Onda de nacionalismo hindu divide ainda mais a Índia


Minorias locais temem reeleição do primeiro-ministro Narendra Modi

Por Jeffrey Gettleman, Kai Schultz, Suhasini Raj e Hari Kumar

NOVA DÉLI - No mercado de máquinas e ferramentas da Cidade Antiga (de Nova Déli), os muçulmanos dominam as estandes. Mas de noite, eles temem cada vez andar sozinhos. “Eu poderia ser linchado neste exato momento, e ninguém poderia fazer nada”, disse Abdul Adnan, um muçulmano que vende brocas para perfuração. “O meu governo sequer me considera indiano. Como é possível, se os meus ancestrais vivem aqui há centenas de anos?”

Quando Narendra Modi, o primeiro-ministro da Índia, foi eleito em 2014. Suas promessas de modernizar a economia, combater a corrupção e afirmar o papel do país no mundo receberam amplo apoio. Este programa secular sempre esteve ligado às raízes de Modi no movimento político hindu conservador que luta paratornar a Índia um Estado hindu. Muitos dos seus partidários moderados esperavam que ele rejeitasse o sectarismo.

Estudantes hindus em Prayagraj, que até pouco tempo atrás era chamada Allahabad, seu nome muçulmano tradicional. Foto: Bernat Armangue/Associated Press
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No entanto, nos últimos cinco anos, Modi vem sendo visto em grande parte como um líder que avançou no cumprimento de suas promessas, cujo partido, Bhariya Janata, BJP, difundiu uma filosofia que enfatiza a polarização mais profunda. Agora, em plenas eleições nacionais, e com as pesquisas de opinião indicando que Modi voltará ao poder, as pessoas aqui estão convencidas de que o programa segundo o qual os hindus vêm em primeiro lugar só deverá acelerar.

Poucos meses depois das eleições de 2014, multidões de hindus começaram a linchar muçulmanos e pessoas de baixa casta suspeitas de abater vacas, um animal sagrado no hinduísmo. E os discursos de ódio passaram a proliferar. Organismos oficiais logo trataram de reescrever os livros de história, eliminando as partes referentes aos governantes muçulmanos.

Prioridades extremistas hindus foram promovidas, como uma iniciativapara localizar um rio místico mencionado nas escrituras hindus. Os críticos afirmam que a busca na realidade usava dinheiro público para estudar as sereias. Entre os ativistas indianos existe o consenso de que, no governo Modi, a sociedade se tornou mais dividida entre hindus e muçulmanos, entre as castas superiores e as inferiores, entre homens e mulheres.

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“Eles são o que hoje chamamos de fascistas”, afirmou Aditya Mukherjee, um historiador aposentado, referindo-se a Modi e seus aliados. Embora a população da Índia seja 80% hindu, os fundadores do país moderno resistiram a estabelecer um estado religioso. Mas com a popularidade de Modi, a pergunta cada vez mais frequente é quanto esta situação irá demorar. Muitos indianos de diferentes posições políticas estão cansados da corrupção do principal partido da oposição, o Congresso Nacional Indiano, e decidiram apoiar Modi.

Segundo os seus partidários, o primeiro-ministro e aliados estão simplesmente restaurando o hinduísmo para que recupere o seu lugar de direito no cerne da sociedade indiana. Muitos hindus de classe média e alta estão descontentes com as chamadas políticas de ação afirmativa (que garantem a igualdade de oportunidade) há muito implantadas para ajudar as castas inferiores, e das leis especiais que permitem que os muçulmanos da Índia sigam as tradições islâmicas em questões legais da família.

Modi, 68, subiu ao poder galgando os degraus de uma organização hindu de linha dura. Em 2002, como primeiro-ministro do Estado de Gujarat, foi criticado por não se esforçar para acabar com a violência entre hindus e muçulmanos que matou mais de mil pessoas, muçulmanos em sua maioria. Raramente, ele faz abertas afirmações de cunho religioso, ao contrário de muitos do seu partido. Mas recentemente, vem dando preferência a temas nacionalistas hindus.

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A minoria muçulmana da Índia - cerca de 15% da população - sofreu um verdadeiro golpe nas eleições de 2014. A sua presença no Parlamento caiu para apenas 22 cadeiras, ou apenas 4% do total disponível, sua representação mais baixa em 50 anos. Começaram a aparecer bandos itinerantes que se proclamam protetores de vacas, que tomavam como alvo muçulmanos ou açougueiros da classe baixa e comerciantes de gado. Dezenas deles foram espancados até a morte. Membros de destaque do partido se uniram em defesa de pessoas acusadas dos ataques.

Na grande maioria dos casos, os suspeitos escaparam da punição. Pessoas de esquerda e defensores dos direitos humanos estão se mobilizando, no escasso tempo que resta, para se oporem a Modi. Um grupo de atores e realizadores famosos divulgou recentemente uma carta aberta instando os eleitores a votarem contra o BJP, acusando o partido de tentar dividir o país.

Segundo alguns analistas, a mídia indiana está sendo pressionada por certos funcionários a evitar determinados assuntos. Em julho de 2017, “The Hindustan Times”, um dos maiores jornais de língua inglesa da Índia, lançou a campanha do Monitor do Ódio, um banco de dados para atos de violência baseado na religião, casta ou outros pontos fundamentais.

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Três meses mais tarde, a campanha acabou sem nenhuma explicação. Mais ou menos ao mesmo tempo, o editor chefe da publicação foi forçado a demitir-se. “Quanto mais eles permanecerem no poder, mais profunda será a destruição das nossas instituições”, afirmou o historiador Mukherjee. “Os danos infligidos não serão sentidos apenas no curto prazo, mas a um prazo muito longo”. / Ayesha Venkataraman contribuiu para a reportagem.

NOVA DÉLI - No mercado de máquinas e ferramentas da Cidade Antiga (de Nova Déli), os muçulmanos dominam as estandes. Mas de noite, eles temem cada vez andar sozinhos. “Eu poderia ser linchado neste exato momento, e ninguém poderia fazer nada”, disse Abdul Adnan, um muçulmano que vende brocas para perfuração. “O meu governo sequer me considera indiano. Como é possível, se os meus ancestrais vivem aqui há centenas de anos?”

Quando Narendra Modi, o primeiro-ministro da Índia, foi eleito em 2014. Suas promessas de modernizar a economia, combater a corrupção e afirmar o papel do país no mundo receberam amplo apoio. Este programa secular sempre esteve ligado às raízes de Modi no movimento político hindu conservador que luta paratornar a Índia um Estado hindu. Muitos dos seus partidários moderados esperavam que ele rejeitasse o sectarismo.

Estudantes hindus em Prayagraj, que até pouco tempo atrás era chamada Allahabad, seu nome muçulmano tradicional. Foto: Bernat Armangue/Associated Press

No entanto, nos últimos cinco anos, Modi vem sendo visto em grande parte como um líder que avançou no cumprimento de suas promessas, cujo partido, Bhariya Janata, BJP, difundiu uma filosofia que enfatiza a polarização mais profunda. Agora, em plenas eleições nacionais, e com as pesquisas de opinião indicando que Modi voltará ao poder, as pessoas aqui estão convencidas de que o programa segundo o qual os hindus vêm em primeiro lugar só deverá acelerar.

Poucos meses depois das eleições de 2014, multidões de hindus começaram a linchar muçulmanos e pessoas de baixa casta suspeitas de abater vacas, um animal sagrado no hinduísmo. E os discursos de ódio passaram a proliferar. Organismos oficiais logo trataram de reescrever os livros de história, eliminando as partes referentes aos governantes muçulmanos.

Prioridades extremistas hindus foram promovidas, como uma iniciativapara localizar um rio místico mencionado nas escrituras hindus. Os críticos afirmam que a busca na realidade usava dinheiro público para estudar as sereias. Entre os ativistas indianos existe o consenso de que, no governo Modi, a sociedade se tornou mais dividida entre hindus e muçulmanos, entre as castas superiores e as inferiores, entre homens e mulheres.

“Eles são o que hoje chamamos de fascistas”, afirmou Aditya Mukherjee, um historiador aposentado, referindo-se a Modi e seus aliados. Embora a população da Índia seja 80% hindu, os fundadores do país moderno resistiram a estabelecer um estado religioso. Mas com a popularidade de Modi, a pergunta cada vez mais frequente é quanto esta situação irá demorar. Muitos indianos de diferentes posições políticas estão cansados da corrupção do principal partido da oposição, o Congresso Nacional Indiano, e decidiram apoiar Modi.

Segundo os seus partidários, o primeiro-ministro e aliados estão simplesmente restaurando o hinduísmo para que recupere o seu lugar de direito no cerne da sociedade indiana. Muitos hindus de classe média e alta estão descontentes com as chamadas políticas de ação afirmativa (que garantem a igualdade de oportunidade) há muito implantadas para ajudar as castas inferiores, e das leis especiais que permitem que os muçulmanos da Índia sigam as tradições islâmicas em questões legais da família.

Modi, 68, subiu ao poder galgando os degraus de uma organização hindu de linha dura. Em 2002, como primeiro-ministro do Estado de Gujarat, foi criticado por não se esforçar para acabar com a violência entre hindus e muçulmanos que matou mais de mil pessoas, muçulmanos em sua maioria. Raramente, ele faz abertas afirmações de cunho religioso, ao contrário de muitos do seu partido. Mas recentemente, vem dando preferência a temas nacionalistas hindus.

A minoria muçulmana da Índia - cerca de 15% da população - sofreu um verdadeiro golpe nas eleições de 2014. A sua presença no Parlamento caiu para apenas 22 cadeiras, ou apenas 4% do total disponível, sua representação mais baixa em 50 anos. Começaram a aparecer bandos itinerantes que se proclamam protetores de vacas, que tomavam como alvo muçulmanos ou açougueiros da classe baixa e comerciantes de gado. Dezenas deles foram espancados até a morte. Membros de destaque do partido se uniram em defesa de pessoas acusadas dos ataques.

Na grande maioria dos casos, os suspeitos escaparam da punição. Pessoas de esquerda e defensores dos direitos humanos estão se mobilizando, no escasso tempo que resta, para se oporem a Modi. Um grupo de atores e realizadores famosos divulgou recentemente uma carta aberta instando os eleitores a votarem contra o BJP, acusando o partido de tentar dividir o país.

Segundo alguns analistas, a mídia indiana está sendo pressionada por certos funcionários a evitar determinados assuntos. Em julho de 2017, “The Hindustan Times”, um dos maiores jornais de língua inglesa da Índia, lançou a campanha do Monitor do Ódio, um banco de dados para atos de violência baseado na religião, casta ou outros pontos fundamentais.

Três meses mais tarde, a campanha acabou sem nenhuma explicação. Mais ou menos ao mesmo tempo, o editor chefe da publicação foi forçado a demitir-se. “Quanto mais eles permanecerem no poder, mais profunda será a destruição das nossas instituições”, afirmou o historiador Mukherjee. “Os danos infligidos não serão sentidos apenas no curto prazo, mas a um prazo muito longo”. / Ayesha Venkataraman contribuiu para a reportagem.

NOVA DÉLI - No mercado de máquinas e ferramentas da Cidade Antiga (de Nova Déli), os muçulmanos dominam as estandes. Mas de noite, eles temem cada vez andar sozinhos. “Eu poderia ser linchado neste exato momento, e ninguém poderia fazer nada”, disse Abdul Adnan, um muçulmano que vende brocas para perfuração. “O meu governo sequer me considera indiano. Como é possível, se os meus ancestrais vivem aqui há centenas de anos?”

Quando Narendra Modi, o primeiro-ministro da Índia, foi eleito em 2014. Suas promessas de modernizar a economia, combater a corrupção e afirmar o papel do país no mundo receberam amplo apoio. Este programa secular sempre esteve ligado às raízes de Modi no movimento político hindu conservador que luta paratornar a Índia um Estado hindu. Muitos dos seus partidários moderados esperavam que ele rejeitasse o sectarismo.

Estudantes hindus em Prayagraj, que até pouco tempo atrás era chamada Allahabad, seu nome muçulmano tradicional. Foto: Bernat Armangue/Associated Press

No entanto, nos últimos cinco anos, Modi vem sendo visto em grande parte como um líder que avançou no cumprimento de suas promessas, cujo partido, Bhariya Janata, BJP, difundiu uma filosofia que enfatiza a polarização mais profunda. Agora, em plenas eleições nacionais, e com as pesquisas de opinião indicando que Modi voltará ao poder, as pessoas aqui estão convencidas de que o programa segundo o qual os hindus vêm em primeiro lugar só deverá acelerar.

Poucos meses depois das eleições de 2014, multidões de hindus começaram a linchar muçulmanos e pessoas de baixa casta suspeitas de abater vacas, um animal sagrado no hinduísmo. E os discursos de ódio passaram a proliferar. Organismos oficiais logo trataram de reescrever os livros de história, eliminando as partes referentes aos governantes muçulmanos.

Prioridades extremistas hindus foram promovidas, como uma iniciativapara localizar um rio místico mencionado nas escrituras hindus. Os críticos afirmam que a busca na realidade usava dinheiro público para estudar as sereias. Entre os ativistas indianos existe o consenso de que, no governo Modi, a sociedade se tornou mais dividida entre hindus e muçulmanos, entre as castas superiores e as inferiores, entre homens e mulheres.

“Eles são o que hoje chamamos de fascistas”, afirmou Aditya Mukherjee, um historiador aposentado, referindo-se a Modi e seus aliados. Embora a população da Índia seja 80% hindu, os fundadores do país moderno resistiram a estabelecer um estado religioso. Mas com a popularidade de Modi, a pergunta cada vez mais frequente é quanto esta situação irá demorar. Muitos indianos de diferentes posições políticas estão cansados da corrupção do principal partido da oposição, o Congresso Nacional Indiano, e decidiram apoiar Modi.

Segundo os seus partidários, o primeiro-ministro e aliados estão simplesmente restaurando o hinduísmo para que recupere o seu lugar de direito no cerne da sociedade indiana. Muitos hindus de classe média e alta estão descontentes com as chamadas políticas de ação afirmativa (que garantem a igualdade de oportunidade) há muito implantadas para ajudar as castas inferiores, e das leis especiais que permitem que os muçulmanos da Índia sigam as tradições islâmicas em questões legais da família.

Modi, 68, subiu ao poder galgando os degraus de uma organização hindu de linha dura. Em 2002, como primeiro-ministro do Estado de Gujarat, foi criticado por não se esforçar para acabar com a violência entre hindus e muçulmanos que matou mais de mil pessoas, muçulmanos em sua maioria. Raramente, ele faz abertas afirmações de cunho religioso, ao contrário de muitos do seu partido. Mas recentemente, vem dando preferência a temas nacionalistas hindus.

A minoria muçulmana da Índia - cerca de 15% da população - sofreu um verdadeiro golpe nas eleições de 2014. A sua presença no Parlamento caiu para apenas 22 cadeiras, ou apenas 4% do total disponível, sua representação mais baixa em 50 anos. Começaram a aparecer bandos itinerantes que se proclamam protetores de vacas, que tomavam como alvo muçulmanos ou açougueiros da classe baixa e comerciantes de gado. Dezenas deles foram espancados até a morte. Membros de destaque do partido se uniram em defesa de pessoas acusadas dos ataques.

Na grande maioria dos casos, os suspeitos escaparam da punição. Pessoas de esquerda e defensores dos direitos humanos estão se mobilizando, no escasso tempo que resta, para se oporem a Modi. Um grupo de atores e realizadores famosos divulgou recentemente uma carta aberta instando os eleitores a votarem contra o BJP, acusando o partido de tentar dividir o país.

Segundo alguns analistas, a mídia indiana está sendo pressionada por certos funcionários a evitar determinados assuntos. Em julho de 2017, “The Hindustan Times”, um dos maiores jornais de língua inglesa da Índia, lançou a campanha do Monitor do Ódio, um banco de dados para atos de violência baseado na religião, casta ou outros pontos fundamentais.

Três meses mais tarde, a campanha acabou sem nenhuma explicação. Mais ou menos ao mesmo tempo, o editor chefe da publicação foi forçado a demitir-se. “Quanto mais eles permanecerem no poder, mais profunda será a destruição das nossas instituições”, afirmou o historiador Mukherjee. “Os danos infligidos não serão sentidos apenas no curto prazo, mas a um prazo muito longo”. / Ayesha Venkataraman contribuiu para a reportagem.

NOVA DÉLI - No mercado de máquinas e ferramentas da Cidade Antiga (de Nova Déli), os muçulmanos dominam as estandes. Mas de noite, eles temem cada vez andar sozinhos. “Eu poderia ser linchado neste exato momento, e ninguém poderia fazer nada”, disse Abdul Adnan, um muçulmano que vende brocas para perfuração. “O meu governo sequer me considera indiano. Como é possível, se os meus ancestrais vivem aqui há centenas de anos?”

Quando Narendra Modi, o primeiro-ministro da Índia, foi eleito em 2014. Suas promessas de modernizar a economia, combater a corrupção e afirmar o papel do país no mundo receberam amplo apoio. Este programa secular sempre esteve ligado às raízes de Modi no movimento político hindu conservador que luta paratornar a Índia um Estado hindu. Muitos dos seus partidários moderados esperavam que ele rejeitasse o sectarismo.

Estudantes hindus em Prayagraj, que até pouco tempo atrás era chamada Allahabad, seu nome muçulmano tradicional. Foto: Bernat Armangue/Associated Press

No entanto, nos últimos cinco anos, Modi vem sendo visto em grande parte como um líder que avançou no cumprimento de suas promessas, cujo partido, Bhariya Janata, BJP, difundiu uma filosofia que enfatiza a polarização mais profunda. Agora, em plenas eleições nacionais, e com as pesquisas de opinião indicando que Modi voltará ao poder, as pessoas aqui estão convencidas de que o programa segundo o qual os hindus vêm em primeiro lugar só deverá acelerar.

Poucos meses depois das eleições de 2014, multidões de hindus começaram a linchar muçulmanos e pessoas de baixa casta suspeitas de abater vacas, um animal sagrado no hinduísmo. E os discursos de ódio passaram a proliferar. Organismos oficiais logo trataram de reescrever os livros de história, eliminando as partes referentes aos governantes muçulmanos.

Prioridades extremistas hindus foram promovidas, como uma iniciativapara localizar um rio místico mencionado nas escrituras hindus. Os críticos afirmam que a busca na realidade usava dinheiro público para estudar as sereias. Entre os ativistas indianos existe o consenso de que, no governo Modi, a sociedade se tornou mais dividida entre hindus e muçulmanos, entre as castas superiores e as inferiores, entre homens e mulheres.

“Eles são o que hoje chamamos de fascistas”, afirmou Aditya Mukherjee, um historiador aposentado, referindo-se a Modi e seus aliados. Embora a população da Índia seja 80% hindu, os fundadores do país moderno resistiram a estabelecer um estado religioso. Mas com a popularidade de Modi, a pergunta cada vez mais frequente é quanto esta situação irá demorar. Muitos indianos de diferentes posições políticas estão cansados da corrupção do principal partido da oposição, o Congresso Nacional Indiano, e decidiram apoiar Modi.

Segundo os seus partidários, o primeiro-ministro e aliados estão simplesmente restaurando o hinduísmo para que recupere o seu lugar de direito no cerne da sociedade indiana. Muitos hindus de classe média e alta estão descontentes com as chamadas políticas de ação afirmativa (que garantem a igualdade de oportunidade) há muito implantadas para ajudar as castas inferiores, e das leis especiais que permitem que os muçulmanos da Índia sigam as tradições islâmicas em questões legais da família.

Modi, 68, subiu ao poder galgando os degraus de uma organização hindu de linha dura. Em 2002, como primeiro-ministro do Estado de Gujarat, foi criticado por não se esforçar para acabar com a violência entre hindus e muçulmanos que matou mais de mil pessoas, muçulmanos em sua maioria. Raramente, ele faz abertas afirmações de cunho religioso, ao contrário de muitos do seu partido. Mas recentemente, vem dando preferência a temas nacionalistas hindus.

A minoria muçulmana da Índia - cerca de 15% da população - sofreu um verdadeiro golpe nas eleições de 2014. A sua presença no Parlamento caiu para apenas 22 cadeiras, ou apenas 4% do total disponível, sua representação mais baixa em 50 anos. Começaram a aparecer bandos itinerantes que se proclamam protetores de vacas, que tomavam como alvo muçulmanos ou açougueiros da classe baixa e comerciantes de gado. Dezenas deles foram espancados até a morte. Membros de destaque do partido se uniram em defesa de pessoas acusadas dos ataques.

Na grande maioria dos casos, os suspeitos escaparam da punição. Pessoas de esquerda e defensores dos direitos humanos estão se mobilizando, no escasso tempo que resta, para se oporem a Modi. Um grupo de atores e realizadores famosos divulgou recentemente uma carta aberta instando os eleitores a votarem contra o BJP, acusando o partido de tentar dividir o país.

Segundo alguns analistas, a mídia indiana está sendo pressionada por certos funcionários a evitar determinados assuntos. Em julho de 2017, “The Hindustan Times”, um dos maiores jornais de língua inglesa da Índia, lançou a campanha do Monitor do Ódio, um banco de dados para atos de violência baseado na religião, casta ou outros pontos fundamentais.

Três meses mais tarde, a campanha acabou sem nenhuma explicação. Mais ou menos ao mesmo tempo, o editor chefe da publicação foi forçado a demitir-se. “Quanto mais eles permanecerem no poder, mais profunda será a destruição das nossas instituições”, afirmou o historiador Mukherjee. “Os danos infligidos não serão sentidos apenas no curto prazo, mas a um prazo muito longo”. / Ayesha Venkataraman contribuiu para a reportagem.

NOVA DÉLI - No mercado de máquinas e ferramentas da Cidade Antiga (de Nova Déli), os muçulmanos dominam as estandes. Mas de noite, eles temem cada vez andar sozinhos. “Eu poderia ser linchado neste exato momento, e ninguém poderia fazer nada”, disse Abdul Adnan, um muçulmano que vende brocas para perfuração. “O meu governo sequer me considera indiano. Como é possível, se os meus ancestrais vivem aqui há centenas de anos?”

Quando Narendra Modi, o primeiro-ministro da Índia, foi eleito em 2014. Suas promessas de modernizar a economia, combater a corrupção e afirmar o papel do país no mundo receberam amplo apoio. Este programa secular sempre esteve ligado às raízes de Modi no movimento político hindu conservador que luta paratornar a Índia um Estado hindu. Muitos dos seus partidários moderados esperavam que ele rejeitasse o sectarismo.

Estudantes hindus em Prayagraj, que até pouco tempo atrás era chamada Allahabad, seu nome muçulmano tradicional. Foto: Bernat Armangue/Associated Press

No entanto, nos últimos cinco anos, Modi vem sendo visto em grande parte como um líder que avançou no cumprimento de suas promessas, cujo partido, Bhariya Janata, BJP, difundiu uma filosofia que enfatiza a polarização mais profunda. Agora, em plenas eleições nacionais, e com as pesquisas de opinião indicando que Modi voltará ao poder, as pessoas aqui estão convencidas de que o programa segundo o qual os hindus vêm em primeiro lugar só deverá acelerar.

Poucos meses depois das eleições de 2014, multidões de hindus começaram a linchar muçulmanos e pessoas de baixa casta suspeitas de abater vacas, um animal sagrado no hinduísmo. E os discursos de ódio passaram a proliferar. Organismos oficiais logo trataram de reescrever os livros de história, eliminando as partes referentes aos governantes muçulmanos.

Prioridades extremistas hindus foram promovidas, como uma iniciativapara localizar um rio místico mencionado nas escrituras hindus. Os críticos afirmam que a busca na realidade usava dinheiro público para estudar as sereias. Entre os ativistas indianos existe o consenso de que, no governo Modi, a sociedade se tornou mais dividida entre hindus e muçulmanos, entre as castas superiores e as inferiores, entre homens e mulheres.

“Eles são o que hoje chamamos de fascistas”, afirmou Aditya Mukherjee, um historiador aposentado, referindo-se a Modi e seus aliados. Embora a população da Índia seja 80% hindu, os fundadores do país moderno resistiram a estabelecer um estado religioso. Mas com a popularidade de Modi, a pergunta cada vez mais frequente é quanto esta situação irá demorar. Muitos indianos de diferentes posições políticas estão cansados da corrupção do principal partido da oposição, o Congresso Nacional Indiano, e decidiram apoiar Modi.

Segundo os seus partidários, o primeiro-ministro e aliados estão simplesmente restaurando o hinduísmo para que recupere o seu lugar de direito no cerne da sociedade indiana. Muitos hindus de classe média e alta estão descontentes com as chamadas políticas de ação afirmativa (que garantem a igualdade de oportunidade) há muito implantadas para ajudar as castas inferiores, e das leis especiais que permitem que os muçulmanos da Índia sigam as tradições islâmicas em questões legais da família.

Modi, 68, subiu ao poder galgando os degraus de uma organização hindu de linha dura. Em 2002, como primeiro-ministro do Estado de Gujarat, foi criticado por não se esforçar para acabar com a violência entre hindus e muçulmanos que matou mais de mil pessoas, muçulmanos em sua maioria. Raramente, ele faz abertas afirmações de cunho religioso, ao contrário de muitos do seu partido. Mas recentemente, vem dando preferência a temas nacionalistas hindus.

A minoria muçulmana da Índia - cerca de 15% da população - sofreu um verdadeiro golpe nas eleições de 2014. A sua presença no Parlamento caiu para apenas 22 cadeiras, ou apenas 4% do total disponível, sua representação mais baixa em 50 anos. Começaram a aparecer bandos itinerantes que se proclamam protetores de vacas, que tomavam como alvo muçulmanos ou açougueiros da classe baixa e comerciantes de gado. Dezenas deles foram espancados até a morte. Membros de destaque do partido se uniram em defesa de pessoas acusadas dos ataques.

Na grande maioria dos casos, os suspeitos escaparam da punição. Pessoas de esquerda e defensores dos direitos humanos estão se mobilizando, no escasso tempo que resta, para se oporem a Modi. Um grupo de atores e realizadores famosos divulgou recentemente uma carta aberta instando os eleitores a votarem contra o BJP, acusando o partido de tentar dividir o país.

Segundo alguns analistas, a mídia indiana está sendo pressionada por certos funcionários a evitar determinados assuntos. Em julho de 2017, “The Hindustan Times”, um dos maiores jornais de língua inglesa da Índia, lançou a campanha do Monitor do Ódio, um banco de dados para atos de violência baseado na religião, casta ou outros pontos fundamentais.

Três meses mais tarde, a campanha acabou sem nenhuma explicação. Mais ou menos ao mesmo tempo, o editor chefe da publicação foi forçado a demitir-se. “Quanto mais eles permanecerem no poder, mais profunda será a destruição das nossas instituições”, afirmou o historiador Mukherjee. “Os danos infligidos não serão sentidos apenas no curto prazo, mas a um prazo muito longo”. / Ayesha Venkataraman contribuiu para a reportagem.

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