Analista político e professor de Relações Internacionais da FGV-SP. Escreve quinzenalmente

Opinião|Como o Catar se tornou uma potência diplomática; leia a coluna de Oliver Stuenkel


Apesar de ser um dos menores países do mundo, o emirado conquistou enorme influência econômica e diplomática

Por Oliver Stuenkel
Atualização:

O Catar, país-sede da Copa do Mundo de Futebol 2022, vive o melhor momento de sua história. Os líderes do emirado do tamanho de Sergipe, situado entre os pesos pesados da região – a Arábia Saudita a oeste e o Irã a nordeste –, estão colhendo os frutos de uma política externa sofisticada, hoje verdadeiro estudo de caso sobre como se tornar um país influente em cenário adverso. Desde a saída dos britânicos, seguida da tentativa fracassada de fazer parte dos Emirados Árabes Unidos e de sua independência em 1971, o Catar tem adotado uma estratégia internacional baseada em quatro elementos-chave.

Em primeiro lugar, o país — com menos de 3 milhões de habitantes, dos quais quase 90% são migrantes sem perspectiva de se tornar cidadãos — desenvolveu uma política externa com vistas a uma autonomia estratégica. Fraco em comparação com os vizinhos e sem poder confiar nos outros países da região, o Catar evitou alianças que limitassem sua margem de manobra. Para se ter uma ideia, os EUA têm, desde 2003, base militar de grande relevância no país. Por outro lado, o governo de Doha mantém, ao mesmo tempo, relações próximas com inimigos de Washington, como o governo do Irã, o Hamas e até o Taleban, que atualmente governa o Afeganistão.

Em segundo lugar, o emirado se projeta como um espaço neutro e seguro onde países ou movimentos engajados em conflitos podem sentar-se e negociar, seja de forma aberta, seja em segredo. Foi nos hotéis de luxo de Doha que representantes dos EUA negociaram com o Taleban o futuro do Afeganistão. Da mesma forma, é comum avistar homens fardados nos lobbies dos resorts da capital catariana, onde se dão negociações entre representantes de governos africanos e grupos rebeldes.

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Emir do Catar Sheikh Tamim bin Hamad Al Thani e presidente da FIFA Gianni Infantino dentro do estádio antes da primeira partida do mundial Foto: Dylan Martinez/Reuters

Em terceiro, o Catar busca posicionar-se como fornecedor global indispensável e confiável de gás natural liquefeito, em contraste à imprevisibilidade de Moscou. Desde a invasão da Rússia à Ucrânia, o emirado soube aproveitar a pressa de países europeus que buscavam fontes alternativas ao gás russo. Não surpreende, portanto, que líderes globais, prontos a diversificar seus fornecedores de energia, tenham buscado se reunir com o emir Al-Thani ao longo dos últimos meses para garantir acesso ao gás catariano. Quanto maior a volatilidade geopolítica no mundo, mais o Catar tende a tornar-se um aliado seguro dos países importadores de energia.

O quarto e último pilar da estratégia internacional do Catar é o mais visível no momento: seu pesado investimento em “soft power”. O país investe em times de futebol europeus, como Paris St. Germain e Bayern de Munique; mantém alguns dos museus mais modernos do mundo; apoia centros de pesquisa nos EUA; sustenta abrigos para refugiados sírios na Turquia; e hospeda sucursais de universidades americanas de ponta – como Georgetown – para as quais levou intelectuais de destaque. Vale lembrar que, em 1996, fundou a Al Jazeera, principal canal de notícias do mundo árabe. Desde 2003, a emissora tem uma versão em inglês – fundamental para apresentar um olhar não-ocidental sobre eventos globais.

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O coroamento dessa estratégia é evidentemente a organização da Copa do Mundo, na qual o governo investiu mais de um trilhão de reais. Naturalmente, a realização da Copa representa um escrutínio global sem precedentes sobre a sociedade catariana, ainda uma das mais fechadas do mundo. Expõe o país a críticas quanto à proteção dos direitos humanos, como a situação da população feminina, migrante e LGBT+, assim como a questão da falta de participação política. No entanto, é inegável o legado em termos de prestígio e visibilidade global para um país tão pequeno, bem como o incentivo ao turismo, o que reforça os demais pilares de uma estratégia que tem se mostrado bem sucedida.

Além da visibilidade global, os grandes investimentos em infraestrutura realizados em preparação à Copa – não apenas em estádios, mas também em aeroportos, estradas e hotéis – podem ser vistos como mais um passo na estratégia do país de enfrentar seu próximo grande desafio: reduzir sua dependência da exportação de energia fóssil e transformar-se em uma economia diversificada.

O Catar, país-sede da Copa do Mundo de Futebol 2022, vive o melhor momento de sua história. Os líderes do emirado do tamanho de Sergipe, situado entre os pesos pesados da região – a Arábia Saudita a oeste e o Irã a nordeste –, estão colhendo os frutos de uma política externa sofisticada, hoje verdadeiro estudo de caso sobre como se tornar um país influente em cenário adverso. Desde a saída dos britânicos, seguida da tentativa fracassada de fazer parte dos Emirados Árabes Unidos e de sua independência em 1971, o Catar tem adotado uma estratégia internacional baseada em quatro elementos-chave.

Em primeiro lugar, o país — com menos de 3 milhões de habitantes, dos quais quase 90% são migrantes sem perspectiva de se tornar cidadãos — desenvolveu uma política externa com vistas a uma autonomia estratégica. Fraco em comparação com os vizinhos e sem poder confiar nos outros países da região, o Catar evitou alianças que limitassem sua margem de manobra. Para se ter uma ideia, os EUA têm, desde 2003, base militar de grande relevância no país. Por outro lado, o governo de Doha mantém, ao mesmo tempo, relações próximas com inimigos de Washington, como o governo do Irã, o Hamas e até o Taleban, que atualmente governa o Afeganistão.

Em segundo lugar, o emirado se projeta como um espaço neutro e seguro onde países ou movimentos engajados em conflitos podem sentar-se e negociar, seja de forma aberta, seja em segredo. Foi nos hotéis de luxo de Doha que representantes dos EUA negociaram com o Taleban o futuro do Afeganistão. Da mesma forma, é comum avistar homens fardados nos lobbies dos resorts da capital catariana, onde se dão negociações entre representantes de governos africanos e grupos rebeldes.

Emir do Catar Sheikh Tamim bin Hamad Al Thani e presidente da FIFA Gianni Infantino dentro do estádio antes da primeira partida do mundial Foto: Dylan Martinez/Reuters

Em terceiro, o Catar busca posicionar-se como fornecedor global indispensável e confiável de gás natural liquefeito, em contraste à imprevisibilidade de Moscou. Desde a invasão da Rússia à Ucrânia, o emirado soube aproveitar a pressa de países europeus que buscavam fontes alternativas ao gás russo. Não surpreende, portanto, que líderes globais, prontos a diversificar seus fornecedores de energia, tenham buscado se reunir com o emir Al-Thani ao longo dos últimos meses para garantir acesso ao gás catariano. Quanto maior a volatilidade geopolítica no mundo, mais o Catar tende a tornar-se um aliado seguro dos países importadores de energia.

O quarto e último pilar da estratégia internacional do Catar é o mais visível no momento: seu pesado investimento em “soft power”. O país investe em times de futebol europeus, como Paris St. Germain e Bayern de Munique; mantém alguns dos museus mais modernos do mundo; apoia centros de pesquisa nos EUA; sustenta abrigos para refugiados sírios na Turquia; e hospeda sucursais de universidades americanas de ponta – como Georgetown – para as quais levou intelectuais de destaque. Vale lembrar que, em 1996, fundou a Al Jazeera, principal canal de notícias do mundo árabe. Desde 2003, a emissora tem uma versão em inglês – fundamental para apresentar um olhar não-ocidental sobre eventos globais.

O coroamento dessa estratégia é evidentemente a organização da Copa do Mundo, na qual o governo investiu mais de um trilhão de reais. Naturalmente, a realização da Copa representa um escrutínio global sem precedentes sobre a sociedade catariana, ainda uma das mais fechadas do mundo. Expõe o país a críticas quanto à proteção dos direitos humanos, como a situação da população feminina, migrante e LGBT+, assim como a questão da falta de participação política. No entanto, é inegável o legado em termos de prestígio e visibilidade global para um país tão pequeno, bem como o incentivo ao turismo, o que reforça os demais pilares de uma estratégia que tem se mostrado bem sucedida.

Além da visibilidade global, os grandes investimentos em infraestrutura realizados em preparação à Copa – não apenas em estádios, mas também em aeroportos, estradas e hotéis – podem ser vistos como mais um passo na estratégia do país de enfrentar seu próximo grande desafio: reduzir sua dependência da exportação de energia fóssil e transformar-se em uma economia diversificada.

O Catar, país-sede da Copa do Mundo de Futebol 2022, vive o melhor momento de sua história. Os líderes do emirado do tamanho de Sergipe, situado entre os pesos pesados da região – a Arábia Saudita a oeste e o Irã a nordeste –, estão colhendo os frutos de uma política externa sofisticada, hoje verdadeiro estudo de caso sobre como se tornar um país influente em cenário adverso. Desde a saída dos britânicos, seguida da tentativa fracassada de fazer parte dos Emirados Árabes Unidos e de sua independência em 1971, o Catar tem adotado uma estratégia internacional baseada em quatro elementos-chave.

Em primeiro lugar, o país — com menos de 3 milhões de habitantes, dos quais quase 90% são migrantes sem perspectiva de se tornar cidadãos — desenvolveu uma política externa com vistas a uma autonomia estratégica. Fraco em comparação com os vizinhos e sem poder confiar nos outros países da região, o Catar evitou alianças que limitassem sua margem de manobra. Para se ter uma ideia, os EUA têm, desde 2003, base militar de grande relevância no país. Por outro lado, o governo de Doha mantém, ao mesmo tempo, relações próximas com inimigos de Washington, como o governo do Irã, o Hamas e até o Taleban, que atualmente governa o Afeganistão.

Em segundo lugar, o emirado se projeta como um espaço neutro e seguro onde países ou movimentos engajados em conflitos podem sentar-se e negociar, seja de forma aberta, seja em segredo. Foi nos hotéis de luxo de Doha que representantes dos EUA negociaram com o Taleban o futuro do Afeganistão. Da mesma forma, é comum avistar homens fardados nos lobbies dos resorts da capital catariana, onde se dão negociações entre representantes de governos africanos e grupos rebeldes.

Emir do Catar Sheikh Tamim bin Hamad Al Thani e presidente da FIFA Gianni Infantino dentro do estádio antes da primeira partida do mundial Foto: Dylan Martinez/Reuters

Em terceiro, o Catar busca posicionar-se como fornecedor global indispensável e confiável de gás natural liquefeito, em contraste à imprevisibilidade de Moscou. Desde a invasão da Rússia à Ucrânia, o emirado soube aproveitar a pressa de países europeus que buscavam fontes alternativas ao gás russo. Não surpreende, portanto, que líderes globais, prontos a diversificar seus fornecedores de energia, tenham buscado se reunir com o emir Al-Thani ao longo dos últimos meses para garantir acesso ao gás catariano. Quanto maior a volatilidade geopolítica no mundo, mais o Catar tende a tornar-se um aliado seguro dos países importadores de energia.

O quarto e último pilar da estratégia internacional do Catar é o mais visível no momento: seu pesado investimento em “soft power”. O país investe em times de futebol europeus, como Paris St. Germain e Bayern de Munique; mantém alguns dos museus mais modernos do mundo; apoia centros de pesquisa nos EUA; sustenta abrigos para refugiados sírios na Turquia; e hospeda sucursais de universidades americanas de ponta – como Georgetown – para as quais levou intelectuais de destaque. Vale lembrar que, em 1996, fundou a Al Jazeera, principal canal de notícias do mundo árabe. Desde 2003, a emissora tem uma versão em inglês – fundamental para apresentar um olhar não-ocidental sobre eventos globais.

O coroamento dessa estratégia é evidentemente a organização da Copa do Mundo, na qual o governo investiu mais de um trilhão de reais. Naturalmente, a realização da Copa representa um escrutínio global sem precedentes sobre a sociedade catariana, ainda uma das mais fechadas do mundo. Expõe o país a críticas quanto à proteção dos direitos humanos, como a situação da população feminina, migrante e LGBT+, assim como a questão da falta de participação política. No entanto, é inegável o legado em termos de prestígio e visibilidade global para um país tão pequeno, bem como o incentivo ao turismo, o que reforça os demais pilares de uma estratégia que tem se mostrado bem sucedida.

Além da visibilidade global, os grandes investimentos em infraestrutura realizados em preparação à Copa – não apenas em estádios, mas também em aeroportos, estradas e hotéis – podem ser vistos como mais um passo na estratégia do país de enfrentar seu próximo grande desafio: reduzir sua dependência da exportação de energia fóssil e transformar-se em uma economia diversificada.

O Catar, país-sede da Copa do Mundo de Futebol 2022, vive o melhor momento de sua história. Os líderes do emirado do tamanho de Sergipe, situado entre os pesos pesados da região – a Arábia Saudita a oeste e o Irã a nordeste –, estão colhendo os frutos de uma política externa sofisticada, hoje verdadeiro estudo de caso sobre como se tornar um país influente em cenário adverso. Desde a saída dos britânicos, seguida da tentativa fracassada de fazer parte dos Emirados Árabes Unidos e de sua independência em 1971, o Catar tem adotado uma estratégia internacional baseada em quatro elementos-chave.

Em primeiro lugar, o país — com menos de 3 milhões de habitantes, dos quais quase 90% são migrantes sem perspectiva de se tornar cidadãos — desenvolveu uma política externa com vistas a uma autonomia estratégica. Fraco em comparação com os vizinhos e sem poder confiar nos outros países da região, o Catar evitou alianças que limitassem sua margem de manobra. Para se ter uma ideia, os EUA têm, desde 2003, base militar de grande relevância no país. Por outro lado, o governo de Doha mantém, ao mesmo tempo, relações próximas com inimigos de Washington, como o governo do Irã, o Hamas e até o Taleban, que atualmente governa o Afeganistão.

Em segundo lugar, o emirado se projeta como um espaço neutro e seguro onde países ou movimentos engajados em conflitos podem sentar-se e negociar, seja de forma aberta, seja em segredo. Foi nos hotéis de luxo de Doha que representantes dos EUA negociaram com o Taleban o futuro do Afeganistão. Da mesma forma, é comum avistar homens fardados nos lobbies dos resorts da capital catariana, onde se dão negociações entre representantes de governos africanos e grupos rebeldes.

Emir do Catar Sheikh Tamim bin Hamad Al Thani e presidente da FIFA Gianni Infantino dentro do estádio antes da primeira partida do mundial Foto: Dylan Martinez/Reuters

Em terceiro, o Catar busca posicionar-se como fornecedor global indispensável e confiável de gás natural liquefeito, em contraste à imprevisibilidade de Moscou. Desde a invasão da Rússia à Ucrânia, o emirado soube aproveitar a pressa de países europeus que buscavam fontes alternativas ao gás russo. Não surpreende, portanto, que líderes globais, prontos a diversificar seus fornecedores de energia, tenham buscado se reunir com o emir Al-Thani ao longo dos últimos meses para garantir acesso ao gás catariano. Quanto maior a volatilidade geopolítica no mundo, mais o Catar tende a tornar-se um aliado seguro dos países importadores de energia.

O quarto e último pilar da estratégia internacional do Catar é o mais visível no momento: seu pesado investimento em “soft power”. O país investe em times de futebol europeus, como Paris St. Germain e Bayern de Munique; mantém alguns dos museus mais modernos do mundo; apoia centros de pesquisa nos EUA; sustenta abrigos para refugiados sírios na Turquia; e hospeda sucursais de universidades americanas de ponta – como Georgetown – para as quais levou intelectuais de destaque. Vale lembrar que, em 1996, fundou a Al Jazeera, principal canal de notícias do mundo árabe. Desde 2003, a emissora tem uma versão em inglês – fundamental para apresentar um olhar não-ocidental sobre eventos globais.

O coroamento dessa estratégia é evidentemente a organização da Copa do Mundo, na qual o governo investiu mais de um trilhão de reais. Naturalmente, a realização da Copa representa um escrutínio global sem precedentes sobre a sociedade catariana, ainda uma das mais fechadas do mundo. Expõe o país a críticas quanto à proteção dos direitos humanos, como a situação da população feminina, migrante e LGBT+, assim como a questão da falta de participação política. No entanto, é inegável o legado em termos de prestígio e visibilidade global para um país tão pequeno, bem como o incentivo ao turismo, o que reforça os demais pilares de uma estratégia que tem se mostrado bem sucedida.

Além da visibilidade global, os grandes investimentos em infraestrutura realizados em preparação à Copa – não apenas em estádios, mas também em aeroportos, estradas e hotéis – podem ser vistos como mais um passo na estratégia do país de enfrentar seu próximo grande desafio: reduzir sua dependência da exportação de energia fóssil e transformar-se em uma economia diversificada.

O Catar, país-sede da Copa do Mundo de Futebol 2022, vive o melhor momento de sua história. Os líderes do emirado do tamanho de Sergipe, situado entre os pesos pesados da região – a Arábia Saudita a oeste e o Irã a nordeste –, estão colhendo os frutos de uma política externa sofisticada, hoje verdadeiro estudo de caso sobre como se tornar um país influente em cenário adverso. Desde a saída dos britânicos, seguida da tentativa fracassada de fazer parte dos Emirados Árabes Unidos e de sua independência em 1971, o Catar tem adotado uma estratégia internacional baseada em quatro elementos-chave.

Em primeiro lugar, o país — com menos de 3 milhões de habitantes, dos quais quase 90% são migrantes sem perspectiva de se tornar cidadãos — desenvolveu uma política externa com vistas a uma autonomia estratégica. Fraco em comparação com os vizinhos e sem poder confiar nos outros países da região, o Catar evitou alianças que limitassem sua margem de manobra. Para se ter uma ideia, os EUA têm, desde 2003, base militar de grande relevância no país. Por outro lado, o governo de Doha mantém, ao mesmo tempo, relações próximas com inimigos de Washington, como o governo do Irã, o Hamas e até o Taleban, que atualmente governa o Afeganistão.

Em segundo lugar, o emirado se projeta como um espaço neutro e seguro onde países ou movimentos engajados em conflitos podem sentar-se e negociar, seja de forma aberta, seja em segredo. Foi nos hotéis de luxo de Doha que representantes dos EUA negociaram com o Taleban o futuro do Afeganistão. Da mesma forma, é comum avistar homens fardados nos lobbies dos resorts da capital catariana, onde se dão negociações entre representantes de governos africanos e grupos rebeldes.

Emir do Catar Sheikh Tamim bin Hamad Al Thani e presidente da FIFA Gianni Infantino dentro do estádio antes da primeira partida do mundial Foto: Dylan Martinez/Reuters

Em terceiro, o Catar busca posicionar-se como fornecedor global indispensável e confiável de gás natural liquefeito, em contraste à imprevisibilidade de Moscou. Desde a invasão da Rússia à Ucrânia, o emirado soube aproveitar a pressa de países europeus que buscavam fontes alternativas ao gás russo. Não surpreende, portanto, que líderes globais, prontos a diversificar seus fornecedores de energia, tenham buscado se reunir com o emir Al-Thani ao longo dos últimos meses para garantir acesso ao gás catariano. Quanto maior a volatilidade geopolítica no mundo, mais o Catar tende a tornar-se um aliado seguro dos países importadores de energia.

O quarto e último pilar da estratégia internacional do Catar é o mais visível no momento: seu pesado investimento em “soft power”. O país investe em times de futebol europeus, como Paris St. Germain e Bayern de Munique; mantém alguns dos museus mais modernos do mundo; apoia centros de pesquisa nos EUA; sustenta abrigos para refugiados sírios na Turquia; e hospeda sucursais de universidades americanas de ponta – como Georgetown – para as quais levou intelectuais de destaque. Vale lembrar que, em 1996, fundou a Al Jazeera, principal canal de notícias do mundo árabe. Desde 2003, a emissora tem uma versão em inglês – fundamental para apresentar um olhar não-ocidental sobre eventos globais.

O coroamento dessa estratégia é evidentemente a organização da Copa do Mundo, na qual o governo investiu mais de um trilhão de reais. Naturalmente, a realização da Copa representa um escrutínio global sem precedentes sobre a sociedade catariana, ainda uma das mais fechadas do mundo. Expõe o país a críticas quanto à proteção dos direitos humanos, como a situação da população feminina, migrante e LGBT+, assim como a questão da falta de participação política. No entanto, é inegável o legado em termos de prestígio e visibilidade global para um país tão pequeno, bem como o incentivo ao turismo, o que reforça os demais pilares de uma estratégia que tem se mostrado bem sucedida.

Além da visibilidade global, os grandes investimentos em infraestrutura realizados em preparação à Copa – não apenas em estádios, mas também em aeroportos, estradas e hotéis – podem ser vistos como mais um passo na estratégia do país de enfrentar seu próximo grande desafio: reduzir sua dependência da exportação de energia fóssil e transformar-se em uma economia diversificada.

Opinião por Oliver Stuenkel

Analista político e Professor de Relações Internacionais da FGV-SP

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