Analista político e professor de Relações Internacionais da FGV-SP. Escreve quinzenalmente

Opinião|Eleições legislativas devem agravar crise da democracia americana; leia a coluna de Oliver Stuenkel


Enquanto está dado como praticamente certo que os Democratas perderão a maioria no Congresso, o partido ainda tem esperança de manter o controle do Senado

Por Oliver Stuenkel
Atualização:

Desde a década de 1990, o partido do presidente dos EUA, seja ele quem for, costuma “apanhar” nas eleições legislativas. Não deverá ser diferente na próxima terça-feira, quando os eleitores americanos punirem o Partido Democrata.

A depender da dimensão da derrota no Senado e na Câmara de Deputados, é possível que o governo Biden tenha imensa dificuldade de aprovar reformas importantes nos dois anos que lhe restam do mandato presidencial. Enquanto está dado como praticamente certo que os Democratas perderão a maioria no Congresso, o partido ainda tem esperança de manter o controle do Senado, onde atualmente detém maioria graças ao “Voto de Minerva” da vice-presidente Kamala Harris.

Independentemente do resultado exato, porém, já está claro que a eleição selará a transformação do Partido Republicano, que passará de conservador tradicional a uma agremiação populista com fortes tendências antidemocráticas. Numerosos candidatos moderados ou foram derrotados nas primárias republicanas ou abandonaram a carreira. Políticos com opiniões extremistas, vários dos quais têm histórico de defender teorias conspiratórias como QAnon, terão influência sem precedentes no legislativo americano.

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Biden e Obama fazem campanha na Filadélfia  Foto: Mark Makela / AFP

Numerosos candidatos republicanos, parte dos quais se elegerá automaticamente por concorrerem em condados não competitivos, se recusaram a prometer que reconheceriam o resultado das eleições. Da mesma forma, o não-reconhecimento do resultado das eleições presidenciais de 2020, vencidas por Biden, quase virou um ritual de iniciação obrigatório no partido Republicano para evitar a ira do ex-presidente Trump e seus seguidores mais radicais.

Desde a posse de Joe Biden há dois anos, a classe política tradicional em Washington DC têm buscado superar o trauma da invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021. Sob o verniz de normalidade, no entanto, sente-se no ar “o cheiro de Weimar”, como um integrante do governo afirmou recentemente, em off, referindo-se à incapacidade da democracia alemã, na década de 1920, de conter o lento avanço de correntes antidemocráticas. Rachel Kleinfeld, uma das principais especialistas em violência política dos EUA, alerta que a porcentagem de americanos que apoia o uso da violência para atingir seus objetivos políticos se aproxima ao nível da Irlanda nos idos de 1970, década marcada pelo sangrento conflito político conhecido em inglês como “The Troubles”. Nos mesmos moldes, a recente invasão da casa de Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Deputados, por um seguidor da teoria de conspiração QAnon – o qual tentou matar o marido da parlamentar – é parte de uma tendência de violência política cada vez mais frequente.

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Seja qual for o resultado das eleições presidenciais de 2024, o sistema político americano está caminhando em direção a uma crise muito mais grave que a de 2020: se um candidato democrata for eleito, parece pouco provável que um Congresso de maioria republicana certifique sua vitória, gerando uma turbulência política sem precedentes. Do mesmo modo, uma vitória de Trump, o qual deve anunciar sua candidatura à presidência em breve, representaria um desafio muito maior à democracia americana do que seu primeiro mandato. Afinal, quando venceu o pleito, em 2016, o empresário, por inexperiência, levou numerosos assessores do establishment tradicional à Casa Branca, os quais acabaram assumindo como principal missão conter Trump. Foi só no fim de seus quatro anos no poder que o presidente republicano começou a aprender como aparelhar a máquina pública, mas era tarde demais para estragar o jogo a ponto de vencer as eleições no tapetão. Depois da resistência decisiva de oficiais eleitorais às investidas de Trump para alterar o resultado em 2020, o Partido Republicano hoje busca emplacar pessoas suficientemente radicalizadas que não atrapalhariam tentativas parecidas no próximo ciclo eleitoral – aumentando o risco de eleições conturbadas.

O confronto de Trump e Biden nas eleições presidenciais em 2024 – cenário mais provável atualmente – seria marcado por ligeiro favoritismo ao Democrata. Afinal, Trump é o único presidente na história das pesquisas modernas de opinião que, em nenhum momento, foi bem-avaliado pela maioria da população, além de ter sido o primeiro presidente americano, em quase três décadas, a perder a reeleição. Mas apostar em Joe Biden, um presidente pouco popular que terá 82 anos no fim de seu primeiro mandato, parece igualmente arriscado.

O maior risco à democracia americana, paradoxalmente, não virá de Trump, mas do trumpismo pós-Trump. Diferentemente da grande maioria dos líderes com ambições autoritárias, os quais entendem que a erosão de um sistema democrático requer foco e paciência, Trump aproveitou-se da presidência para lidar com suas ansiedades pessoais. Não teve a disciplina de líderes como Putin, Orbán e Chávez, que trabalharam, de forma assídua, pela concentração de poder. O próximo líder do trumpismo, mais profissional e apoiado por um partido radicalizado, representará uma ameaça mais séria à democracia americana.

Desde a década de 1990, o partido do presidente dos EUA, seja ele quem for, costuma “apanhar” nas eleições legislativas. Não deverá ser diferente na próxima terça-feira, quando os eleitores americanos punirem o Partido Democrata.

A depender da dimensão da derrota no Senado e na Câmara de Deputados, é possível que o governo Biden tenha imensa dificuldade de aprovar reformas importantes nos dois anos que lhe restam do mandato presidencial. Enquanto está dado como praticamente certo que os Democratas perderão a maioria no Congresso, o partido ainda tem esperança de manter o controle do Senado, onde atualmente detém maioria graças ao “Voto de Minerva” da vice-presidente Kamala Harris.

Independentemente do resultado exato, porém, já está claro que a eleição selará a transformação do Partido Republicano, que passará de conservador tradicional a uma agremiação populista com fortes tendências antidemocráticas. Numerosos candidatos moderados ou foram derrotados nas primárias republicanas ou abandonaram a carreira. Políticos com opiniões extremistas, vários dos quais têm histórico de defender teorias conspiratórias como QAnon, terão influência sem precedentes no legislativo americano.

Biden e Obama fazem campanha na Filadélfia  Foto: Mark Makela / AFP

Numerosos candidatos republicanos, parte dos quais se elegerá automaticamente por concorrerem em condados não competitivos, se recusaram a prometer que reconheceriam o resultado das eleições. Da mesma forma, o não-reconhecimento do resultado das eleições presidenciais de 2020, vencidas por Biden, quase virou um ritual de iniciação obrigatório no partido Republicano para evitar a ira do ex-presidente Trump e seus seguidores mais radicais.

Desde a posse de Joe Biden há dois anos, a classe política tradicional em Washington DC têm buscado superar o trauma da invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021. Sob o verniz de normalidade, no entanto, sente-se no ar “o cheiro de Weimar”, como um integrante do governo afirmou recentemente, em off, referindo-se à incapacidade da democracia alemã, na década de 1920, de conter o lento avanço de correntes antidemocráticas. Rachel Kleinfeld, uma das principais especialistas em violência política dos EUA, alerta que a porcentagem de americanos que apoia o uso da violência para atingir seus objetivos políticos se aproxima ao nível da Irlanda nos idos de 1970, década marcada pelo sangrento conflito político conhecido em inglês como “The Troubles”. Nos mesmos moldes, a recente invasão da casa de Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Deputados, por um seguidor da teoria de conspiração QAnon – o qual tentou matar o marido da parlamentar – é parte de uma tendência de violência política cada vez mais frequente.

Seja qual for o resultado das eleições presidenciais de 2024, o sistema político americano está caminhando em direção a uma crise muito mais grave que a de 2020: se um candidato democrata for eleito, parece pouco provável que um Congresso de maioria republicana certifique sua vitória, gerando uma turbulência política sem precedentes. Do mesmo modo, uma vitória de Trump, o qual deve anunciar sua candidatura à presidência em breve, representaria um desafio muito maior à democracia americana do que seu primeiro mandato. Afinal, quando venceu o pleito, em 2016, o empresário, por inexperiência, levou numerosos assessores do establishment tradicional à Casa Branca, os quais acabaram assumindo como principal missão conter Trump. Foi só no fim de seus quatro anos no poder que o presidente republicano começou a aprender como aparelhar a máquina pública, mas era tarde demais para estragar o jogo a ponto de vencer as eleições no tapetão. Depois da resistência decisiva de oficiais eleitorais às investidas de Trump para alterar o resultado em 2020, o Partido Republicano hoje busca emplacar pessoas suficientemente radicalizadas que não atrapalhariam tentativas parecidas no próximo ciclo eleitoral – aumentando o risco de eleições conturbadas.

O confronto de Trump e Biden nas eleições presidenciais em 2024 – cenário mais provável atualmente – seria marcado por ligeiro favoritismo ao Democrata. Afinal, Trump é o único presidente na história das pesquisas modernas de opinião que, em nenhum momento, foi bem-avaliado pela maioria da população, além de ter sido o primeiro presidente americano, em quase três décadas, a perder a reeleição. Mas apostar em Joe Biden, um presidente pouco popular que terá 82 anos no fim de seu primeiro mandato, parece igualmente arriscado.

O maior risco à democracia americana, paradoxalmente, não virá de Trump, mas do trumpismo pós-Trump. Diferentemente da grande maioria dos líderes com ambições autoritárias, os quais entendem que a erosão de um sistema democrático requer foco e paciência, Trump aproveitou-se da presidência para lidar com suas ansiedades pessoais. Não teve a disciplina de líderes como Putin, Orbán e Chávez, que trabalharam, de forma assídua, pela concentração de poder. O próximo líder do trumpismo, mais profissional e apoiado por um partido radicalizado, representará uma ameaça mais séria à democracia americana.

Desde a década de 1990, o partido do presidente dos EUA, seja ele quem for, costuma “apanhar” nas eleições legislativas. Não deverá ser diferente na próxima terça-feira, quando os eleitores americanos punirem o Partido Democrata.

A depender da dimensão da derrota no Senado e na Câmara de Deputados, é possível que o governo Biden tenha imensa dificuldade de aprovar reformas importantes nos dois anos que lhe restam do mandato presidencial. Enquanto está dado como praticamente certo que os Democratas perderão a maioria no Congresso, o partido ainda tem esperança de manter o controle do Senado, onde atualmente detém maioria graças ao “Voto de Minerva” da vice-presidente Kamala Harris.

Independentemente do resultado exato, porém, já está claro que a eleição selará a transformação do Partido Republicano, que passará de conservador tradicional a uma agremiação populista com fortes tendências antidemocráticas. Numerosos candidatos moderados ou foram derrotados nas primárias republicanas ou abandonaram a carreira. Políticos com opiniões extremistas, vários dos quais têm histórico de defender teorias conspiratórias como QAnon, terão influência sem precedentes no legislativo americano.

Biden e Obama fazem campanha na Filadélfia  Foto: Mark Makela / AFP

Numerosos candidatos republicanos, parte dos quais se elegerá automaticamente por concorrerem em condados não competitivos, se recusaram a prometer que reconheceriam o resultado das eleições. Da mesma forma, o não-reconhecimento do resultado das eleições presidenciais de 2020, vencidas por Biden, quase virou um ritual de iniciação obrigatório no partido Republicano para evitar a ira do ex-presidente Trump e seus seguidores mais radicais.

Desde a posse de Joe Biden há dois anos, a classe política tradicional em Washington DC têm buscado superar o trauma da invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021. Sob o verniz de normalidade, no entanto, sente-se no ar “o cheiro de Weimar”, como um integrante do governo afirmou recentemente, em off, referindo-se à incapacidade da democracia alemã, na década de 1920, de conter o lento avanço de correntes antidemocráticas. Rachel Kleinfeld, uma das principais especialistas em violência política dos EUA, alerta que a porcentagem de americanos que apoia o uso da violência para atingir seus objetivos políticos se aproxima ao nível da Irlanda nos idos de 1970, década marcada pelo sangrento conflito político conhecido em inglês como “The Troubles”. Nos mesmos moldes, a recente invasão da casa de Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Deputados, por um seguidor da teoria de conspiração QAnon – o qual tentou matar o marido da parlamentar – é parte de uma tendência de violência política cada vez mais frequente.

Seja qual for o resultado das eleições presidenciais de 2024, o sistema político americano está caminhando em direção a uma crise muito mais grave que a de 2020: se um candidato democrata for eleito, parece pouco provável que um Congresso de maioria republicana certifique sua vitória, gerando uma turbulência política sem precedentes. Do mesmo modo, uma vitória de Trump, o qual deve anunciar sua candidatura à presidência em breve, representaria um desafio muito maior à democracia americana do que seu primeiro mandato. Afinal, quando venceu o pleito, em 2016, o empresário, por inexperiência, levou numerosos assessores do establishment tradicional à Casa Branca, os quais acabaram assumindo como principal missão conter Trump. Foi só no fim de seus quatro anos no poder que o presidente republicano começou a aprender como aparelhar a máquina pública, mas era tarde demais para estragar o jogo a ponto de vencer as eleições no tapetão. Depois da resistência decisiva de oficiais eleitorais às investidas de Trump para alterar o resultado em 2020, o Partido Republicano hoje busca emplacar pessoas suficientemente radicalizadas que não atrapalhariam tentativas parecidas no próximo ciclo eleitoral – aumentando o risco de eleições conturbadas.

O confronto de Trump e Biden nas eleições presidenciais em 2024 – cenário mais provável atualmente – seria marcado por ligeiro favoritismo ao Democrata. Afinal, Trump é o único presidente na história das pesquisas modernas de opinião que, em nenhum momento, foi bem-avaliado pela maioria da população, além de ter sido o primeiro presidente americano, em quase três décadas, a perder a reeleição. Mas apostar em Joe Biden, um presidente pouco popular que terá 82 anos no fim de seu primeiro mandato, parece igualmente arriscado.

O maior risco à democracia americana, paradoxalmente, não virá de Trump, mas do trumpismo pós-Trump. Diferentemente da grande maioria dos líderes com ambições autoritárias, os quais entendem que a erosão de um sistema democrático requer foco e paciência, Trump aproveitou-se da presidência para lidar com suas ansiedades pessoais. Não teve a disciplina de líderes como Putin, Orbán e Chávez, que trabalharam, de forma assídua, pela concentração de poder. O próximo líder do trumpismo, mais profissional e apoiado por um partido radicalizado, representará uma ameaça mais séria à democracia americana.

Desde a década de 1990, o partido do presidente dos EUA, seja ele quem for, costuma “apanhar” nas eleições legislativas. Não deverá ser diferente na próxima terça-feira, quando os eleitores americanos punirem o Partido Democrata.

A depender da dimensão da derrota no Senado e na Câmara de Deputados, é possível que o governo Biden tenha imensa dificuldade de aprovar reformas importantes nos dois anos que lhe restam do mandato presidencial. Enquanto está dado como praticamente certo que os Democratas perderão a maioria no Congresso, o partido ainda tem esperança de manter o controle do Senado, onde atualmente detém maioria graças ao “Voto de Minerva” da vice-presidente Kamala Harris.

Independentemente do resultado exato, porém, já está claro que a eleição selará a transformação do Partido Republicano, que passará de conservador tradicional a uma agremiação populista com fortes tendências antidemocráticas. Numerosos candidatos moderados ou foram derrotados nas primárias republicanas ou abandonaram a carreira. Políticos com opiniões extremistas, vários dos quais têm histórico de defender teorias conspiratórias como QAnon, terão influência sem precedentes no legislativo americano.

Biden e Obama fazem campanha na Filadélfia  Foto: Mark Makela / AFP

Numerosos candidatos republicanos, parte dos quais se elegerá automaticamente por concorrerem em condados não competitivos, se recusaram a prometer que reconheceriam o resultado das eleições. Da mesma forma, o não-reconhecimento do resultado das eleições presidenciais de 2020, vencidas por Biden, quase virou um ritual de iniciação obrigatório no partido Republicano para evitar a ira do ex-presidente Trump e seus seguidores mais radicais.

Desde a posse de Joe Biden há dois anos, a classe política tradicional em Washington DC têm buscado superar o trauma da invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021. Sob o verniz de normalidade, no entanto, sente-se no ar “o cheiro de Weimar”, como um integrante do governo afirmou recentemente, em off, referindo-se à incapacidade da democracia alemã, na década de 1920, de conter o lento avanço de correntes antidemocráticas. Rachel Kleinfeld, uma das principais especialistas em violência política dos EUA, alerta que a porcentagem de americanos que apoia o uso da violência para atingir seus objetivos políticos se aproxima ao nível da Irlanda nos idos de 1970, década marcada pelo sangrento conflito político conhecido em inglês como “The Troubles”. Nos mesmos moldes, a recente invasão da casa de Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Deputados, por um seguidor da teoria de conspiração QAnon – o qual tentou matar o marido da parlamentar – é parte de uma tendência de violência política cada vez mais frequente.

Seja qual for o resultado das eleições presidenciais de 2024, o sistema político americano está caminhando em direção a uma crise muito mais grave que a de 2020: se um candidato democrata for eleito, parece pouco provável que um Congresso de maioria republicana certifique sua vitória, gerando uma turbulência política sem precedentes. Do mesmo modo, uma vitória de Trump, o qual deve anunciar sua candidatura à presidência em breve, representaria um desafio muito maior à democracia americana do que seu primeiro mandato. Afinal, quando venceu o pleito, em 2016, o empresário, por inexperiência, levou numerosos assessores do establishment tradicional à Casa Branca, os quais acabaram assumindo como principal missão conter Trump. Foi só no fim de seus quatro anos no poder que o presidente republicano começou a aprender como aparelhar a máquina pública, mas era tarde demais para estragar o jogo a ponto de vencer as eleições no tapetão. Depois da resistência decisiva de oficiais eleitorais às investidas de Trump para alterar o resultado em 2020, o Partido Republicano hoje busca emplacar pessoas suficientemente radicalizadas que não atrapalhariam tentativas parecidas no próximo ciclo eleitoral – aumentando o risco de eleições conturbadas.

O confronto de Trump e Biden nas eleições presidenciais em 2024 – cenário mais provável atualmente – seria marcado por ligeiro favoritismo ao Democrata. Afinal, Trump é o único presidente na história das pesquisas modernas de opinião que, em nenhum momento, foi bem-avaliado pela maioria da população, além de ter sido o primeiro presidente americano, em quase três décadas, a perder a reeleição. Mas apostar em Joe Biden, um presidente pouco popular que terá 82 anos no fim de seu primeiro mandato, parece igualmente arriscado.

O maior risco à democracia americana, paradoxalmente, não virá de Trump, mas do trumpismo pós-Trump. Diferentemente da grande maioria dos líderes com ambições autoritárias, os quais entendem que a erosão de um sistema democrático requer foco e paciência, Trump aproveitou-se da presidência para lidar com suas ansiedades pessoais. Não teve a disciplina de líderes como Putin, Orbán e Chávez, que trabalharam, de forma assídua, pela concentração de poder. O próximo líder do trumpismo, mais profissional e apoiado por um partido radicalizado, representará uma ameaça mais séria à democracia americana.

Desde a década de 1990, o partido do presidente dos EUA, seja ele quem for, costuma “apanhar” nas eleições legislativas. Não deverá ser diferente na próxima terça-feira, quando os eleitores americanos punirem o Partido Democrata.

A depender da dimensão da derrota no Senado e na Câmara de Deputados, é possível que o governo Biden tenha imensa dificuldade de aprovar reformas importantes nos dois anos que lhe restam do mandato presidencial. Enquanto está dado como praticamente certo que os Democratas perderão a maioria no Congresso, o partido ainda tem esperança de manter o controle do Senado, onde atualmente detém maioria graças ao “Voto de Minerva” da vice-presidente Kamala Harris.

Independentemente do resultado exato, porém, já está claro que a eleição selará a transformação do Partido Republicano, que passará de conservador tradicional a uma agremiação populista com fortes tendências antidemocráticas. Numerosos candidatos moderados ou foram derrotados nas primárias republicanas ou abandonaram a carreira. Políticos com opiniões extremistas, vários dos quais têm histórico de defender teorias conspiratórias como QAnon, terão influência sem precedentes no legislativo americano.

Biden e Obama fazem campanha na Filadélfia  Foto: Mark Makela / AFP

Numerosos candidatos republicanos, parte dos quais se elegerá automaticamente por concorrerem em condados não competitivos, se recusaram a prometer que reconheceriam o resultado das eleições. Da mesma forma, o não-reconhecimento do resultado das eleições presidenciais de 2020, vencidas por Biden, quase virou um ritual de iniciação obrigatório no partido Republicano para evitar a ira do ex-presidente Trump e seus seguidores mais radicais.

Desde a posse de Joe Biden há dois anos, a classe política tradicional em Washington DC têm buscado superar o trauma da invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021. Sob o verniz de normalidade, no entanto, sente-se no ar “o cheiro de Weimar”, como um integrante do governo afirmou recentemente, em off, referindo-se à incapacidade da democracia alemã, na década de 1920, de conter o lento avanço de correntes antidemocráticas. Rachel Kleinfeld, uma das principais especialistas em violência política dos EUA, alerta que a porcentagem de americanos que apoia o uso da violência para atingir seus objetivos políticos se aproxima ao nível da Irlanda nos idos de 1970, década marcada pelo sangrento conflito político conhecido em inglês como “The Troubles”. Nos mesmos moldes, a recente invasão da casa de Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Deputados, por um seguidor da teoria de conspiração QAnon – o qual tentou matar o marido da parlamentar – é parte de uma tendência de violência política cada vez mais frequente.

Seja qual for o resultado das eleições presidenciais de 2024, o sistema político americano está caminhando em direção a uma crise muito mais grave que a de 2020: se um candidato democrata for eleito, parece pouco provável que um Congresso de maioria republicana certifique sua vitória, gerando uma turbulência política sem precedentes. Do mesmo modo, uma vitória de Trump, o qual deve anunciar sua candidatura à presidência em breve, representaria um desafio muito maior à democracia americana do que seu primeiro mandato. Afinal, quando venceu o pleito, em 2016, o empresário, por inexperiência, levou numerosos assessores do establishment tradicional à Casa Branca, os quais acabaram assumindo como principal missão conter Trump. Foi só no fim de seus quatro anos no poder que o presidente republicano começou a aprender como aparelhar a máquina pública, mas era tarde demais para estragar o jogo a ponto de vencer as eleições no tapetão. Depois da resistência decisiva de oficiais eleitorais às investidas de Trump para alterar o resultado em 2020, o Partido Republicano hoje busca emplacar pessoas suficientemente radicalizadas que não atrapalhariam tentativas parecidas no próximo ciclo eleitoral – aumentando o risco de eleições conturbadas.

O confronto de Trump e Biden nas eleições presidenciais em 2024 – cenário mais provável atualmente – seria marcado por ligeiro favoritismo ao Democrata. Afinal, Trump é o único presidente na história das pesquisas modernas de opinião que, em nenhum momento, foi bem-avaliado pela maioria da população, além de ter sido o primeiro presidente americano, em quase três décadas, a perder a reeleição. Mas apostar em Joe Biden, um presidente pouco popular que terá 82 anos no fim de seu primeiro mandato, parece igualmente arriscado.

O maior risco à democracia americana, paradoxalmente, não virá de Trump, mas do trumpismo pós-Trump. Diferentemente da grande maioria dos líderes com ambições autoritárias, os quais entendem que a erosão de um sistema democrático requer foco e paciência, Trump aproveitou-se da presidência para lidar com suas ansiedades pessoais. Não teve a disciplina de líderes como Putin, Orbán e Chávez, que trabalharam, de forma assídua, pela concentração de poder. O próximo líder do trumpismo, mais profissional e apoiado por um partido radicalizado, representará uma ameaça mais séria à democracia americana.

Opinião por Oliver Stuenkel

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