido ao grupo, que vinha perdendo relevância

Por Oliver Stuenkel
Atualização:

Quando Luiz Inácio Lula da Silva foi convidado a participar da cúpula dos líderes do G-8 em 2009, o Brasil estava em ascensão, e o G-8, em decadência. Os BRICS acabavam de se tornar um agrupamento político, a China estava prestes a virar a segunda maior economia do planeta, e o presidente dos EUA, Barack Obama, havia chamado Lula “o presidente mais popular do mundo”.

O G-8, por outro lado, parecia perder seu status de central de comando da economia global: sua porcentagem do PIB global havia se reduzido de 65% para 53% em apenas uma década (sem contar com a Rússia, que aderiu ao grupo em 1998, mas foi expulsa depois da anexação da Crimeia em 2014). Além disso, a composição do G-8 – incluindo países como a Itália, mas excluindo os emergentes – parecia cada vez mais inadequada. As cúpulas do G-20, plataforma que também inclui os emergentes como China e Índia, pareciam tornar o G8 obsoleto.

Agora, 14 anos mais tarde, Lula deparou, na cúpula na cidade japonesa de Hiroshima, com uma situação bem diferente. A relevância econômica do G-7 caiu mais 9% desde 2009 e já não chega a 45% do PIB global em termos nominais (usando o método de paridade do poder de compra, representa apenas 30% da economia global).

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No âmbito político, o grupo passou por uma crise profunda quando o presidente americano Donald Trump praticamente paralisou as cúpulas entre 2017 e 2020 – simbolizada pela foto icônica de 2018, quando Angela Merkel e outros líderes instaram, em vão, o presidente americano a assinar a declaração final.

Líderes do G-7 caminham no Memorial de Hiroshima, Japão, durante visita oficial para a reunião do grupo  Foto: Kenny Holston / NYT

Ao longo dos últimos dois anos, porém, o G-7 passou por uma revigoração histórica. Tanto a piora significativa da relação entre o Ocidente e a China quanto a invasão russa à Ucrânia alteraram por completo a dinâmica das conversações.

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O grupo se tornou a principal plataforma para articular a resposta econômica à agressão militar de Moscou, evidenciada pela decisão do presidente Biden de autorizar o envio de caças F-16 à Ucrânia, medida que tem o potencial de dar aos ucranianos uma vantagem-chave nesse novo capítulo do conflito.

A linguagem usada pelos governos do G-7 é cada vez mais parecida com aquela da Guerra Fria no século 20: Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional do presidente Biden, descreveu o G7 recentemente como “o comitê diretor do mundo livre”. Os desafios geopolíticos comuns acabaram unindo o grupo.

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Apesar de divergências pontuais entre países do G-7 sobre como equilibrar o desejo de conter Pequim geopoliticamente e preservar os laços comerciais com a China, é notável a rapidez com a qual certos conceitos até recentemente pouco conhecidos – como “de-risking” (reduzir o risco estratégico dos laços comerciais com a China) — foram integrados ao discurso público de praticamente todos os países-integrantes do grupo.

Da mesma forma, o G-7 soube projetar no Japão unidade e capacidade de coordenação sem precedentes em relação à guerra na Ucrânia, inclusive permitindo que o presidente ucraniano se tornasse a estrela da cúpula.

Por enquanto, a aposta de Putin de que as sociedades ocidentais se cansariam rapidamente de arcar com o custo de apoiar o governo Zelenski militarmente não se concretizou. Muito, é claro, dependerá das eleições americanas em novembro de 2024, e o retorno de Trump voltaria a fragilizar o G-7. Por enquanto, porém, a atuação assertiva do grupo é reflexo de um Ocidente revigorado.

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O presidente Lula condenou a violação da integridade territorial da Ucrânia. Em discurso durante sessão de trabalho do G7

Não há dúvida de que esse cenário tornou a participação do presidente Lula bem mais complexa do que aquela de 2009. Diferentemente do G-20, onde as divergências entre países-membros oferecem espaço de manobra para o Brasil se posicionar como ator não-alinhado e disposto a dialogar com todos, a posição unida do G-7 em relação à China e à guerra na Ucrânia fez com que Lula enfrentasse pressão na grande maioria de reuniões bilaterais para que se posicionasse mais claramente contra a invasão russa. A hesitação de Lula depois do pedido do presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, de uma reunião bilateral causou a impressão de que Lula está emparedado e indeciso sobre como agir para melhor preservar sua narrativa de neutralidade.

Diante o novo cenário geopolítico, as numerosas previsões sobre o suposto fim da cúpula do G-7 mostraram-se precipitadas. Goste-se ou não, o grupo soube compensar sua relativa perda de relevância econômica com mais alinhamento e união geopolítica.

Quando Luiz Inácio Lula da Silva foi convidado a participar da cúpula dos líderes do G-8 em 2009, o Brasil estava em ascensão, e o G-8, em decadência. Os BRICS acabavam de se tornar um agrupamento político, a China estava prestes a virar a segunda maior economia do planeta, e o presidente dos EUA, Barack Obama, havia chamado Lula “o presidente mais popular do mundo”.

O G-8, por outro lado, parecia perder seu status de central de comando da economia global: sua porcentagem do PIB global havia se reduzido de 65% para 53% em apenas uma década (sem contar com a Rússia, que aderiu ao grupo em 1998, mas foi expulsa depois da anexação da Crimeia em 2014). Além disso, a composição do G-8 – incluindo países como a Itália, mas excluindo os emergentes – parecia cada vez mais inadequada. As cúpulas do G-20, plataforma que também inclui os emergentes como China e Índia, pareciam tornar o G8 obsoleto.

Agora, 14 anos mais tarde, Lula deparou, na cúpula na cidade japonesa de Hiroshima, com uma situação bem diferente. A relevância econômica do G-7 caiu mais 9% desde 2009 e já não chega a 45% do PIB global em termos nominais (usando o método de paridade do poder de compra, representa apenas 30% da economia global).

No âmbito político, o grupo passou por uma crise profunda quando o presidente americano Donald Trump praticamente paralisou as cúpulas entre 2017 e 2020 – simbolizada pela foto icônica de 2018, quando Angela Merkel e outros líderes instaram, em vão, o presidente americano a assinar a declaração final.

Líderes do G-7 caminham no Memorial de Hiroshima, Japão, durante visita oficial para a reunião do grupo  Foto: Kenny Holston / NYT

Ao longo dos últimos dois anos, porém, o G-7 passou por uma revigoração histórica. Tanto a piora significativa da relação entre o Ocidente e a China quanto a invasão russa à Ucrânia alteraram por completo a dinâmica das conversações.

O grupo se tornou a principal plataforma para articular a resposta econômica à agressão militar de Moscou, evidenciada pela decisão do presidente Biden de autorizar o envio de caças F-16 à Ucrânia, medida que tem o potencial de dar aos ucranianos uma vantagem-chave nesse novo capítulo do conflito.

A linguagem usada pelos governos do G-7 é cada vez mais parecida com aquela da Guerra Fria no século 20: Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional do presidente Biden, descreveu o G7 recentemente como “o comitê diretor do mundo livre”. Os desafios geopolíticos comuns acabaram unindo o grupo.

Apesar de divergências pontuais entre países do G-7 sobre como equilibrar o desejo de conter Pequim geopoliticamente e preservar os laços comerciais com a China, é notável a rapidez com a qual certos conceitos até recentemente pouco conhecidos – como “de-risking” (reduzir o risco estratégico dos laços comerciais com a China) — foram integrados ao discurso público de praticamente todos os países-integrantes do grupo.

Da mesma forma, o G-7 soube projetar no Japão unidade e capacidade de coordenação sem precedentes em relação à guerra na Ucrânia, inclusive permitindo que o presidente ucraniano se tornasse a estrela da cúpula.

Por enquanto, a aposta de Putin de que as sociedades ocidentais se cansariam rapidamente de arcar com o custo de apoiar o governo Zelenski militarmente não se concretizou. Muito, é claro, dependerá das eleições americanas em novembro de 2024, e o retorno de Trump voltaria a fragilizar o G-7. Por enquanto, porém, a atuação assertiva do grupo é reflexo de um Ocidente revigorado.

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Não há dúvida de que esse cenário tornou a participação do presidente Lula bem mais complexa do que aquela de 2009. Diferentemente do G-20, onde as divergências entre países-membros oferecem espaço de manobra para o Brasil se posicionar como ator não-alinhado e disposto a dialogar com todos, a posição unida do G-7 em relação à China e à guerra na Ucrânia fez com que Lula enfrentasse pressão na grande maioria de reuniões bilaterais para que se posicionasse mais claramente contra a invasão russa. A hesitação de Lula depois do pedido do presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, de uma reunião bilateral causou a impressão de que Lula está emparedado e indeciso sobre como agir para melhor preservar sua narrativa de neutralidade.

Diante o novo cenário geopolítico, as numerosas previsões sobre o suposto fim da cúpula do G-7 mostraram-se precipitadas. Goste-se ou não, o grupo soube compensar sua relativa perda de relevância econômica com mais alinhamento e união geopolítica.

Quando Luiz Inácio Lula da Silva foi convidado a participar da cúpula dos líderes do G-8 em 2009, o Brasil estava em ascensão, e o G-8, em decadência. Os BRICS acabavam de se tornar um agrupamento político, a China estava prestes a virar a segunda maior economia do planeta, e o presidente dos EUA, Barack Obama, havia chamado Lula “o presidente mais popular do mundo”.

O G-8, por outro lado, parecia perder seu status de central de comando da economia global: sua porcentagem do PIB global havia se reduzido de 65% para 53% em apenas uma década (sem contar com a Rússia, que aderiu ao grupo em 1998, mas foi expulsa depois da anexação da Crimeia em 2014). Além disso, a composição do G-8 – incluindo países como a Itália, mas excluindo os emergentes – parecia cada vez mais inadequada. As cúpulas do G-20, plataforma que também inclui os emergentes como China e Índia, pareciam tornar o G8 obsoleto.

Agora, 14 anos mais tarde, Lula deparou, na cúpula na cidade japonesa de Hiroshima, com uma situação bem diferente. A relevância econômica do G-7 caiu mais 9% desde 2009 e já não chega a 45% do PIB global em termos nominais (usando o método de paridade do poder de compra, representa apenas 30% da economia global).

No âmbito político, o grupo passou por uma crise profunda quando o presidente americano Donald Trump praticamente paralisou as cúpulas entre 2017 e 2020 – simbolizada pela foto icônica de 2018, quando Angela Merkel e outros líderes instaram, em vão, o presidente americano a assinar a declaração final.

Líderes do G-7 caminham no Memorial de Hiroshima, Japão, durante visita oficial para a reunião do grupo  Foto: Kenny Holston / NYT

Ao longo dos últimos dois anos, porém, o G-7 passou por uma revigoração histórica. Tanto a piora significativa da relação entre o Ocidente e a China quanto a invasão russa à Ucrânia alteraram por completo a dinâmica das conversações.

O grupo se tornou a principal plataforma para articular a resposta econômica à agressão militar de Moscou, evidenciada pela decisão do presidente Biden de autorizar o envio de caças F-16 à Ucrânia, medida que tem o potencial de dar aos ucranianos uma vantagem-chave nesse novo capítulo do conflito.

A linguagem usada pelos governos do G-7 é cada vez mais parecida com aquela da Guerra Fria no século 20: Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional do presidente Biden, descreveu o G7 recentemente como “o comitê diretor do mundo livre”. Os desafios geopolíticos comuns acabaram unindo o grupo.

Apesar de divergências pontuais entre países do G-7 sobre como equilibrar o desejo de conter Pequim geopoliticamente e preservar os laços comerciais com a China, é notável a rapidez com a qual certos conceitos até recentemente pouco conhecidos – como “de-risking” (reduzir o risco estratégico dos laços comerciais com a China) — foram integrados ao discurso público de praticamente todos os países-integrantes do grupo.

Da mesma forma, o G-7 soube projetar no Japão unidade e capacidade de coordenação sem precedentes em relação à guerra na Ucrânia, inclusive permitindo que o presidente ucraniano se tornasse a estrela da cúpula.

Por enquanto, a aposta de Putin de que as sociedades ocidentais se cansariam rapidamente de arcar com o custo de apoiar o governo Zelenski militarmente não se concretizou. Muito, é claro, dependerá das eleições americanas em novembro de 2024, e o retorno de Trump voltaria a fragilizar o G-7. Por enquanto, porém, a atuação assertiva do grupo é reflexo de um Ocidente revigorado.

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Não há dúvida de que esse cenário tornou a participação do presidente Lula bem mais complexa do que aquela de 2009. Diferentemente do G-20, onde as divergências entre países-membros oferecem espaço de manobra para o Brasil se posicionar como ator não-alinhado e disposto a dialogar com todos, a posição unida do G-7 em relação à China e à guerra na Ucrânia fez com que Lula enfrentasse pressão na grande maioria de reuniões bilaterais para que se posicionasse mais claramente contra a invasão russa. A hesitação de Lula depois do pedido do presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, de uma reunião bilateral causou a impressão de que Lula está emparedado e indeciso sobre como agir para melhor preservar sua narrativa de neutralidade.

Diante o novo cenário geopolítico, as numerosas previsões sobre o suposto fim da cúpula do G-7 mostraram-se precipitadas. Goste-se ou não, o grupo soube compensar sua relativa perda de relevância econômica com mais alinhamento e união geopolítica.

Quando Luiz Inácio Lula da Silva foi convidado a participar da cúpula dos líderes do G-8 em 2009, o Brasil estava em ascensão, e o G-8, em decadência. Os BRICS acabavam de se tornar um agrupamento político, a China estava prestes a virar a segunda maior economia do planeta, e o presidente dos EUA, Barack Obama, havia chamado Lula “o presidente mais popular do mundo”.

O G-8, por outro lado, parecia perder seu status de central de comando da economia global: sua porcentagem do PIB global havia se reduzido de 65% para 53% em apenas uma década (sem contar com a Rússia, que aderiu ao grupo em 1998, mas foi expulsa depois da anexação da Crimeia em 2014). Além disso, a composição do G-8 – incluindo países como a Itália, mas excluindo os emergentes – parecia cada vez mais inadequada. As cúpulas do G-20, plataforma que também inclui os emergentes como China e Índia, pareciam tornar o G8 obsoleto.

Agora, 14 anos mais tarde, Lula deparou, na cúpula na cidade japonesa de Hiroshima, com uma situação bem diferente. A relevância econômica do G-7 caiu mais 9% desde 2009 e já não chega a 45% do PIB global em termos nominais (usando o método de paridade do poder de compra, representa apenas 30% da economia global).

No âmbito político, o grupo passou por uma crise profunda quando o presidente americano Donald Trump praticamente paralisou as cúpulas entre 2017 e 2020 – simbolizada pela foto icônica de 2018, quando Angela Merkel e outros líderes instaram, em vão, o presidente americano a assinar a declaração final.

Líderes do G-7 caminham no Memorial de Hiroshima, Japão, durante visita oficial para a reunião do grupo  Foto: Kenny Holston / NYT

Ao longo dos últimos dois anos, porém, o G-7 passou por uma revigoração histórica. Tanto a piora significativa da relação entre o Ocidente e a China quanto a invasão russa à Ucrânia alteraram por completo a dinâmica das conversações.

O grupo se tornou a principal plataforma para articular a resposta econômica à agressão militar de Moscou, evidenciada pela decisão do presidente Biden de autorizar o envio de caças F-16 à Ucrânia, medida que tem o potencial de dar aos ucranianos uma vantagem-chave nesse novo capítulo do conflito.

A linguagem usada pelos governos do G-7 é cada vez mais parecida com aquela da Guerra Fria no século 20: Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional do presidente Biden, descreveu o G7 recentemente como “o comitê diretor do mundo livre”. Os desafios geopolíticos comuns acabaram unindo o grupo.

Apesar de divergências pontuais entre países do G-7 sobre como equilibrar o desejo de conter Pequim geopoliticamente e preservar os laços comerciais com a China, é notável a rapidez com a qual certos conceitos até recentemente pouco conhecidos – como “de-risking” (reduzir o risco estratégico dos laços comerciais com a China) — foram integrados ao discurso público de praticamente todos os países-integrantes do grupo.

Da mesma forma, o G-7 soube projetar no Japão unidade e capacidade de coordenação sem precedentes em relação à guerra na Ucrânia, inclusive permitindo que o presidente ucraniano se tornasse a estrela da cúpula.

Por enquanto, a aposta de Putin de que as sociedades ocidentais se cansariam rapidamente de arcar com o custo de apoiar o governo Zelenski militarmente não se concretizou. Muito, é claro, dependerá das eleições americanas em novembro de 2024, e o retorno de Trump voltaria a fragilizar o G-7. Por enquanto, porém, a atuação assertiva do grupo é reflexo de um Ocidente revigorado.

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O presidente Lula condenou a violação da integridade territorial da Ucrânia. Em discurso durante sessão de trabalho do G7

Não há dúvida de que esse cenário tornou a participação do presidente Lula bem mais complexa do que aquela de 2009. Diferentemente do G-20, onde as divergências entre países-membros oferecem espaço de manobra para o Brasil se posicionar como ator não-alinhado e disposto a dialogar com todos, a posição unida do G-7 em relação à China e à guerra na Ucrânia fez com que Lula enfrentasse pressão na grande maioria de reuniões bilaterais para que se posicionasse mais claramente contra a invasão russa. A hesitação de Lula depois do pedido do presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, de uma reunião bilateral causou a impressão de que Lula está emparedado e indeciso sobre como agir para melhor preservar sua narrativa de neutralidade.

Diante o novo cenário geopolítico, as numerosas previsões sobre o suposto fim da cúpula do G-7 mostraram-se precipitadas. Goste-se ou não, o grupo soube compensar sua relativa perda de relevância econômica com mais alinhamento e união geopolítica.

Quando Luiz Inácio Lula da Silva foi convidado a participar da cúpula dos líderes do G-8 em 2009, o Brasil estava em ascensão, e o G-8, em decadência. Os BRICS acabavam de se tornar um agrupamento político, a China estava prestes a virar a segunda maior economia do planeta, e o presidente dos EUA, Barack Obama, havia chamado Lula “o presidente mais popular do mundo”.

O G-8, por outro lado, parecia perder seu status de central de comando da economia global: sua porcentagem do PIB global havia se reduzido de 65% para 53% em apenas uma década (sem contar com a Rússia, que aderiu ao grupo em 1998, mas foi expulsa depois da anexação da Crimeia em 2014). Além disso, a composição do G-8 – incluindo países como a Itália, mas excluindo os emergentes – parecia cada vez mais inadequada. As cúpulas do G-20, plataforma que também inclui os emergentes como China e Índia, pareciam tornar o G8 obsoleto.

Agora, 14 anos mais tarde, Lula deparou, na cúpula na cidade japonesa de Hiroshima, com uma situação bem diferente. A relevância econômica do G-7 caiu mais 9% desde 2009 e já não chega a 45% do PIB global em termos nominais (usando o método de paridade do poder de compra, representa apenas 30% da economia global).

No âmbito político, o grupo passou por uma crise profunda quando o presidente americano Donald Trump praticamente paralisou as cúpulas entre 2017 e 2020 – simbolizada pela foto icônica de 2018, quando Angela Merkel e outros líderes instaram, em vão, o presidente americano a assinar a declaração final.

Líderes do G-7 caminham no Memorial de Hiroshima, Japão, durante visita oficial para a reunião do grupo  Foto: Kenny Holston / NYT

Ao longo dos últimos dois anos, porém, o G-7 passou por uma revigoração histórica. Tanto a piora significativa da relação entre o Ocidente e a China quanto a invasão russa à Ucrânia alteraram por completo a dinâmica das conversações.

O grupo se tornou a principal plataforma para articular a resposta econômica à agressão militar de Moscou, evidenciada pela decisão do presidente Biden de autorizar o envio de caças F-16 à Ucrânia, medida que tem o potencial de dar aos ucranianos uma vantagem-chave nesse novo capítulo do conflito.

A linguagem usada pelos governos do G-7 é cada vez mais parecida com aquela da Guerra Fria no século 20: Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional do presidente Biden, descreveu o G7 recentemente como “o comitê diretor do mundo livre”. Os desafios geopolíticos comuns acabaram unindo o grupo.

Apesar de divergências pontuais entre países do G-7 sobre como equilibrar o desejo de conter Pequim geopoliticamente e preservar os laços comerciais com a China, é notável a rapidez com a qual certos conceitos até recentemente pouco conhecidos – como “de-risking” (reduzir o risco estratégico dos laços comerciais com a China) — foram integrados ao discurso público de praticamente todos os países-integrantes do grupo.

Da mesma forma, o G-7 soube projetar no Japão unidade e capacidade de coordenação sem precedentes em relação à guerra na Ucrânia, inclusive permitindo que o presidente ucraniano se tornasse a estrela da cúpula.

Por enquanto, a aposta de Putin de que as sociedades ocidentais se cansariam rapidamente de arcar com o custo de apoiar o governo Zelenski militarmente não se concretizou. Muito, é claro, dependerá das eleições americanas em novembro de 2024, e o retorno de Trump voltaria a fragilizar o G-7. Por enquanto, porém, a atuação assertiva do grupo é reflexo de um Ocidente revigorado.

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Não há dúvida de que esse cenário tornou a participação do presidente Lula bem mais complexa do que aquela de 2009. Diferentemente do G-20, onde as divergências entre países-membros oferecem espaço de manobra para o Brasil se posicionar como ator não-alinhado e disposto a dialogar com todos, a posição unida do G-7 em relação à China e à guerra na Ucrânia fez com que Lula enfrentasse pressão na grande maioria de reuniões bilaterais para que se posicionasse mais claramente contra a invasão russa. A hesitação de Lula depois do pedido do presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, de uma reunião bilateral causou a impressão de que Lula está emparedado e indeciso sobre como agir para melhor preservar sua narrativa de neutralidade.

Diante o novo cenário geopolítico, as numerosas previsões sobre o suposto fim da cúpula do G-7 mostraram-se precipitadas. Goste-se ou não, o grupo soube compensar sua relativa perda de relevância econômica com mais alinhamento e união geopolítica.

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