Analista político e professor de Relações Internacionais da FGV-SP. Escreve quinzenalmente

Opinião|Expansão do Brics é triunfo diplomático para Pequim e desafio para o Brasil; leia a análise


Inclinação mais avessa ao Ocidente após a expansão do Brics requer recalibragem estratégica da política externa brasileira

Por Oliver Stuenkel
Atualização:

A expansão do grupo Brics, anunciada durante a 15ª cúpula dos líderes em Johannesburgo, dá início a um novo capítulo do bloco, que agora passará a incluir o Egito, a Etiópia, o Irã, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos.

A Argentina também foi convidada, mas sua adesão ainda está incerta: Javier Milei, primeiro colocado nas recentes primárias argentinas, promete diminuir os laços diplomáticos com a China, enquanto Patricia Bullrich, cuja coalizão obteve o segundo maior número de votos, deixou claro que se opõe à adesão do país ao Brics.

Porém, é possível que qualquer um dos dois, uma vez eleito, adote uma postura mais pragmática para não antagonizar a China, o segundo maior parceiro comercial da Argentina.

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Da esquerda para a direita, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente da China, Xi Jinping, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, posam para uma foto do grupo BRICS durante a Cúpula do BRICS de 2023 no Centro de Convenções Sandton em Joanesburgo, África do Sul, na quarta-feira, 23 de agosto de 2023.  Foto: Gianluigi Guercia / AP

O convite feito aos seis países representa uma vitória para a China, que há anos vem tentando ampliar o grupo, mas encontrava resistência por parte de Nova Deli e Brasília, que temiam uma perda de influência no bloco. Porém, diante do papel dominante de Pequim no grupo – a economia chinesa é maior do que as de todos os outros membros somadas – era uma questão de tempo até que Xi Jinping alcançasse seus objetivos.

De certa forma, é natural que a China, país com ambições globais, queira construir instituições que possam formalizar seu status de superpotência, da mesma forma que as organizações criadas depois da Segunda Guerra Mundial até hoje refletem a distribuição de poder daquela época. A adesão do Irã, da Arábia Saudita, dos Emirados Árabes Unidos e do Egito mostram claramente que a China busca fortalecer sua influência no Oriente Médio, região que considera vital para seus interesses estratégicos.

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A inclusão de países como a Indonésia, por exemplo, que possui laços amigáveis tanto com os EUA quanto com a China, não teria produzido um impacto significativo para o Brics. Convidar o Irã, porém, traz consequências geopolíticas relevantes, inclusive para o cenário geopolítico sul-americano e a política externa brasileira e argentina.

Isto porque a inclusão do regime de Teerã, que tem uma postura explicitamente antiocidental que fornece drones para Moscou para apoiar sua invasão à Ucrânia, mudará a forma como analistas ao redor do mundo, mas sobretudo no Ocidente, enxergam o grupo Brics.

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Até hoje visto, acima de tudo, como um ‘clube dos emergentes’, a inclusão do Irã faz com que o Brics seja visto como uma aliança antiocidental liderada por Pequim e Moscou. Isso deve ficar particularmente evidente no ano que vem, quando o presidente russo presidirá o Brics e organizará a cúpula dos líderes na cidade de Kazan para mostrar que as tentativas ocidentais de isolá-lo fracassaram.

A emergência de um Brics mais antiocidental terá implicações significativas para países como o Brasil, a Argentina (e também a Índia e a África do Sul), à medida que tentam posicionar-se como atores neutros ou “não-alinhados” no meio das crescentes tensões entre o Ocidente, por um lado, e o bloco sino-russo do outro.

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A Índia, vista como um dos principais aliados do Ocidente na Ásia, atualmente busca estabelecer maiores laços militares com a Europa e os Estados Unidos para alcançar essa equidistância entre Pequim e o Ocidente.

Da mesma forma, o Brasil e a Argentina devem adaptar-se a um novo contexto geopolítico que torna cada vez mais difícil articular uma posição que seja, em termos gerais, equidistante das duas superpotências. Tal recalibração pode envolver, por exemplo, a adesão argentina e brasileira à OCDE, a fim de compensar a inclinação cada vez mais antiocidental do grupo Brics.

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Numerosos analistas enxergam a expansão dos Brics como algo de pouca relevância, ignorando que ser país membro envolve um número grande de reuniões anuais intra-Brics, não apenas de presidentes, mas de numerosos ministros, burocracias governamentais, agências reguladoras e organizações da sociedade civil.

O impacto imediato de tais encontros pode não ser fácil de quantificar, mas é inegável que o BRICS tornou-se um elemento-chave da identidade da política externa do Brasil. Há poucas dúvidas de que a adesão da Argentina ao Brics, portanto, alteraria as realidades geopolíticas na América do Sul, obrigando os governos dos dois países a ajustarem sua política externa.

A expansão do grupo Brics, anunciada durante a 15ª cúpula dos líderes em Johannesburgo, dá início a um novo capítulo do bloco, que agora passará a incluir o Egito, a Etiópia, o Irã, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos.

A Argentina também foi convidada, mas sua adesão ainda está incerta: Javier Milei, primeiro colocado nas recentes primárias argentinas, promete diminuir os laços diplomáticos com a China, enquanto Patricia Bullrich, cuja coalizão obteve o segundo maior número de votos, deixou claro que se opõe à adesão do país ao Brics.

Porém, é possível que qualquer um dos dois, uma vez eleito, adote uma postura mais pragmática para não antagonizar a China, o segundo maior parceiro comercial da Argentina.

Da esquerda para a direita, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente da China, Xi Jinping, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, posam para uma foto do grupo BRICS durante a Cúpula do BRICS de 2023 no Centro de Convenções Sandton em Joanesburgo, África do Sul, na quarta-feira, 23 de agosto de 2023.  Foto: Gianluigi Guercia / AP

O convite feito aos seis países representa uma vitória para a China, que há anos vem tentando ampliar o grupo, mas encontrava resistência por parte de Nova Deli e Brasília, que temiam uma perda de influência no bloco. Porém, diante do papel dominante de Pequim no grupo – a economia chinesa é maior do que as de todos os outros membros somadas – era uma questão de tempo até que Xi Jinping alcançasse seus objetivos.

De certa forma, é natural que a China, país com ambições globais, queira construir instituições que possam formalizar seu status de superpotência, da mesma forma que as organizações criadas depois da Segunda Guerra Mundial até hoje refletem a distribuição de poder daquela época. A adesão do Irã, da Arábia Saudita, dos Emirados Árabes Unidos e do Egito mostram claramente que a China busca fortalecer sua influência no Oriente Médio, região que considera vital para seus interesses estratégicos.

A inclusão de países como a Indonésia, por exemplo, que possui laços amigáveis tanto com os EUA quanto com a China, não teria produzido um impacto significativo para o Brics. Convidar o Irã, porém, traz consequências geopolíticas relevantes, inclusive para o cenário geopolítico sul-americano e a política externa brasileira e argentina.

Isto porque a inclusão do regime de Teerã, que tem uma postura explicitamente antiocidental que fornece drones para Moscou para apoiar sua invasão à Ucrânia, mudará a forma como analistas ao redor do mundo, mas sobretudo no Ocidente, enxergam o grupo Brics.

Até hoje visto, acima de tudo, como um ‘clube dos emergentes’, a inclusão do Irã faz com que o Brics seja visto como uma aliança antiocidental liderada por Pequim e Moscou. Isso deve ficar particularmente evidente no ano que vem, quando o presidente russo presidirá o Brics e organizará a cúpula dos líderes na cidade de Kazan para mostrar que as tentativas ocidentais de isolá-lo fracassaram.

A emergência de um Brics mais antiocidental terá implicações significativas para países como o Brasil, a Argentina (e também a Índia e a África do Sul), à medida que tentam posicionar-se como atores neutros ou “não-alinhados” no meio das crescentes tensões entre o Ocidente, por um lado, e o bloco sino-russo do outro.

A Índia, vista como um dos principais aliados do Ocidente na Ásia, atualmente busca estabelecer maiores laços militares com a Europa e os Estados Unidos para alcançar essa equidistância entre Pequim e o Ocidente.

Da mesma forma, o Brasil e a Argentina devem adaptar-se a um novo contexto geopolítico que torna cada vez mais difícil articular uma posição que seja, em termos gerais, equidistante das duas superpotências. Tal recalibração pode envolver, por exemplo, a adesão argentina e brasileira à OCDE, a fim de compensar a inclinação cada vez mais antiocidental do grupo Brics.

Numerosos analistas enxergam a expansão dos Brics como algo de pouca relevância, ignorando que ser país membro envolve um número grande de reuniões anuais intra-Brics, não apenas de presidentes, mas de numerosos ministros, burocracias governamentais, agências reguladoras e organizações da sociedade civil.

O impacto imediato de tais encontros pode não ser fácil de quantificar, mas é inegável que o BRICS tornou-se um elemento-chave da identidade da política externa do Brasil. Há poucas dúvidas de que a adesão da Argentina ao Brics, portanto, alteraria as realidades geopolíticas na América do Sul, obrigando os governos dos dois países a ajustarem sua política externa.

A expansão do grupo Brics, anunciada durante a 15ª cúpula dos líderes em Johannesburgo, dá início a um novo capítulo do bloco, que agora passará a incluir o Egito, a Etiópia, o Irã, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos.

A Argentina também foi convidada, mas sua adesão ainda está incerta: Javier Milei, primeiro colocado nas recentes primárias argentinas, promete diminuir os laços diplomáticos com a China, enquanto Patricia Bullrich, cuja coalizão obteve o segundo maior número de votos, deixou claro que se opõe à adesão do país ao Brics.

Porém, é possível que qualquer um dos dois, uma vez eleito, adote uma postura mais pragmática para não antagonizar a China, o segundo maior parceiro comercial da Argentina.

Da esquerda para a direita, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente da China, Xi Jinping, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, posam para uma foto do grupo BRICS durante a Cúpula do BRICS de 2023 no Centro de Convenções Sandton em Joanesburgo, África do Sul, na quarta-feira, 23 de agosto de 2023.  Foto: Gianluigi Guercia / AP

O convite feito aos seis países representa uma vitória para a China, que há anos vem tentando ampliar o grupo, mas encontrava resistência por parte de Nova Deli e Brasília, que temiam uma perda de influência no bloco. Porém, diante do papel dominante de Pequim no grupo – a economia chinesa é maior do que as de todos os outros membros somadas – era uma questão de tempo até que Xi Jinping alcançasse seus objetivos.

De certa forma, é natural que a China, país com ambições globais, queira construir instituições que possam formalizar seu status de superpotência, da mesma forma que as organizações criadas depois da Segunda Guerra Mundial até hoje refletem a distribuição de poder daquela época. A adesão do Irã, da Arábia Saudita, dos Emirados Árabes Unidos e do Egito mostram claramente que a China busca fortalecer sua influência no Oriente Médio, região que considera vital para seus interesses estratégicos.

A inclusão de países como a Indonésia, por exemplo, que possui laços amigáveis tanto com os EUA quanto com a China, não teria produzido um impacto significativo para o Brics. Convidar o Irã, porém, traz consequências geopolíticas relevantes, inclusive para o cenário geopolítico sul-americano e a política externa brasileira e argentina.

Isto porque a inclusão do regime de Teerã, que tem uma postura explicitamente antiocidental que fornece drones para Moscou para apoiar sua invasão à Ucrânia, mudará a forma como analistas ao redor do mundo, mas sobretudo no Ocidente, enxergam o grupo Brics.

Até hoje visto, acima de tudo, como um ‘clube dos emergentes’, a inclusão do Irã faz com que o Brics seja visto como uma aliança antiocidental liderada por Pequim e Moscou. Isso deve ficar particularmente evidente no ano que vem, quando o presidente russo presidirá o Brics e organizará a cúpula dos líderes na cidade de Kazan para mostrar que as tentativas ocidentais de isolá-lo fracassaram.

A emergência de um Brics mais antiocidental terá implicações significativas para países como o Brasil, a Argentina (e também a Índia e a África do Sul), à medida que tentam posicionar-se como atores neutros ou “não-alinhados” no meio das crescentes tensões entre o Ocidente, por um lado, e o bloco sino-russo do outro.

A Índia, vista como um dos principais aliados do Ocidente na Ásia, atualmente busca estabelecer maiores laços militares com a Europa e os Estados Unidos para alcançar essa equidistância entre Pequim e o Ocidente.

Da mesma forma, o Brasil e a Argentina devem adaptar-se a um novo contexto geopolítico que torna cada vez mais difícil articular uma posição que seja, em termos gerais, equidistante das duas superpotências. Tal recalibração pode envolver, por exemplo, a adesão argentina e brasileira à OCDE, a fim de compensar a inclinação cada vez mais antiocidental do grupo Brics.

Numerosos analistas enxergam a expansão dos Brics como algo de pouca relevância, ignorando que ser país membro envolve um número grande de reuniões anuais intra-Brics, não apenas de presidentes, mas de numerosos ministros, burocracias governamentais, agências reguladoras e organizações da sociedade civil.

O impacto imediato de tais encontros pode não ser fácil de quantificar, mas é inegável que o BRICS tornou-se um elemento-chave da identidade da política externa do Brasil. Há poucas dúvidas de que a adesão da Argentina ao Brics, portanto, alteraria as realidades geopolíticas na América do Sul, obrigando os governos dos dois países a ajustarem sua política externa.

Opinião por Oliver Stuenkel

Analista político e Professor de Relações Internacionais da FGV-SP

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