Analista político e professor de Relações Internacionais da FGV-SP. Escreve quinzenalmente

Opinião|Acordo com Irã terá impacto limitado; leia a coluna de Oliver Stuenkel


Compromisso provavelmente só valerá enquanto um democrata estiver na Casa Branca

Por Oliver Stuenkel
Atualização:

É cada vez mais provável que um novo acordo nuclear entre Irã, de um lado, e Estados Unidos, Rússia, China, três países europeus e a União Europeia, do outro, seja anunciado nas próximas semanas. A previsão é de fontes que acompanham de perto as atuais negociações sobre a reativação do pacto.

A assinatura do acordo em 2015, sob a liderança do governo Obama, previu a retirada de parte das sanções econômicas contra Teerã, em troca de limites ao programa iraniano de enriquecimento de urânio, supervisionado por meio de inspeções técnicas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Com a decisão do presidente Trump em 2018 de abandonar o trato e reimpor sanções, porém, o Irã acelerou o enriquecimento de urânio, ficando mais próximo da capacidade de produzir armas nucleares. Mesmo com a vitória de Biden, foi preciso mais de um ano de negociações em Viena até que se alinhavasse um novo pacto.

Ao longo dos últimos seis meses, a guerra na Ucrânia impôs obstáculos adicionais às negociações em Viena, complicando a coordenação entre diplomatas russos e ocidentais no que diz respeito ao Irã. À primeira vista, se trataria, portanto, de um verdadeiro triunfo da diplomacia e um sinal de esperança para o Oriente Médio.

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Imagem divulgada pelo governo do Irã mostra técnicos trabalhando em circuito secundário de reator, em Arak, a 250 quilômetros a sudoeste da capital Teerã 

O pronunciamento de um novo acordo também seria uma boa notícia para o cenário econômico mundial, pois permitiria ao governo iraniano vender mais de um milhão de barris de petróleo por dia ao mercado global, passo que poderia reduzir o custo do combustível para consumidores mundo afora – Goldman Sachs prevê uma queda de 5-10 dólares por barril em 2023 se o pacto for anunciado.

Mesmo assim, por uma série de motivos, há um risco de que a conclusão do acordo tenha um impacto mais modesto. Em primeiro lugar, porque, por mais que o deseje, o atual presidente americano não tem como garantir que seu sucessor não renegará o acordo outra vez. Líderes do Partido Republicano já deixaram claro que, se voltarem a ocupar a Casa Branca, repetirão o ato de Trump. Esse risco faz com que investidores internacionais tenham receio de entrar no mercado iraniano: afinal, ninguém quer fazer grandes investimentos agora se há uma chance real de que os EUA voltem a ampliar as sanções daqui a alguns anos. Da mesma forma, o Irã certamente buscará guardar o conhecimento necessário para voltar a enriquecer mais urânio caso os EUA abandonem o acordo novamente. A profunda divergência entre Democratas e Republicanos em relação ao tema, portanto, torna os EUA um ator menos confiável e previsível.

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Em segundo, o acordo apenas parcialmente reduziria a profunda tensão na relação entre Washington e Teerã. Os dois continuarão uma espécie de guerra por procuração no Oriente Médio: na semana passada, enquanto surgiram boatos de uma conclusão iminente das negociações, houve, na Síria, ataques entre os EUA e seus aliados de um lado e militantes apoiados por Irã e a Guarda Revolucionária Iraniana, considerada uma organização terrorista pelos EUA, do outro. O acordo nuclear em nada afetaria o principal objetivo da política regional iraniana de remover as tropas americanas do Oriente, visto como principal obstáculo às ambições geopolíticas de Teerã. Da mesma forma, o governo isralense é opositor ferrenho do acordo e argumenta que ele não impede que o Irã avance seu programa nuclear. O chefe do Mossad, serviço secreto israelense, disse na semana passada que a conclusão do trato seria um “desastre estratégico” para Israel. Segundo ele, Tel Aviv estaria disposta a continuar atacando laboratórios iranianos, se julgar necessário, para prevenir Teerã de obter a bomba atômica. Nesse quesito, o governo israelense está, paradoxalmente, alinhado com a Guarda Revolucionária Iraniana, que também rejeita as negociações por não confiar em Washington e preferir uma postura mais radical.

Isso não quer dizer que a volta do acordo seja uma notícia irrelevante. Pelo contrário: a conclusão das árduas negociações ao longo dos últimos meses em Viena representa, em meio aos numerosos e sangrentos conflitos no Oriente Médio, uma esperança para o regime de não-proliferação nuclear. Da mesma forma, mostra que a ONU, organização da qual a Agência Internacional de Energia Atômica faz parte, continua sendo crucial para preservar a cooperação internacional em um ambiente global cada vez mais instável.

Mesmo assim, também é preciso ser realista: enquanto um novo acordo nuclear pode reduzir o risco de o Irã desenvolver a bomba atômica – passo que poderia desestabilizar a região ainda mais –, ele não ajuda a superar as divergências praticamente irreconciliáveis entre vários governos da região. O Oriente Médio continuará sendo marcado pela instabilidade geopolítica permanente.

É cada vez mais provável que um novo acordo nuclear entre Irã, de um lado, e Estados Unidos, Rússia, China, três países europeus e a União Europeia, do outro, seja anunciado nas próximas semanas. A previsão é de fontes que acompanham de perto as atuais negociações sobre a reativação do pacto.

A assinatura do acordo em 2015, sob a liderança do governo Obama, previu a retirada de parte das sanções econômicas contra Teerã, em troca de limites ao programa iraniano de enriquecimento de urânio, supervisionado por meio de inspeções técnicas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Com a decisão do presidente Trump em 2018 de abandonar o trato e reimpor sanções, porém, o Irã acelerou o enriquecimento de urânio, ficando mais próximo da capacidade de produzir armas nucleares. Mesmo com a vitória de Biden, foi preciso mais de um ano de negociações em Viena até que se alinhavasse um novo pacto.

Ao longo dos últimos seis meses, a guerra na Ucrânia impôs obstáculos adicionais às negociações em Viena, complicando a coordenação entre diplomatas russos e ocidentais no que diz respeito ao Irã. À primeira vista, se trataria, portanto, de um verdadeiro triunfo da diplomacia e um sinal de esperança para o Oriente Médio.

Imagem divulgada pelo governo do Irã mostra técnicos trabalhando em circuito secundário de reator, em Arak, a 250 quilômetros a sudoeste da capital Teerã 

O pronunciamento de um novo acordo também seria uma boa notícia para o cenário econômico mundial, pois permitiria ao governo iraniano vender mais de um milhão de barris de petróleo por dia ao mercado global, passo que poderia reduzir o custo do combustível para consumidores mundo afora – Goldman Sachs prevê uma queda de 5-10 dólares por barril em 2023 se o pacto for anunciado.

Mesmo assim, por uma série de motivos, há um risco de que a conclusão do acordo tenha um impacto mais modesto. Em primeiro lugar, porque, por mais que o deseje, o atual presidente americano não tem como garantir que seu sucessor não renegará o acordo outra vez. Líderes do Partido Republicano já deixaram claro que, se voltarem a ocupar a Casa Branca, repetirão o ato de Trump. Esse risco faz com que investidores internacionais tenham receio de entrar no mercado iraniano: afinal, ninguém quer fazer grandes investimentos agora se há uma chance real de que os EUA voltem a ampliar as sanções daqui a alguns anos. Da mesma forma, o Irã certamente buscará guardar o conhecimento necessário para voltar a enriquecer mais urânio caso os EUA abandonem o acordo novamente. A profunda divergência entre Democratas e Republicanos em relação ao tema, portanto, torna os EUA um ator menos confiável e previsível.

Em segundo, o acordo apenas parcialmente reduziria a profunda tensão na relação entre Washington e Teerã. Os dois continuarão uma espécie de guerra por procuração no Oriente Médio: na semana passada, enquanto surgiram boatos de uma conclusão iminente das negociações, houve, na Síria, ataques entre os EUA e seus aliados de um lado e militantes apoiados por Irã e a Guarda Revolucionária Iraniana, considerada uma organização terrorista pelos EUA, do outro. O acordo nuclear em nada afetaria o principal objetivo da política regional iraniana de remover as tropas americanas do Oriente, visto como principal obstáculo às ambições geopolíticas de Teerã. Da mesma forma, o governo isralense é opositor ferrenho do acordo e argumenta que ele não impede que o Irã avance seu programa nuclear. O chefe do Mossad, serviço secreto israelense, disse na semana passada que a conclusão do trato seria um “desastre estratégico” para Israel. Segundo ele, Tel Aviv estaria disposta a continuar atacando laboratórios iranianos, se julgar necessário, para prevenir Teerã de obter a bomba atômica. Nesse quesito, o governo israelense está, paradoxalmente, alinhado com a Guarda Revolucionária Iraniana, que também rejeita as negociações por não confiar em Washington e preferir uma postura mais radical.

Isso não quer dizer que a volta do acordo seja uma notícia irrelevante. Pelo contrário: a conclusão das árduas negociações ao longo dos últimos meses em Viena representa, em meio aos numerosos e sangrentos conflitos no Oriente Médio, uma esperança para o regime de não-proliferação nuclear. Da mesma forma, mostra que a ONU, organização da qual a Agência Internacional de Energia Atômica faz parte, continua sendo crucial para preservar a cooperação internacional em um ambiente global cada vez mais instável.

Mesmo assim, também é preciso ser realista: enquanto um novo acordo nuclear pode reduzir o risco de o Irã desenvolver a bomba atômica – passo que poderia desestabilizar a região ainda mais –, ele não ajuda a superar as divergências praticamente irreconciliáveis entre vários governos da região. O Oriente Médio continuará sendo marcado pela instabilidade geopolítica permanente.

É cada vez mais provável que um novo acordo nuclear entre Irã, de um lado, e Estados Unidos, Rússia, China, três países europeus e a União Europeia, do outro, seja anunciado nas próximas semanas. A previsão é de fontes que acompanham de perto as atuais negociações sobre a reativação do pacto.

A assinatura do acordo em 2015, sob a liderança do governo Obama, previu a retirada de parte das sanções econômicas contra Teerã, em troca de limites ao programa iraniano de enriquecimento de urânio, supervisionado por meio de inspeções técnicas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Com a decisão do presidente Trump em 2018 de abandonar o trato e reimpor sanções, porém, o Irã acelerou o enriquecimento de urânio, ficando mais próximo da capacidade de produzir armas nucleares. Mesmo com a vitória de Biden, foi preciso mais de um ano de negociações em Viena até que se alinhavasse um novo pacto.

Ao longo dos últimos seis meses, a guerra na Ucrânia impôs obstáculos adicionais às negociações em Viena, complicando a coordenação entre diplomatas russos e ocidentais no que diz respeito ao Irã. À primeira vista, se trataria, portanto, de um verdadeiro triunfo da diplomacia e um sinal de esperança para o Oriente Médio.

Imagem divulgada pelo governo do Irã mostra técnicos trabalhando em circuito secundário de reator, em Arak, a 250 quilômetros a sudoeste da capital Teerã 

O pronunciamento de um novo acordo também seria uma boa notícia para o cenário econômico mundial, pois permitiria ao governo iraniano vender mais de um milhão de barris de petróleo por dia ao mercado global, passo que poderia reduzir o custo do combustível para consumidores mundo afora – Goldman Sachs prevê uma queda de 5-10 dólares por barril em 2023 se o pacto for anunciado.

Mesmo assim, por uma série de motivos, há um risco de que a conclusão do acordo tenha um impacto mais modesto. Em primeiro lugar, porque, por mais que o deseje, o atual presidente americano não tem como garantir que seu sucessor não renegará o acordo outra vez. Líderes do Partido Republicano já deixaram claro que, se voltarem a ocupar a Casa Branca, repetirão o ato de Trump. Esse risco faz com que investidores internacionais tenham receio de entrar no mercado iraniano: afinal, ninguém quer fazer grandes investimentos agora se há uma chance real de que os EUA voltem a ampliar as sanções daqui a alguns anos. Da mesma forma, o Irã certamente buscará guardar o conhecimento necessário para voltar a enriquecer mais urânio caso os EUA abandonem o acordo novamente. A profunda divergência entre Democratas e Republicanos em relação ao tema, portanto, torna os EUA um ator menos confiável e previsível.

Em segundo, o acordo apenas parcialmente reduziria a profunda tensão na relação entre Washington e Teerã. Os dois continuarão uma espécie de guerra por procuração no Oriente Médio: na semana passada, enquanto surgiram boatos de uma conclusão iminente das negociações, houve, na Síria, ataques entre os EUA e seus aliados de um lado e militantes apoiados por Irã e a Guarda Revolucionária Iraniana, considerada uma organização terrorista pelos EUA, do outro. O acordo nuclear em nada afetaria o principal objetivo da política regional iraniana de remover as tropas americanas do Oriente, visto como principal obstáculo às ambições geopolíticas de Teerã. Da mesma forma, o governo isralense é opositor ferrenho do acordo e argumenta que ele não impede que o Irã avance seu programa nuclear. O chefe do Mossad, serviço secreto israelense, disse na semana passada que a conclusão do trato seria um “desastre estratégico” para Israel. Segundo ele, Tel Aviv estaria disposta a continuar atacando laboratórios iranianos, se julgar necessário, para prevenir Teerã de obter a bomba atômica. Nesse quesito, o governo israelense está, paradoxalmente, alinhado com a Guarda Revolucionária Iraniana, que também rejeita as negociações por não confiar em Washington e preferir uma postura mais radical.

Isso não quer dizer que a volta do acordo seja uma notícia irrelevante. Pelo contrário: a conclusão das árduas negociações ao longo dos últimos meses em Viena representa, em meio aos numerosos e sangrentos conflitos no Oriente Médio, uma esperança para o regime de não-proliferação nuclear. Da mesma forma, mostra que a ONU, organização da qual a Agência Internacional de Energia Atômica faz parte, continua sendo crucial para preservar a cooperação internacional em um ambiente global cada vez mais instável.

Mesmo assim, também é preciso ser realista: enquanto um novo acordo nuclear pode reduzir o risco de o Irã desenvolver a bomba atômica – passo que poderia desestabilizar a região ainda mais –, ele não ajuda a superar as divergências praticamente irreconciliáveis entre vários governos da região. O Oriente Médio continuará sendo marcado pela instabilidade geopolítica permanente.

É cada vez mais provável que um novo acordo nuclear entre Irã, de um lado, e Estados Unidos, Rússia, China, três países europeus e a União Europeia, do outro, seja anunciado nas próximas semanas. A previsão é de fontes que acompanham de perto as atuais negociações sobre a reativação do pacto.

A assinatura do acordo em 2015, sob a liderança do governo Obama, previu a retirada de parte das sanções econômicas contra Teerã, em troca de limites ao programa iraniano de enriquecimento de urânio, supervisionado por meio de inspeções técnicas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Com a decisão do presidente Trump em 2018 de abandonar o trato e reimpor sanções, porém, o Irã acelerou o enriquecimento de urânio, ficando mais próximo da capacidade de produzir armas nucleares. Mesmo com a vitória de Biden, foi preciso mais de um ano de negociações em Viena até que se alinhavasse um novo pacto.

Ao longo dos últimos seis meses, a guerra na Ucrânia impôs obstáculos adicionais às negociações em Viena, complicando a coordenação entre diplomatas russos e ocidentais no que diz respeito ao Irã. À primeira vista, se trataria, portanto, de um verdadeiro triunfo da diplomacia e um sinal de esperança para o Oriente Médio.

Imagem divulgada pelo governo do Irã mostra técnicos trabalhando em circuito secundário de reator, em Arak, a 250 quilômetros a sudoeste da capital Teerã 

O pronunciamento de um novo acordo também seria uma boa notícia para o cenário econômico mundial, pois permitiria ao governo iraniano vender mais de um milhão de barris de petróleo por dia ao mercado global, passo que poderia reduzir o custo do combustível para consumidores mundo afora – Goldman Sachs prevê uma queda de 5-10 dólares por barril em 2023 se o pacto for anunciado.

Mesmo assim, por uma série de motivos, há um risco de que a conclusão do acordo tenha um impacto mais modesto. Em primeiro lugar, porque, por mais que o deseje, o atual presidente americano não tem como garantir que seu sucessor não renegará o acordo outra vez. Líderes do Partido Republicano já deixaram claro que, se voltarem a ocupar a Casa Branca, repetirão o ato de Trump. Esse risco faz com que investidores internacionais tenham receio de entrar no mercado iraniano: afinal, ninguém quer fazer grandes investimentos agora se há uma chance real de que os EUA voltem a ampliar as sanções daqui a alguns anos. Da mesma forma, o Irã certamente buscará guardar o conhecimento necessário para voltar a enriquecer mais urânio caso os EUA abandonem o acordo novamente. A profunda divergência entre Democratas e Republicanos em relação ao tema, portanto, torna os EUA um ator menos confiável e previsível.

Em segundo, o acordo apenas parcialmente reduziria a profunda tensão na relação entre Washington e Teerã. Os dois continuarão uma espécie de guerra por procuração no Oriente Médio: na semana passada, enquanto surgiram boatos de uma conclusão iminente das negociações, houve, na Síria, ataques entre os EUA e seus aliados de um lado e militantes apoiados por Irã e a Guarda Revolucionária Iraniana, considerada uma organização terrorista pelos EUA, do outro. O acordo nuclear em nada afetaria o principal objetivo da política regional iraniana de remover as tropas americanas do Oriente, visto como principal obstáculo às ambições geopolíticas de Teerã. Da mesma forma, o governo isralense é opositor ferrenho do acordo e argumenta que ele não impede que o Irã avance seu programa nuclear. O chefe do Mossad, serviço secreto israelense, disse na semana passada que a conclusão do trato seria um “desastre estratégico” para Israel. Segundo ele, Tel Aviv estaria disposta a continuar atacando laboratórios iranianos, se julgar necessário, para prevenir Teerã de obter a bomba atômica. Nesse quesito, o governo israelense está, paradoxalmente, alinhado com a Guarda Revolucionária Iraniana, que também rejeita as negociações por não confiar em Washington e preferir uma postura mais radical.

Isso não quer dizer que a volta do acordo seja uma notícia irrelevante. Pelo contrário: a conclusão das árduas negociações ao longo dos últimos meses em Viena representa, em meio aos numerosos e sangrentos conflitos no Oriente Médio, uma esperança para o regime de não-proliferação nuclear. Da mesma forma, mostra que a ONU, organização da qual a Agência Internacional de Energia Atômica faz parte, continua sendo crucial para preservar a cooperação internacional em um ambiente global cada vez mais instável.

Mesmo assim, também é preciso ser realista: enquanto um novo acordo nuclear pode reduzir o risco de o Irã desenvolver a bomba atômica – passo que poderia desestabilizar a região ainda mais –, ele não ajuda a superar as divergências praticamente irreconciliáveis entre vários governos da região. O Oriente Médio continuará sendo marcado pela instabilidade geopolítica permanente.

É cada vez mais provável que um novo acordo nuclear entre Irã, de um lado, e Estados Unidos, Rússia, China, três países europeus e a União Europeia, do outro, seja anunciado nas próximas semanas. A previsão é de fontes que acompanham de perto as atuais negociações sobre a reativação do pacto.

A assinatura do acordo em 2015, sob a liderança do governo Obama, previu a retirada de parte das sanções econômicas contra Teerã, em troca de limites ao programa iraniano de enriquecimento de urânio, supervisionado por meio de inspeções técnicas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Com a decisão do presidente Trump em 2018 de abandonar o trato e reimpor sanções, porém, o Irã acelerou o enriquecimento de urânio, ficando mais próximo da capacidade de produzir armas nucleares. Mesmo com a vitória de Biden, foi preciso mais de um ano de negociações em Viena até que se alinhavasse um novo pacto.

Ao longo dos últimos seis meses, a guerra na Ucrânia impôs obstáculos adicionais às negociações em Viena, complicando a coordenação entre diplomatas russos e ocidentais no que diz respeito ao Irã. À primeira vista, se trataria, portanto, de um verdadeiro triunfo da diplomacia e um sinal de esperança para o Oriente Médio.

Imagem divulgada pelo governo do Irã mostra técnicos trabalhando em circuito secundário de reator, em Arak, a 250 quilômetros a sudoeste da capital Teerã 

O pronunciamento de um novo acordo também seria uma boa notícia para o cenário econômico mundial, pois permitiria ao governo iraniano vender mais de um milhão de barris de petróleo por dia ao mercado global, passo que poderia reduzir o custo do combustível para consumidores mundo afora – Goldman Sachs prevê uma queda de 5-10 dólares por barril em 2023 se o pacto for anunciado.

Mesmo assim, por uma série de motivos, há um risco de que a conclusão do acordo tenha um impacto mais modesto. Em primeiro lugar, porque, por mais que o deseje, o atual presidente americano não tem como garantir que seu sucessor não renegará o acordo outra vez. Líderes do Partido Republicano já deixaram claro que, se voltarem a ocupar a Casa Branca, repetirão o ato de Trump. Esse risco faz com que investidores internacionais tenham receio de entrar no mercado iraniano: afinal, ninguém quer fazer grandes investimentos agora se há uma chance real de que os EUA voltem a ampliar as sanções daqui a alguns anos. Da mesma forma, o Irã certamente buscará guardar o conhecimento necessário para voltar a enriquecer mais urânio caso os EUA abandonem o acordo novamente. A profunda divergência entre Democratas e Republicanos em relação ao tema, portanto, torna os EUA um ator menos confiável e previsível.

Em segundo, o acordo apenas parcialmente reduziria a profunda tensão na relação entre Washington e Teerã. Os dois continuarão uma espécie de guerra por procuração no Oriente Médio: na semana passada, enquanto surgiram boatos de uma conclusão iminente das negociações, houve, na Síria, ataques entre os EUA e seus aliados de um lado e militantes apoiados por Irã e a Guarda Revolucionária Iraniana, considerada uma organização terrorista pelos EUA, do outro. O acordo nuclear em nada afetaria o principal objetivo da política regional iraniana de remover as tropas americanas do Oriente, visto como principal obstáculo às ambições geopolíticas de Teerã. Da mesma forma, o governo isralense é opositor ferrenho do acordo e argumenta que ele não impede que o Irã avance seu programa nuclear. O chefe do Mossad, serviço secreto israelense, disse na semana passada que a conclusão do trato seria um “desastre estratégico” para Israel. Segundo ele, Tel Aviv estaria disposta a continuar atacando laboratórios iranianos, se julgar necessário, para prevenir Teerã de obter a bomba atômica. Nesse quesito, o governo israelense está, paradoxalmente, alinhado com a Guarda Revolucionária Iraniana, que também rejeita as negociações por não confiar em Washington e preferir uma postura mais radical.

Isso não quer dizer que a volta do acordo seja uma notícia irrelevante. Pelo contrário: a conclusão das árduas negociações ao longo dos últimos meses em Viena representa, em meio aos numerosos e sangrentos conflitos no Oriente Médio, uma esperança para o regime de não-proliferação nuclear. Da mesma forma, mostra que a ONU, organização da qual a Agência Internacional de Energia Atômica faz parte, continua sendo crucial para preservar a cooperação internacional em um ambiente global cada vez mais instável.

Mesmo assim, também é preciso ser realista: enquanto um novo acordo nuclear pode reduzir o risco de o Irã desenvolver a bomba atômica – passo que poderia desestabilizar a região ainda mais –, ele não ajuda a superar as divergências praticamente irreconciliáveis entre vários governos da região. O Oriente Médio continuará sendo marcado pela instabilidade geopolítica permanente.

Opinião por Oliver Stuenkel

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