Analista político e professor de Relações Internacionais da FGV-SP. Escreve quinzenalmente

Opinião|Por que Trump venceu? Quatro ‘is’ explicam sua vitória


Inflação, Imigração, Instabilidade global e Insegurança masculina explicam triunfo do candidato republicano

Por Oliver Stuenkel
Atualização:

Em vários sentidos, o triunfo de Donald Trump nas eleições presidenciais de 2024 é histórico. Será a primeira vez que um criminoso condenado, que se negou a aceitar sua derrota no pleito anterior, comandará a nação durante os próximos quatro anos. Será também a primeira vez desde 1897 que um presidente cumprirá dois mandatos não consecutivos.

Com 78 anos, Trump se tornará o presidente mais velho da história americana, superando o próprio Biden. Pode-se apontar para vários erros cometidos pelos democratas, acima de tudo a decisão tardia de Biden de desistir de sua campanha de reeleição, dando pouquíssimo tempo para Kamala Harris articular sua estratégia.

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Porém, o sucesso de Trump reflete um contexto social e econômico mais amplo que transcende o campo político. Os 4 is – Inflação, Imigração, Instabilidade global e Insegurança masculina – ajudam a explicar o contexto que favoreceu o retorno do republicano ao poder.

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, discursa em Palm Beach, Flórida  Foto: Alex Brandon/AP

Mesmo com uma recuperação econômica invejável depois da pandemia de COVID-19, a inflação elevada, até recentemente, teve papel central nas insatisfações do eleitorado, impactando a classe trabalhadora. Com o aumento dos preços de itens essenciais, muitos americanos sentem que seu poder de compra está sendo corroído.

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Isso impacta sobretudo famílias de baixa e média renda, que viram suas contas mensais se tornarem mais apertadas. A sensação de que a administração atual falhou em conter essa erosão econômica favoreceu Trump, que se apresentou como o candidato capaz de restaurar a “saúde” econômica dos EUA.

Em segundo lugar, a questão da imigração voltou a ser explorada por Trump de forma contundente, e a incapacidade de Biden de estabilizar a situação na fronteira sulista pode ser vista como um de seus maiores fracassos. Em 2023, estima-se que o número de migrantes detidos na fronteira sul tenha ultrapassado 2 milhões, um recorde histórico que gerou forte reação nos estados fronteiriços e levou governadores a pressionarem o governo federal por medidas mais severas.

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, aponta para a plateia em um comício em Palm Beach, Flórida  Foto: Julia Demaree Nikhinson/AP
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Trump, é preciso lembrar, mandou o Partido Republicano bloquear uma proposta de Biden de estabilizar a situação em maio deste ano para prorrogar a crise, mas isso dificilmente isenta Biden. Muitos eleitores conservadores percebem a imigração como uma ameaça tanto à identidade americana quanto, em menor grau, à economia. Prometendo uma política imigratória rígida, Trump conseguiu mobilizar aqueles que sentem que a imigração exacerbou a competição por empregos e recursos sociais.

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Em terceiro, o argumento de Trump de que o mundo hoje está mais instável do que quatro anos atrás provavelmente teve um impacto. Seria simplista, é claro, acreditar que todos os conflitos possam ser explicados pela política externa de Biden – Putin, afinal, começou a guerra na Ucrânia em 2014, e nunca escondeu seu desejo de eventualmente controlar todo o país.

Da mesma forma, Trump não soube encerrar o conflito no Afeganistão. Contudo, os custos financeiros e o envio contínuo de ajuda militar à Ucrânia dividiram a opinião pública nos EUA. Pesquisas indicam que a metade dos americanos (e a maioria dos eleitores republicanos) acreditam que os EUA não têm a responsabilidade de defender a Ucrânia contra a Rússia. A situação permitiu que Trump se apresentasse como um líder mais assertivo e menos inclinado a intervenções externas onerosas, ecoando um sentimento de que os EUA devem focar em seus interesses e distanciar-se de conflitos que não beneficiam o país diretamente.

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Em quarto, Trump soube dialogar melhor com uma parcela do eleitorado masculino, que enxerga o movimento de igualdade de gênero como ameaça. Essa dimensão emocional e identitária foi fundamental para engajar um eleitorado que vê nele um símbolo de resistência contra as atuais mudanças sociais. Desde a queda da expectativa de vida masculina, a perda de empregos tipicamente “masculinos” em função da automatização e da globalização até o pior desempenho deles no ensino médio e universitário, há ampla evidência de que os homens nos EUA estão em apuros, tema que a esquerda americana deixou de priorizar, possivelmente porque viu o tema como antagônico à luta pelos direitos das mulheres.

Poderia se agregar um quinto “i” – o do sentimento anti-incumbência que tem se manifestado em eleições globais, ou seja, a tendência global de votar contra partidos governistas. Em democracias de diversos países, houve rejeição aos governantes em exercício. Nos Estados Unidos, Trump soube canalizar esse sentimento, apresentando-se como um “outsider” – apesar de sua longa carreira política – em oposição ao establishment. Em tempos de descrença nos governos, Trump representa a busca de muitos americanos por uma mudança drástica.

Em vários sentidos, o triunfo de Donald Trump nas eleições presidenciais de 2024 é histórico. Será a primeira vez que um criminoso condenado, que se negou a aceitar sua derrota no pleito anterior, comandará a nação durante os próximos quatro anos. Será também a primeira vez desde 1897 que um presidente cumprirá dois mandatos não consecutivos.

Com 78 anos, Trump se tornará o presidente mais velho da história americana, superando o próprio Biden. Pode-se apontar para vários erros cometidos pelos democratas, acima de tudo a decisão tardia de Biden de desistir de sua campanha de reeleição, dando pouquíssimo tempo para Kamala Harris articular sua estratégia.

Porém, o sucesso de Trump reflete um contexto social e econômico mais amplo que transcende o campo político. Os 4 is – Inflação, Imigração, Instabilidade global e Insegurança masculina – ajudam a explicar o contexto que favoreceu o retorno do republicano ao poder.

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, discursa em Palm Beach, Flórida  Foto: Alex Brandon/AP

Mesmo com uma recuperação econômica invejável depois da pandemia de COVID-19, a inflação elevada, até recentemente, teve papel central nas insatisfações do eleitorado, impactando a classe trabalhadora. Com o aumento dos preços de itens essenciais, muitos americanos sentem que seu poder de compra está sendo corroído.

Isso impacta sobretudo famílias de baixa e média renda, que viram suas contas mensais se tornarem mais apertadas. A sensação de que a administração atual falhou em conter essa erosão econômica favoreceu Trump, que se apresentou como o candidato capaz de restaurar a “saúde” econômica dos EUA.

Em segundo lugar, a questão da imigração voltou a ser explorada por Trump de forma contundente, e a incapacidade de Biden de estabilizar a situação na fronteira sulista pode ser vista como um de seus maiores fracassos. Em 2023, estima-se que o número de migrantes detidos na fronteira sul tenha ultrapassado 2 milhões, um recorde histórico que gerou forte reação nos estados fronteiriços e levou governadores a pressionarem o governo federal por medidas mais severas.

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, aponta para a plateia em um comício em Palm Beach, Flórida  Foto: Julia Demaree Nikhinson/AP

Trump, é preciso lembrar, mandou o Partido Republicano bloquear uma proposta de Biden de estabilizar a situação em maio deste ano para prorrogar a crise, mas isso dificilmente isenta Biden. Muitos eleitores conservadores percebem a imigração como uma ameaça tanto à identidade americana quanto, em menor grau, à economia. Prometendo uma política imigratória rígida, Trump conseguiu mobilizar aqueles que sentem que a imigração exacerbou a competição por empregos e recursos sociais.

Em terceiro, o argumento de Trump de que o mundo hoje está mais instável do que quatro anos atrás provavelmente teve um impacto. Seria simplista, é claro, acreditar que todos os conflitos possam ser explicados pela política externa de Biden – Putin, afinal, começou a guerra na Ucrânia em 2014, e nunca escondeu seu desejo de eventualmente controlar todo o país.

Da mesma forma, Trump não soube encerrar o conflito no Afeganistão. Contudo, os custos financeiros e o envio contínuo de ajuda militar à Ucrânia dividiram a opinião pública nos EUA. Pesquisas indicam que a metade dos americanos (e a maioria dos eleitores republicanos) acreditam que os EUA não têm a responsabilidade de defender a Ucrânia contra a Rússia. A situação permitiu que Trump se apresentasse como um líder mais assertivo e menos inclinado a intervenções externas onerosas, ecoando um sentimento de que os EUA devem focar em seus interesses e distanciar-se de conflitos que não beneficiam o país diretamente.

Em quarto, Trump soube dialogar melhor com uma parcela do eleitorado masculino, que enxerga o movimento de igualdade de gênero como ameaça. Essa dimensão emocional e identitária foi fundamental para engajar um eleitorado que vê nele um símbolo de resistência contra as atuais mudanças sociais. Desde a queda da expectativa de vida masculina, a perda de empregos tipicamente “masculinos” em função da automatização e da globalização até o pior desempenho deles no ensino médio e universitário, há ampla evidência de que os homens nos EUA estão em apuros, tema que a esquerda americana deixou de priorizar, possivelmente porque viu o tema como antagônico à luta pelos direitos das mulheres.

Poderia se agregar um quinto “i” – o do sentimento anti-incumbência que tem se manifestado em eleições globais, ou seja, a tendência global de votar contra partidos governistas. Em democracias de diversos países, houve rejeição aos governantes em exercício. Nos Estados Unidos, Trump soube canalizar esse sentimento, apresentando-se como um “outsider” – apesar de sua longa carreira política – em oposição ao establishment. Em tempos de descrença nos governos, Trump representa a busca de muitos americanos por uma mudança drástica.

Em vários sentidos, o triunfo de Donald Trump nas eleições presidenciais de 2024 é histórico. Será a primeira vez que um criminoso condenado, que se negou a aceitar sua derrota no pleito anterior, comandará a nação durante os próximos quatro anos. Será também a primeira vez desde 1897 que um presidente cumprirá dois mandatos não consecutivos.

Com 78 anos, Trump se tornará o presidente mais velho da história americana, superando o próprio Biden. Pode-se apontar para vários erros cometidos pelos democratas, acima de tudo a decisão tardia de Biden de desistir de sua campanha de reeleição, dando pouquíssimo tempo para Kamala Harris articular sua estratégia.

Porém, o sucesso de Trump reflete um contexto social e econômico mais amplo que transcende o campo político. Os 4 is – Inflação, Imigração, Instabilidade global e Insegurança masculina – ajudam a explicar o contexto que favoreceu o retorno do republicano ao poder.

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, discursa em Palm Beach, Flórida  Foto: Alex Brandon/AP

Mesmo com uma recuperação econômica invejável depois da pandemia de COVID-19, a inflação elevada, até recentemente, teve papel central nas insatisfações do eleitorado, impactando a classe trabalhadora. Com o aumento dos preços de itens essenciais, muitos americanos sentem que seu poder de compra está sendo corroído.

Isso impacta sobretudo famílias de baixa e média renda, que viram suas contas mensais se tornarem mais apertadas. A sensação de que a administração atual falhou em conter essa erosão econômica favoreceu Trump, que se apresentou como o candidato capaz de restaurar a “saúde” econômica dos EUA.

Em segundo lugar, a questão da imigração voltou a ser explorada por Trump de forma contundente, e a incapacidade de Biden de estabilizar a situação na fronteira sulista pode ser vista como um de seus maiores fracassos. Em 2023, estima-se que o número de migrantes detidos na fronteira sul tenha ultrapassado 2 milhões, um recorde histórico que gerou forte reação nos estados fronteiriços e levou governadores a pressionarem o governo federal por medidas mais severas.

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, aponta para a plateia em um comício em Palm Beach, Flórida  Foto: Julia Demaree Nikhinson/AP

Trump, é preciso lembrar, mandou o Partido Republicano bloquear uma proposta de Biden de estabilizar a situação em maio deste ano para prorrogar a crise, mas isso dificilmente isenta Biden. Muitos eleitores conservadores percebem a imigração como uma ameaça tanto à identidade americana quanto, em menor grau, à economia. Prometendo uma política imigratória rígida, Trump conseguiu mobilizar aqueles que sentem que a imigração exacerbou a competição por empregos e recursos sociais.

Em terceiro, o argumento de Trump de que o mundo hoje está mais instável do que quatro anos atrás provavelmente teve um impacto. Seria simplista, é claro, acreditar que todos os conflitos possam ser explicados pela política externa de Biden – Putin, afinal, começou a guerra na Ucrânia em 2014, e nunca escondeu seu desejo de eventualmente controlar todo o país.

Da mesma forma, Trump não soube encerrar o conflito no Afeganistão. Contudo, os custos financeiros e o envio contínuo de ajuda militar à Ucrânia dividiram a opinião pública nos EUA. Pesquisas indicam que a metade dos americanos (e a maioria dos eleitores republicanos) acreditam que os EUA não têm a responsabilidade de defender a Ucrânia contra a Rússia. A situação permitiu que Trump se apresentasse como um líder mais assertivo e menos inclinado a intervenções externas onerosas, ecoando um sentimento de que os EUA devem focar em seus interesses e distanciar-se de conflitos que não beneficiam o país diretamente.

Em quarto, Trump soube dialogar melhor com uma parcela do eleitorado masculino, que enxerga o movimento de igualdade de gênero como ameaça. Essa dimensão emocional e identitária foi fundamental para engajar um eleitorado que vê nele um símbolo de resistência contra as atuais mudanças sociais. Desde a queda da expectativa de vida masculina, a perda de empregos tipicamente “masculinos” em função da automatização e da globalização até o pior desempenho deles no ensino médio e universitário, há ampla evidência de que os homens nos EUA estão em apuros, tema que a esquerda americana deixou de priorizar, possivelmente porque viu o tema como antagônico à luta pelos direitos das mulheres.

Poderia se agregar um quinto “i” – o do sentimento anti-incumbência que tem se manifestado em eleições globais, ou seja, a tendência global de votar contra partidos governistas. Em democracias de diversos países, houve rejeição aos governantes em exercício. Nos Estados Unidos, Trump soube canalizar esse sentimento, apresentando-se como um “outsider” – apesar de sua longa carreira política – em oposição ao establishment. Em tempos de descrença nos governos, Trump representa a busca de muitos americanos por uma mudança drástica.

Opinião por Oliver Stuenkel

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