CARACAS - A coalizão opositora venezuelana Mesa da Unidade Democrática (MUD) anunciou na sexta-feira 30 de junho a intenção de assinar um acordo na próxima semana com setores do chavismo críticos à convocação de uma Assembleia Constituinte por parte do presidente Nicolás Maduro.
"Vamos assinar na segunda-feira um grande acordo da sociedade contra a imposição do totalitarismo do regime e para trabalhar em unidade pela restituição da ordem constitucional", afirmou a opositora María Corina Machado. "Estamos convocando as universidades, estudantes, sindicatos, ONGs, empresários, organizações comunitárias e partidos políticos; inclusive setores chavistas que têm manifestado sua rejeição à Constituinte", explicou a ex-parlamentar.
Segundo Corina, o acordo também "busca acabar com a ditadura e iniciar um processo de transição democrática".
Gonzalo Gómez, dirigente da Maré Socialista, uma das principais organizações do chavismo crítico a Maduro, disse que não foi contatado pela oposição para do ato na segunda-feira. "Não tenho conhecimento deste documento. Estamos defendendo a Constituição da nossa própria perspectiva. Se formos contatados, vamos avaliar, entendemos a necessidade de se defender as liberdades democráticas".
A MUD afirmou que manterá os protestos contra Maduro para evitar a eleição de uma Assembleia Constituinte, que considera uma "fraude" para perpetuar o chavismo no poder.
Neste sábado, 1º de julho, a oposição voltou às ruas, no momento em que se completam três meses dos maiores protestos contra Maduro. "Todos às ruas para advertir e fazer desconhecer essa manobra", declarou no Twitter o vice-presidente do Parlamento, deputado Freddy Guevara.
O presidente venezuelano insiste que sua iniciativa para reformar a Constituição trará paz ao país - em meio aos protestos que já deixaram 78 mortos - e possibilitará a recuperação econômica.
O dirigente opositor Edinson Ferrer anunciou, durante a entrevista da MUD, que na segunda-feira 3 também se formarão "comitês pelo resgate da democracia", encarregados de organizar as próximas manifestações.
Desde seu início em abril, as manifestações aconteceram quase todos os dias, levando, com frequência, a confrontos violentos e saques. Entre 1º de abril e 19 de junho de 2017, foram registrados 2.675 protestos, que deixaram mais de mil feridos, de acordo com o Observatório Venezuelano de Conflitividade Social (OVCS). A ONG Foro Penal relata que, nesse período, mais de 3.500 pessoas foram detidas.
Na sexta-feira, em Barquisimeto (350 km ao oeste de Caracas), homens encapuzados atiraram contra manifestantes que haviam erguido barricadas. Segundo o deputado da oposição Alfonso Marquina, o ataque deixou quatro mortos. O Ministério Público confirmou apenas um desses óbitos. Nessa localidade, um militar teria ficado ferido, segundo as autoridades.
O analista Mariano De Alba considera que o conflito vai-se intensificar. "O governo insiste em sua proposta de Constituinte, o que, caso se concretize, contribuirá para a escalada do conflito. Governo e oposição ainda pensam que podem se impor um ao outro. Não vejo condições para uma negociação", disse.
O cientista político Ricardo Sucre também prevê uma escalada da tensão, com a proximidade da votação da Constituinte, em 30 de julho. "É muito alta a possibilidade de que atos inesperados de violência ocorram".
Futuro. Na terça-feira 4, a procuradora-geral Luisa Ortega deve comparecer ao Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), que avaliará se ela será processada. Uma decisão nesse sentido pode levar à sua destituição do cargo. Ortega já está proibida de deixar o país e teve seus bens e contas congelados.
A procuradora chavista se afastou do governo nas últimas semanas, denunciando uma ruptura da ordem constitucional por decisões do TSJ que reduziram os poderes do Legislativo, e também travou uma batalha judicial contra os magistrados da corte e contra a Assembleia Constituinte. Todos os seus recursos foram indeferidos pela corte. /AFP