Analista político e professor de Relações Internacionais da FGV-SP. Escreve quinzenalmente

Opinião|Por que a economia dos EUA cresce mais durante os governos do Partido Democrata?


Evidência histórica não deixa dúvida de que legado econômico dos Democratas é superior ao dos Republicanos, mas diferença não se reflete na opinião pública norte-americana

Por Oliver Stuenkel

Kamala Harris soube ressuscitar a campanha presidencial do Partido Democrata, mas várias pesquisas sugerem que os eleitores ainda confiam mais em Donald Trump do que nos democratas para gerir a maior economia do planeta. De fato, o Partido Republicano é visto muitas vezes como mais competente pelos eleitores, não apenas nos temas tipicamente prioritários da direita – como o combate ao crime e à imigração ilegal –, mas também na gestão da economia. Já os democratas são vistos geralmente como mais preparados em áreas socioambientais (educação, saúde, enfrentamento das desigualdades e das mudanças climáticas, combate à violência com armas de fogo).

A reputação do Partido Republicano de mais competente na gestão da economia é um tanto surpreendente por um simples motivo: desde a Segunda Guerra Mundial, o desempenho econômico na grande maioria das métricas – como crescimento do PIB e geração de emprego – tem sido pior, de forma bastante consistente, durante governos republicanos do que nas gestões democratas. Como mostra o economista Jeffrey Frankel, da Universidade de Harvard, o PIB dos EUA tem apresentado, desde então, uma taxa média de crescimento de 4,23% ao ano durante os governos democratas, contra 2,36% sob os republicanos, uma diferença notável de 1,87% (se incluídas as décadas anteriores à Segunda Guerra Mundial, a diferença é ainda maior).

A vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, observa o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, discursar durante um evento em Washington, Estados Unidos  Foto: Doug Mills/NYT
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Nove das dez últimas recessões nos EUA começaram quando um republicano era presidente. O autor também aponta que, em cinco das 10 transições mais recentes de governo nas quais um democrata foi sucedido por um republicano, a taxa de crescimento caiu de um mandato para o outro. Nas outras cinco das transições nas quais um republicano foi sucedido por um democrata, a taxa de crescimento aumentou. Sem exceções. Não surpreende, portanto, que o índice S&P 500 tenha apresentado uma trajetória de maior crescimento durante governos democratas.

Cada partido teve sete presidentes desde o fim da Segunda Guerra Mundial, com 88 milhões de empregos criados pelos Democratas e 32 milhões pelos republicanos. Mesmo usando outras métricas, como produtividade ou crescimentos de salários reais (ajustados pela inflação), governos democratas têm legados melhores.

Perplexo com suas próprias descobertas, Frankel confessa que “até mesmo aqueles entre nós [economistas] que acreditamos que as políticas econômicas dos democratas são melhores, não conseguimos explicar essa grande diferença” – afinal, o crescimento do PIB e a criação de emprego dependem de numerosos fatores, vários dos quais estão fora do controle do presidente dos EUA.

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O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump participa de um comício em Glendale, Arizona  Foto: Rebecca Noble/AFP

Questões como a composição do Congresso, o crescimento da China, pandemias e guerras podem ter profundo impacto no cenário econômico. Mesmo assim, Frankel alerta que dificilmente se trata apenas de uma grande coincidência: “A probabilidade de que a diferença entre o desempenho econômico dos EUA entre governos democratas e republicanos tivesse ocorrido apenas por acaso são remotas (...): menos de uma em 100.”

Em busca de explicações para o fenômeno, Alan Blinder e Mark Watson, ambos da Universidade de Princeton, argumentam em um artigo da revista American Economic Review que “a resposta não é encontrada (...) em política monetária ou fiscal sistematicamente mais expansionista sob os democratas”. Até porque os presidentes Ronald Reagan e George Bush filho, por exemplo, reduziram impostos e aumentaram gastos públicos, enquanto Bill Clinton reduziu o déficit fiscal.

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“Em vez disso, parece que a vantagem dos Democratas deriva principalmente de mais produtividade e eficácia no uso de recursos, um ambiente internacional mais favorável e talvez expectativas mais otimistas do consumidor sobre o futuro de curto prazo.” Trata-se de uma hipótese, mas para Frankel o debate não está encerrado: “Os dados surpreendentemente melhores sob os presidentes democratas continuam sendo um enigma”, escreve.

Um mistério ainda maior, porém, é por que o Partido Democrata ainda não utilizou tais dados para enfraquecer a narrativa dos republicanos sobre sua gestão superior da economia. No início de seu discurso, durante a recente Convenção Nacional do Partido Democrata em Chicago, o ex-presidente Clinton tocou no assunto brevemente: “Vocês vão ter dificuldade em acreditar nisto, mas eu verifiquei isso três vezes”, começou Clinton. “Desde o fim da Guerra Fria em 1989, os EUA criaram cerca de 51 milhões de novos empregos. Juro que verifiquei isso três vezes. Nem eu conseguia acreditar. Qual é o placar? Democratas 50 [milhões], Republicanos um [milhão]”, afirmação confirmada logo depois pelo portal de verificação Verifythis.

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Mas a forma como Clinton introduziu o assunto – mostrando incredulidade em relação ao êxito de seu próprio partido – dá a noção da dificuldade dos democratas na sua comunicação com eleitores indecisos de se projetar como o partido mais competente na economia. Seria Kamala Harris e sua equipe de campanha capazes de corrigir essa narrativa agora?

Kamala Harris soube ressuscitar a campanha presidencial do Partido Democrata, mas várias pesquisas sugerem que os eleitores ainda confiam mais em Donald Trump do que nos democratas para gerir a maior economia do planeta. De fato, o Partido Republicano é visto muitas vezes como mais competente pelos eleitores, não apenas nos temas tipicamente prioritários da direita – como o combate ao crime e à imigração ilegal –, mas também na gestão da economia. Já os democratas são vistos geralmente como mais preparados em áreas socioambientais (educação, saúde, enfrentamento das desigualdades e das mudanças climáticas, combate à violência com armas de fogo).

A reputação do Partido Republicano de mais competente na gestão da economia é um tanto surpreendente por um simples motivo: desde a Segunda Guerra Mundial, o desempenho econômico na grande maioria das métricas – como crescimento do PIB e geração de emprego – tem sido pior, de forma bastante consistente, durante governos republicanos do que nas gestões democratas. Como mostra o economista Jeffrey Frankel, da Universidade de Harvard, o PIB dos EUA tem apresentado, desde então, uma taxa média de crescimento de 4,23% ao ano durante os governos democratas, contra 2,36% sob os republicanos, uma diferença notável de 1,87% (se incluídas as décadas anteriores à Segunda Guerra Mundial, a diferença é ainda maior).

A vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, observa o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, discursar durante um evento em Washington, Estados Unidos  Foto: Doug Mills/NYT

Nove das dez últimas recessões nos EUA começaram quando um republicano era presidente. O autor também aponta que, em cinco das 10 transições mais recentes de governo nas quais um democrata foi sucedido por um republicano, a taxa de crescimento caiu de um mandato para o outro. Nas outras cinco das transições nas quais um republicano foi sucedido por um democrata, a taxa de crescimento aumentou. Sem exceções. Não surpreende, portanto, que o índice S&P 500 tenha apresentado uma trajetória de maior crescimento durante governos democratas.

Cada partido teve sete presidentes desde o fim da Segunda Guerra Mundial, com 88 milhões de empregos criados pelos Democratas e 32 milhões pelos republicanos. Mesmo usando outras métricas, como produtividade ou crescimentos de salários reais (ajustados pela inflação), governos democratas têm legados melhores.

Perplexo com suas próprias descobertas, Frankel confessa que “até mesmo aqueles entre nós [economistas] que acreditamos que as políticas econômicas dos democratas são melhores, não conseguimos explicar essa grande diferença” – afinal, o crescimento do PIB e a criação de emprego dependem de numerosos fatores, vários dos quais estão fora do controle do presidente dos EUA.

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump participa de um comício em Glendale, Arizona  Foto: Rebecca Noble/AFP

Questões como a composição do Congresso, o crescimento da China, pandemias e guerras podem ter profundo impacto no cenário econômico. Mesmo assim, Frankel alerta que dificilmente se trata apenas de uma grande coincidência: “A probabilidade de que a diferença entre o desempenho econômico dos EUA entre governos democratas e republicanos tivesse ocorrido apenas por acaso são remotas (...): menos de uma em 100.”

Em busca de explicações para o fenômeno, Alan Blinder e Mark Watson, ambos da Universidade de Princeton, argumentam em um artigo da revista American Economic Review que “a resposta não é encontrada (...) em política monetária ou fiscal sistematicamente mais expansionista sob os democratas”. Até porque os presidentes Ronald Reagan e George Bush filho, por exemplo, reduziram impostos e aumentaram gastos públicos, enquanto Bill Clinton reduziu o déficit fiscal.

“Em vez disso, parece que a vantagem dos Democratas deriva principalmente de mais produtividade e eficácia no uso de recursos, um ambiente internacional mais favorável e talvez expectativas mais otimistas do consumidor sobre o futuro de curto prazo.” Trata-se de uma hipótese, mas para Frankel o debate não está encerrado: “Os dados surpreendentemente melhores sob os presidentes democratas continuam sendo um enigma”, escreve.

Um mistério ainda maior, porém, é por que o Partido Democrata ainda não utilizou tais dados para enfraquecer a narrativa dos republicanos sobre sua gestão superior da economia. No início de seu discurso, durante a recente Convenção Nacional do Partido Democrata em Chicago, o ex-presidente Clinton tocou no assunto brevemente: “Vocês vão ter dificuldade em acreditar nisto, mas eu verifiquei isso três vezes”, começou Clinton. “Desde o fim da Guerra Fria em 1989, os EUA criaram cerca de 51 milhões de novos empregos. Juro que verifiquei isso três vezes. Nem eu conseguia acreditar. Qual é o placar? Democratas 50 [milhões], Republicanos um [milhão]”, afirmação confirmada logo depois pelo portal de verificação Verifythis.

Mas a forma como Clinton introduziu o assunto – mostrando incredulidade em relação ao êxito de seu próprio partido – dá a noção da dificuldade dos democratas na sua comunicação com eleitores indecisos de se projetar como o partido mais competente na economia. Seria Kamala Harris e sua equipe de campanha capazes de corrigir essa narrativa agora?

Kamala Harris soube ressuscitar a campanha presidencial do Partido Democrata, mas várias pesquisas sugerem que os eleitores ainda confiam mais em Donald Trump do que nos democratas para gerir a maior economia do planeta. De fato, o Partido Republicano é visto muitas vezes como mais competente pelos eleitores, não apenas nos temas tipicamente prioritários da direita – como o combate ao crime e à imigração ilegal –, mas também na gestão da economia. Já os democratas são vistos geralmente como mais preparados em áreas socioambientais (educação, saúde, enfrentamento das desigualdades e das mudanças climáticas, combate à violência com armas de fogo).

A reputação do Partido Republicano de mais competente na gestão da economia é um tanto surpreendente por um simples motivo: desde a Segunda Guerra Mundial, o desempenho econômico na grande maioria das métricas – como crescimento do PIB e geração de emprego – tem sido pior, de forma bastante consistente, durante governos republicanos do que nas gestões democratas. Como mostra o economista Jeffrey Frankel, da Universidade de Harvard, o PIB dos EUA tem apresentado, desde então, uma taxa média de crescimento de 4,23% ao ano durante os governos democratas, contra 2,36% sob os republicanos, uma diferença notável de 1,87% (se incluídas as décadas anteriores à Segunda Guerra Mundial, a diferença é ainda maior).

A vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, observa o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, discursar durante um evento em Washington, Estados Unidos  Foto: Doug Mills/NYT

Nove das dez últimas recessões nos EUA começaram quando um republicano era presidente. O autor também aponta que, em cinco das 10 transições mais recentes de governo nas quais um democrata foi sucedido por um republicano, a taxa de crescimento caiu de um mandato para o outro. Nas outras cinco das transições nas quais um republicano foi sucedido por um democrata, a taxa de crescimento aumentou. Sem exceções. Não surpreende, portanto, que o índice S&P 500 tenha apresentado uma trajetória de maior crescimento durante governos democratas.

Cada partido teve sete presidentes desde o fim da Segunda Guerra Mundial, com 88 milhões de empregos criados pelos Democratas e 32 milhões pelos republicanos. Mesmo usando outras métricas, como produtividade ou crescimentos de salários reais (ajustados pela inflação), governos democratas têm legados melhores.

Perplexo com suas próprias descobertas, Frankel confessa que “até mesmo aqueles entre nós [economistas] que acreditamos que as políticas econômicas dos democratas são melhores, não conseguimos explicar essa grande diferença” – afinal, o crescimento do PIB e a criação de emprego dependem de numerosos fatores, vários dos quais estão fora do controle do presidente dos EUA.

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump participa de um comício em Glendale, Arizona  Foto: Rebecca Noble/AFP

Questões como a composição do Congresso, o crescimento da China, pandemias e guerras podem ter profundo impacto no cenário econômico. Mesmo assim, Frankel alerta que dificilmente se trata apenas de uma grande coincidência: “A probabilidade de que a diferença entre o desempenho econômico dos EUA entre governos democratas e republicanos tivesse ocorrido apenas por acaso são remotas (...): menos de uma em 100.”

Em busca de explicações para o fenômeno, Alan Blinder e Mark Watson, ambos da Universidade de Princeton, argumentam em um artigo da revista American Economic Review que “a resposta não é encontrada (...) em política monetária ou fiscal sistematicamente mais expansionista sob os democratas”. Até porque os presidentes Ronald Reagan e George Bush filho, por exemplo, reduziram impostos e aumentaram gastos públicos, enquanto Bill Clinton reduziu o déficit fiscal.

“Em vez disso, parece que a vantagem dos Democratas deriva principalmente de mais produtividade e eficácia no uso de recursos, um ambiente internacional mais favorável e talvez expectativas mais otimistas do consumidor sobre o futuro de curto prazo.” Trata-se de uma hipótese, mas para Frankel o debate não está encerrado: “Os dados surpreendentemente melhores sob os presidentes democratas continuam sendo um enigma”, escreve.

Um mistério ainda maior, porém, é por que o Partido Democrata ainda não utilizou tais dados para enfraquecer a narrativa dos republicanos sobre sua gestão superior da economia. No início de seu discurso, durante a recente Convenção Nacional do Partido Democrata em Chicago, o ex-presidente Clinton tocou no assunto brevemente: “Vocês vão ter dificuldade em acreditar nisto, mas eu verifiquei isso três vezes”, começou Clinton. “Desde o fim da Guerra Fria em 1989, os EUA criaram cerca de 51 milhões de novos empregos. Juro que verifiquei isso três vezes. Nem eu conseguia acreditar. Qual é o placar? Democratas 50 [milhões], Republicanos um [milhão]”, afirmação confirmada logo depois pelo portal de verificação Verifythis.

Mas a forma como Clinton introduziu o assunto – mostrando incredulidade em relação ao êxito de seu próprio partido – dá a noção da dificuldade dos democratas na sua comunicação com eleitores indecisos de se projetar como o partido mais competente na economia. Seria Kamala Harris e sua equipe de campanha capazes de corrigir essa narrativa agora?

Kamala Harris soube ressuscitar a campanha presidencial do Partido Democrata, mas várias pesquisas sugerem que os eleitores ainda confiam mais em Donald Trump do que nos democratas para gerir a maior economia do planeta. De fato, o Partido Republicano é visto muitas vezes como mais competente pelos eleitores, não apenas nos temas tipicamente prioritários da direita – como o combate ao crime e à imigração ilegal –, mas também na gestão da economia. Já os democratas são vistos geralmente como mais preparados em áreas socioambientais (educação, saúde, enfrentamento das desigualdades e das mudanças climáticas, combate à violência com armas de fogo).

A reputação do Partido Republicano de mais competente na gestão da economia é um tanto surpreendente por um simples motivo: desde a Segunda Guerra Mundial, o desempenho econômico na grande maioria das métricas – como crescimento do PIB e geração de emprego – tem sido pior, de forma bastante consistente, durante governos republicanos do que nas gestões democratas. Como mostra o economista Jeffrey Frankel, da Universidade de Harvard, o PIB dos EUA tem apresentado, desde então, uma taxa média de crescimento de 4,23% ao ano durante os governos democratas, contra 2,36% sob os republicanos, uma diferença notável de 1,87% (se incluídas as décadas anteriores à Segunda Guerra Mundial, a diferença é ainda maior).

A vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, observa o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, discursar durante um evento em Washington, Estados Unidos  Foto: Doug Mills/NYT

Nove das dez últimas recessões nos EUA começaram quando um republicano era presidente. O autor também aponta que, em cinco das 10 transições mais recentes de governo nas quais um democrata foi sucedido por um republicano, a taxa de crescimento caiu de um mandato para o outro. Nas outras cinco das transições nas quais um republicano foi sucedido por um democrata, a taxa de crescimento aumentou. Sem exceções. Não surpreende, portanto, que o índice S&P 500 tenha apresentado uma trajetória de maior crescimento durante governos democratas.

Cada partido teve sete presidentes desde o fim da Segunda Guerra Mundial, com 88 milhões de empregos criados pelos Democratas e 32 milhões pelos republicanos. Mesmo usando outras métricas, como produtividade ou crescimentos de salários reais (ajustados pela inflação), governos democratas têm legados melhores.

Perplexo com suas próprias descobertas, Frankel confessa que “até mesmo aqueles entre nós [economistas] que acreditamos que as políticas econômicas dos democratas são melhores, não conseguimos explicar essa grande diferença” – afinal, o crescimento do PIB e a criação de emprego dependem de numerosos fatores, vários dos quais estão fora do controle do presidente dos EUA.

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump participa de um comício em Glendale, Arizona  Foto: Rebecca Noble/AFP

Questões como a composição do Congresso, o crescimento da China, pandemias e guerras podem ter profundo impacto no cenário econômico. Mesmo assim, Frankel alerta que dificilmente se trata apenas de uma grande coincidência: “A probabilidade de que a diferença entre o desempenho econômico dos EUA entre governos democratas e republicanos tivesse ocorrido apenas por acaso são remotas (...): menos de uma em 100.”

Em busca de explicações para o fenômeno, Alan Blinder e Mark Watson, ambos da Universidade de Princeton, argumentam em um artigo da revista American Economic Review que “a resposta não é encontrada (...) em política monetária ou fiscal sistematicamente mais expansionista sob os democratas”. Até porque os presidentes Ronald Reagan e George Bush filho, por exemplo, reduziram impostos e aumentaram gastos públicos, enquanto Bill Clinton reduziu o déficit fiscal.

“Em vez disso, parece que a vantagem dos Democratas deriva principalmente de mais produtividade e eficácia no uso de recursos, um ambiente internacional mais favorável e talvez expectativas mais otimistas do consumidor sobre o futuro de curto prazo.” Trata-se de uma hipótese, mas para Frankel o debate não está encerrado: “Os dados surpreendentemente melhores sob os presidentes democratas continuam sendo um enigma”, escreve.

Um mistério ainda maior, porém, é por que o Partido Democrata ainda não utilizou tais dados para enfraquecer a narrativa dos republicanos sobre sua gestão superior da economia. No início de seu discurso, durante a recente Convenção Nacional do Partido Democrata em Chicago, o ex-presidente Clinton tocou no assunto brevemente: “Vocês vão ter dificuldade em acreditar nisto, mas eu verifiquei isso três vezes”, começou Clinton. “Desde o fim da Guerra Fria em 1989, os EUA criaram cerca de 51 milhões de novos empregos. Juro que verifiquei isso três vezes. Nem eu conseguia acreditar. Qual é o placar? Democratas 50 [milhões], Republicanos um [milhão]”, afirmação confirmada logo depois pelo portal de verificação Verifythis.

Mas a forma como Clinton introduziu o assunto – mostrando incredulidade em relação ao êxito de seu próprio partido – dá a noção da dificuldade dos democratas na sua comunicação com eleitores indecisos de se projetar como o partido mais competente na economia. Seria Kamala Harris e sua equipe de campanha capazes de corrigir essa narrativa agora?

Kamala Harris soube ressuscitar a campanha presidencial do Partido Democrata, mas várias pesquisas sugerem que os eleitores ainda confiam mais em Donald Trump do que nos democratas para gerir a maior economia do planeta. De fato, o Partido Republicano é visto muitas vezes como mais competente pelos eleitores, não apenas nos temas tipicamente prioritários da direita – como o combate ao crime e à imigração ilegal –, mas também na gestão da economia. Já os democratas são vistos geralmente como mais preparados em áreas socioambientais (educação, saúde, enfrentamento das desigualdades e das mudanças climáticas, combate à violência com armas de fogo).

A reputação do Partido Republicano de mais competente na gestão da economia é um tanto surpreendente por um simples motivo: desde a Segunda Guerra Mundial, o desempenho econômico na grande maioria das métricas – como crescimento do PIB e geração de emprego – tem sido pior, de forma bastante consistente, durante governos republicanos do que nas gestões democratas. Como mostra o economista Jeffrey Frankel, da Universidade de Harvard, o PIB dos EUA tem apresentado, desde então, uma taxa média de crescimento de 4,23% ao ano durante os governos democratas, contra 2,36% sob os republicanos, uma diferença notável de 1,87% (se incluídas as décadas anteriores à Segunda Guerra Mundial, a diferença é ainda maior).

A vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, observa o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, discursar durante um evento em Washington, Estados Unidos  Foto: Doug Mills/NYT

Nove das dez últimas recessões nos EUA começaram quando um republicano era presidente. O autor também aponta que, em cinco das 10 transições mais recentes de governo nas quais um democrata foi sucedido por um republicano, a taxa de crescimento caiu de um mandato para o outro. Nas outras cinco das transições nas quais um republicano foi sucedido por um democrata, a taxa de crescimento aumentou. Sem exceções. Não surpreende, portanto, que o índice S&P 500 tenha apresentado uma trajetória de maior crescimento durante governos democratas.

Cada partido teve sete presidentes desde o fim da Segunda Guerra Mundial, com 88 milhões de empregos criados pelos Democratas e 32 milhões pelos republicanos. Mesmo usando outras métricas, como produtividade ou crescimentos de salários reais (ajustados pela inflação), governos democratas têm legados melhores.

Perplexo com suas próprias descobertas, Frankel confessa que “até mesmo aqueles entre nós [economistas] que acreditamos que as políticas econômicas dos democratas são melhores, não conseguimos explicar essa grande diferença” – afinal, o crescimento do PIB e a criação de emprego dependem de numerosos fatores, vários dos quais estão fora do controle do presidente dos EUA.

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump participa de um comício em Glendale, Arizona  Foto: Rebecca Noble/AFP

Questões como a composição do Congresso, o crescimento da China, pandemias e guerras podem ter profundo impacto no cenário econômico. Mesmo assim, Frankel alerta que dificilmente se trata apenas de uma grande coincidência: “A probabilidade de que a diferença entre o desempenho econômico dos EUA entre governos democratas e republicanos tivesse ocorrido apenas por acaso são remotas (...): menos de uma em 100.”

Em busca de explicações para o fenômeno, Alan Blinder e Mark Watson, ambos da Universidade de Princeton, argumentam em um artigo da revista American Economic Review que “a resposta não é encontrada (...) em política monetária ou fiscal sistematicamente mais expansionista sob os democratas”. Até porque os presidentes Ronald Reagan e George Bush filho, por exemplo, reduziram impostos e aumentaram gastos públicos, enquanto Bill Clinton reduziu o déficit fiscal.

“Em vez disso, parece que a vantagem dos Democratas deriva principalmente de mais produtividade e eficácia no uso de recursos, um ambiente internacional mais favorável e talvez expectativas mais otimistas do consumidor sobre o futuro de curto prazo.” Trata-se de uma hipótese, mas para Frankel o debate não está encerrado: “Os dados surpreendentemente melhores sob os presidentes democratas continuam sendo um enigma”, escreve.

Um mistério ainda maior, porém, é por que o Partido Democrata ainda não utilizou tais dados para enfraquecer a narrativa dos republicanos sobre sua gestão superior da economia. No início de seu discurso, durante a recente Convenção Nacional do Partido Democrata em Chicago, o ex-presidente Clinton tocou no assunto brevemente: “Vocês vão ter dificuldade em acreditar nisto, mas eu verifiquei isso três vezes”, começou Clinton. “Desde o fim da Guerra Fria em 1989, os EUA criaram cerca de 51 milhões de novos empregos. Juro que verifiquei isso três vezes. Nem eu conseguia acreditar. Qual é o placar? Democratas 50 [milhões], Republicanos um [milhão]”, afirmação confirmada logo depois pelo portal de verificação Verifythis.

Mas a forma como Clinton introduziu o assunto – mostrando incredulidade em relação ao êxito de seu próprio partido – dá a noção da dificuldade dos democratas na sua comunicação com eleitores indecisos de se projetar como o partido mais competente na economia. Seria Kamala Harris e sua equipe de campanha capazes de corrigir essa narrativa agora?

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