Analista político e professor de Relações Internacionais da FGV-SP. Escreve quinzenalmente

Opinião|Índia está a caminho de se tornar uma grande potência; leia coluna de Oliver Stuenkel


Nação mais populosa do mundo, a Índia terá papel-chave na economia e política globais

Por Oliver Stuenkel
Atualização:

Em meio às turbulências geopolíticas causadas pela guerra na Ucrânia e as crescentes tensões entre os EUA e a China, é fácil perder de vista uma das notícias mais relevantes da atualidade: a Índia está prestes a se tornar o país mais populoso do planeta, superando seu vizinho chinês, que liderou o ranking demográfico pelo menos desde a Segunda Guerra Mundial. Pela primeira vez na história, o país com a maior população no mundo será uma democracia.

O peso demográfico de uma nação não se traduz automaticamente em poder econômico ou político – mas quando se junta com dinamismo econômico, seu impacto é imenso. Segundo o FMI, a Índia deve crescer em torno de 6% em 2023, mais do que qualquer outra economia. Até o fim da década, pode se tornar a terceira maior economia do planeta, apenas atrás de EUA e China. Segundo o banco Morgan Stanley, a Índia tem o potencial de ser responsável por um quinto do crescimento global ao longo da próxima década.

O país tem uma série de outras vantagens: diferentemente da China, cuja população está declinante, a Índia possui um gigantesco bônus demográfico – 40% da população tem menos de 25 anos – que a torna um mercado de consumidores cada vez mais relevante. Não por acaso, a empresa americana Apple acaba de abrir suas primeiras lojas no país: enquanto o mercado de smartphones está bastante saturado nas principais economias do mundo, menos da metade da população indiana possui um. O mesmo vale para setores como aviação, infraestrutura e alimentação, onde o mercado indiano pode passar por uma transformação semelhante ao da China ao longo das últimas décadas.

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População caminha em rua congestionada de Nova Déli: Índia vai se tornar país mais populoso do mundo este ano  Foto: Rajat Gupta/EFE

A Índia também encontra-se em uma situação geopolítica vantajosa: é vista, pelo Ocidente, como um aliado-chave para conter a China, o que dá a Nova Deli muito espaço de manobra para articular uma estratégia internacional independente – às vezes se aliando a Pequim – sem perder apoio de Washington, Londres ou Berlim.

O país também pode se beneficiar economicamente das crescentes tensões entre a China e o Ocidente: muitas empresas ocidentais que concentram boa parte sua produção na China estão buscando países alternativos para suas fábricas, indo para países como Malásia, Vietnã e Tailândia, e algumas – como a própria Apple – têm optado por levar parte da sua produção para a Índia.

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No âmbito diplomático, a Índia não apenas presidirá a reunião dos líderes do G20 este ano, mas também da Organização de Cooperação de Xangai, grupo que também inclui a China e a Rússia, e agressivamente promove sua narrativa de ser um destino atraente e seguro para investimentos em meio a um contexto global de instabilidade.

Porém, enquanto CEOs e políticos muitas vezes tratam a Índia como “terra prometida”, seria um erro ignorar os profundos desafios que o país ainda enfrenta, e que podem atrasar sua ascensão. Apesar de as eleições serem competitivas, o clientelismo e a corrupção afetam a qualidade da democracia indiana. A desigualdade talvez seja o maior problema: mais de 40% da riqueza criada no país de 2012 a 2021 foi para apenas 1% da população, enquanto apenas 3% foi para os 50% mais pobres.

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Indianas cuidam de filhos em um bairro pobre da Índia: país mais populoso do mundo terá desafios para ser superpotência  Foto: Karishma Mehrotra/The Washington Post

Enquanto 80% dos deputados no Congresso indiano são crorepatis (termo que pode ser traduzido como milionários), taxas de subnutrição entre jovens ainda estão alarmantes: por exemplo, no estado de Tamil Nadu, um dos mais ricos do país, um terço dos jovens, está subnutrido. Apenas 15% da população indiana pode ser considerada classe média de acordo com as definições internacionais. O atual governo se projeta como “pro-business”, mas há sinais que o primeiro-ministro Narendra Modi concede vantagens a empresários bem-conectados politicamente, o que tem afastado alguns investidores internacionais. Há um número crescente de analistas que questionam se a Índia possa de fato substituir a China como “fábrica do mundo”.

Por fim, a médio prazo, a crescente rivalidade geopolítica entre Nova Deli e Pequim, ambas potências nucleares, tem o potencial de gerar um obstáculo significativo para as ambições indianas. Um conflito de fronteiras não resolvido desde uma breve guerra entre os dois nos anos 60 e o sonho de ambos de se tornar o ator predominante na Ásia faz com que tensões geopolíticas possam atrapalhar a trajetória econômica da Índia. Mesmo assim, apesar dos obstáculos, parece haver pouca dúvida de que a Índia está a caminho de se tornar uma grande potência.

Em meio às turbulências geopolíticas causadas pela guerra na Ucrânia e as crescentes tensões entre os EUA e a China, é fácil perder de vista uma das notícias mais relevantes da atualidade: a Índia está prestes a se tornar o país mais populoso do planeta, superando seu vizinho chinês, que liderou o ranking demográfico pelo menos desde a Segunda Guerra Mundial. Pela primeira vez na história, o país com a maior população no mundo será uma democracia.

O peso demográfico de uma nação não se traduz automaticamente em poder econômico ou político – mas quando se junta com dinamismo econômico, seu impacto é imenso. Segundo o FMI, a Índia deve crescer em torno de 6% em 2023, mais do que qualquer outra economia. Até o fim da década, pode se tornar a terceira maior economia do planeta, apenas atrás de EUA e China. Segundo o banco Morgan Stanley, a Índia tem o potencial de ser responsável por um quinto do crescimento global ao longo da próxima década.

O país tem uma série de outras vantagens: diferentemente da China, cuja população está declinante, a Índia possui um gigantesco bônus demográfico – 40% da população tem menos de 25 anos – que a torna um mercado de consumidores cada vez mais relevante. Não por acaso, a empresa americana Apple acaba de abrir suas primeiras lojas no país: enquanto o mercado de smartphones está bastante saturado nas principais economias do mundo, menos da metade da população indiana possui um. O mesmo vale para setores como aviação, infraestrutura e alimentação, onde o mercado indiano pode passar por uma transformação semelhante ao da China ao longo das últimas décadas.

População caminha em rua congestionada de Nova Déli: Índia vai se tornar país mais populoso do mundo este ano  Foto: Rajat Gupta/EFE

A Índia também encontra-se em uma situação geopolítica vantajosa: é vista, pelo Ocidente, como um aliado-chave para conter a China, o que dá a Nova Deli muito espaço de manobra para articular uma estratégia internacional independente – às vezes se aliando a Pequim – sem perder apoio de Washington, Londres ou Berlim.

O país também pode se beneficiar economicamente das crescentes tensões entre a China e o Ocidente: muitas empresas ocidentais que concentram boa parte sua produção na China estão buscando países alternativos para suas fábricas, indo para países como Malásia, Vietnã e Tailândia, e algumas – como a própria Apple – têm optado por levar parte da sua produção para a Índia.

No âmbito diplomático, a Índia não apenas presidirá a reunião dos líderes do G20 este ano, mas também da Organização de Cooperação de Xangai, grupo que também inclui a China e a Rússia, e agressivamente promove sua narrativa de ser um destino atraente e seguro para investimentos em meio a um contexto global de instabilidade.

Porém, enquanto CEOs e políticos muitas vezes tratam a Índia como “terra prometida”, seria um erro ignorar os profundos desafios que o país ainda enfrenta, e que podem atrasar sua ascensão. Apesar de as eleições serem competitivas, o clientelismo e a corrupção afetam a qualidade da democracia indiana. A desigualdade talvez seja o maior problema: mais de 40% da riqueza criada no país de 2012 a 2021 foi para apenas 1% da população, enquanto apenas 3% foi para os 50% mais pobres.

Indianas cuidam de filhos em um bairro pobre da Índia: país mais populoso do mundo terá desafios para ser superpotência  Foto: Karishma Mehrotra/The Washington Post

Enquanto 80% dos deputados no Congresso indiano são crorepatis (termo que pode ser traduzido como milionários), taxas de subnutrição entre jovens ainda estão alarmantes: por exemplo, no estado de Tamil Nadu, um dos mais ricos do país, um terço dos jovens, está subnutrido. Apenas 15% da população indiana pode ser considerada classe média de acordo com as definições internacionais. O atual governo se projeta como “pro-business”, mas há sinais que o primeiro-ministro Narendra Modi concede vantagens a empresários bem-conectados politicamente, o que tem afastado alguns investidores internacionais. Há um número crescente de analistas que questionam se a Índia possa de fato substituir a China como “fábrica do mundo”.

Por fim, a médio prazo, a crescente rivalidade geopolítica entre Nova Deli e Pequim, ambas potências nucleares, tem o potencial de gerar um obstáculo significativo para as ambições indianas. Um conflito de fronteiras não resolvido desde uma breve guerra entre os dois nos anos 60 e o sonho de ambos de se tornar o ator predominante na Ásia faz com que tensões geopolíticas possam atrapalhar a trajetória econômica da Índia. Mesmo assim, apesar dos obstáculos, parece haver pouca dúvida de que a Índia está a caminho de se tornar uma grande potência.

Em meio às turbulências geopolíticas causadas pela guerra na Ucrânia e as crescentes tensões entre os EUA e a China, é fácil perder de vista uma das notícias mais relevantes da atualidade: a Índia está prestes a se tornar o país mais populoso do planeta, superando seu vizinho chinês, que liderou o ranking demográfico pelo menos desde a Segunda Guerra Mundial. Pela primeira vez na história, o país com a maior população no mundo será uma democracia.

O peso demográfico de uma nação não se traduz automaticamente em poder econômico ou político – mas quando se junta com dinamismo econômico, seu impacto é imenso. Segundo o FMI, a Índia deve crescer em torno de 6% em 2023, mais do que qualquer outra economia. Até o fim da década, pode se tornar a terceira maior economia do planeta, apenas atrás de EUA e China. Segundo o banco Morgan Stanley, a Índia tem o potencial de ser responsável por um quinto do crescimento global ao longo da próxima década.

O país tem uma série de outras vantagens: diferentemente da China, cuja população está declinante, a Índia possui um gigantesco bônus demográfico – 40% da população tem menos de 25 anos – que a torna um mercado de consumidores cada vez mais relevante. Não por acaso, a empresa americana Apple acaba de abrir suas primeiras lojas no país: enquanto o mercado de smartphones está bastante saturado nas principais economias do mundo, menos da metade da população indiana possui um. O mesmo vale para setores como aviação, infraestrutura e alimentação, onde o mercado indiano pode passar por uma transformação semelhante ao da China ao longo das últimas décadas.

População caminha em rua congestionada de Nova Déli: Índia vai se tornar país mais populoso do mundo este ano  Foto: Rajat Gupta/EFE

A Índia também encontra-se em uma situação geopolítica vantajosa: é vista, pelo Ocidente, como um aliado-chave para conter a China, o que dá a Nova Deli muito espaço de manobra para articular uma estratégia internacional independente – às vezes se aliando a Pequim – sem perder apoio de Washington, Londres ou Berlim.

O país também pode se beneficiar economicamente das crescentes tensões entre a China e o Ocidente: muitas empresas ocidentais que concentram boa parte sua produção na China estão buscando países alternativos para suas fábricas, indo para países como Malásia, Vietnã e Tailândia, e algumas – como a própria Apple – têm optado por levar parte da sua produção para a Índia.

No âmbito diplomático, a Índia não apenas presidirá a reunião dos líderes do G20 este ano, mas também da Organização de Cooperação de Xangai, grupo que também inclui a China e a Rússia, e agressivamente promove sua narrativa de ser um destino atraente e seguro para investimentos em meio a um contexto global de instabilidade.

Porém, enquanto CEOs e políticos muitas vezes tratam a Índia como “terra prometida”, seria um erro ignorar os profundos desafios que o país ainda enfrenta, e que podem atrasar sua ascensão. Apesar de as eleições serem competitivas, o clientelismo e a corrupção afetam a qualidade da democracia indiana. A desigualdade talvez seja o maior problema: mais de 40% da riqueza criada no país de 2012 a 2021 foi para apenas 1% da população, enquanto apenas 3% foi para os 50% mais pobres.

Indianas cuidam de filhos em um bairro pobre da Índia: país mais populoso do mundo terá desafios para ser superpotência  Foto: Karishma Mehrotra/The Washington Post

Enquanto 80% dos deputados no Congresso indiano são crorepatis (termo que pode ser traduzido como milionários), taxas de subnutrição entre jovens ainda estão alarmantes: por exemplo, no estado de Tamil Nadu, um dos mais ricos do país, um terço dos jovens, está subnutrido. Apenas 15% da população indiana pode ser considerada classe média de acordo com as definições internacionais. O atual governo se projeta como “pro-business”, mas há sinais que o primeiro-ministro Narendra Modi concede vantagens a empresários bem-conectados politicamente, o que tem afastado alguns investidores internacionais. Há um número crescente de analistas que questionam se a Índia possa de fato substituir a China como “fábrica do mundo”.

Por fim, a médio prazo, a crescente rivalidade geopolítica entre Nova Deli e Pequim, ambas potências nucleares, tem o potencial de gerar um obstáculo significativo para as ambições indianas. Um conflito de fronteiras não resolvido desde uma breve guerra entre os dois nos anos 60 e o sonho de ambos de se tornar o ator predominante na Ásia faz com que tensões geopolíticas possam atrapalhar a trajetória econômica da Índia. Mesmo assim, apesar dos obstáculos, parece haver pouca dúvida de que a Índia está a caminho de se tornar uma grande potência.

Em meio às turbulências geopolíticas causadas pela guerra na Ucrânia e as crescentes tensões entre os EUA e a China, é fácil perder de vista uma das notícias mais relevantes da atualidade: a Índia está prestes a se tornar o país mais populoso do planeta, superando seu vizinho chinês, que liderou o ranking demográfico pelo menos desde a Segunda Guerra Mundial. Pela primeira vez na história, o país com a maior população no mundo será uma democracia.

O peso demográfico de uma nação não se traduz automaticamente em poder econômico ou político – mas quando se junta com dinamismo econômico, seu impacto é imenso. Segundo o FMI, a Índia deve crescer em torno de 6% em 2023, mais do que qualquer outra economia. Até o fim da década, pode se tornar a terceira maior economia do planeta, apenas atrás de EUA e China. Segundo o banco Morgan Stanley, a Índia tem o potencial de ser responsável por um quinto do crescimento global ao longo da próxima década.

O país tem uma série de outras vantagens: diferentemente da China, cuja população está declinante, a Índia possui um gigantesco bônus demográfico – 40% da população tem menos de 25 anos – que a torna um mercado de consumidores cada vez mais relevante. Não por acaso, a empresa americana Apple acaba de abrir suas primeiras lojas no país: enquanto o mercado de smartphones está bastante saturado nas principais economias do mundo, menos da metade da população indiana possui um. O mesmo vale para setores como aviação, infraestrutura e alimentação, onde o mercado indiano pode passar por uma transformação semelhante ao da China ao longo das últimas décadas.

População caminha em rua congestionada de Nova Déli: Índia vai se tornar país mais populoso do mundo este ano  Foto: Rajat Gupta/EFE

A Índia também encontra-se em uma situação geopolítica vantajosa: é vista, pelo Ocidente, como um aliado-chave para conter a China, o que dá a Nova Deli muito espaço de manobra para articular uma estratégia internacional independente – às vezes se aliando a Pequim – sem perder apoio de Washington, Londres ou Berlim.

O país também pode se beneficiar economicamente das crescentes tensões entre a China e o Ocidente: muitas empresas ocidentais que concentram boa parte sua produção na China estão buscando países alternativos para suas fábricas, indo para países como Malásia, Vietnã e Tailândia, e algumas – como a própria Apple – têm optado por levar parte da sua produção para a Índia.

No âmbito diplomático, a Índia não apenas presidirá a reunião dos líderes do G20 este ano, mas também da Organização de Cooperação de Xangai, grupo que também inclui a China e a Rússia, e agressivamente promove sua narrativa de ser um destino atraente e seguro para investimentos em meio a um contexto global de instabilidade.

Porém, enquanto CEOs e políticos muitas vezes tratam a Índia como “terra prometida”, seria um erro ignorar os profundos desafios que o país ainda enfrenta, e que podem atrasar sua ascensão. Apesar de as eleições serem competitivas, o clientelismo e a corrupção afetam a qualidade da democracia indiana. A desigualdade talvez seja o maior problema: mais de 40% da riqueza criada no país de 2012 a 2021 foi para apenas 1% da população, enquanto apenas 3% foi para os 50% mais pobres.

Indianas cuidam de filhos em um bairro pobre da Índia: país mais populoso do mundo terá desafios para ser superpotência  Foto: Karishma Mehrotra/The Washington Post

Enquanto 80% dos deputados no Congresso indiano são crorepatis (termo que pode ser traduzido como milionários), taxas de subnutrição entre jovens ainda estão alarmantes: por exemplo, no estado de Tamil Nadu, um dos mais ricos do país, um terço dos jovens, está subnutrido. Apenas 15% da população indiana pode ser considerada classe média de acordo com as definições internacionais. O atual governo se projeta como “pro-business”, mas há sinais que o primeiro-ministro Narendra Modi concede vantagens a empresários bem-conectados politicamente, o que tem afastado alguns investidores internacionais. Há um número crescente de analistas que questionam se a Índia possa de fato substituir a China como “fábrica do mundo”.

Por fim, a médio prazo, a crescente rivalidade geopolítica entre Nova Deli e Pequim, ambas potências nucleares, tem o potencial de gerar um obstáculo significativo para as ambições indianas. Um conflito de fronteiras não resolvido desde uma breve guerra entre os dois nos anos 60 e o sonho de ambos de se tornar o ator predominante na Ásia faz com que tensões geopolíticas possam atrapalhar a trajetória econômica da Índia. Mesmo assim, apesar dos obstáculos, parece haver pouca dúvida de que a Índia está a caminho de se tornar uma grande potência.

Em meio às turbulências geopolíticas causadas pela guerra na Ucrânia e as crescentes tensões entre os EUA e a China, é fácil perder de vista uma das notícias mais relevantes da atualidade: a Índia está prestes a se tornar o país mais populoso do planeta, superando seu vizinho chinês, que liderou o ranking demográfico pelo menos desde a Segunda Guerra Mundial. Pela primeira vez na história, o país com a maior população no mundo será uma democracia.

O peso demográfico de uma nação não se traduz automaticamente em poder econômico ou político – mas quando se junta com dinamismo econômico, seu impacto é imenso. Segundo o FMI, a Índia deve crescer em torno de 6% em 2023, mais do que qualquer outra economia. Até o fim da década, pode se tornar a terceira maior economia do planeta, apenas atrás de EUA e China. Segundo o banco Morgan Stanley, a Índia tem o potencial de ser responsável por um quinto do crescimento global ao longo da próxima década.

O país tem uma série de outras vantagens: diferentemente da China, cuja população está declinante, a Índia possui um gigantesco bônus demográfico – 40% da população tem menos de 25 anos – que a torna um mercado de consumidores cada vez mais relevante. Não por acaso, a empresa americana Apple acaba de abrir suas primeiras lojas no país: enquanto o mercado de smartphones está bastante saturado nas principais economias do mundo, menos da metade da população indiana possui um. O mesmo vale para setores como aviação, infraestrutura e alimentação, onde o mercado indiano pode passar por uma transformação semelhante ao da China ao longo das últimas décadas.

População caminha em rua congestionada de Nova Déli: Índia vai se tornar país mais populoso do mundo este ano  Foto: Rajat Gupta/EFE

A Índia também encontra-se em uma situação geopolítica vantajosa: é vista, pelo Ocidente, como um aliado-chave para conter a China, o que dá a Nova Deli muito espaço de manobra para articular uma estratégia internacional independente – às vezes se aliando a Pequim – sem perder apoio de Washington, Londres ou Berlim.

O país também pode se beneficiar economicamente das crescentes tensões entre a China e o Ocidente: muitas empresas ocidentais que concentram boa parte sua produção na China estão buscando países alternativos para suas fábricas, indo para países como Malásia, Vietnã e Tailândia, e algumas – como a própria Apple – têm optado por levar parte da sua produção para a Índia.

No âmbito diplomático, a Índia não apenas presidirá a reunião dos líderes do G20 este ano, mas também da Organização de Cooperação de Xangai, grupo que também inclui a China e a Rússia, e agressivamente promove sua narrativa de ser um destino atraente e seguro para investimentos em meio a um contexto global de instabilidade.

Porém, enquanto CEOs e políticos muitas vezes tratam a Índia como “terra prometida”, seria um erro ignorar os profundos desafios que o país ainda enfrenta, e que podem atrasar sua ascensão. Apesar de as eleições serem competitivas, o clientelismo e a corrupção afetam a qualidade da democracia indiana. A desigualdade talvez seja o maior problema: mais de 40% da riqueza criada no país de 2012 a 2021 foi para apenas 1% da população, enquanto apenas 3% foi para os 50% mais pobres.

Indianas cuidam de filhos em um bairro pobre da Índia: país mais populoso do mundo terá desafios para ser superpotência  Foto: Karishma Mehrotra/The Washington Post

Enquanto 80% dos deputados no Congresso indiano são crorepatis (termo que pode ser traduzido como milionários), taxas de subnutrição entre jovens ainda estão alarmantes: por exemplo, no estado de Tamil Nadu, um dos mais ricos do país, um terço dos jovens, está subnutrido. Apenas 15% da população indiana pode ser considerada classe média de acordo com as definições internacionais. O atual governo se projeta como “pro-business”, mas há sinais que o primeiro-ministro Narendra Modi concede vantagens a empresários bem-conectados politicamente, o que tem afastado alguns investidores internacionais. Há um número crescente de analistas que questionam se a Índia possa de fato substituir a China como “fábrica do mundo”.

Por fim, a médio prazo, a crescente rivalidade geopolítica entre Nova Deli e Pequim, ambas potências nucleares, tem o potencial de gerar um obstáculo significativo para as ambições indianas. Um conflito de fronteiras não resolvido desde uma breve guerra entre os dois nos anos 60 e o sonho de ambos de se tornar o ator predominante na Ásia faz com que tensões geopolíticas possam atrapalhar a trajetória econômica da Índia. Mesmo assim, apesar dos obstáculos, parece haver pouca dúvida de que a Índia está a caminho de se tornar uma grande potência.

Opinião por Oliver Stuenkel

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