ROMA - Policiais da Itália e dos Estados Unidos realizaram nesta quarta-feira, 17, uma operação contra membros da Cosa Nostra, a máfia siciliana, que tenta reconstruir sua base de poder após o retorno de vários de seus membros que passaram anos autoexilados nos EUA, informaram investigadores italianos.
Mais de 200 policiais, incluindo membros do FBI - a polícia federal americana - prenderam 18 pessoas em Palermo, na Sicília, como parte das investigação sobre as relações da família Inzerillo e da família Gambino, sua aliada em Nova York.
Na cidade americana também foi detido Thomas Gambino, colocado em prisão domiciliar no imóvel em que vive em Staten Island, de acordo com o comunicado da autoridades.
Cosa Nostra, principal grupo do crime organizado na Sicília, tenta se reformular desde desde 2017, quando o seu chefe Salvatore "Totò" Riina morreu na prisão, depois de passar quase 25 anos detido.
Nos anos 1980, Riina deu início a uma dura guerra nesta ilha mediterrânea, perseguindo os membros da família Inzerillo, que deixaram os territórios que controlavam em Passo di Rigano, subúrbio de Palermo, para um autoimposto exílio nos EUA.
"A investigação comprovou a forte ligação entre a Cosa Nostra de Palermo e os crime organizado nos EUA, especialmente com a família Gambino", disse a polícia italiana. As famílias Gambino e Inzerillo ainda não comentaram as prisões.
A polícia italiana disse que os presos na quarta-feira enfrentarão uma série de acusações, incluindo associação com a máfia, extorsão, fraude e concorrência desleal. Entre os detidos estão Tommaso Inzerillo e seu primo Francesco, parentes próximos Salvatore Inzerillo, morto na guerra comandada por Riina, em 1981.
Quando voltaram à Itália no início dos anos 2000, Tommaso e Francesco conseguiram estabelecer contatos com alguns dos últimos membros de um grupo rival, os irmãos Gaetano e Giuseppe Sansone, e reconstruir as fileiras da família em Passo di Rigano.
A partir desta localidade, eles recuperaram controle sobre grande parte de seus antigos negócios, como o fornecimento de alimentos, a gestão de jogos de azar e as apostas, além de retomarem atividades relacionadas à extorsão, principalmente em razão do apoio de seus influentes aliados em Nova York.
O detalhe mais importante das investigações é que as autoridades documentaram as relações entre os mafiosos de Passo di Rigano e indivíduos pertencentes à família Gambino, como Frank Cali e Thomas Gambino.
Os contatos eram feitos através de Simone Zito e Calogero Zito, que nasceu nos Estados Unidos e atualmente mora na cidade de Torretta, em Palermo.
Entre as provas apresentadas há um vídeo de agosto do ano passado em que Thomas Gambino discute com Tommaso Inzerillo a bordo de um barco no Golfo de Mondello (Sicília) sobre como compartilhar os lucros da venda de um terreno na República Dominicana que estava em nome de Frank Cali.
A investigação também mostrou que os Zito tiveram grande participação na eleição de Salvatore Gambino como prefeito do município siciliano de Torretta em junho de 2018. O prefeito também foi preso nesta quarta e teve propriedades e empresas no valor de € 3 milhões confiscadas.
Os Gambino são uma das cinco famílias históricas da máfia ítalo-americana em Nova York. Acusações anteriores da Justiça contra operações da família nos EUA incluem casos de assassinato, agiotagem e distribuição ilegal de drogas.
O chefe da família, Francesco "Franky Boy" Cali, foi morto a tiros na frente de sua casa Staten Island em março - um assassinato que deixou a família Inzerillo bastante preocupada. / REUTERS, EFE e AFP