Analista político e professor de Relações Internacionais da FGV-SP. Escreve quinzenalmente

Opinião|Condenação de Trump dificilmente muda cenário eleitoral, mas deve agravar polarização


A dúvida agora é: como eleitores indecisos em Estados-pêndulo reagirão à derrota do ex-presidente americano na Justiça?

Por Oliver Stuenkel

Era uma questão de tempo até que Donald Trump se tornasse o primeiro ex-presidente condenado em processo criminal na história dos EUA. Afinal, sua recente condenação por falsificar registros financeiros para ocultar pagamento secreto a ex-atriz pornô Stormy Daniels durante a campanha presidencial de 2016 apenas encerra uma das ações judiciais menos relevantes. Várias outras – entre elas, uma que envolve tentativa de pressionar oficiais eleitorais em Georgia para alterar o resultado das eleições presidenciais em 2020, além da que compreende seu papel na invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021– têm probabilidade significativa de levar a condenações adicionais do ex-presidente.

Vale lembrar que vários atores-chave no entorno direto de Trump – como seu ex-chefe de campanha, Paul Manafort, e seu ex-assessor de Segurança Nacional, Mike Flynn, além de outros ex-assessores, como Michael Cohen – já foram judicialmente condenados. Muitos ex-aliados, inclusive os que mais conhecem o candidato do Partido Republicano, como o ex-vice-presidente Mike Pence, recusam-se a apoiá-lo. Mais um ex-assessor de Segurança Nacional, John Bolton, chega a advertir abertamente contra votar em Trump. Até mesmo hoje em dia, vários criminosos integram o entorno do ex-presidente. Durante o julgamento, a comitiva de Trump incluía Boris Epshteyn, Bernard B. Kerik e Chuck Zito, todos eles ou indiciados ou ex-egressos da prisão. Em 2022, um júri considerou duas empresas da Trump Organization culpadas de várias acusações de fraude fiscal e falsificação de registros comerciais.

No entanto, quem torce contra Donald Trump não deve se iludir. Apesar de, nos EUA, uma fração desses escândalos poder encerrar a carreira de qualquer outro político, a recente condenação do ex-presidente pode não ter necessariamente impacto decisivo sobre suas chances eleitorais. Afinal, ele mantém hoje ligeira vantagem na maioria das pesquisas de opinião, cinco meses antes do pleito presidencial.

continua após a publicidade
O ex-presidente dos EUA e candidato presidencial republicano Donald Trump retornando ao tribunal durante seu julgamento em Nova York, em 30 de maio de 2024.  Foto: Justin Lane/AFP

Paradoxalmente, a trajetória escandalosa do Republicano — envolvendo acusações de assédio, estrupro e fraude, casos de infidelidade conjugal, múltiplas falências de suas empresas e o hábito de mentir (ou, para usar um termo cunhado por sua ex-conselheira Kellyanne Conway, criar “fatos alternativos”), além dos processos criminais em andamento – sugere que seus apoiadores dificilmente mudarão de ideia depois de uma condenação por falsificação de registros financeiros.

A polarização extrema faz com que uma parte crescente da esquerda e da direita nos EUA habitem em universos paralelos. Era de se esperar que os apoiadores mais ferrenhos de Trump acreditassem no discurso de que o julgamento foi uma fraude. O problema, entretanto, parece bem mais grave. Os dois lados não concordam nem sequer em relação a dados econômicos básicos. Segundo uma pesquisa recente, quase três em cinco norte-americanos acreditam que a economia dos EUA está em recessão, o que não é verdade. Quase metade dos entrevistados acredita erroneamente que a taxa de desemprego no país está no nível mais alto dos últimos 50 anos quando, na realidade, está muito baixo: apenas 3.9%. Cerca de 49% dos americanos acreditam que o índice de mercado de ações SP 500 — algo facilmente verificável na internet em questão de segundos — caiu neste ano, embora esse índice tenha subido 24% em 2023 e mais de 12% em 2024. É possível que a inflação elevada possa explicar parte dessa percepção distorcida. Tudo indica, porém, que ela resulta, principalmente, do tribalismo político.

continua após a publicidade

Enquanto o eleitor de uma democracia não tão polarizada considera o revezamento de poder algo positivo para que o próprio partido perdedor tenha a oportunidade de se renovar, o eleitor de um ambiente extremamente polarizado entrega um apoio político inabalável e irrefletido. Além disso, enxerga tudo – mídia, poder judiciário, dados econômicos e burocracia do Estado – através do filtro “nós contra eles”. Isso explica por que Trump não deverá ter dificuldade para fazer boa parte de seus apoiadores acreditarem que seu julgamento foi fraudulento. Chega a ser provável que sua derrota na Justiça contribua para o agravamento da polarização.

Ao mesmo tempo, seria um erro descartar a possibilidade de a condenação ter algum impacto sobre os eleitores independentes e indecisos, que nem odeiam nem amam Trump – sobretudo nos Estados-pêndulo, que definirão as eleições em novembro, como Arizona, Carolina do Norte, Nevada, Geórgia, Michigan, Pensilvânia e Wisconsin. É possível que parte deles chegue à conclusão de que a presença na Casa Branca de um condenado pela Justiça terá dificuldades para governar, até porque deverá dedicar parte de seu tempo à defesa contra outros processos judiciais, ainda por cima com poder para interferir nas investigações contra si mesmo. Além disso, elegê-lo abriria um precedente preocupante para futuros presidentes dos EUA. Certeza sobre o que decidirão, porém, ninguém pode ter.

Era uma questão de tempo até que Donald Trump se tornasse o primeiro ex-presidente condenado em processo criminal na história dos EUA. Afinal, sua recente condenação por falsificar registros financeiros para ocultar pagamento secreto a ex-atriz pornô Stormy Daniels durante a campanha presidencial de 2016 apenas encerra uma das ações judiciais menos relevantes. Várias outras – entre elas, uma que envolve tentativa de pressionar oficiais eleitorais em Georgia para alterar o resultado das eleições presidenciais em 2020, além da que compreende seu papel na invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021– têm probabilidade significativa de levar a condenações adicionais do ex-presidente.

Vale lembrar que vários atores-chave no entorno direto de Trump – como seu ex-chefe de campanha, Paul Manafort, e seu ex-assessor de Segurança Nacional, Mike Flynn, além de outros ex-assessores, como Michael Cohen – já foram judicialmente condenados. Muitos ex-aliados, inclusive os que mais conhecem o candidato do Partido Republicano, como o ex-vice-presidente Mike Pence, recusam-se a apoiá-lo. Mais um ex-assessor de Segurança Nacional, John Bolton, chega a advertir abertamente contra votar em Trump. Até mesmo hoje em dia, vários criminosos integram o entorno do ex-presidente. Durante o julgamento, a comitiva de Trump incluía Boris Epshteyn, Bernard B. Kerik e Chuck Zito, todos eles ou indiciados ou ex-egressos da prisão. Em 2022, um júri considerou duas empresas da Trump Organization culpadas de várias acusações de fraude fiscal e falsificação de registros comerciais.

No entanto, quem torce contra Donald Trump não deve se iludir. Apesar de, nos EUA, uma fração desses escândalos poder encerrar a carreira de qualquer outro político, a recente condenação do ex-presidente pode não ter necessariamente impacto decisivo sobre suas chances eleitorais. Afinal, ele mantém hoje ligeira vantagem na maioria das pesquisas de opinião, cinco meses antes do pleito presidencial.

O ex-presidente dos EUA e candidato presidencial republicano Donald Trump retornando ao tribunal durante seu julgamento em Nova York, em 30 de maio de 2024.  Foto: Justin Lane/AFP

Paradoxalmente, a trajetória escandalosa do Republicano — envolvendo acusações de assédio, estrupro e fraude, casos de infidelidade conjugal, múltiplas falências de suas empresas e o hábito de mentir (ou, para usar um termo cunhado por sua ex-conselheira Kellyanne Conway, criar “fatos alternativos”), além dos processos criminais em andamento – sugere que seus apoiadores dificilmente mudarão de ideia depois de uma condenação por falsificação de registros financeiros.

A polarização extrema faz com que uma parte crescente da esquerda e da direita nos EUA habitem em universos paralelos. Era de se esperar que os apoiadores mais ferrenhos de Trump acreditassem no discurso de que o julgamento foi uma fraude. O problema, entretanto, parece bem mais grave. Os dois lados não concordam nem sequer em relação a dados econômicos básicos. Segundo uma pesquisa recente, quase três em cinco norte-americanos acreditam que a economia dos EUA está em recessão, o que não é verdade. Quase metade dos entrevistados acredita erroneamente que a taxa de desemprego no país está no nível mais alto dos últimos 50 anos quando, na realidade, está muito baixo: apenas 3.9%. Cerca de 49% dos americanos acreditam que o índice de mercado de ações SP 500 — algo facilmente verificável na internet em questão de segundos — caiu neste ano, embora esse índice tenha subido 24% em 2023 e mais de 12% em 2024. É possível que a inflação elevada possa explicar parte dessa percepção distorcida. Tudo indica, porém, que ela resulta, principalmente, do tribalismo político.

Enquanto o eleitor de uma democracia não tão polarizada considera o revezamento de poder algo positivo para que o próprio partido perdedor tenha a oportunidade de se renovar, o eleitor de um ambiente extremamente polarizado entrega um apoio político inabalável e irrefletido. Além disso, enxerga tudo – mídia, poder judiciário, dados econômicos e burocracia do Estado – através do filtro “nós contra eles”. Isso explica por que Trump não deverá ter dificuldade para fazer boa parte de seus apoiadores acreditarem que seu julgamento foi fraudulento. Chega a ser provável que sua derrota na Justiça contribua para o agravamento da polarização.

Ao mesmo tempo, seria um erro descartar a possibilidade de a condenação ter algum impacto sobre os eleitores independentes e indecisos, que nem odeiam nem amam Trump – sobretudo nos Estados-pêndulo, que definirão as eleições em novembro, como Arizona, Carolina do Norte, Nevada, Geórgia, Michigan, Pensilvânia e Wisconsin. É possível que parte deles chegue à conclusão de que a presença na Casa Branca de um condenado pela Justiça terá dificuldades para governar, até porque deverá dedicar parte de seu tempo à defesa contra outros processos judiciais, ainda por cima com poder para interferir nas investigações contra si mesmo. Além disso, elegê-lo abriria um precedente preocupante para futuros presidentes dos EUA. Certeza sobre o que decidirão, porém, ninguém pode ter.

Era uma questão de tempo até que Donald Trump se tornasse o primeiro ex-presidente condenado em processo criminal na história dos EUA. Afinal, sua recente condenação por falsificar registros financeiros para ocultar pagamento secreto a ex-atriz pornô Stormy Daniels durante a campanha presidencial de 2016 apenas encerra uma das ações judiciais menos relevantes. Várias outras – entre elas, uma que envolve tentativa de pressionar oficiais eleitorais em Georgia para alterar o resultado das eleições presidenciais em 2020, além da que compreende seu papel na invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021– têm probabilidade significativa de levar a condenações adicionais do ex-presidente.

Vale lembrar que vários atores-chave no entorno direto de Trump – como seu ex-chefe de campanha, Paul Manafort, e seu ex-assessor de Segurança Nacional, Mike Flynn, além de outros ex-assessores, como Michael Cohen – já foram judicialmente condenados. Muitos ex-aliados, inclusive os que mais conhecem o candidato do Partido Republicano, como o ex-vice-presidente Mike Pence, recusam-se a apoiá-lo. Mais um ex-assessor de Segurança Nacional, John Bolton, chega a advertir abertamente contra votar em Trump. Até mesmo hoje em dia, vários criminosos integram o entorno do ex-presidente. Durante o julgamento, a comitiva de Trump incluía Boris Epshteyn, Bernard B. Kerik e Chuck Zito, todos eles ou indiciados ou ex-egressos da prisão. Em 2022, um júri considerou duas empresas da Trump Organization culpadas de várias acusações de fraude fiscal e falsificação de registros comerciais.

No entanto, quem torce contra Donald Trump não deve se iludir. Apesar de, nos EUA, uma fração desses escândalos poder encerrar a carreira de qualquer outro político, a recente condenação do ex-presidente pode não ter necessariamente impacto decisivo sobre suas chances eleitorais. Afinal, ele mantém hoje ligeira vantagem na maioria das pesquisas de opinião, cinco meses antes do pleito presidencial.

O ex-presidente dos EUA e candidato presidencial republicano Donald Trump retornando ao tribunal durante seu julgamento em Nova York, em 30 de maio de 2024.  Foto: Justin Lane/AFP

Paradoxalmente, a trajetória escandalosa do Republicano — envolvendo acusações de assédio, estrupro e fraude, casos de infidelidade conjugal, múltiplas falências de suas empresas e o hábito de mentir (ou, para usar um termo cunhado por sua ex-conselheira Kellyanne Conway, criar “fatos alternativos”), além dos processos criminais em andamento – sugere que seus apoiadores dificilmente mudarão de ideia depois de uma condenação por falsificação de registros financeiros.

A polarização extrema faz com que uma parte crescente da esquerda e da direita nos EUA habitem em universos paralelos. Era de se esperar que os apoiadores mais ferrenhos de Trump acreditassem no discurso de que o julgamento foi uma fraude. O problema, entretanto, parece bem mais grave. Os dois lados não concordam nem sequer em relação a dados econômicos básicos. Segundo uma pesquisa recente, quase três em cinco norte-americanos acreditam que a economia dos EUA está em recessão, o que não é verdade. Quase metade dos entrevistados acredita erroneamente que a taxa de desemprego no país está no nível mais alto dos últimos 50 anos quando, na realidade, está muito baixo: apenas 3.9%. Cerca de 49% dos americanos acreditam que o índice de mercado de ações SP 500 — algo facilmente verificável na internet em questão de segundos — caiu neste ano, embora esse índice tenha subido 24% em 2023 e mais de 12% em 2024. É possível que a inflação elevada possa explicar parte dessa percepção distorcida. Tudo indica, porém, que ela resulta, principalmente, do tribalismo político.

Enquanto o eleitor de uma democracia não tão polarizada considera o revezamento de poder algo positivo para que o próprio partido perdedor tenha a oportunidade de se renovar, o eleitor de um ambiente extremamente polarizado entrega um apoio político inabalável e irrefletido. Além disso, enxerga tudo – mídia, poder judiciário, dados econômicos e burocracia do Estado – através do filtro “nós contra eles”. Isso explica por que Trump não deverá ter dificuldade para fazer boa parte de seus apoiadores acreditarem que seu julgamento foi fraudulento. Chega a ser provável que sua derrota na Justiça contribua para o agravamento da polarização.

Ao mesmo tempo, seria um erro descartar a possibilidade de a condenação ter algum impacto sobre os eleitores independentes e indecisos, que nem odeiam nem amam Trump – sobretudo nos Estados-pêndulo, que definirão as eleições em novembro, como Arizona, Carolina do Norte, Nevada, Geórgia, Michigan, Pensilvânia e Wisconsin. É possível que parte deles chegue à conclusão de que a presença na Casa Branca de um condenado pela Justiça terá dificuldades para governar, até porque deverá dedicar parte de seu tempo à defesa contra outros processos judiciais, ainda por cima com poder para interferir nas investigações contra si mesmo. Além disso, elegê-lo abriria um precedente preocupante para futuros presidentes dos EUA. Certeza sobre o que decidirão, porém, ninguém pode ter.

Era uma questão de tempo até que Donald Trump se tornasse o primeiro ex-presidente condenado em processo criminal na história dos EUA. Afinal, sua recente condenação por falsificar registros financeiros para ocultar pagamento secreto a ex-atriz pornô Stormy Daniels durante a campanha presidencial de 2016 apenas encerra uma das ações judiciais menos relevantes. Várias outras – entre elas, uma que envolve tentativa de pressionar oficiais eleitorais em Georgia para alterar o resultado das eleições presidenciais em 2020, além da que compreende seu papel na invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021– têm probabilidade significativa de levar a condenações adicionais do ex-presidente.

Vale lembrar que vários atores-chave no entorno direto de Trump – como seu ex-chefe de campanha, Paul Manafort, e seu ex-assessor de Segurança Nacional, Mike Flynn, além de outros ex-assessores, como Michael Cohen – já foram judicialmente condenados. Muitos ex-aliados, inclusive os que mais conhecem o candidato do Partido Republicano, como o ex-vice-presidente Mike Pence, recusam-se a apoiá-lo. Mais um ex-assessor de Segurança Nacional, John Bolton, chega a advertir abertamente contra votar em Trump. Até mesmo hoje em dia, vários criminosos integram o entorno do ex-presidente. Durante o julgamento, a comitiva de Trump incluía Boris Epshteyn, Bernard B. Kerik e Chuck Zito, todos eles ou indiciados ou ex-egressos da prisão. Em 2022, um júri considerou duas empresas da Trump Organization culpadas de várias acusações de fraude fiscal e falsificação de registros comerciais.

No entanto, quem torce contra Donald Trump não deve se iludir. Apesar de, nos EUA, uma fração desses escândalos poder encerrar a carreira de qualquer outro político, a recente condenação do ex-presidente pode não ter necessariamente impacto decisivo sobre suas chances eleitorais. Afinal, ele mantém hoje ligeira vantagem na maioria das pesquisas de opinião, cinco meses antes do pleito presidencial.

O ex-presidente dos EUA e candidato presidencial republicano Donald Trump retornando ao tribunal durante seu julgamento em Nova York, em 30 de maio de 2024.  Foto: Justin Lane/AFP

Paradoxalmente, a trajetória escandalosa do Republicano — envolvendo acusações de assédio, estrupro e fraude, casos de infidelidade conjugal, múltiplas falências de suas empresas e o hábito de mentir (ou, para usar um termo cunhado por sua ex-conselheira Kellyanne Conway, criar “fatos alternativos”), além dos processos criminais em andamento – sugere que seus apoiadores dificilmente mudarão de ideia depois de uma condenação por falsificação de registros financeiros.

A polarização extrema faz com que uma parte crescente da esquerda e da direita nos EUA habitem em universos paralelos. Era de se esperar que os apoiadores mais ferrenhos de Trump acreditassem no discurso de que o julgamento foi uma fraude. O problema, entretanto, parece bem mais grave. Os dois lados não concordam nem sequer em relação a dados econômicos básicos. Segundo uma pesquisa recente, quase três em cinco norte-americanos acreditam que a economia dos EUA está em recessão, o que não é verdade. Quase metade dos entrevistados acredita erroneamente que a taxa de desemprego no país está no nível mais alto dos últimos 50 anos quando, na realidade, está muito baixo: apenas 3.9%. Cerca de 49% dos americanos acreditam que o índice de mercado de ações SP 500 — algo facilmente verificável na internet em questão de segundos — caiu neste ano, embora esse índice tenha subido 24% em 2023 e mais de 12% em 2024. É possível que a inflação elevada possa explicar parte dessa percepção distorcida. Tudo indica, porém, que ela resulta, principalmente, do tribalismo político.

Enquanto o eleitor de uma democracia não tão polarizada considera o revezamento de poder algo positivo para que o próprio partido perdedor tenha a oportunidade de se renovar, o eleitor de um ambiente extremamente polarizado entrega um apoio político inabalável e irrefletido. Além disso, enxerga tudo – mídia, poder judiciário, dados econômicos e burocracia do Estado – através do filtro “nós contra eles”. Isso explica por que Trump não deverá ter dificuldade para fazer boa parte de seus apoiadores acreditarem que seu julgamento foi fraudulento. Chega a ser provável que sua derrota na Justiça contribua para o agravamento da polarização.

Ao mesmo tempo, seria um erro descartar a possibilidade de a condenação ter algum impacto sobre os eleitores independentes e indecisos, que nem odeiam nem amam Trump – sobretudo nos Estados-pêndulo, que definirão as eleições em novembro, como Arizona, Carolina do Norte, Nevada, Geórgia, Michigan, Pensilvânia e Wisconsin. É possível que parte deles chegue à conclusão de que a presença na Casa Branca de um condenado pela Justiça terá dificuldades para governar, até porque deverá dedicar parte de seu tempo à defesa contra outros processos judiciais, ainda por cima com poder para interferir nas investigações contra si mesmo. Além disso, elegê-lo abriria um precedente preocupante para futuros presidentes dos EUA. Certeza sobre o que decidirão, porém, ninguém pode ter.

Opinião por Oliver Stuenkel

Analista político e Professor de Relações Internacionais da FGV-SP

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.