Ali Khamenei, líder supremo do Irã, torna-se árbitro político


Clérigo de 70 anos reina sobre sistema islâmico parte como um papa, parte como comandante-em-chefe

Por Agência Estado e Associated Press

A violenta disputa política no Irã fez transformou o líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, a mais importante figura do Estado, num alto árbitro político. O clérigo de 70 anos reina sobre o sistema islâmico parte como um papa, parte como comandante-em-chefe e suprema corte, formada por um homem só. Enquanto as atenções mundiais estiveram dirigidas nos últimos anos sobre o presidente linha-dura Mahmoud Ahmadinejad, a maior parte do poder verdadeiro no país pertencia ao líder supremo, que não foi escolhido pelo voto.

 

Khamenei ordenou, nesta segunda-feira, a realização de uma investigação sobre as acusações de fraude na reeleição de Ahmadinejad, suspeitas que resultaram nos piores protestos registrados em Teerã em uma década. A medida foi uma incrível reviravolta para Khamenei, que pediu que o país se unisse a Ahmadinejad um dia depois das eleições de sexta-feira e chamou o resultado de uma "avaliação divina."

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A investigação do Conselho de Guardiães, composto por clérigos aliados a Khamenei, ilustra o desejo do líder supremo de evitar uma batalha política que pode ameaçar a estabilidade de a legitimidade da teocracia islâmica no país. Pelo menos, a dramática intervenção pode ganhar tempo na expectativa de reduzir a ira contra Ahmadinejad.

 

Khamenei é um linha-dura que lutou contra os reformistas no passado e cujo apoio ajudou Ahmadinejad a se eleger em 2005. Mas analistas dizem que ele também é um político realista, que no passada fez concessões para assegurar suas principais conquistas, sua sobrevivência e o sistema iraniano, regido pelos clérigos.

 

A atual disputa, liderada pelo candidato reformista Mir Hossein Mousavi, que afirma ter sido o vencedor do pleito, significa um dos maiores desafios já confrontados por Khamenei sobre a estabilidade do sistema de governo do país. Além disso, Mousavi tem o apoio de um dos clérigos mais poderosos do Irã, o ex-presidente Hashemi Rafsanjani, o que torna mais difícil para o líder supremo simplesmente deixar de lado os pedidos dos reformistas.

 

Como líder supremo, Khamenei tem a palavra final em todas as questões governamentais no Irã - acima do presidente eleito e do Parlamento - exercendo o poder por meio de seu domínio sobre os clérigos, bem como sobre o Judiciário e as forças de segurança, incluindo a Guarda Revolucionária.

 

Fotografias do clérigo de barbas brancas, com um turbante negro e óculos são onipresentes em todo o Irã. Khamenei sucedeu o aiatolá Ruhollah Khomeini, o carismático líder da revolução islâmica, após sua morte de 1989. Inicialmente, Khamenei era visto como uma figura fraca, embora já tivesse ocupado a presidência do país por dois mandatos. De temperamento moderado, se comparado ao pai da revolução, Khamenei era um clérigo de baixo escalão quando foi alçado da noite para o dia para o maior posto da hierarquia religiosa.

 

Apesar do ceticismo inicial, Khamenei manteve mão firme no poder e tem sido uma figura central nas políticas que mantém o Irã em confronto com os Estados Unidos. Ele pessoalmente estabeleceu a política do programa nuclear iraniano, afirmando que o país não iria desistir do enriquecimento de urânio, mesmo que a recusa levasse à imposição de sanções pela Organização das Nações Unidas (ONU). Ele também fortaleceu os laços com o grupo militante palestino Hamas e com a guerrilha xiita libanesa Hezbollah.

 

LINHA-DURA

 

Talvez, a mais importante ação de Khamenei antes da disputa eleitoral foi seu papel no enfraquecimento do movimento de reforma popular que veio à tona no final dos anos 1990, quando Mohammad Khatami foi eleito presidente e os reformistas tomaram o controle do Parlamento. Como Mousavi, Khatami era apoiado pela juventude iraniana, que exigia o relaxamento das duras regras sociais impostas pela revolução islâmica de 1979 e pedia a melhora das relações com o mundo exterior, incluindo o arqui-inimigo Estados Unidos.

 

Linhas-duras apoiados por Khamenei conseguiram conter e, por fim, acabar com a tendência reformista. Juízes fecharam jornais liberais. O próprio Khamenei impediu que o Parlamento aprovasse emendas às leis que impuseram restrições aos meios de comunicação. Órgãos não eleitos dirigidos pelo líder supremo também foram capazes de bloquear outras leis promovidas pelos liberais. Eles impediram muitos reformistas de concorrer ás eleições, assegurando a retomada do controle do Parlamento pelos linhas-duras em 2004 e ajudando Ahmadinejad a vencer as eleições no ano seguinte.

 

A intervenção de Khamenei foi vista como o início do declínio dos reformistas e um sinal de que a liderança dos clérigos não permitira mudanças fundamentais. Mas as críticas sobre a forma como Ahmadinejad administra a economia e suas atitudes antagonistas em relação à comunidade internacional deu nova energia aos reformistas. Os manifestantes realizaram três dias de violentos protestos em Teerã, ateando fogo e enfrentando a polícia.

 

Os correligionários de Mousavi não são os únicos que estão irritados. Os dois outros candidatos, o reformistas Mahdi Karroubi e o conservador Mohsen Rezaei, também afirmaram que houve irregularidades durante a votação. Eles são apoiados por Khatami, talvez mais importante, por Rafsanjani, que lidera dois poderosos órgãos de clérigos no governo. Rafsanjani é um ex-aliado de Khamenei, que tornou-se um grande rival.

 

Forças de segurança revidaram e prenderam ativistas reformistas, além de bloquearem o envio de mensagens de texto e sites a favor de Mousavi. Mas essas medidas não foram suficientes para deter os protestos. Khamenei decidiu nesta segunda-feira ordenar que o Conselho de Guardiães investigasse as acusações de fraude eleitoral. A decisão foi tomada depois que Mousavi escreveu uma carta fazendo um apelo aos 12 membros do conselho e ter se reunido com Khamenei no domingo.

A violenta disputa política no Irã fez transformou o líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, a mais importante figura do Estado, num alto árbitro político. O clérigo de 70 anos reina sobre o sistema islâmico parte como um papa, parte como comandante-em-chefe e suprema corte, formada por um homem só. Enquanto as atenções mundiais estiveram dirigidas nos últimos anos sobre o presidente linha-dura Mahmoud Ahmadinejad, a maior parte do poder verdadeiro no país pertencia ao líder supremo, que não foi escolhido pelo voto.

 

Khamenei ordenou, nesta segunda-feira, a realização de uma investigação sobre as acusações de fraude na reeleição de Ahmadinejad, suspeitas que resultaram nos piores protestos registrados em Teerã em uma década. A medida foi uma incrível reviravolta para Khamenei, que pediu que o país se unisse a Ahmadinejad um dia depois das eleições de sexta-feira e chamou o resultado de uma "avaliação divina."

 

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A investigação do Conselho de Guardiães, composto por clérigos aliados a Khamenei, ilustra o desejo do líder supremo de evitar uma batalha política que pode ameaçar a estabilidade de a legitimidade da teocracia islâmica no país. Pelo menos, a dramática intervenção pode ganhar tempo na expectativa de reduzir a ira contra Ahmadinejad.

 

Khamenei é um linha-dura que lutou contra os reformistas no passado e cujo apoio ajudou Ahmadinejad a se eleger em 2005. Mas analistas dizem que ele também é um político realista, que no passada fez concessões para assegurar suas principais conquistas, sua sobrevivência e o sistema iraniano, regido pelos clérigos.

 

A atual disputa, liderada pelo candidato reformista Mir Hossein Mousavi, que afirma ter sido o vencedor do pleito, significa um dos maiores desafios já confrontados por Khamenei sobre a estabilidade do sistema de governo do país. Além disso, Mousavi tem o apoio de um dos clérigos mais poderosos do Irã, o ex-presidente Hashemi Rafsanjani, o que torna mais difícil para o líder supremo simplesmente deixar de lado os pedidos dos reformistas.

 

Como líder supremo, Khamenei tem a palavra final em todas as questões governamentais no Irã - acima do presidente eleito e do Parlamento - exercendo o poder por meio de seu domínio sobre os clérigos, bem como sobre o Judiciário e as forças de segurança, incluindo a Guarda Revolucionária.

 

Fotografias do clérigo de barbas brancas, com um turbante negro e óculos são onipresentes em todo o Irã. Khamenei sucedeu o aiatolá Ruhollah Khomeini, o carismático líder da revolução islâmica, após sua morte de 1989. Inicialmente, Khamenei era visto como uma figura fraca, embora já tivesse ocupado a presidência do país por dois mandatos. De temperamento moderado, se comparado ao pai da revolução, Khamenei era um clérigo de baixo escalão quando foi alçado da noite para o dia para o maior posto da hierarquia religiosa.

 

Apesar do ceticismo inicial, Khamenei manteve mão firme no poder e tem sido uma figura central nas políticas que mantém o Irã em confronto com os Estados Unidos. Ele pessoalmente estabeleceu a política do programa nuclear iraniano, afirmando que o país não iria desistir do enriquecimento de urânio, mesmo que a recusa levasse à imposição de sanções pela Organização das Nações Unidas (ONU). Ele também fortaleceu os laços com o grupo militante palestino Hamas e com a guerrilha xiita libanesa Hezbollah.

 

LINHA-DURA

 

Talvez, a mais importante ação de Khamenei antes da disputa eleitoral foi seu papel no enfraquecimento do movimento de reforma popular que veio à tona no final dos anos 1990, quando Mohammad Khatami foi eleito presidente e os reformistas tomaram o controle do Parlamento. Como Mousavi, Khatami era apoiado pela juventude iraniana, que exigia o relaxamento das duras regras sociais impostas pela revolução islâmica de 1979 e pedia a melhora das relações com o mundo exterior, incluindo o arqui-inimigo Estados Unidos.

 

Linhas-duras apoiados por Khamenei conseguiram conter e, por fim, acabar com a tendência reformista. Juízes fecharam jornais liberais. O próprio Khamenei impediu que o Parlamento aprovasse emendas às leis que impuseram restrições aos meios de comunicação. Órgãos não eleitos dirigidos pelo líder supremo também foram capazes de bloquear outras leis promovidas pelos liberais. Eles impediram muitos reformistas de concorrer ás eleições, assegurando a retomada do controle do Parlamento pelos linhas-duras em 2004 e ajudando Ahmadinejad a vencer as eleições no ano seguinte.

 

A intervenção de Khamenei foi vista como o início do declínio dos reformistas e um sinal de que a liderança dos clérigos não permitira mudanças fundamentais. Mas as críticas sobre a forma como Ahmadinejad administra a economia e suas atitudes antagonistas em relação à comunidade internacional deu nova energia aos reformistas. Os manifestantes realizaram três dias de violentos protestos em Teerã, ateando fogo e enfrentando a polícia.

 

Os correligionários de Mousavi não são os únicos que estão irritados. Os dois outros candidatos, o reformistas Mahdi Karroubi e o conservador Mohsen Rezaei, também afirmaram que houve irregularidades durante a votação. Eles são apoiados por Khatami, talvez mais importante, por Rafsanjani, que lidera dois poderosos órgãos de clérigos no governo. Rafsanjani é um ex-aliado de Khamenei, que tornou-se um grande rival.

 

Forças de segurança revidaram e prenderam ativistas reformistas, além de bloquearem o envio de mensagens de texto e sites a favor de Mousavi. Mas essas medidas não foram suficientes para deter os protestos. Khamenei decidiu nesta segunda-feira ordenar que o Conselho de Guardiães investigasse as acusações de fraude eleitoral. A decisão foi tomada depois que Mousavi escreveu uma carta fazendo um apelo aos 12 membros do conselho e ter se reunido com Khamenei no domingo.

A violenta disputa política no Irã fez transformou o líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, a mais importante figura do Estado, num alto árbitro político. O clérigo de 70 anos reina sobre o sistema islâmico parte como um papa, parte como comandante-em-chefe e suprema corte, formada por um homem só. Enquanto as atenções mundiais estiveram dirigidas nos últimos anos sobre o presidente linha-dura Mahmoud Ahmadinejad, a maior parte do poder verdadeiro no país pertencia ao líder supremo, que não foi escolhido pelo voto.

 

Khamenei ordenou, nesta segunda-feira, a realização de uma investigação sobre as acusações de fraude na reeleição de Ahmadinejad, suspeitas que resultaram nos piores protestos registrados em Teerã em uma década. A medida foi uma incrível reviravolta para Khamenei, que pediu que o país se unisse a Ahmadinejad um dia depois das eleições de sexta-feira e chamou o resultado de uma "avaliação divina."

 

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Jornais iranianos omitem protestos e confrontos

"Reeleição do presidente foi golpe de Estado"

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 Conheça os números do poderio militar do Irã

 Altos e baixos da relação entre Irã e EUA

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A investigação do Conselho de Guardiães, composto por clérigos aliados a Khamenei, ilustra o desejo do líder supremo de evitar uma batalha política que pode ameaçar a estabilidade de a legitimidade da teocracia islâmica no país. Pelo menos, a dramática intervenção pode ganhar tempo na expectativa de reduzir a ira contra Ahmadinejad.

 

Khamenei é um linha-dura que lutou contra os reformistas no passado e cujo apoio ajudou Ahmadinejad a se eleger em 2005. Mas analistas dizem que ele também é um político realista, que no passada fez concessões para assegurar suas principais conquistas, sua sobrevivência e o sistema iraniano, regido pelos clérigos.

 

A atual disputa, liderada pelo candidato reformista Mir Hossein Mousavi, que afirma ter sido o vencedor do pleito, significa um dos maiores desafios já confrontados por Khamenei sobre a estabilidade do sistema de governo do país. Além disso, Mousavi tem o apoio de um dos clérigos mais poderosos do Irã, o ex-presidente Hashemi Rafsanjani, o que torna mais difícil para o líder supremo simplesmente deixar de lado os pedidos dos reformistas.

 

Como líder supremo, Khamenei tem a palavra final em todas as questões governamentais no Irã - acima do presidente eleito e do Parlamento - exercendo o poder por meio de seu domínio sobre os clérigos, bem como sobre o Judiciário e as forças de segurança, incluindo a Guarda Revolucionária.

 

Fotografias do clérigo de barbas brancas, com um turbante negro e óculos são onipresentes em todo o Irã. Khamenei sucedeu o aiatolá Ruhollah Khomeini, o carismático líder da revolução islâmica, após sua morte de 1989. Inicialmente, Khamenei era visto como uma figura fraca, embora já tivesse ocupado a presidência do país por dois mandatos. De temperamento moderado, se comparado ao pai da revolução, Khamenei era um clérigo de baixo escalão quando foi alçado da noite para o dia para o maior posto da hierarquia religiosa.

 

Apesar do ceticismo inicial, Khamenei manteve mão firme no poder e tem sido uma figura central nas políticas que mantém o Irã em confronto com os Estados Unidos. Ele pessoalmente estabeleceu a política do programa nuclear iraniano, afirmando que o país não iria desistir do enriquecimento de urânio, mesmo que a recusa levasse à imposição de sanções pela Organização das Nações Unidas (ONU). Ele também fortaleceu os laços com o grupo militante palestino Hamas e com a guerrilha xiita libanesa Hezbollah.

 

LINHA-DURA

 

Talvez, a mais importante ação de Khamenei antes da disputa eleitoral foi seu papel no enfraquecimento do movimento de reforma popular que veio à tona no final dos anos 1990, quando Mohammad Khatami foi eleito presidente e os reformistas tomaram o controle do Parlamento. Como Mousavi, Khatami era apoiado pela juventude iraniana, que exigia o relaxamento das duras regras sociais impostas pela revolução islâmica de 1979 e pedia a melhora das relações com o mundo exterior, incluindo o arqui-inimigo Estados Unidos.

 

Linhas-duras apoiados por Khamenei conseguiram conter e, por fim, acabar com a tendência reformista. Juízes fecharam jornais liberais. O próprio Khamenei impediu que o Parlamento aprovasse emendas às leis que impuseram restrições aos meios de comunicação. Órgãos não eleitos dirigidos pelo líder supremo também foram capazes de bloquear outras leis promovidas pelos liberais. Eles impediram muitos reformistas de concorrer ás eleições, assegurando a retomada do controle do Parlamento pelos linhas-duras em 2004 e ajudando Ahmadinejad a vencer as eleições no ano seguinte.

 

A intervenção de Khamenei foi vista como o início do declínio dos reformistas e um sinal de que a liderança dos clérigos não permitira mudanças fundamentais. Mas as críticas sobre a forma como Ahmadinejad administra a economia e suas atitudes antagonistas em relação à comunidade internacional deu nova energia aos reformistas. Os manifestantes realizaram três dias de violentos protestos em Teerã, ateando fogo e enfrentando a polícia.

 

Os correligionários de Mousavi não são os únicos que estão irritados. Os dois outros candidatos, o reformistas Mahdi Karroubi e o conservador Mohsen Rezaei, também afirmaram que houve irregularidades durante a votação. Eles são apoiados por Khatami, talvez mais importante, por Rafsanjani, que lidera dois poderosos órgãos de clérigos no governo. Rafsanjani é um ex-aliado de Khamenei, que tornou-se um grande rival.

 

Forças de segurança revidaram e prenderam ativistas reformistas, além de bloquearem o envio de mensagens de texto e sites a favor de Mousavi. Mas essas medidas não foram suficientes para deter os protestos. Khamenei decidiu nesta segunda-feira ordenar que o Conselho de Guardiães investigasse as acusações de fraude eleitoral. A decisão foi tomada depois que Mousavi escreveu uma carta fazendo um apelo aos 12 membros do conselho e ter se reunido com Khamenei no domingo.

A violenta disputa política no Irã fez transformou o líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, a mais importante figura do Estado, num alto árbitro político. O clérigo de 70 anos reina sobre o sistema islâmico parte como um papa, parte como comandante-em-chefe e suprema corte, formada por um homem só. Enquanto as atenções mundiais estiveram dirigidas nos últimos anos sobre o presidente linha-dura Mahmoud Ahmadinejad, a maior parte do poder verdadeiro no país pertencia ao líder supremo, que não foi escolhido pelo voto.

 

Khamenei ordenou, nesta segunda-feira, a realização de uma investigação sobre as acusações de fraude na reeleição de Ahmadinejad, suspeitas que resultaram nos piores protestos registrados em Teerã em uma década. A medida foi uma incrível reviravolta para Khamenei, que pediu que o país se unisse a Ahmadinejad um dia depois das eleições de sexta-feira e chamou o resultado de uma "avaliação divina."

 

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A investigação do Conselho de Guardiães, composto por clérigos aliados a Khamenei, ilustra o desejo do líder supremo de evitar uma batalha política que pode ameaçar a estabilidade de a legitimidade da teocracia islâmica no país. Pelo menos, a dramática intervenção pode ganhar tempo na expectativa de reduzir a ira contra Ahmadinejad.

 

Khamenei é um linha-dura que lutou contra os reformistas no passado e cujo apoio ajudou Ahmadinejad a se eleger em 2005. Mas analistas dizem que ele também é um político realista, que no passada fez concessões para assegurar suas principais conquistas, sua sobrevivência e o sistema iraniano, regido pelos clérigos.

 

A atual disputa, liderada pelo candidato reformista Mir Hossein Mousavi, que afirma ter sido o vencedor do pleito, significa um dos maiores desafios já confrontados por Khamenei sobre a estabilidade do sistema de governo do país. Além disso, Mousavi tem o apoio de um dos clérigos mais poderosos do Irã, o ex-presidente Hashemi Rafsanjani, o que torna mais difícil para o líder supremo simplesmente deixar de lado os pedidos dos reformistas.

 

Como líder supremo, Khamenei tem a palavra final em todas as questões governamentais no Irã - acima do presidente eleito e do Parlamento - exercendo o poder por meio de seu domínio sobre os clérigos, bem como sobre o Judiciário e as forças de segurança, incluindo a Guarda Revolucionária.

 

Fotografias do clérigo de barbas brancas, com um turbante negro e óculos são onipresentes em todo o Irã. Khamenei sucedeu o aiatolá Ruhollah Khomeini, o carismático líder da revolução islâmica, após sua morte de 1989. Inicialmente, Khamenei era visto como uma figura fraca, embora já tivesse ocupado a presidência do país por dois mandatos. De temperamento moderado, se comparado ao pai da revolução, Khamenei era um clérigo de baixo escalão quando foi alçado da noite para o dia para o maior posto da hierarquia religiosa.

 

Apesar do ceticismo inicial, Khamenei manteve mão firme no poder e tem sido uma figura central nas políticas que mantém o Irã em confronto com os Estados Unidos. Ele pessoalmente estabeleceu a política do programa nuclear iraniano, afirmando que o país não iria desistir do enriquecimento de urânio, mesmo que a recusa levasse à imposição de sanções pela Organização das Nações Unidas (ONU). Ele também fortaleceu os laços com o grupo militante palestino Hamas e com a guerrilha xiita libanesa Hezbollah.

 

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Talvez, a mais importante ação de Khamenei antes da disputa eleitoral foi seu papel no enfraquecimento do movimento de reforma popular que veio à tona no final dos anos 1990, quando Mohammad Khatami foi eleito presidente e os reformistas tomaram o controle do Parlamento. Como Mousavi, Khatami era apoiado pela juventude iraniana, que exigia o relaxamento das duras regras sociais impostas pela revolução islâmica de 1979 e pedia a melhora das relações com o mundo exterior, incluindo o arqui-inimigo Estados Unidos.

 

Linhas-duras apoiados por Khamenei conseguiram conter e, por fim, acabar com a tendência reformista. Juízes fecharam jornais liberais. O próprio Khamenei impediu que o Parlamento aprovasse emendas às leis que impuseram restrições aos meios de comunicação. Órgãos não eleitos dirigidos pelo líder supremo também foram capazes de bloquear outras leis promovidas pelos liberais. Eles impediram muitos reformistas de concorrer ás eleições, assegurando a retomada do controle do Parlamento pelos linhas-duras em 2004 e ajudando Ahmadinejad a vencer as eleições no ano seguinte.

 

A intervenção de Khamenei foi vista como o início do declínio dos reformistas e um sinal de que a liderança dos clérigos não permitira mudanças fundamentais. Mas as críticas sobre a forma como Ahmadinejad administra a economia e suas atitudes antagonistas em relação à comunidade internacional deu nova energia aos reformistas. Os manifestantes realizaram três dias de violentos protestos em Teerã, ateando fogo e enfrentando a polícia.

 

Os correligionários de Mousavi não são os únicos que estão irritados. Os dois outros candidatos, o reformistas Mahdi Karroubi e o conservador Mohsen Rezaei, também afirmaram que houve irregularidades durante a votação. Eles são apoiados por Khatami, talvez mais importante, por Rafsanjani, que lidera dois poderosos órgãos de clérigos no governo. Rafsanjani é um ex-aliado de Khamenei, que tornou-se um grande rival.

 

Forças de segurança revidaram e prenderam ativistas reformistas, além de bloquearem o envio de mensagens de texto e sites a favor de Mousavi. Mas essas medidas não foram suficientes para deter os protestos. Khamenei decidiu nesta segunda-feira ordenar que o Conselho de Guardiães investigasse as acusações de fraude eleitoral. A decisão foi tomada depois que Mousavi escreveu uma carta fazendo um apelo aos 12 membros do conselho e ter se reunido com Khamenei no domingo.

A violenta disputa política no Irã fez transformou o líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, a mais importante figura do Estado, num alto árbitro político. O clérigo de 70 anos reina sobre o sistema islâmico parte como um papa, parte como comandante-em-chefe e suprema corte, formada por um homem só. Enquanto as atenções mundiais estiveram dirigidas nos últimos anos sobre o presidente linha-dura Mahmoud Ahmadinejad, a maior parte do poder verdadeiro no país pertencia ao líder supremo, que não foi escolhido pelo voto.

 

Khamenei ordenou, nesta segunda-feira, a realização de uma investigação sobre as acusações de fraude na reeleição de Ahmadinejad, suspeitas que resultaram nos piores protestos registrados em Teerã em uma década. A medida foi uma incrível reviravolta para Khamenei, que pediu que o país se unisse a Ahmadinejad um dia depois das eleições de sexta-feira e chamou o resultado de uma "avaliação divina."

 

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Estudantes acusam milícia de invadir universidade no Irã

Jornais iranianos omitem protestos e confrontos

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A investigação do Conselho de Guardiães, composto por clérigos aliados a Khamenei, ilustra o desejo do líder supremo de evitar uma batalha política que pode ameaçar a estabilidade de a legitimidade da teocracia islâmica no país. Pelo menos, a dramática intervenção pode ganhar tempo na expectativa de reduzir a ira contra Ahmadinejad.

 

Khamenei é um linha-dura que lutou contra os reformistas no passado e cujo apoio ajudou Ahmadinejad a se eleger em 2005. Mas analistas dizem que ele também é um político realista, que no passada fez concessões para assegurar suas principais conquistas, sua sobrevivência e o sistema iraniano, regido pelos clérigos.

 

A atual disputa, liderada pelo candidato reformista Mir Hossein Mousavi, que afirma ter sido o vencedor do pleito, significa um dos maiores desafios já confrontados por Khamenei sobre a estabilidade do sistema de governo do país. Além disso, Mousavi tem o apoio de um dos clérigos mais poderosos do Irã, o ex-presidente Hashemi Rafsanjani, o que torna mais difícil para o líder supremo simplesmente deixar de lado os pedidos dos reformistas.

 

Como líder supremo, Khamenei tem a palavra final em todas as questões governamentais no Irã - acima do presidente eleito e do Parlamento - exercendo o poder por meio de seu domínio sobre os clérigos, bem como sobre o Judiciário e as forças de segurança, incluindo a Guarda Revolucionária.

 

Fotografias do clérigo de barbas brancas, com um turbante negro e óculos são onipresentes em todo o Irã. Khamenei sucedeu o aiatolá Ruhollah Khomeini, o carismático líder da revolução islâmica, após sua morte de 1989. Inicialmente, Khamenei era visto como uma figura fraca, embora já tivesse ocupado a presidência do país por dois mandatos. De temperamento moderado, se comparado ao pai da revolução, Khamenei era um clérigo de baixo escalão quando foi alçado da noite para o dia para o maior posto da hierarquia religiosa.

 

Apesar do ceticismo inicial, Khamenei manteve mão firme no poder e tem sido uma figura central nas políticas que mantém o Irã em confronto com os Estados Unidos. Ele pessoalmente estabeleceu a política do programa nuclear iraniano, afirmando que o país não iria desistir do enriquecimento de urânio, mesmo que a recusa levasse à imposição de sanções pela Organização das Nações Unidas (ONU). Ele também fortaleceu os laços com o grupo militante palestino Hamas e com a guerrilha xiita libanesa Hezbollah.

 

LINHA-DURA

 

Talvez, a mais importante ação de Khamenei antes da disputa eleitoral foi seu papel no enfraquecimento do movimento de reforma popular que veio à tona no final dos anos 1990, quando Mohammad Khatami foi eleito presidente e os reformistas tomaram o controle do Parlamento. Como Mousavi, Khatami era apoiado pela juventude iraniana, que exigia o relaxamento das duras regras sociais impostas pela revolução islâmica de 1979 e pedia a melhora das relações com o mundo exterior, incluindo o arqui-inimigo Estados Unidos.

 

Linhas-duras apoiados por Khamenei conseguiram conter e, por fim, acabar com a tendência reformista. Juízes fecharam jornais liberais. O próprio Khamenei impediu que o Parlamento aprovasse emendas às leis que impuseram restrições aos meios de comunicação. Órgãos não eleitos dirigidos pelo líder supremo também foram capazes de bloquear outras leis promovidas pelos liberais. Eles impediram muitos reformistas de concorrer ás eleições, assegurando a retomada do controle do Parlamento pelos linhas-duras em 2004 e ajudando Ahmadinejad a vencer as eleições no ano seguinte.

 

A intervenção de Khamenei foi vista como o início do declínio dos reformistas e um sinal de que a liderança dos clérigos não permitira mudanças fundamentais. Mas as críticas sobre a forma como Ahmadinejad administra a economia e suas atitudes antagonistas em relação à comunidade internacional deu nova energia aos reformistas. Os manifestantes realizaram três dias de violentos protestos em Teerã, ateando fogo e enfrentando a polícia.

 

Os correligionários de Mousavi não são os únicos que estão irritados. Os dois outros candidatos, o reformistas Mahdi Karroubi e o conservador Mohsen Rezaei, também afirmaram que houve irregularidades durante a votação. Eles são apoiados por Khatami, talvez mais importante, por Rafsanjani, que lidera dois poderosos órgãos de clérigos no governo. Rafsanjani é um ex-aliado de Khamenei, que tornou-se um grande rival.

 

Forças de segurança revidaram e prenderam ativistas reformistas, além de bloquearem o envio de mensagens de texto e sites a favor de Mousavi. Mas essas medidas não foram suficientes para deter os protestos. Khamenei decidiu nesta segunda-feira ordenar que o Conselho de Guardiães investigasse as acusações de fraude eleitoral. A decisão foi tomada depois que Mousavi escreveu uma carta fazendo um apelo aos 12 membros do conselho e ter se reunido com Khamenei no domingo.

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