Vitória republicana em eleição legislativa vai provocar crises em série; leia análise


Propostas do Partido Republicano podem levar Estados Unidos a uma série de crises que, esperam eles, lhes daria força para 2024 - e para a volta de Trump

Por Ezra Klein
Atualização:

O que os republicanos estão oferecendo, caso vençam as eleições de 2022, não é conservadorismo. É crise. Mais precisamente, crises: uma crise sobre o teto do endividamento; uma crise eleitoral; e um golpe corporal contra os esforços do governo no sentido de se preparar para uma série de outras crises que sabemos estar a caminho.

Isso não quer dizer que os republicanos não tenham projetos que pretendem aprovar. Eles têm. A coisa mais próxima de uma agenda que os congressistas republicanos lançaram é o orçamento de 122 páginas da Comissão Republicana de Estudos.

A comissão é destinada a ser algo parecido com um instituto de análise interna para os deputados republicanos, arregimenta bem mais da metade dos deputados republicanos como membros e inclui os deputados Steve Scalise, Elise Stefanik e Gary Palmer — todos os líderes exceto Kevin McCarthy.

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Púlpito lacrado antes de coletiva de imprensa no Capitólio dos Estados Unidos, em Washington Foto: Kenny Holston / NYT

Depois de analisar por algum tempo o documento, eu diria que lhe falta pretensão de apontar prioridades, preferindo, em vez disso, o conforto da abundância. O texto lista projeto após projeto que os republicanos gostariam de aprovar. Legislações que subverteriam a estrutura e os poderes do governo — como o projeto defendido pelo deputado Byron Donalds que busca abolir o Escritório de Proteção Financeira ao Consumidor — recebem exatamente o mesmo tratamento que o projeto do deputado Bob Good para forçar escolas a tornar públicas suas comunicações com sindicatos de professores a respeito de quando reabrir; ou a resolução do deputado Michael Cloud em desaprovação à vacinação de crianças de 11 anos em Washington, DC. Há planos para privatizar grande parte do Medicare, repelir em grande medida o Obamacare elevando a idade para habilitação à Seguridade Social e nada menos do que oito projetos que atacam a teoria crítica de raça.

Mas mesmo se os republicanos conquistarem maioria na Câmara e no Senado, eles não conseguirão ir adiante com essa agenda. Ela seria derrubada pelo veto do presidente Joe Biden. O que os republicanos seriam capazes de fazer é desencadear crises que, esperam eles, lhes daria força para obrigar Biden a aceitar essa agenda ou talvez retirá-lo da função.

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E mesmo onde os líderes republicanos não acreditam realmente que uma crise os beneficiaria, eles poderiam desencadear alguma de qualquer maneira, para provar seu comprometimento com a causa ou evitar a ira de Donald Trump.

Comecemos com o teto de endividamento. Os Títulos do Tesouro dos Estados Unidos são os ativos fundamentais do sistema financeiro global, são os investimentos mais seguros entre os investimentos seguros, os títulos que países e fundos compram quando precisam ter certeza absoluta de que seu dinheiro está em segurança.

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Muitas outras coisas no sistema financeiro obtêm valor sobre a assunção da confiabilidade americana: credores começam com a taxa de retorno sem risco — ou seja, a taxa de juro dos Títulos do Tesouro dos EUA — e então adicionam seus prêmios. Se os EUA der calote em sua dívida, isso provocaria caos financeiro. (Acho que é uma maneira de lidar com a inflação: destrua a economia global!).

Mas os republicanos têm sido perfeitamente claros: eles consideram o limite ao endividamento uma ferramenta de negociação com Biden. “Nós lhe daremos mais dinheiro, mas você tem de mudar seu comportamento atual”, afirmou o líder da minoria republicana, Kevin McCarthy, que poderia se tornar o próximo presidente da Câmara, ao Punchbowl News. “Não vamos simplesmente continuar aumentando seu limite de cartão de crédito, né?”

McCarthy pode soar ponderado, mas o mero fato dele abrir a porta para essa estratégia comprova sua fraqueza — ou sua irresponsabilidade. Um refém só existe se você estiver disposto a atirar. E haverá muitas vozes exigindo que os republicanos puxem o gatilho ou pelo menos provem que estão dispostos a fazê-lo.

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Uma dessas vozes será a de Trump. “É loucura o que está acontecendo com esse teto de endividamento”, afirmou o ex-presidente recentemente para um programa de rádio conservador. “Mitch McConnell segue permitindo que isso aconteça. Ou seja, eles deveriam cassar Mitch McConnell se ele permitir isso.”

Falando eufemisticamente, o registro de líderes republicanos resistindo a demandas dos linhas-dura de seu partido, mesmo quando consideram-nas loucuras, não é nada inspirador. McConnell e o ex-presidente da Câmara republicano John Boehner não tiveram comando suficiente sobre seus colegas de partido no Congresso para rejeitar o nefasto fechamento de Ted Cruz, em 2013, sobre a Lei de Proteção e Cuidado Acessível ao Paciente, que ambos consideraram uma sandice. E a influência de Cruz entre a base do Partido Republicano e sua bancada no Congresso em 2013 não era nada em comparação ao poder que Trump empunha atualmente.

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Essa não é a única crise à espreita. Até aqui, muito se sabe a respeito das inúmeras tentativas de Trump e seus apoiadores para reverter o resultado da eleição presidencial de 2020. O que salvou o país foi a pouca preparação que houve por trás desse esforço, e o fato de republicanos em posições importantes — sem falar dos democratas — se mostrarem hostis ao projeto. Mas conforme o Times noticiou em outubro, mais de 370 republicanos que concorrem nas eleições de meio de mandato de 2022 afirmam duvidar dos resultados daquela eleição, e “centenas desses candidatos são favoritos para vencer suas disputas”.

As eleições de 2022 muito provavelmente levarão ao poder centenas de republicanos comprometidos em garantir que a eleição presidencial de 2024 suceda de acordo com sua vontade não importando qual seja o resultado das urnas. Quase nada foi feito para fortalecer o sistema contra artimanhas desde o 6 de Janeiro. O que acontecerá se legisladores republicanos se recusarem a certificar os resultados das eleições em Estados cruciais, como uma maioria de republicanos na Câmara fez em 2020? E se, quando Trump telefonar para secretários estaduais, governadores ou supervisores eleitorais republicanos em 2024, exigindo que eles encontrem os votos que ele deseja ou desqualifiquem os votos de seu oponente, eles se esforçarem mais para atendê-lo? Possíveis crises não faltam.

Autoridades do Partido Republicano que não compram totalmente as teorias de conspiração trumpistas podem se ver ponderando sobre aquiescência. Já assistimos esse movimento. A maioria dos republicanos da Câmara que votou contra a certificação da eleição de 2020 sabia que as afirmações de Trump eram absurdas. Mas eles escolheram se esconder atrás da argumentação bizarra e evasiva de Mike Johnson para a votação, enquanto Trump exigia que eles votassem sem precisar defender as coisas que ele dizia. A solução de Johnson foi sugerir que mudanças da era pandêmica aos procedimentos de votação eram inconstitucionais, classificando, portanto, os resultados como incertificáveis. Foi um disparate e, pior que isso, uma covardia. Mas foi um lembrete de que o problema não está meramente nas autoridades republicanas que forçariam uma crise eleitoral. A ameaça possibilitada é a massa muito maior de seus colegas que já provaram que não farão nada para se opor.

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Nem todas as crises começam com um duelo político. Algumas podem decorrer de um vírus que sofre mutação e se torna altamente mortífero. Outras de um planeta que se aquece para além da estreita faixa climática que permitiu a humanidade e a civilização. Outras podem decorrer de ambições expansionistas de ditadores e autocratas. Os três anos passados proveram exemplos vívidos dos três tipos. Mas, particularmente ao longo do ano recente, o Partido Republicano mostrou-se sempre em algum ponto entre desdenhoso e hostil em relação a preparativos e respostas necessários para essas possíveis crises.

Na semana passada, eu critiquei o governo Biden por fracassar em encontrar um caminho partidário para financiar preparativos pandêmicos. Mas esse caminho é necessário apenas porque o Partido Republicano se opôs com tanta força a esforços em preparação para a próxima pandemia. O orçamento da Comissão Republicana de Estudos é um exemplo vívido do ponto em que o partido chegou em relação à covid. Não que os republicanos sejam pró-covid, mas a energia do partido é em grande medida “anti anticovid”. Isso inclui política após política atacando obrigatoriedades de vacinação, poderes emergenciais e imunizações de crianças. Mas nas mais de 100 páginas do documento, não consegui encontrar nenhuma linha propondo maneiras de garantir que estejamos mais bem preparados para a próxima ameaça viral.

É fácil imaginar quais poderiam ser essas políticas: o governo foi vagaroso em autorizar certos tipos de medicamentos e testes, assim como em seus esforços para destinar dinheiro para pesquisas, e não foi nem de perto tão inovador quanto poderia ter sido em acionar tecnologia para monitorar novas doenças em disseminação. Esta crítica ao governo é libertária, não progressista. Mas o texto do orçamento da comissão não coloca em discussão maneiras pelas quais a desregulação poderia ser capaz de prover uma resposta melhor na próxima vez.

E isso não se reduz à covid. Os republicanos são céticos há muito tempo em relação a esforços de preparação para as mudanças climáticas. O orçamento da comissão está repleto de planos para impulsionar a extração de combustíveis fósseis e impedir que dinheiro americano financie o acordo climático de Paris. Os republicanos têm se mostrado, devemos dizer, divididos em relação às suas afeições a Vladimir Putin, mas pelo menos nos dias iniciais da invasão russa à Ucrânia muitos deles apoiaram os esforços pela Ucrânia. Mas McCarthy sugeriu que os republicanos cortarão a ajuda à Ucrânia se vencerem em novembro, e ele não é o único a querer que os EUA se afastem desse conflito.

Digo o seguinte a favor dos republicanos: eles não escondem suas intenções nem suas táticas; e deixaram claro o que pretendem fazer se vencerem. Biden concorreu — e venceu — em 2020 prometendo um retorno à normalidade. Os republicanos concorrem em 2022 prometendo um retorno à calamidade. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

O que os republicanos estão oferecendo, caso vençam as eleições de 2022, não é conservadorismo. É crise. Mais precisamente, crises: uma crise sobre o teto do endividamento; uma crise eleitoral; e um golpe corporal contra os esforços do governo no sentido de se preparar para uma série de outras crises que sabemos estar a caminho.

Isso não quer dizer que os republicanos não tenham projetos que pretendem aprovar. Eles têm. A coisa mais próxima de uma agenda que os congressistas republicanos lançaram é o orçamento de 122 páginas da Comissão Republicana de Estudos.

A comissão é destinada a ser algo parecido com um instituto de análise interna para os deputados republicanos, arregimenta bem mais da metade dos deputados republicanos como membros e inclui os deputados Steve Scalise, Elise Stefanik e Gary Palmer — todos os líderes exceto Kevin McCarthy.

Púlpito lacrado antes de coletiva de imprensa no Capitólio dos Estados Unidos, em Washington Foto: Kenny Holston / NYT

Depois de analisar por algum tempo o documento, eu diria que lhe falta pretensão de apontar prioridades, preferindo, em vez disso, o conforto da abundância. O texto lista projeto após projeto que os republicanos gostariam de aprovar. Legislações que subverteriam a estrutura e os poderes do governo — como o projeto defendido pelo deputado Byron Donalds que busca abolir o Escritório de Proteção Financeira ao Consumidor — recebem exatamente o mesmo tratamento que o projeto do deputado Bob Good para forçar escolas a tornar públicas suas comunicações com sindicatos de professores a respeito de quando reabrir; ou a resolução do deputado Michael Cloud em desaprovação à vacinação de crianças de 11 anos em Washington, DC. Há planos para privatizar grande parte do Medicare, repelir em grande medida o Obamacare elevando a idade para habilitação à Seguridade Social e nada menos do que oito projetos que atacam a teoria crítica de raça.

Mas mesmo se os republicanos conquistarem maioria na Câmara e no Senado, eles não conseguirão ir adiante com essa agenda. Ela seria derrubada pelo veto do presidente Joe Biden. O que os republicanos seriam capazes de fazer é desencadear crises que, esperam eles, lhes daria força para obrigar Biden a aceitar essa agenda ou talvez retirá-lo da função.

E mesmo onde os líderes republicanos não acreditam realmente que uma crise os beneficiaria, eles poderiam desencadear alguma de qualquer maneira, para provar seu comprometimento com a causa ou evitar a ira de Donald Trump.

Comecemos com o teto de endividamento. Os Títulos do Tesouro dos Estados Unidos são os ativos fundamentais do sistema financeiro global, são os investimentos mais seguros entre os investimentos seguros, os títulos que países e fundos compram quando precisam ter certeza absoluta de que seu dinheiro está em segurança.

Muitas outras coisas no sistema financeiro obtêm valor sobre a assunção da confiabilidade americana: credores começam com a taxa de retorno sem risco — ou seja, a taxa de juro dos Títulos do Tesouro dos EUA — e então adicionam seus prêmios. Se os EUA der calote em sua dívida, isso provocaria caos financeiro. (Acho que é uma maneira de lidar com a inflação: destrua a economia global!).

Mas os republicanos têm sido perfeitamente claros: eles consideram o limite ao endividamento uma ferramenta de negociação com Biden. “Nós lhe daremos mais dinheiro, mas você tem de mudar seu comportamento atual”, afirmou o líder da minoria republicana, Kevin McCarthy, que poderia se tornar o próximo presidente da Câmara, ao Punchbowl News. “Não vamos simplesmente continuar aumentando seu limite de cartão de crédito, né?”

McCarthy pode soar ponderado, mas o mero fato dele abrir a porta para essa estratégia comprova sua fraqueza — ou sua irresponsabilidade. Um refém só existe se você estiver disposto a atirar. E haverá muitas vozes exigindo que os republicanos puxem o gatilho ou pelo menos provem que estão dispostos a fazê-lo.

Uma dessas vozes será a de Trump. “É loucura o que está acontecendo com esse teto de endividamento”, afirmou o ex-presidente recentemente para um programa de rádio conservador. “Mitch McConnell segue permitindo que isso aconteça. Ou seja, eles deveriam cassar Mitch McConnell se ele permitir isso.”

Falando eufemisticamente, o registro de líderes republicanos resistindo a demandas dos linhas-dura de seu partido, mesmo quando consideram-nas loucuras, não é nada inspirador. McConnell e o ex-presidente da Câmara republicano John Boehner não tiveram comando suficiente sobre seus colegas de partido no Congresso para rejeitar o nefasto fechamento de Ted Cruz, em 2013, sobre a Lei de Proteção e Cuidado Acessível ao Paciente, que ambos consideraram uma sandice. E a influência de Cruz entre a base do Partido Republicano e sua bancada no Congresso em 2013 não era nada em comparação ao poder que Trump empunha atualmente.

Essa não é a única crise à espreita. Até aqui, muito se sabe a respeito das inúmeras tentativas de Trump e seus apoiadores para reverter o resultado da eleição presidencial de 2020. O que salvou o país foi a pouca preparação que houve por trás desse esforço, e o fato de republicanos em posições importantes — sem falar dos democratas — se mostrarem hostis ao projeto. Mas conforme o Times noticiou em outubro, mais de 370 republicanos que concorrem nas eleições de meio de mandato de 2022 afirmam duvidar dos resultados daquela eleição, e “centenas desses candidatos são favoritos para vencer suas disputas”.

As eleições de 2022 muito provavelmente levarão ao poder centenas de republicanos comprometidos em garantir que a eleição presidencial de 2024 suceda de acordo com sua vontade não importando qual seja o resultado das urnas. Quase nada foi feito para fortalecer o sistema contra artimanhas desde o 6 de Janeiro. O que acontecerá se legisladores republicanos se recusarem a certificar os resultados das eleições em Estados cruciais, como uma maioria de republicanos na Câmara fez em 2020? E se, quando Trump telefonar para secretários estaduais, governadores ou supervisores eleitorais republicanos em 2024, exigindo que eles encontrem os votos que ele deseja ou desqualifiquem os votos de seu oponente, eles se esforçarem mais para atendê-lo? Possíveis crises não faltam.

Autoridades do Partido Republicano que não compram totalmente as teorias de conspiração trumpistas podem se ver ponderando sobre aquiescência. Já assistimos esse movimento. A maioria dos republicanos da Câmara que votou contra a certificação da eleição de 2020 sabia que as afirmações de Trump eram absurdas. Mas eles escolheram se esconder atrás da argumentação bizarra e evasiva de Mike Johnson para a votação, enquanto Trump exigia que eles votassem sem precisar defender as coisas que ele dizia. A solução de Johnson foi sugerir que mudanças da era pandêmica aos procedimentos de votação eram inconstitucionais, classificando, portanto, os resultados como incertificáveis. Foi um disparate e, pior que isso, uma covardia. Mas foi um lembrete de que o problema não está meramente nas autoridades republicanas que forçariam uma crise eleitoral. A ameaça possibilitada é a massa muito maior de seus colegas que já provaram que não farão nada para se opor.

Nem todas as crises começam com um duelo político. Algumas podem decorrer de um vírus que sofre mutação e se torna altamente mortífero. Outras de um planeta que se aquece para além da estreita faixa climática que permitiu a humanidade e a civilização. Outras podem decorrer de ambições expansionistas de ditadores e autocratas. Os três anos passados proveram exemplos vívidos dos três tipos. Mas, particularmente ao longo do ano recente, o Partido Republicano mostrou-se sempre em algum ponto entre desdenhoso e hostil em relação a preparativos e respostas necessários para essas possíveis crises.

Na semana passada, eu critiquei o governo Biden por fracassar em encontrar um caminho partidário para financiar preparativos pandêmicos. Mas esse caminho é necessário apenas porque o Partido Republicano se opôs com tanta força a esforços em preparação para a próxima pandemia. O orçamento da Comissão Republicana de Estudos é um exemplo vívido do ponto em que o partido chegou em relação à covid. Não que os republicanos sejam pró-covid, mas a energia do partido é em grande medida “anti anticovid”. Isso inclui política após política atacando obrigatoriedades de vacinação, poderes emergenciais e imunizações de crianças. Mas nas mais de 100 páginas do documento, não consegui encontrar nenhuma linha propondo maneiras de garantir que estejamos mais bem preparados para a próxima ameaça viral.

É fácil imaginar quais poderiam ser essas políticas: o governo foi vagaroso em autorizar certos tipos de medicamentos e testes, assim como em seus esforços para destinar dinheiro para pesquisas, e não foi nem de perto tão inovador quanto poderia ter sido em acionar tecnologia para monitorar novas doenças em disseminação. Esta crítica ao governo é libertária, não progressista. Mas o texto do orçamento da comissão não coloca em discussão maneiras pelas quais a desregulação poderia ser capaz de prover uma resposta melhor na próxima vez.

E isso não se reduz à covid. Os republicanos são céticos há muito tempo em relação a esforços de preparação para as mudanças climáticas. O orçamento da comissão está repleto de planos para impulsionar a extração de combustíveis fósseis e impedir que dinheiro americano financie o acordo climático de Paris. Os republicanos têm se mostrado, devemos dizer, divididos em relação às suas afeições a Vladimir Putin, mas pelo menos nos dias iniciais da invasão russa à Ucrânia muitos deles apoiaram os esforços pela Ucrânia. Mas McCarthy sugeriu que os republicanos cortarão a ajuda à Ucrânia se vencerem em novembro, e ele não é o único a querer que os EUA se afastem desse conflito.

Digo o seguinte a favor dos republicanos: eles não escondem suas intenções nem suas táticas; e deixaram claro o que pretendem fazer se vencerem. Biden concorreu — e venceu — em 2020 prometendo um retorno à normalidade. Os republicanos concorrem em 2022 prometendo um retorno à calamidade. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

O que os republicanos estão oferecendo, caso vençam as eleições de 2022, não é conservadorismo. É crise. Mais precisamente, crises: uma crise sobre o teto do endividamento; uma crise eleitoral; e um golpe corporal contra os esforços do governo no sentido de se preparar para uma série de outras crises que sabemos estar a caminho.

Isso não quer dizer que os republicanos não tenham projetos que pretendem aprovar. Eles têm. A coisa mais próxima de uma agenda que os congressistas republicanos lançaram é o orçamento de 122 páginas da Comissão Republicana de Estudos.

A comissão é destinada a ser algo parecido com um instituto de análise interna para os deputados republicanos, arregimenta bem mais da metade dos deputados republicanos como membros e inclui os deputados Steve Scalise, Elise Stefanik e Gary Palmer — todos os líderes exceto Kevin McCarthy.

Púlpito lacrado antes de coletiva de imprensa no Capitólio dos Estados Unidos, em Washington Foto: Kenny Holston / NYT

Depois de analisar por algum tempo o documento, eu diria que lhe falta pretensão de apontar prioridades, preferindo, em vez disso, o conforto da abundância. O texto lista projeto após projeto que os republicanos gostariam de aprovar. Legislações que subverteriam a estrutura e os poderes do governo — como o projeto defendido pelo deputado Byron Donalds que busca abolir o Escritório de Proteção Financeira ao Consumidor — recebem exatamente o mesmo tratamento que o projeto do deputado Bob Good para forçar escolas a tornar públicas suas comunicações com sindicatos de professores a respeito de quando reabrir; ou a resolução do deputado Michael Cloud em desaprovação à vacinação de crianças de 11 anos em Washington, DC. Há planos para privatizar grande parte do Medicare, repelir em grande medida o Obamacare elevando a idade para habilitação à Seguridade Social e nada menos do que oito projetos que atacam a teoria crítica de raça.

Mas mesmo se os republicanos conquistarem maioria na Câmara e no Senado, eles não conseguirão ir adiante com essa agenda. Ela seria derrubada pelo veto do presidente Joe Biden. O que os republicanos seriam capazes de fazer é desencadear crises que, esperam eles, lhes daria força para obrigar Biden a aceitar essa agenda ou talvez retirá-lo da função.

E mesmo onde os líderes republicanos não acreditam realmente que uma crise os beneficiaria, eles poderiam desencadear alguma de qualquer maneira, para provar seu comprometimento com a causa ou evitar a ira de Donald Trump.

Comecemos com o teto de endividamento. Os Títulos do Tesouro dos Estados Unidos são os ativos fundamentais do sistema financeiro global, são os investimentos mais seguros entre os investimentos seguros, os títulos que países e fundos compram quando precisam ter certeza absoluta de que seu dinheiro está em segurança.

Muitas outras coisas no sistema financeiro obtêm valor sobre a assunção da confiabilidade americana: credores começam com a taxa de retorno sem risco — ou seja, a taxa de juro dos Títulos do Tesouro dos EUA — e então adicionam seus prêmios. Se os EUA der calote em sua dívida, isso provocaria caos financeiro. (Acho que é uma maneira de lidar com a inflação: destrua a economia global!).

Mas os republicanos têm sido perfeitamente claros: eles consideram o limite ao endividamento uma ferramenta de negociação com Biden. “Nós lhe daremos mais dinheiro, mas você tem de mudar seu comportamento atual”, afirmou o líder da minoria republicana, Kevin McCarthy, que poderia se tornar o próximo presidente da Câmara, ao Punchbowl News. “Não vamos simplesmente continuar aumentando seu limite de cartão de crédito, né?”

McCarthy pode soar ponderado, mas o mero fato dele abrir a porta para essa estratégia comprova sua fraqueza — ou sua irresponsabilidade. Um refém só existe se você estiver disposto a atirar. E haverá muitas vozes exigindo que os republicanos puxem o gatilho ou pelo menos provem que estão dispostos a fazê-lo.

Uma dessas vozes será a de Trump. “É loucura o que está acontecendo com esse teto de endividamento”, afirmou o ex-presidente recentemente para um programa de rádio conservador. “Mitch McConnell segue permitindo que isso aconteça. Ou seja, eles deveriam cassar Mitch McConnell se ele permitir isso.”

Falando eufemisticamente, o registro de líderes republicanos resistindo a demandas dos linhas-dura de seu partido, mesmo quando consideram-nas loucuras, não é nada inspirador. McConnell e o ex-presidente da Câmara republicano John Boehner não tiveram comando suficiente sobre seus colegas de partido no Congresso para rejeitar o nefasto fechamento de Ted Cruz, em 2013, sobre a Lei de Proteção e Cuidado Acessível ao Paciente, que ambos consideraram uma sandice. E a influência de Cruz entre a base do Partido Republicano e sua bancada no Congresso em 2013 não era nada em comparação ao poder que Trump empunha atualmente.

Essa não é a única crise à espreita. Até aqui, muito se sabe a respeito das inúmeras tentativas de Trump e seus apoiadores para reverter o resultado da eleição presidencial de 2020. O que salvou o país foi a pouca preparação que houve por trás desse esforço, e o fato de republicanos em posições importantes — sem falar dos democratas — se mostrarem hostis ao projeto. Mas conforme o Times noticiou em outubro, mais de 370 republicanos que concorrem nas eleições de meio de mandato de 2022 afirmam duvidar dos resultados daquela eleição, e “centenas desses candidatos são favoritos para vencer suas disputas”.

As eleições de 2022 muito provavelmente levarão ao poder centenas de republicanos comprometidos em garantir que a eleição presidencial de 2024 suceda de acordo com sua vontade não importando qual seja o resultado das urnas. Quase nada foi feito para fortalecer o sistema contra artimanhas desde o 6 de Janeiro. O que acontecerá se legisladores republicanos se recusarem a certificar os resultados das eleições em Estados cruciais, como uma maioria de republicanos na Câmara fez em 2020? E se, quando Trump telefonar para secretários estaduais, governadores ou supervisores eleitorais republicanos em 2024, exigindo que eles encontrem os votos que ele deseja ou desqualifiquem os votos de seu oponente, eles se esforçarem mais para atendê-lo? Possíveis crises não faltam.

Autoridades do Partido Republicano que não compram totalmente as teorias de conspiração trumpistas podem se ver ponderando sobre aquiescência. Já assistimos esse movimento. A maioria dos republicanos da Câmara que votou contra a certificação da eleição de 2020 sabia que as afirmações de Trump eram absurdas. Mas eles escolheram se esconder atrás da argumentação bizarra e evasiva de Mike Johnson para a votação, enquanto Trump exigia que eles votassem sem precisar defender as coisas que ele dizia. A solução de Johnson foi sugerir que mudanças da era pandêmica aos procedimentos de votação eram inconstitucionais, classificando, portanto, os resultados como incertificáveis. Foi um disparate e, pior que isso, uma covardia. Mas foi um lembrete de que o problema não está meramente nas autoridades republicanas que forçariam uma crise eleitoral. A ameaça possibilitada é a massa muito maior de seus colegas que já provaram que não farão nada para se opor.

Nem todas as crises começam com um duelo político. Algumas podem decorrer de um vírus que sofre mutação e se torna altamente mortífero. Outras de um planeta que se aquece para além da estreita faixa climática que permitiu a humanidade e a civilização. Outras podem decorrer de ambições expansionistas de ditadores e autocratas. Os três anos passados proveram exemplos vívidos dos três tipos. Mas, particularmente ao longo do ano recente, o Partido Republicano mostrou-se sempre em algum ponto entre desdenhoso e hostil em relação a preparativos e respostas necessários para essas possíveis crises.

Na semana passada, eu critiquei o governo Biden por fracassar em encontrar um caminho partidário para financiar preparativos pandêmicos. Mas esse caminho é necessário apenas porque o Partido Republicano se opôs com tanta força a esforços em preparação para a próxima pandemia. O orçamento da Comissão Republicana de Estudos é um exemplo vívido do ponto em que o partido chegou em relação à covid. Não que os republicanos sejam pró-covid, mas a energia do partido é em grande medida “anti anticovid”. Isso inclui política após política atacando obrigatoriedades de vacinação, poderes emergenciais e imunizações de crianças. Mas nas mais de 100 páginas do documento, não consegui encontrar nenhuma linha propondo maneiras de garantir que estejamos mais bem preparados para a próxima ameaça viral.

É fácil imaginar quais poderiam ser essas políticas: o governo foi vagaroso em autorizar certos tipos de medicamentos e testes, assim como em seus esforços para destinar dinheiro para pesquisas, e não foi nem de perto tão inovador quanto poderia ter sido em acionar tecnologia para monitorar novas doenças em disseminação. Esta crítica ao governo é libertária, não progressista. Mas o texto do orçamento da comissão não coloca em discussão maneiras pelas quais a desregulação poderia ser capaz de prover uma resposta melhor na próxima vez.

E isso não se reduz à covid. Os republicanos são céticos há muito tempo em relação a esforços de preparação para as mudanças climáticas. O orçamento da comissão está repleto de planos para impulsionar a extração de combustíveis fósseis e impedir que dinheiro americano financie o acordo climático de Paris. Os republicanos têm se mostrado, devemos dizer, divididos em relação às suas afeições a Vladimir Putin, mas pelo menos nos dias iniciais da invasão russa à Ucrânia muitos deles apoiaram os esforços pela Ucrânia. Mas McCarthy sugeriu que os republicanos cortarão a ajuda à Ucrânia se vencerem em novembro, e ele não é o único a querer que os EUA se afastem desse conflito.

Digo o seguinte a favor dos republicanos: eles não escondem suas intenções nem suas táticas; e deixaram claro o que pretendem fazer se vencerem. Biden concorreu — e venceu — em 2020 prometendo um retorno à normalidade. Os republicanos concorrem em 2022 prometendo um retorno à calamidade. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

O que os republicanos estão oferecendo, caso vençam as eleições de 2022, não é conservadorismo. É crise. Mais precisamente, crises: uma crise sobre o teto do endividamento; uma crise eleitoral; e um golpe corporal contra os esforços do governo no sentido de se preparar para uma série de outras crises que sabemos estar a caminho.

Isso não quer dizer que os republicanos não tenham projetos que pretendem aprovar. Eles têm. A coisa mais próxima de uma agenda que os congressistas republicanos lançaram é o orçamento de 122 páginas da Comissão Republicana de Estudos.

A comissão é destinada a ser algo parecido com um instituto de análise interna para os deputados republicanos, arregimenta bem mais da metade dos deputados republicanos como membros e inclui os deputados Steve Scalise, Elise Stefanik e Gary Palmer — todos os líderes exceto Kevin McCarthy.

Púlpito lacrado antes de coletiva de imprensa no Capitólio dos Estados Unidos, em Washington Foto: Kenny Holston / NYT

Depois de analisar por algum tempo o documento, eu diria que lhe falta pretensão de apontar prioridades, preferindo, em vez disso, o conforto da abundância. O texto lista projeto após projeto que os republicanos gostariam de aprovar. Legislações que subverteriam a estrutura e os poderes do governo — como o projeto defendido pelo deputado Byron Donalds que busca abolir o Escritório de Proteção Financeira ao Consumidor — recebem exatamente o mesmo tratamento que o projeto do deputado Bob Good para forçar escolas a tornar públicas suas comunicações com sindicatos de professores a respeito de quando reabrir; ou a resolução do deputado Michael Cloud em desaprovação à vacinação de crianças de 11 anos em Washington, DC. Há planos para privatizar grande parte do Medicare, repelir em grande medida o Obamacare elevando a idade para habilitação à Seguridade Social e nada menos do que oito projetos que atacam a teoria crítica de raça.

Mas mesmo se os republicanos conquistarem maioria na Câmara e no Senado, eles não conseguirão ir adiante com essa agenda. Ela seria derrubada pelo veto do presidente Joe Biden. O que os republicanos seriam capazes de fazer é desencadear crises que, esperam eles, lhes daria força para obrigar Biden a aceitar essa agenda ou talvez retirá-lo da função.

E mesmo onde os líderes republicanos não acreditam realmente que uma crise os beneficiaria, eles poderiam desencadear alguma de qualquer maneira, para provar seu comprometimento com a causa ou evitar a ira de Donald Trump.

Comecemos com o teto de endividamento. Os Títulos do Tesouro dos Estados Unidos são os ativos fundamentais do sistema financeiro global, são os investimentos mais seguros entre os investimentos seguros, os títulos que países e fundos compram quando precisam ter certeza absoluta de que seu dinheiro está em segurança.

Muitas outras coisas no sistema financeiro obtêm valor sobre a assunção da confiabilidade americana: credores começam com a taxa de retorno sem risco — ou seja, a taxa de juro dos Títulos do Tesouro dos EUA — e então adicionam seus prêmios. Se os EUA der calote em sua dívida, isso provocaria caos financeiro. (Acho que é uma maneira de lidar com a inflação: destrua a economia global!).

Mas os republicanos têm sido perfeitamente claros: eles consideram o limite ao endividamento uma ferramenta de negociação com Biden. “Nós lhe daremos mais dinheiro, mas você tem de mudar seu comportamento atual”, afirmou o líder da minoria republicana, Kevin McCarthy, que poderia se tornar o próximo presidente da Câmara, ao Punchbowl News. “Não vamos simplesmente continuar aumentando seu limite de cartão de crédito, né?”

McCarthy pode soar ponderado, mas o mero fato dele abrir a porta para essa estratégia comprova sua fraqueza — ou sua irresponsabilidade. Um refém só existe se você estiver disposto a atirar. E haverá muitas vozes exigindo que os republicanos puxem o gatilho ou pelo menos provem que estão dispostos a fazê-lo.

Uma dessas vozes será a de Trump. “É loucura o que está acontecendo com esse teto de endividamento”, afirmou o ex-presidente recentemente para um programa de rádio conservador. “Mitch McConnell segue permitindo que isso aconteça. Ou seja, eles deveriam cassar Mitch McConnell se ele permitir isso.”

Falando eufemisticamente, o registro de líderes republicanos resistindo a demandas dos linhas-dura de seu partido, mesmo quando consideram-nas loucuras, não é nada inspirador. McConnell e o ex-presidente da Câmara republicano John Boehner não tiveram comando suficiente sobre seus colegas de partido no Congresso para rejeitar o nefasto fechamento de Ted Cruz, em 2013, sobre a Lei de Proteção e Cuidado Acessível ao Paciente, que ambos consideraram uma sandice. E a influência de Cruz entre a base do Partido Republicano e sua bancada no Congresso em 2013 não era nada em comparação ao poder que Trump empunha atualmente.

Essa não é a única crise à espreita. Até aqui, muito se sabe a respeito das inúmeras tentativas de Trump e seus apoiadores para reverter o resultado da eleição presidencial de 2020. O que salvou o país foi a pouca preparação que houve por trás desse esforço, e o fato de republicanos em posições importantes — sem falar dos democratas — se mostrarem hostis ao projeto. Mas conforme o Times noticiou em outubro, mais de 370 republicanos que concorrem nas eleições de meio de mandato de 2022 afirmam duvidar dos resultados daquela eleição, e “centenas desses candidatos são favoritos para vencer suas disputas”.

As eleições de 2022 muito provavelmente levarão ao poder centenas de republicanos comprometidos em garantir que a eleição presidencial de 2024 suceda de acordo com sua vontade não importando qual seja o resultado das urnas. Quase nada foi feito para fortalecer o sistema contra artimanhas desde o 6 de Janeiro. O que acontecerá se legisladores republicanos se recusarem a certificar os resultados das eleições em Estados cruciais, como uma maioria de republicanos na Câmara fez em 2020? E se, quando Trump telefonar para secretários estaduais, governadores ou supervisores eleitorais republicanos em 2024, exigindo que eles encontrem os votos que ele deseja ou desqualifiquem os votos de seu oponente, eles se esforçarem mais para atendê-lo? Possíveis crises não faltam.

Autoridades do Partido Republicano que não compram totalmente as teorias de conspiração trumpistas podem se ver ponderando sobre aquiescência. Já assistimos esse movimento. A maioria dos republicanos da Câmara que votou contra a certificação da eleição de 2020 sabia que as afirmações de Trump eram absurdas. Mas eles escolheram se esconder atrás da argumentação bizarra e evasiva de Mike Johnson para a votação, enquanto Trump exigia que eles votassem sem precisar defender as coisas que ele dizia. A solução de Johnson foi sugerir que mudanças da era pandêmica aos procedimentos de votação eram inconstitucionais, classificando, portanto, os resultados como incertificáveis. Foi um disparate e, pior que isso, uma covardia. Mas foi um lembrete de que o problema não está meramente nas autoridades republicanas que forçariam uma crise eleitoral. A ameaça possibilitada é a massa muito maior de seus colegas que já provaram que não farão nada para se opor.

Nem todas as crises começam com um duelo político. Algumas podem decorrer de um vírus que sofre mutação e se torna altamente mortífero. Outras de um planeta que se aquece para além da estreita faixa climática que permitiu a humanidade e a civilização. Outras podem decorrer de ambições expansionistas de ditadores e autocratas. Os três anos passados proveram exemplos vívidos dos três tipos. Mas, particularmente ao longo do ano recente, o Partido Republicano mostrou-se sempre em algum ponto entre desdenhoso e hostil em relação a preparativos e respostas necessários para essas possíveis crises.

Na semana passada, eu critiquei o governo Biden por fracassar em encontrar um caminho partidário para financiar preparativos pandêmicos. Mas esse caminho é necessário apenas porque o Partido Republicano se opôs com tanta força a esforços em preparação para a próxima pandemia. O orçamento da Comissão Republicana de Estudos é um exemplo vívido do ponto em que o partido chegou em relação à covid. Não que os republicanos sejam pró-covid, mas a energia do partido é em grande medida “anti anticovid”. Isso inclui política após política atacando obrigatoriedades de vacinação, poderes emergenciais e imunizações de crianças. Mas nas mais de 100 páginas do documento, não consegui encontrar nenhuma linha propondo maneiras de garantir que estejamos mais bem preparados para a próxima ameaça viral.

É fácil imaginar quais poderiam ser essas políticas: o governo foi vagaroso em autorizar certos tipos de medicamentos e testes, assim como em seus esforços para destinar dinheiro para pesquisas, e não foi nem de perto tão inovador quanto poderia ter sido em acionar tecnologia para monitorar novas doenças em disseminação. Esta crítica ao governo é libertária, não progressista. Mas o texto do orçamento da comissão não coloca em discussão maneiras pelas quais a desregulação poderia ser capaz de prover uma resposta melhor na próxima vez.

E isso não se reduz à covid. Os republicanos são céticos há muito tempo em relação a esforços de preparação para as mudanças climáticas. O orçamento da comissão está repleto de planos para impulsionar a extração de combustíveis fósseis e impedir que dinheiro americano financie o acordo climático de Paris. Os republicanos têm se mostrado, devemos dizer, divididos em relação às suas afeições a Vladimir Putin, mas pelo menos nos dias iniciais da invasão russa à Ucrânia muitos deles apoiaram os esforços pela Ucrânia. Mas McCarthy sugeriu que os republicanos cortarão a ajuda à Ucrânia se vencerem em novembro, e ele não é o único a querer que os EUA se afastem desse conflito.

Digo o seguinte a favor dos republicanos: eles não escondem suas intenções nem suas táticas; e deixaram claro o que pretendem fazer se vencerem. Biden concorreu — e venceu — em 2020 prometendo um retorno à normalidade. Os republicanos concorrem em 2022 prometendo um retorno à calamidade. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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