'O Ocidente deveria atrair o Irã'


Para escritor iraniano Emadeddin Baghi, o isolamento do país só prejudica a população

Por Adriana Carranca

"Devo continuar as minhas atividades em favor da liberdade e dos direitos humanos em quaisquer circunstâncias e a prisão não vai me impedir." Estas foram as palavras do pacifista, jornalista, escritor, teólogo, sociólogo e reformista iraniano Emadeddin Baghi escritas num e-mail, em resposta à notícia sobre sua condenação pela Corte Revolucionária a 3 anos de prisão, no último dia 2 de agosto. Teerã aperta cerco contra imprensa Polícia do Irã fecha cerco a jovens Um olhar feminino sobre o Irã    Três semanas antes, ele recebera a reportagem do Estado em seu escritório, em Teerã, para esta entrevista: O sr. apóia o Estado islâmico? Não. Usar o Islã politicamente remove o lado sagrado da fé. O que movia a geração da revolução eram ideais de liberdade contra o governo despótico dos xás. Queríamos a democracia islâmica, não outra ditadura. Por isso, continuo a luta. A democracia pode prevalecer num Estado islâmico? O problema no Irã não é religião, mas um sistema repressor que quer se manter no poder e usa a religião para isso. Dizem que a democracia é incompatível com o Islã por se basear no individualismo e na razão, ao invés da fé. Mas fazem parte de um grupo pequeno de clérigos que dominam a política e controlam a mídia. Há outros 100 mil clérigos no Irã que propagam a fé em suas comunidades, e conviveriam bem com um governo independente. Liberdade e direitos humanos podem existir num Estado islâmico? Os fundamentos dos direitos humanos têm apenas 200 anos. Mas, se olharmos para nossa herança cultural, veremos a mesma visão filosófica e humanística na tradição mística do Islã. Muitos acreditam que sua rápida expansão se deu por conta disso. E a decadência veio quando a tolerância foi substituída pelo dogmatismo religioso e a rigidez. O Islã foi reduzido a uma visão inflexível, baseada em jurisprudência, que permite que prevaleçam sistemas totalitários. Essa é a causa do declínio da civilização islâmica. Como o sr. vê a reação ao programa nuclear do Irã? Está tudo errado. O que o Ocidente deveria ter feito era engajar o Irã e não isolá-lo ainda mais. O ingresso do Irã na Organização Mundial do Comércio e o desenvolvimento das relações com outros países melhorariam a qualidade de vida da população e fariam com que os iranianos se sentissem parte do mundo. Assim, o povo saberia que tem algo a perder se insistisse em confrontar a comunidade internacional e estaria disposto a enfrentar o governo. Hoje os iranianos não têm nada a perder. Como vê a luta contra o terror? Os EUA tiveram uma oportunidade depois do 11 de Setembro, mas insistiram em políticas erradas no Afeganistão, Iraque, Palestina e Irã, o que fez com que atos repugnantes de terrorismo fossem, de alguma forma, aceitos por muitos no mundo islâmico. Além do mais, impor um regime é uma humilhação e um passo para a violência. Democracia não pode ser exportada. Ela deve florescer do próprio povo. Por isso, defendo o fortalecimento da sociedade civil e é isso que o mundo deveria apoiar. O sr. acredita que o Irã virá a se tornar um Estado secular? Acredito, pois os próprios clérigos estão ajudando a separar o Islã do Estado, sem se dar conta, à medida que defendem, muitas vezes, posições anti-Islã, cometendo atrocidades e perseguição a população para dominar pelo medo. Vítimas desse regime, os iranianos estão, pouco a pouco, se dando conta de que não há outro caminho senão separar o governo dos clérigos. Uma nova revolução? Não. A censura não deixa que a informação circule e que o debate se dê. Por isso, defendo a liberdade e os direitos humanos com base no Islã e no fortalecimento da sociedade civil. Já temos quase 8 mil ONGs no Irã. Elas se tornaram uma ameaça aos círculos não democráticos. O sr. não teme a fúria dos aiatolás? Quando há medo, o despotismo prevalece. São palavras do aiatolá Hussein Ali Montazeri. Defendo os direitos humanos pelo diálogo, não pelo conflito. Se não der certo, estou disposto a pagar o preço. Minha mala está sempre pronta para a prisão.

"Devo continuar as minhas atividades em favor da liberdade e dos direitos humanos em quaisquer circunstâncias e a prisão não vai me impedir." Estas foram as palavras do pacifista, jornalista, escritor, teólogo, sociólogo e reformista iraniano Emadeddin Baghi escritas num e-mail, em resposta à notícia sobre sua condenação pela Corte Revolucionária a 3 anos de prisão, no último dia 2 de agosto. Teerã aperta cerco contra imprensa Polícia do Irã fecha cerco a jovens Um olhar feminino sobre o Irã    Três semanas antes, ele recebera a reportagem do Estado em seu escritório, em Teerã, para esta entrevista: O sr. apóia o Estado islâmico? Não. Usar o Islã politicamente remove o lado sagrado da fé. O que movia a geração da revolução eram ideais de liberdade contra o governo despótico dos xás. Queríamos a democracia islâmica, não outra ditadura. Por isso, continuo a luta. A democracia pode prevalecer num Estado islâmico? O problema no Irã não é religião, mas um sistema repressor que quer se manter no poder e usa a religião para isso. Dizem que a democracia é incompatível com o Islã por se basear no individualismo e na razão, ao invés da fé. Mas fazem parte de um grupo pequeno de clérigos que dominam a política e controlam a mídia. Há outros 100 mil clérigos no Irã que propagam a fé em suas comunidades, e conviveriam bem com um governo independente. Liberdade e direitos humanos podem existir num Estado islâmico? Os fundamentos dos direitos humanos têm apenas 200 anos. Mas, se olharmos para nossa herança cultural, veremos a mesma visão filosófica e humanística na tradição mística do Islã. Muitos acreditam que sua rápida expansão se deu por conta disso. E a decadência veio quando a tolerância foi substituída pelo dogmatismo religioso e a rigidez. O Islã foi reduzido a uma visão inflexível, baseada em jurisprudência, que permite que prevaleçam sistemas totalitários. Essa é a causa do declínio da civilização islâmica. Como o sr. vê a reação ao programa nuclear do Irã? Está tudo errado. O que o Ocidente deveria ter feito era engajar o Irã e não isolá-lo ainda mais. O ingresso do Irã na Organização Mundial do Comércio e o desenvolvimento das relações com outros países melhorariam a qualidade de vida da população e fariam com que os iranianos se sentissem parte do mundo. Assim, o povo saberia que tem algo a perder se insistisse em confrontar a comunidade internacional e estaria disposto a enfrentar o governo. Hoje os iranianos não têm nada a perder. Como vê a luta contra o terror? Os EUA tiveram uma oportunidade depois do 11 de Setembro, mas insistiram em políticas erradas no Afeganistão, Iraque, Palestina e Irã, o que fez com que atos repugnantes de terrorismo fossem, de alguma forma, aceitos por muitos no mundo islâmico. Além do mais, impor um regime é uma humilhação e um passo para a violência. Democracia não pode ser exportada. Ela deve florescer do próprio povo. Por isso, defendo o fortalecimento da sociedade civil e é isso que o mundo deveria apoiar. O sr. acredita que o Irã virá a se tornar um Estado secular? Acredito, pois os próprios clérigos estão ajudando a separar o Islã do Estado, sem se dar conta, à medida que defendem, muitas vezes, posições anti-Islã, cometendo atrocidades e perseguição a população para dominar pelo medo. Vítimas desse regime, os iranianos estão, pouco a pouco, se dando conta de que não há outro caminho senão separar o governo dos clérigos. Uma nova revolução? Não. A censura não deixa que a informação circule e que o debate se dê. Por isso, defendo a liberdade e os direitos humanos com base no Islã e no fortalecimento da sociedade civil. Já temos quase 8 mil ONGs no Irã. Elas se tornaram uma ameaça aos círculos não democráticos. O sr. não teme a fúria dos aiatolás? Quando há medo, o despotismo prevalece. São palavras do aiatolá Hussein Ali Montazeri. Defendo os direitos humanos pelo diálogo, não pelo conflito. Se não der certo, estou disposto a pagar o preço. Minha mala está sempre pronta para a prisão.

"Devo continuar as minhas atividades em favor da liberdade e dos direitos humanos em quaisquer circunstâncias e a prisão não vai me impedir." Estas foram as palavras do pacifista, jornalista, escritor, teólogo, sociólogo e reformista iraniano Emadeddin Baghi escritas num e-mail, em resposta à notícia sobre sua condenação pela Corte Revolucionária a 3 anos de prisão, no último dia 2 de agosto. Teerã aperta cerco contra imprensa Polícia do Irã fecha cerco a jovens Um olhar feminino sobre o Irã    Três semanas antes, ele recebera a reportagem do Estado em seu escritório, em Teerã, para esta entrevista: O sr. apóia o Estado islâmico? Não. Usar o Islã politicamente remove o lado sagrado da fé. O que movia a geração da revolução eram ideais de liberdade contra o governo despótico dos xás. Queríamos a democracia islâmica, não outra ditadura. Por isso, continuo a luta. A democracia pode prevalecer num Estado islâmico? O problema no Irã não é religião, mas um sistema repressor que quer se manter no poder e usa a religião para isso. Dizem que a democracia é incompatível com o Islã por se basear no individualismo e na razão, ao invés da fé. Mas fazem parte de um grupo pequeno de clérigos que dominam a política e controlam a mídia. Há outros 100 mil clérigos no Irã que propagam a fé em suas comunidades, e conviveriam bem com um governo independente. Liberdade e direitos humanos podem existir num Estado islâmico? Os fundamentos dos direitos humanos têm apenas 200 anos. Mas, se olharmos para nossa herança cultural, veremos a mesma visão filosófica e humanística na tradição mística do Islã. Muitos acreditam que sua rápida expansão se deu por conta disso. E a decadência veio quando a tolerância foi substituída pelo dogmatismo religioso e a rigidez. O Islã foi reduzido a uma visão inflexível, baseada em jurisprudência, que permite que prevaleçam sistemas totalitários. Essa é a causa do declínio da civilização islâmica. Como o sr. vê a reação ao programa nuclear do Irã? Está tudo errado. O que o Ocidente deveria ter feito era engajar o Irã e não isolá-lo ainda mais. O ingresso do Irã na Organização Mundial do Comércio e o desenvolvimento das relações com outros países melhorariam a qualidade de vida da população e fariam com que os iranianos se sentissem parte do mundo. Assim, o povo saberia que tem algo a perder se insistisse em confrontar a comunidade internacional e estaria disposto a enfrentar o governo. Hoje os iranianos não têm nada a perder. Como vê a luta contra o terror? Os EUA tiveram uma oportunidade depois do 11 de Setembro, mas insistiram em políticas erradas no Afeganistão, Iraque, Palestina e Irã, o que fez com que atos repugnantes de terrorismo fossem, de alguma forma, aceitos por muitos no mundo islâmico. Além do mais, impor um regime é uma humilhação e um passo para a violência. Democracia não pode ser exportada. Ela deve florescer do próprio povo. Por isso, defendo o fortalecimento da sociedade civil e é isso que o mundo deveria apoiar. O sr. acredita que o Irã virá a se tornar um Estado secular? Acredito, pois os próprios clérigos estão ajudando a separar o Islã do Estado, sem se dar conta, à medida que defendem, muitas vezes, posições anti-Islã, cometendo atrocidades e perseguição a população para dominar pelo medo. Vítimas desse regime, os iranianos estão, pouco a pouco, se dando conta de que não há outro caminho senão separar o governo dos clérigos. Uma nova revolução? Não. A censura não deixa que a informação circule e que o debate se dê. Por isso, defendo a liberdade e os direitos humanos com base no Islã e no fortalecimento da sociedade civil. Já temos quase 8 mil ONGs no Irã. Elas se tornaram uma ameaça aos círculos não democráticos. O sr. não teme a fúria dos aiatolás? Quando há medo, o despotismo prevalece. São palavras do aiatolá Hussein Ali Montazeri. Defendo os direitos humanos pelo diálogo, não pelo conflito. Se não der certo, estou disposto a pagar o preço. Minha mala está sempre pronta para a prisão.

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