Origem do coronavírus: entenda por que é tão difícil saber de onde veio o vírus


Três anos após o início da pandemia de covid-19, a origem do vírus Sars-CoV-2 permanece desconhecida; comunidade científica chega a hipóteses diferentes

Por Luiz Henrique Gomes

Três anos após o início da pandemia de covid-19, a origem do vírus Sars-CoV-2 permanece desconhecida. Estudos foram conduzidos por diversos cientistas neste período, incluindo da Organização Mundial da Saúde (OMS), mas a falta de informações impede uma resposta mais concreta das autoridades.

As principais investigações aconteceram meses após o surgimento do primeiro caso, em Wuhan, na China, e parte da comunidade científica acusa o governo chinês de fornecer dados com lacunas que dificultam ainda mais a tarefa.

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A tese mais aceita pela comunidade científica é de que o vírus passou do morcego para um mamífero intermediário, e dele para o ser humano; entretanto, uma parte das autoridades que investigaram o assunto – como o FBI e o Departamento de Energia dos EUA – acredita que o vírus pode ter vazado de um laboratório chinês, de forma acidental. Essa hipótese não é descartada pela OMS, apesar de ser considerada mais improvável que a primeira.

Cidadãos usam máscara em rua de Hong Kong em imagem desta quinta-feira, 27. Três anos após o início da pandemia, origem do coronavírus ainda é desconhecida Foto: Peter Parks / AFP

A descoberta da origem de um novo vírus capaz de infectar os humanos é uma tarefa complexa em qualquer caso. Em 2002, por exemplo, um outro vírus da espécie coronavírus deu origem à epidemia de Sars na China, que durou até 2004. Somente em 2010, cientistas chineses conseguiram rastrear o vírus e concluir que eles foram transmitidos por morcegos que vivem nas cavernas de Xiyang Yi, em Yunnan.

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Por que é tão difícil mapear a origem do vírus?

De forma geral, o início de um patógeno entre humanos começa após o vírus saltar de animal para animal, como foi em 2002. O percurso pode acontecer das maneiras mais diversas possíveis, desde transmissão direta entre o animal que carrega um patógeno e o ser humano, com o vírus sofrendo uma grande mutação, a uma transmissão na qual o vírus passa por diversos animais antes de chegar ao ser humano.

O primeiro caso é a principal hipótese da origem da pandemia de influenza em 1918, que matou mais de 40 milhões de pessoas no mundo. Segundo estudo publicado em 2006 na revista acadêmica The Journal of Infectious Diseases, da Universidade de Oxford, um vírus aviário sofreu uma grande mutação e se adaptou o ser humano sem outros intermediários animais, como os suínos, e isso explicaria a alta patogenicidade e letalidade que a pandemia teve.

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O segundo caso é o mais aceito até o momento para explicar a origem do coronavírus. O relatório da OMS publicado em 2021 indica que o vírus passou do morcego para um mamífero intermediário, e dele para o ser humano; esse mamífero seria uma das espécies comercializadas em um mercado de Wuhan, onde o primeiro caso de covid-19 foi identificado.

A dificuldade é rastrear o caminho complexo e as mutações sofridas pelo vírus até chegar ao ser humano, dada às possibilidades e ao contato cada vez maior dos seres humanos com animais silvestres, ocasionado pela expansão das cidades e aumento do desmatamento. Esse fator – apontado pela comunidade científica como uma preocupação para o surgimento de futuras pandemias – é crucial para ocasionar mutações de vírus que até então nunca tinham tido contato com humanos.

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O que dizem os estudos sobre a origem da covid-19?

Estudos conduzidos com o propósito de responder a origem do Sars-Cov-2 não chegaram a uma resposta consensual, principalmente pela falta de dados e transparência do governo chinês. O relatório da OMS produzido em 2021 aponta que morcegos eram o repositório ancestral do coronavírus e infectaram um mamífero vendido no mercado de Wuhan, mas não explica, por exemplo, como o vírus se espalhou entre os humanos.

Seguranças se posicionam na entrada do Instituto de Virologia de Wuhan durante visita de equipe da Organização Mundial de Saúde (OMS) em fevereiro. Foto: REUTERS/Thomas Peter
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Outras pesquisas apontam que o coronavírus pode ter começado a infectar humanos após vazar do Instituto de Virologia de Wuhan, um centro de pesquisa que estuda patógenos com potencial para infectar humanos. Essa é a conclusão do FBI e do Departamento de Energia dos EUA, que mudou a sua posição neste domingo, 26. A tese é baseada em grande parte em telegramas do Departamento de Estado dos EUA de 2018 e em documentos internos da China que mostram preocupações persistentes de biossegurança no país e no fato de funcionários do laboratório relatarem pneumonia antes do primeiro caso de covid-19 ser registrado.

No entanto, mesmo os órgãos que defendem essa tese ressaltam que o nível de confiança não é o mais alto. O Departamento de Energia dos EUA passou a considerar esse julgamento com “baixa confiança”, enquanto o FBI diz que chegou à conclusão com uma “confiança moderada”.

Uma pesquisa publicada na Science em julho do ano passado indica que o primeiro epicentro de transmissão do Sars-CoV-2 foi no mercado de Wuhan. A conclusão reforça a primeira tese, já que, se o vírus tivesse vazado do laboratório, as transmissões iniciais partiriam de lá. Os cientistas não detectaram transmissão entre os funcionários do laboratório que adoeceram de pneumonia.

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O que a China não apresentou aos cientistas?

A China se recusou a fornecer dados completos à equipe da OMS que foi ao país investigar a origem do vírus, segundo entrevista concedida por um dos integrantes da missão, Dominic Dwyer, no ano passado. À agência Reuters, ao Wall Street Journal e ao The New York Times, ele afirmou que a equipe da OMS pediu dados brutos sobre os primeiros casos de covid-19 reportados no país e recebeu apenas um resumo dos casos.

Os dados eram referentes a 174 casos identificados em Wuhan em dezembro de 2019, segundo Dwyer. Só metade desses casos havia tido envolvimento direto com o mercado de alimentos e animais locais onde o vírus foi detectado pela primeira vez. “É por isso que insistimos em pedir isso (os dados)”, afirmou Dwyer.

De acordo com os cientistas, as informações disponibilizadas pela China não eram suficientes para as análises científicas necessárias. A postura aumenta as desconfianças de que o governo chinês tenha alguma culpa na pandemia e reforça a tese do vazamento de laboratório. Pequim insistiu na época que foi transparente com a missão investigativa da OMS, cuja visita foi autorizada após meses de negociações.

O especialista da OMS que liderou a investigação, Peter Ben Emarek, afirmou em um documentário que foi ao ar na TV dinamarquesa em 2021 que cientistas chineses influenciaram a apresentação de suas descobertas. Segundo Embarek, os pesquisadores chineses que integraram a equipe fizeram pressão contra a associação das origens da pandemia ao laboratório no relatório a respeito da investigação.

Três anos após o início da pandemia de covid-19, a origem do vírus Sars-CoV-2 permanece desconhecida. Estudos foram conduzidos por diversos cientistas neste período, incluindo da Organização Mundial da Saúde (OMS), mas a falta de informações impede uma resposta mais concreta das autoridades.

As principais investigações aconteceram meses após o surgimento do primeiro caso, em Wuhan, na China, e parte da comunidade científica acusa o governo chinês de fornecer dados com lacunas que dificultam ainda mais a tarefa.

A tese mais aceita pela comunidade científica é de que o vírus passou do morcego para um mamífero intermediário, e dele para o ser humano; entretanto, uma parte das autoridades que investigaram o assunto – como o FBI e o Departamento de Energia dos EUA – acredita que o vírus pode ter vazado de um laboratório chinês, de forma acidental. Essa hipótese não é descartada pela OMS, apesar de ser considerada mais improvável que a primeira.

Cidadãos usam máscara em rua de Hong Kong em imagem desta quinta-feira, 27. Três anos após o início da pandemia, origem do coronavírus ainda é desconhecida Foto: Peter Parks / AFP

A descoberta da origem de um novo vírus capaz de infectar os humanos é uma tarefa complexa em qualquer caso. Em 2002, por exemplo, um outro vírus da espécie coronavírus deu origem à epidemia de Sars na China, que durou até 2004. Somente em 2010, cientistas chineses conseguiram rastrear o vírus e concluir que eles foram transmitidos por morcegos que vivem nas cavernas de Xiyang Yi, em Yunnan.

Por que é tão difícil mapear a origem do vírus?

De forma geral, o início de um patógeno entre humanos começa após o vírus saltar de animal para animal, como foi em 2002. O percurso pode acontecer das maneiras mais diversas possíveis, desde transmissão direta entre o animal que carrega um patógeno e o ser humano, com o vírus sofrendo uma grande mutação, a uma transmissão na qual o vírus passa por diversos animais antes de chegar ao ser humano.

O primeiro caso é a principal hipótese da origem da pandemia de influenza em 1918, que matou mais de 40 milhões de pessoas no mundo. Segundo estudo publicado em 2006 na revista acadêmica The Journal of Infectious Diseases, da Universidade de Oxford, um vírus aviário sofreu uma grande mutação e se adaptou o ser humano sem outros intermediários animais, como os suínos, e isso explicaria a alta patogenicidade e letalidade que a pandemia teve.

O segundo caso é o mais aceito até o momento para explicar a origem do coronavírus. O relatório da OMS publicado em 2021 indica que o vírus passou do morcego para um mamífero intermediário, e dele para o ser humano; esse mamífero seria uma das espécies comercializadas em um mercado de Wuhan, onde o primeiro caso de covid-19 foi identificado.

A dificuldade é rastrear o caminho complexo e as mutações sofridas pelo vírus até chegar ao ser humano, dada às possibilidades e ao contato cada vez maior dos seres humanos com animais silvestres, ocasionado pela expansão das cidades e aumento do desmatamento. Esse fator – apontado pela comunidade científica como uma preocupação para o surgimento de futuras pandemias – é crucial para ocasionar mutações de vírus que até então nunca tinham tido contato com humanos.

O que dizem os estudos sobre a origem da covid-19?

Estudos conduzidos com o propósito de responder a origem do Sars-Cov-2 não chegaram a uma resposta consensual, principalmente pela falta de dados e transparência do governo chinês. O relatório da OMS produzido em 2021 aponta que morcegos eram o repositório ancestral do coronavírus e infectaram um mamífero vendido no mercado de Wuhan, mas não explica, por exemplo, como o vírus se espalhou entre os humanos.

Seguranças se posicionam na entrada do Instituto de Virologia de Wuhan durante visita de equipe da Organização Mundial de Saúde (OMS) em fevereiro. Foto: REUTERS/Thomas Peter

Outras pesquisas apontam que o coronavírus pode ter começado a infectar humanos após vazar do Instituto de Virologia de Wuhan, um centro de pesquisa que estuda patógenos com potencial para infectar humanos. Essa é a conclusão do FBI e do Departamento de Energia dos EUA, que mudou a sua posição neste domingo, 26. A tese é baseada em grande parte em telegramas do Departamento de Estado dos EUA de 2018 e em documentos internos da China que mostram preocupações persistentes de biossegurança no país e no fato de funcionários do laboratório relatarem pneumonia antes do primeiro caso de covid-19 ser registrado.

No entanto, mesmo os órgãos que defendem essa tese ressaltam que o nível de confiança não é o mais alto. O Departamento de Energia dos EUA passou a considerar esse julgamento com “baixa confiança”, enquanto o FBI diz que chegou à conclusão com uma “confiança moderada”.

Uma pesquisa publicada na Science em julho do ano passado indica que o primeiro epicentro de transmissão do Sars-CoV-2 foi no mercado de Wuhan. A conclusão reforça a primeira tese, já que, se o vírus tivesse vazado do laboratório, as transmissões iniciais partiriam de lá. Os cientistas não detectaram transmissão entre os funcionários do laboratório que adoeceram de pneumonia.

O que a China não apresentou aos cientistas?

A China se recusou a fornecer dados completos à equipe da OMS que foi ao país investigar a origem do vírus, segundo entrevista concedida por um dos integrantes da missão, Dominic Dwyer, no ano passado. À agência Reuters, ao Wall Street Journal e ao The New York Times, ele afirmou que a equipe da OMS pediu dados brutos sobre os primeiros casos de covid-19 reportados no país e recebeu apenas um resumo dos casos.

Os dados eram referentes a 174 casos identificados em Wuhan em dezembro de 2019, segundo Dwyer. Só metade desses casos havia tido envolvimento direto com o mercado de alimentos e animais locais onde o vírus foi detectado pela primeira vez. “É por isso que insistimos em pedir isso (os dados)”, afirmou Dwyer.

De acordo com os cientistas, as informações disponibilizadas pela China não eram suficientes para as análises científicas necessárias. A postura aumenta as desconfianças de que o governo chinês tenha alguma culpa na pandemia e reforça a tese do vazamento de laboratório. Pequim insistiu na época que foi transparente com a missão investigativa da OMS, cuja visita foi autorizada após meses de negociações.

O especialista da OMS que liderou a investigação, Peter Ben Emarek, afirmou em um documentário que foi ao ar na TV dinamarquesa em 2021 que cientistas chineses influenciaram a apresentação de suas descobertas. Segundo Embarek, os pesquisadores chineses que integraram a equipe fizeram pressão contra a associação das origens da pandemia ao laboratório no relatório a respeito da investigação.

Três anos após o início da pandemia de covid-19, a origem do vírus Sars-CoV-2 permanece desconhecida. Estudos foram conduzidos por diversos cientistas neste período, incluindo da Organização Mundial da Saúde (OMS), mas a falta de informações impede uma resposta mais concreta das autoridades.

As principais investigações aconteceram meses após o surgimento do primeiro caso, em Wuhan, na China, e parte da comunidade científica acusa o governo chinês de fornecer dados com lacunas que dificultam ainda mais a tarefa.

A tese mais aceita pela comunidade científica é de que o vírus passou do morcego para um mamífero intermediário, e dele para o ser humano; entretanto, uma parte das autoridades que investigaram o assunto – como o FBI e o Departamento de Energia dos EUA – acredita que o vírus pode ter vazado de um laboratório chinês, de forma acidental. Essa hipótese não é descartada pela OMS, apesar de ser considerada mais improvável que a primeira.

Cidadãos usam máscara em rua de Hong Kong em imagem desta quinta-feira, 27. Três anos após o início da pandemia, origem do coronavírus ainda é desconhecida Foto: Peter Parks / AFP

A descoberta da origem de um novo vírus capaz de infectar os humanos é uma tarefa complexa em qualquer caso. Em 2002, por exemplo, um outro vírus da espécie coronavírus deu origem à epidemia de Sars na China, que durou até 2004. Somente em 2010, cientistas chineses conseguiram rastrear o vírus e concluir que eles foram transmitidos por morcegos que vivem nas cavernas de Xiyang Yi, em Yunnan.

Por que é tão difícil mapear a origem do vírus?

De forma geral, o início de um patógeno entre humanos começa após o vírus saltar de animal para animal, como foi em 2002. O percurso pode acontecer das maneiras mais diversas possíveis, desde transmissão direta entre o animal que carrega um patógeno e o ser humano, com o vírus sofrendo uma grande mutação, a uma transmissão na qual o vírus passa por diversos animais antes de chegar ao ser humano.

O primeiro caso é a principal hipótese da origem da pandemia de influenza em 1918, que matou mais de 40 milhões de pessoas no mundo. Segundo estudo publicado em 2006 na revista acadêmica The Journal of Infectious Diseases, da Universidade de Oxford, um vírus aviário sofreu uma grande mutação e se adaptou o ser humano sem outros intermediários animais, como os suínos, e isso explicaria a alta patogenicidade e letalidade que a pandemia teve.

O segundo caso é o mais aceito até o momento para explicar a origem do coronavírus. O relatório da OMS publicado em 2021 indica que o vírus passou do morcego para um mamífero intermediário, e dele para o ser humano; esse mamífero seria uma das espécies comercializadas em um mercado de Wuhan, onde o primeiro caso de covid-19 foi identificado.

A dificuldade é rastrear o caminho complexo e as mutações sofridas pelo vírus até chegar ao ser humano, dada às possibilidades e ao contato cada vez maior dos seres humanos com animais silvestres, ocasionado pela expansão das cidades e aumento do desmatamento. Esse fator – apontado pela comunidade científica como uma preocupação para o surgimento de futuras pandemias – é crucial para ocasionar mutações de vírus que até então nunca tinham tido contato com humanos.

O que dizem os estudos sobre a origem da covid-19?

Estudos conduzidos com o propósito de responder a origem do Sars-Cov-2 não chegaram a uma resposta consensual, principalmente pela falta de dados e transparência do governo chinês. O relatório da OMS produzido em 2021 aponta que morcegos eram o repositório ancestral do coronavírus e infectaram um mamífero vendido no mercado de Wuhan, mas não explica, por exemplo, como o vírus se espalhou entre os humanos.

Seguranças se posicionam na entrada do Instituto de Virologia de Wuhan durante visita de equipe da Organização Mundial de Saúde (OMS) em fevereiro. Foto: REUTERS/Thomas Peter

Outras pesquisas apontam que o coronavírus pode ter começado a infectar humanos após vazar do Instituto de Virologia de Wuhan, um centro de pesquisa que estuda patógenos com potencial para infectar humanos. Essa é a conclusão do FBI e do Departamento de Energia dos EUA, que mudou a sua posição neste domingo, 26. A tese é baseada em grande parte em telegramas do Departamento de Estado dos EUA de 2018 e em documentos internos da China que mostram preocupações persistentes de biossegurança no país e no fato de funcionários do laboratório relatarem pneumonia antes do primeiro caso de covid-19 ser registrado.

No entanto, mesmo os órgãos que defendem essa tese ressaltam que o nível de confiança não é o mais alto. O Departamento de Energia dos EUA passou a considerar esse julgamento com “baixa confiança”, enquanto o FBI diz que chegou à conclusão com uma “confiança moderada”.

Uma pesquisa publicada na Science em julho do ano passado indica que o primeiro epicentro de transmissão do Sars-CoV-2 foi no mercado de Wuhan. A conclusão reforça a primeira tese, já que, se o vírus tivesse vazado do laboratório, as transmissões iniciais partiriam de lá. Os cientistas não detectaram transmissão entre os funcionários do laboratório que adoeceram de pneumonia.

O que a China não apresentou aos cientistas?

A China se recusou a fornecer dados completos à equipe da OMS que foi ao país investigar a origem do vírus, segundo entrevista concedida por um dos integrantes da missão, Dominic Dwyer, no ano passado. À agência Reuters, ao Wall Street Journal e ao The New York Times, ele afirmou que a equipe da OMS pediu dados brutos sobre os primeiros casos de covid-19 reportados no país e recebeu apenas um resumo dos casos.

Os dados eram referentes a 174 casos identificados em Wuhan em dezembro de 2019, segundo Dwyer. Só metade desses casos havia tido envolvimento direto com o mercado de alimentos e animais locais onde o vírus foi detectado pela primeira vez. “É por isso que insistimos em pedir isso (os dados)”, afirmou Dwyer.

De acordo com os cientistas, as informações disponibilizadas pela China não eram suficientes para as análises científicas necessárias. A postura aumenta as desconfianças de que o governo chinês tenha alguma culpa na pandemia e reforça a tese do vazamento de laboratório. Pequim insistiu na época que foi transparente com a missão investigativa da OMS, cuja visita foi autorizada após meses de negociações.

O especialista da OMS que liderou a investigação, Peter Ben Emarek, afirmou em um documentário que foi ao ar na TV dinamarquesa em 2021 que cientistas chineses influenciaram a apresentação de suas descobertas. Segundo Embarek, os pesquisadores chineses que integraram a equipe fizeram pressão contra a associação das origens da pandemia ao laboratório no relatório a respeito da investigação.

Três anos após o início da pandemia de covid-19, a origem do vírus Sars-CoV-2 permanece desconhecida. Estudos foram conduzidos por diversos cientistas neste período, incluindo da Organização Mundial da Saúde (OMS), mas a falta de informações impede uma resposta mais concreta das autoridades.

As principais investigações aconteceram meses após o surgimento do primeiro caso, em Wuhan, na China, e parte da comunidade científica acusa o governo chinês de fornecer dados com lacunas que dificultam ainda mais a tarefa.

A tese mais aceita pela comunidade científica é de que o vírus passou do morcego para um mamífero intermediário, e dele para o ser humano; entretanto, uma parte das autoridades que investigaram o assunto – como o FBI e o Departamento de Energia dos EUA – acredita que o vírus pode ter vazado de um laboratório chinês, de forma acidental. Essa hipótese não é descartada pela OMS, apesar de ser considerada mais improvável que a primeira.

Cidadãos usam máscara em rua de Hong Kong em imagem desta quinta-feira, 27. Três anos após o início da pandemia, origem do coronavírus ainda é desconhecida Foto: Peter Parks / AFP

A descoberta da origem de um novo vírus capaz de infectar os humanos é uma tarefa complexa em qualquer caso. Em 2002, por exemplo, um outro vírus da espécie coronavírus deu origem à epidemia de Sars na China, que durou até 2004. Somente em 2010, cientistas chineses conseguiram rastrear o vírus e concluir que eles foram transmitidos por morcegos que vivem nas cavernas de Xiyang Yi, em Yunnan.

Por que é tão difícil mapear a origem do vírus?

De forma geral, o início de um patógeno entre humanos começa após o vírus saltar de animal para animal, como foi em 2002. O percurso pode acontecer das maneiras mais diversas possíveis, desde transmissão direta entre o animal que carrega um patógeno e o ser humano, com o vírus sofrendo uma grande mutação, a uma transmissão na qual o vírus passa por diversos animais antes de chegar ao ser humano.

O primeiro caso é a principal hipótese da origem da pandemia de influenza em 1918, que matou mais de 40 milhões de pessoas no mundo. Segundo estudo publicado em 2006 na revista acadêmica The Journal of Infectious Diseases, da Universidade de Oxford, um vírus aviário sofreu uma grande mutação e se adaptou o ser humano sem outros intermediários animais, como os suínos, e isso explicaria a alta patogenicidade e letalidade que a pandemia teve.

O segundo caso é o mais aceito até o momento para explicar a origem do coronavírus. O relatório da OMS publicado em 2021 indica que o vírus passou do morcego para um mamífero intermediário, e dele para o ser humano; esse mamífero seria uma das espécies comercializadas em um mercado de Wuhan, onde o primeiro caso de covid-19 foi identificado.

A dificuldade é rastrear o caminho complexo e as mutações sofridas pelo vírus até chegar ao ser humano, dada às possibilidades e ao contato cada vez maior dos seres humanos com animais silvestres, ocasionado pela expansão das cidades e aumento do desmatamento. Esse fator – apontado pela comunidade científica como uma preocupação para o surgimento de futuras pandemias – é crucial para ocasionar mutações de vírus que até então nunca tinham tido contato com humanos.

O que dizem os estudos sobre a origem da covid-19?

Estudos conduzidos com o propósito de responder a origem do Sars-Cov-2 não chegaram a uma resposta consensual, principalmente pela falta de dados e transparência do governo chinês. O relatório da OMS produzido em 2021 aponta que morcegos eram o repositório ancestral do coronavírus e infectaram um mamífero vendido no mercado de Wuhan, mas não explica, por exemplo, como o vírus se espalhou entre os humanos.

Seguranças se posicionam na entrada do Instituto de Virologia de Wuhan durante visita de equipe da Organização Mundial de Saúde (OMS) em fevereiro. Foto: REUTERS/Thomas Peter

Outras pesquisas apontam que o coronavírus pode ter começado a infectar humanos após vazar do Instituto de Virologia de Wuhan, um centro de pesquisa que estuda patógenos com potencial para infectar humanos. Essa é a conclusão do FBI e do Departamento de Energia dos EUA, que mudou a sua posição neste domingo, 26. A tese é baseada em grande parte em telegramas do Departamento de Estado dos EUA de 2018 e em documentos internos da China que mostram preocupações persistentes de biossegurança no país e no fato de funcionários do laboratório relatarem pneumonia antes do primeiro caso de covid-19 ser registrado.

No entanto, mesmo os órgãos que defendem essa tese ressaltam que o nível de confiança não é o mais alto. O Departamento de Energia dos EUA passou a considerar esse julgamento com “baixa confiança”, enquanto o FBI diz que chegou à conclusão com uma “confiança moderada”.

Uma pesquisa publicada na Science em julho do ano passado indica que o primeiro epicentro de transmissão do Sars-CoV-2 foi no mercado de Wuhan. A conclusão reforça a primeira tese, já que, se o vírus tivesse vazado do laboratório, as transmissões iniciais partiriam de lá. Os cientistas não detectaram transmissão entre os funcionários do laboratório que adoeceram de pneumonia.

O que a China não apresentou aos cientistas?

A China se recusou a fornecer dados completos à equipe da OMS que foi ao país investigar a origem do vírus, segundo entrevista concedida por um dos integrantes da missão, Dominic Dwyer, no ano passado. À agência Reuters, ao Wall Street Journal e ao The New York Times, ele afirmou que a equipe da OMS pediu dados brutos sobre os primeiros casos de covid-19 reportados no país e recebeu apenas um resumo dos casos.

Os dados eram referentes a 174 casos identificados em Wuhan em dezembro de 2019, segundo Dwyer. Só metade desses casos havia tido envolvimento direto com o mercado de alimentos e animais locais onde o vírus foi detectado pela primeira vez. “É por isso que insistimos em pedir isso (os dados)”, afirmou Dwyer.

De acordo com os cientistas, as informações disponibilizadas pela China não eram suficientes para as análises científicas necessárias. A postura aumenta as desconfianças de que o governo chinês tenha alguma culpa na pandemia e reforça a tese do vazamento de laboratório. Pequim insistiu na época que foi transparente com a missão investigativa da OMS, cuja visita foi autorizada após meses de negociações.

O especialista da OMS que liderou a investigação, Peter Ben Emarek, afirmou em um documentário que foi ao ar na TV dinamarquesa em 2021 que cientistas chineses influenciaram a apresentação de suas descobertas. Segundo Embarek, os pesquisadores chineses que integraram a equipe fizeram pressão contra a associação das origens da pandemia ao laboratório no relatório a respeito da investigação.

Três anos após o início da pandemia de covid-19, a origem do vírus Sars-CoV-2 permanece desconhecida. Estudos foram conduzidos por diversos cientistas neste período, incluindo da Organização Mundial da Saúde (OMS), mas a falta de informações impede uma resposta mais concreta das autoridades.

As principais investigações aconteceram meses após o surgimento do primeiro caso, em Wuhan, na China, e parte da comunidade científica acusa o governo chinês de fornecer dados com lacunas que dificultam ainda mais a tarefa.

A tese mais aceita pela comunidade científica é de que o vírus passou do morcego para um mamífero intermediário, e dele para o ser humano; entretanto, uma parte das autoridades que investigaram o assunto – como o FBI e o Departamento de Energia dos EUA – acredita que o vírus pode ter vazado de um laboratório chinês, de forma acidental. Essa hipótese não é descartada pela OMS, apesar de ser considerada mais improvável que a primeira.

Cidadãos usam máscara em rua de Hong Kong em imagem desta quinta-feira, 27. Três anos após o início da pandemia, origem do coronavírus ainda é desconhecida Foto: Peter Parks / AFP

A descoberta da origem de um novo vírus capaz de infectar os humanos é uma tarefa complexa em qualquer caso. Em 2002, por exemplo, um outro vírus da espécie coronavírus deu origem à epidemia de Sars na China, que durou até 2004. Somente em 2010, cientistas chineses conseguiram rastrear o vírus e concluir que eles foram transmitidos por morcegos que vivem nas cavernas de Xiyang Yi, em Yunnan.

Por que é tão difícil mapear a origem do vírus?

De forma geral, o início de um patógeno entre humanos começa após o vírus saltar de animal para animal, como foi em 2002. O percurso pode acontecer das maneiras mais diversas possíveis, desde transmissão direta entre o animal que carrega um patógeno e o ser humano, com o vírus sofrendo uma grande mutação, a uma transmissão na qual o vírus passa por diversos animais antes de chegar ao ser humano.

O primeiro caso é a principal hipótese da origem da pandemia de influenza em 1918, que matou mais de 40 milhões de pessoas no mundo. Segundo estudo publicado em 2006 na revista acadêmica The Journal of Infectious Diseases, da Universidade de Oxford, um vírus aviário sofreu uma grande mutação e se adaptou o ser humano sem outros intermediários animais, como os suínos, e isso explicaria a alta patogenicidade e letalidade que a pandemia teve.

O segundo caso é o mais aceito até o momento para explicar a origem do coronavírus. O relatório da OMS publicado em 2021 indica que o vírus passou do morcego para um mamífero intermediário, e dele para o ser humano; esse mamífero seria uma das espécies comercializadas em um mercado de Wuhan, onde o primeiro caso de covid-19 foi identificado.

A dificuldade é rastrear o caminho complexo e as mutações sofridas pelo vírus até chegar ao ser humano, dada às possibilidades e ao contato cada vez maior dos seres humanos com animais silvestres, ocasionado pela expansão das cidades e aumento do desmatamento. Esse fator – apontado pela comunidade científica como uma preocupação para o surgimento de futuras pandemias – é crucial para ocasionar mutações de vírus que até então nunca tinham tido contato com humanos.

O que dizem os estudos sobre a origem da covid-19?

Estudos conduzidos com o propósito de responder a origem do Sars-Cov-2 não chegaram a uma resposta consensual, principalmente pela falta de dados e transparência do governo chinês. O relatório da OMS produzido em 2021 aponta que morcegos eram o repositório ancestral do coronavírus e infectaram um mamífero vendido no mercado de Wuhan, mas não explica, por exemplo, como o vírus se espalhou entre os humanos.

Seguranças se posicionam na entrada do Instituto de Virologia de Wuhan durante visita de equipe da Organização Mundial de Saúde (OMS) em fevereiro. Foto: REUTERS/Thomas Peter

Outras pesquisas apontam que o coronavírus pode ter começado a infectar humanos após vazar do Instituto de Virologia de Wuhan, um centro de pesquisa que estuda patógenos com potencial para infectar humanos. Essa é a conclusão do FBI e do Departamento de Energia dos EUA, que mudou a sua posição neste domingo, 26. A tese é baseada em grande parte em telegramas do Departamento de Estado dos EUA de 2018 e em documentos internos da China que mostram preocupações persistentes de biossegurança no país e no fato de funcionários do laboratório relatarem pneumonia antes do primeiro caso de covid-19 ser registrado.

No entanto, mesmo os órgãos que defendem essa tese ressaltam que o nível de confiança não é o mais alto. O Departamento de Energia dos EUA passou a considerar esse julgamento com “baixa confiança”, enquanto o FBI diz que chegou à conclusão com uma “confiança moderada”.

Uma pesquisa publicada na Science em julho do ano passado indica que o primeiro epicentro de transmissão do Sars-CoV-2 foi no mercado de Wuhan. A conclusão reforça a primeira tese, já que, se o vírus tivesse vazado do laboratório, as transmissões iniciais partiriam de lá. Os cientistas não detectaram transmissão entre os funcionários do laboratório que adoeceram de pneumonia.

O que a China não apresentou aos cientistas?

A China se recusou a fornecer dados completos à equipe da OMS que foi ao país investigar a origem do vírus, segundo entrevista concedida por um dos integrantes da missão, Dominic Dwyer, no ano passado. À agência Reuters, ao Wall Street Journal e ao The New York Times, ele afirmou que a equipe da OMS pediu dados brutos sobre os primeiros casos de covid-19 reportados no país e recebeu apenas um resumo dos casos.

Os dados eram referentes a 174 casos identificados em Wuhan em dezembro de 2019, segundo Dwyer. Só metade desses casos havia tido envolvimento direto com o mercado de alimentos e animais locais onde o vírus foi detectado pela primeira vez. “É por isso que insistimos em pedir isso (os dados)”, afirmou Dwyer.

De acordo com os cientistas, as informações disponibilizadas pela China não eram suficientes para as análises científicas necessárias. A postura aumenta as desconfianças de que o governo chinês tenha alguma culpa na pandemia e reforça a tese do vazamento de laboratório. Pequim insistiu na época que foi transparente com a missão investigativa da OMS, cuja visita foi autorizada após meses de negociações.

O especialista da OMS que liderou a investigação, Peter Ben Emarek, afirmou em um documentário que foi ao ar na TV dinamarquesa em 2021 que cientistas chineses influenciaram a apresentação de suas descobertas. Segundo Embarek, os pesquisadores chineses que integraram a equipe fizeram pressão contra a associação das origens da pandemia ao laboratório no relatório a respeito da investigação.

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